O Poeta e o Profeta
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Era fim de tarde. Em uma praça dois confrades, homens eruditos, eram confundidos com poentos andarilhos. Esvaecidos no chão com o cheiro do pó nas roupas, ladeados por cães abandonados, cada um era dono de uma garrafa: Um era o Poeta, e o outro, o Profeta!
Cada um conta seus dramas mais secretos, o real motivo de estar no fundo do poço.
O profeta revela sua vida repleta de magia, onde passou por experiências místicas doloridas e fantásticas, como a visão de um anjo que chora gotas de sangue, e que relembra dos acontecimentos do passado, do presente, e revela os acontecimentos do futuro da humanidade.
O Profeta alcançou um elevado nível espiritual, mas foi reprovado em uma grande prova, assim como Judas caiu mesmo diante dos ensinamentos do Cristo.
O poeta conta sua vida cheia de amor, sonhos e amargura. Um homem extremamente sensível, um buscador do verdadeiro amor, o amor espiritual. Foi expulso de sua família, abandonou a fortuna para ficar com sua alma gêmea, uma jovem pobre e profundamente delicada por uma enfermidade.
A morte de sua amada fez com que despertasse suas visões do além. Não suportando a grande tragédia, transformou-se num andarilho.
Depois de muitos anos se deparam os dois numa praça, onde buscam um sentido para tantas amarguras. Resolvem dar um fim em tudo: o suicídio é cogitado, ou, quem sabe, teriam coragem para um recomeço?
Alguns caminhos se abrem, terão que escolher.
São histórias repletas de romance e magia.
José Luiz da Luz
José Luiz da Luz, nasceu em 1964 na cidade de Ipiranga, Estado do Paraná, Brasil.Membro efetivo da União Brasileira dos Escritores – UBE - (São Paulo/SP)Membro correspondente da União Literária Anapolina. – ULA (Anápolis – Goiás)Membro da Academia Virtual Brasileira de Letras.Membro de diversas comunidades literárias da internet.Livros:Lira Romântica – poesias clássicas;A Luz da Poesia - poesias espiritualistas;O Poeta e o Profeta – romance espiritualista.Pena Dourada - fábula infanto-juvenil:Concursos literários:Classificado em mais de 60 antologias de poesias e de contos pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores do Rio de Janeiro. CBJEClassificado entre os melhores poetas do ano pela CBJE.No ano de 2010 com a poesias Boa semente.No ano de 2009 com a poesia Morrer amanhã;Ano de 2008 com a poesia Sorriso;Ano de 2007 com a poesia Pântano.Outras antologiasPrêmio Valdeck Almeida de Jesus - Salvador BahiaJovem de Palavra - Paraná.Palavras Libertas - Uberlândia Minas GeraisIV Delicatta - São Paulo4o lugar no III Concurso de Poesia do CEA H.S.E / MS Prêmio Edma e Marcos Valadão.
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O Poeta e o Profeta - José Luiz da Luz
I - O Poeta e o Profeta em uma praça
Era fim de tarde. Em uma praça, dois confrades, homens eruditos, eram confundidos com poentos andarilhos. Esvaecidos no chão com o cheiro do pó nas roupas, ladeados por cães abandonados, cada um era dono de uma garrafa: Um era o Poeta, e o outro, o Profeta!
- Profeta, o que fazemos? Dormimos na calçada esta noite?
O Profeta, no balanço da vertigem, esfrega as suas pálpebras ardentes com suas mãos sujas e responde:
- Não durmamos meu caro Poeta... Pensemos! – E curvou-se em silêncio.
A noite se aproximava com seu furor. Era uma chave que abria todas as portas para as cavernas escuras da alma, onde repousavam naufragados os escombros da vida.
- Dói a alma! – Respondeu o Poeta melancólico - Desfalecidos neste leito de pedra, pensar em virtudes? Onde estão nossas virtudes? Esta febre que molha de suor a tua face, inebria os teus sentidos, e o que vês, senão imagens do mundo através da tua própria razão? Depois que aprendeste Emanuel Kant com a sua gélida filosofia da razão, saiba que os corações substituíram a razão pelo sentimento, imaginação, experiência e anseio. Eu sei meu caro, que depois de uma queda, sempre se leva muito tempo para recuperação. Ademais, as feridas da alma são mais doridas do que as do corpo.
O Profeta se calou, não só pelo mormaço do álcool, mas porque a culpa se entrelaçava nos seus neurônios. Palmilhou no passado pelas sendas da luz, mas na primeira prova em que a vida lhe mostrou uma encruzilhada, se perdeu, seguiu por aquele caminho que não tinha luz.
- Ceei à farta na mesa da luz - discorreu o Profeta - dos provérbios à filosofia, da contemplação à profecia, da espiritualidade aos dogmas... Um apostolum, bem ao gosto dos seguidores do Decálogo, vê-se, hoje, ébrio em uma calçada. Realmente o oposto de tudo o que há de mais sagrado: um absurdo, mas sou o que sou! Em uma prova do coração eu reprovei, porque o corpo é mais fraco do que o espírito, disto o Grande Mestre já sabia e nos alertou abundantemente.
- Será que a tua incursão pelas sendas do sagrado foi apenas uma fuga? Havia realmente anseio de luz e sabedoria? – O Poeta, vendo-o caído, questionou.
- Certamente havia! Estás insensível com tuas dúvidas.
O Profeta tirou do bolso duas pedras de ametista e começou a bater fortemente uma na outra. Ele as carregava desde os tempos em que andou pelos caminhos da luz; eram verdadeiros emblemas para a sua vida. Parecia querer descarregar nas pancadas toda a ira e melancolia do seu dia.
- Ametistas? – O Poeta estranhou.
- São meus emblemas. - E continuou a bater uma na outra.
- És louco? – O Poeta disse com certa ironia. - Melhor do que bater a cabeça nas paredes. Por que bate as ametistas?
- É longa a história, mas se um dia houver interesse por tua parte, contarei.
Em vão tentaram dormir naquela praça gelada, embora exaustos da vida. Gelada do relento e também gelada de homens. O presente era amargo, onde reprisava sem cessar na tela das lembranças as culpas do passado.
- Escuta, Profeta! Minha vida foi mais dura do que este leito de pedra, mas eu tenho no seio, como em ventre de mãe, um fruto sagrado: minha alma de poeta é o único alimento que me sacia, a água para minha sede nas veredas das agonias.
O Poeta olhou para a lua pálida no céu e se dispersou, extasiada estava a sua alma de poeta.
- Poetas! Ah... poetas!... O mundo dos poetas se confunde com os sonhos e os sonhos são chamados de realidade... – Balbuciou o Profeta.
- Se a tua filosofia não reconhece a beleza de um luar, nem os olhos fascinados de uma menina que ama e sonha fitando o céu, então, não vais além de ser um fetichista, um teórico. Onde está a filosofia dos homens, senão na eterna busca da beleza e da verdade? Onde está a espiritualidade dos homens, antes de serem filósofos? Acaso ainda não leste Schiller? Pois ele já sabia que a criação dos poetas é uma capacidade lúdica, e que é somente através dela que o homem se torna totalmente livre.
O Poeta tirou do bolso uma caderneta amarelada e amassada pelas vagas. Amava-a como se fosse um evangelho, nela estavam escritos com letras de dor, os sonhos recônditos.
- Lua! Não me negues o teu luar, não mergulhes numa nuvem. – Falou o Poeta. - Quanto a mim, tenho fé que a poesia não germina das pedras, mas são emanações de nossas almas. Tenho repulsa àquele que colocou uma pedra no caminho da poesia. Há um mundo dentro do peito, que a sua linguagem se transforma em poesia. Os bons poetas, de todas as épocas, para serem verdadeiros, sempre amaram, sonharam e pensaram muito.
O Profeta ergueu seus olhos cheios de ardência pelo clarão da lua, respirou profundamente tentando engolir uma lágrima que galgava na sua garganta:
- Amigo Poeta, devo reconhecer que os poetas são divinos, mas Deus não criou o céu apenas para nosso deleite. Saiba, tenho um passado que não dá um poema, mas dá um drama.
- Mas o verdadeiro poeta tem uma alma sensível para amar a criação. Se eu declamar o poema dos dramas do mundo, certamente ele não é um fascínio insensato. Toda a sensibilidade vem da alma, e minha alma ama o mistério e o belo. Os dramas da vida também podem ser contados num poema. E tu, Profeta, por que deixaste apagar a lâmpada de tua alma?
- A alma precisa de alimentos espirituais, – respondeu o Profeta – perdoe-me porque deixei