Elias, o Tolo
()
About this ebook
Elias é um homem que passa os dias a inventar vidas alternativas aos seus vizinhos. Até que de repente começa a confundir fantasia e realidade. E um dia alguém morre, assassinado no seu Bairro. Quem será o criminoso?
Ágata Ramos Simões
Colaborou na tradução japonesa das obras “Todos os Nomes” e “A Caverna” de José Saramago.Representada com três poemas na colectânea de poesia contemporânea portuguesa, “Ventana A La Nueva Poesía Portuguesa”, editada no México pela Ediciones Desierto.Escreveu “Lisboa singular”, livro infanto-juvenil, publicado em português por uma editora francesa (Éditions 00h00).Teve uma participação no Salão do Livro em Paris, entre os dias 16 e 21 de Março de 2001, convidada pela editora Éditions 00h00.Ganhou o 1o prémio no concurso literário “António Mendes Moreira” da Câmara Municipal de Paredes com o manuscrito “À Procura de um Livro” e ganhou igualmente o 1o prémio ex-aequo no concurso literário Orlando Gonçalves da Câmara Municipal da Amadora com o mesmo manuscrito.No princípio de 2006 foi publicada a obra "Sr. Bentley, o Enraba-Passarinhos" pela editora Saída de Emergência.Participou no DN Jovem durante alguns anos.
Read more from ágata Ramos Simões
Pedro na Terra Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Maldição do Ventre Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCapricórnio em 2014: Previsões Astrológicas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Futuro de Portugal Segundo a Astrologia: 2011-2013 Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAmor em 2017 para Carneiro (ou Áries): o que o Tarot Revela Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Igreja Queima-Dinheiro Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFome Assassina Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsRenata, a Feia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCarneiro em 2015: Previsões Astrológicas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Imortalidade Rating: 1 out of 5 stars1/5Zombies em Lisboa Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsÀ Procura de um Livro Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPanfleto: contos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Astrologia e o Futuro de Portugal em 2013 Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Related to Elias, o Tolo
Related ebooks
Filandras Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAlma De Rosas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsOs Que Desaparecem Nunca Morrem Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO clube Mefisto Rating: 5 out of 5 stars5/5A Aliança Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPara Sempre Comigo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO telefone toca, frio Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFragmentos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMulher... Honesta ? Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDinastia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsE quem mora no morro? Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDitadura De Corações Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMistério Em Lago Roxo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsIlusório amor Rating: 5 out of 5 stars5/5Encontrei-te em Veneza Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Dia Do Roubo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDiario De Bordo A Bordo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLázaro Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAnimal Instinct Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsQuebra Mar Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Baiana do Cais do Porto Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAmor Fragmentado Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Vingança De Antônia E Outros Contos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsQuem Com Ferro Fere... Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEntrelinhas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Dossiê De Um Fiel Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDança comigo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Quadro Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAmar, verbo intransitivo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsGuardiões do Limiar: e o Mascate da Meia Noite Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Literary Fiction For You
Dom Casmurro Rating: 4 out of 5 stars4/5O vendedor de sonhos: O chamado Rating: 5 out of 5 stars5/5Primeiro eu tive que morrer Rating: 5 out of 5 stars5/5Box - Nórdicos Os melhores contos e lendas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLivro do desassossego Rating: 4 out of 5 stars4/5Declínio de um homem Rating: 4 out of 5 stars4/5Memórias Póstumas de Brás Cubas Rating: 4 out of 5 stars4/5Eu, Tituba: Bruxa negra de Salem Rating: 5 out of 5 stars5/5Eu que nunca conheci os homens Rating: 4 out of 5 stars4/5Ansiando por você - Romance erótico: Histórias de sexo | portugues sem censura | a partir de 18 anos Rating: 2 out of 5 stars2/5O que eu tô fazendo da minha vida? Rating: 5 out of 5 stars5/5O vendedor de sonhos 3: O semeador de ideias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsBoas esposas Rating: 4 out of 5 stars4/5Guerra e Paz Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAsas partidas Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Reviews for Elias, o Tolo
0 ratings0 reviews
Book preview
Elias, o Tolo - Ágata Ramos Simões
Elias, o Tolo
By Ágata Ramos Simões
Copyright 2011 Ágata Ramos Simões
Smashwords Edition
Blog: http://www.escrita.blogspot.com/ dunyazade@gmail.com
Smashwords Edition, License Notes
This ebook is licensed for your personal enjoyment only. This ebook may not be re-sold
or given away to other people. If you would like to share this book with another person,
please purchase an additional copy for each recipient. If you’re reading this book and did
not purchase it, or it was not purchased for your use only, then please return to
the site and purchase your own copy. Thank you for respecting the hard work
of this author.
INDEX
UM
DOIS
TRÊS
QUATRO
CINCO
SEIS
SETE
OITO
NOVE
DEZ
ONZE
DOZE
TREZE
CATORZE
QUINZE
DEZASSEIS
DEZASSETE
DEZOITO
DEZANOVE
VINTE
Ele tem planos, tem demasiados planos. Em mão. E desconfianças. Mas desconfiança cultivada para mitigar o sereno tédio diário da sua vida. É um homem de quarenta e dois anos com a aparência de cinquenta. Por não ter de trabalhar para viver - vive de um pequeno, mas modesto fundo que herdou do tio-avô paterno, legado mais por piedade que por sentimento de afecto - e por ter um apartamento pequeno herdado da mãe, não o mortificam pensamentos como os da maioria da população. Onde vou arranjar dinheiro para pagar ao banco a prestação que voltou a subir? Como vou comprar os livros aos miúdos em Setembro? E agora, doente, de baixa e a receber menos, como é que faço face às despesas? E o miúdo tem de ir ao dentista. Onde é que eu arranjo sessenta euros?
O seu martírio é o de arranjar divertimento quotidiano para afastar a modorra da existência.
Vê os vizinhos, emigrantes a viverem cada casal no seu quarto, a chegarem e a partirem dos apartamentos vizinhos. Vê os sacrifícios, os alugueres exorbitantes. Cheira-lhes os sovacos perfumados a suor após dia valente na labuta. Quase sente inveja e a seguir recorda que não, assim é melhor: passar pela vida como quem está no convés de um cruzeiro às ilhas gregas. A Mikonos. À Turquia. O Mediterrâneo (imaginado) por lar. O seu Mediterrâneo é o suave embalo do lento imaginar de vidas alheias, inventar-lhes histórias e vivências que não são as reais.
A filha será dele, do ucraniano loiro com a dureza de mármore puro no olhar azul? Não. A miúda tem bochechas vermelhas de boneca de porcelana branca, cabelo castanho-escuro espetado (embora seja loiro, mas hoje ele vê-o como castanho) e lábios cheios de puta de bordel. Decide. Imagina. Foi assim.
O ucraniano para ganhar a vida na terra dele fazia uns biscates para alguma rede de escravatura branca. Um dia coube-lhe em missão transportar um bebé de vinte e dois meses. Era para ser vendido a pais adoptivos desesperados. A criança silente e adormecida fê-lo recordar as miúdas de sete, dez, doze anos que levava sabe Deus para onde. Abandonou tudo, que era pouco. Não disse nada a ninguém. Pagou papéis falsos. Na Polónia. Na Sérvia. Escondeu-se da polícia na França, na fronteira espanhola. Chegou a Portugal. Trabalhou nas obras anos a fio como ilegal. Não lhe pagavam, os patrões. Legalizou-se há cinco anos. A miúda é portuguesa. Está cá desde os três. Portuguesa. Mais portuguesa que aquilo impossível. O seu ídolo a Britney. A equipa preferida o Benfica. Gosta de sardinhas assadas e é maluca por caracóis. O pai (adoptivo), o pai em segunda-mão!, foi levado a agir por uma culpa que gotejava para um alambique escondido no coração, uma culpa que era a faca quente a deslizar no peito. Assim uma dor serena e morna e profunda apesar de a faca deslizar superfície - como um tubarão a fingir-se solitário. A barbatana que vemos não pertence aos dentes que nos arrancam a carne.
Mas quando chegou a loira platinada, falsa, alta, sorridente, de mini-saia, a chorar e a abraçar o marido e a filha ele teve de redefinir a história.
Ah não. Pois. Vê as parecenças com a mãe. E, quando o ucraniano chora e abraça a esposa que mandou vir da pátria anos atrás, distingue as semelhanças do pai com a garota. Há algo presente ao redor dos olhos, uma triste beleza. Um baixar de guarda que os aparenta. A filha maternal; o pai rígido e duro. A filha como uma mãe para o pai. A mãe afinal esteve de férias na terra natal, visitou a velha avó doente e cega. E o casal só alugou a casa vai para quatro meses. Como que ele só se apercebeu disso agora?
Ocupa-se então a imaginar a vida alheia da menina do terceiro esquerdo. Muito bonita. Mas ele é imune a tesões. Passa pela vida como velho satisfeito pelo que viveu - apesar de nada ter vivido. Vive a falsa sabedoria dos idosos.
E há a vizinha do lado, velha de facto e mais calada que o nosso homem. Essa seguramente era a mais interessante. Hum. Nem sempre. Havia em Matilde, de setenta e cinco anos, qualquer elemento indefinido que o perturbava. Como a mosca sente uma inqualificável perturbação no ar antes de aterrar de cabeça na teia da aranha diligente.
Ele não gosta do nome Matilde. Por uma certa aversão e inquietação tende a não se alongar no imaginar de uma outra vida à vizinha do lado.
Por exemplo, o recém- reformado do outro prédio é decerto espião da CIA no activo.
Porque...
(Detém-se, o nosso homem, de caneca de café com leite na mão, a segurar as páginas iniciais do Correio da Manhã e com um olhar vazio pregado na gaiola do canário deserta.) Ora, porque sim. Espiões no activo lêem jornais e sentam-se na esplanada e em bancos de jardim a apanhar sol.
Têm de o fazer. Deveres contratuais.
(E este tipo dá um estalinho com a língua, arrota, encosta-se para trás, no rosto o sorriso da Monalisa, contente pelo belo passeio - sem ondas - no seu Mediterrâneo particular.)
Hoje está um belo dia. Para Elias estão sempre belos dias. A mãe, há trinta anos, vinha perto a revolução dos cravos, fazia bolos de canela e ele e os amigos juntavam-se para ouvir discos proibidos. Mesmo com doze anos não tinha feitio de revolucionário. Fazia gosto aos colegas da escola, nada mais, e os pais viviam numa calma serenidade, almejando pela tal falada revolução cujo cheiro se já sentia no ar.
Elias tem garras. Mentira. Não tem. Quem as teve era o canário que não chegou a comprar para habitar a gaiola deserta. Ora bem. Como estamos de amores hoje? A mulher do 5º da frente, o 82, o prédio do outro lado da rua. Como é o seu nome? Manoush. Decide que é Manoush por ter traços do médio-oriente herdados da ancestral mouraria que nos colonizou os genes.
Manoush olha-o directamente com cara de caso. É morena e bonita. Nunca a vê sorrir. Ele desvia a vista, perturbado. Entre um e outro há um silencioso e secreto diálogo:
Eu sei o que estás a fazer. Pára.
Eu não estou a fazer nada
, mente.
"Pára. Não gosto. Não entres na minha cabeça. É privado. Não me espies os pensamentos. Não olhes