Panfleto: contos
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Esta obra reúne uma série de contos anteriormente publicados em diversos locais, desde o DN Jovem até à Revista Bang!, embora a larga maioria tenha primeiramente aparecido no meu Blog Escrita. Há uma larga variedade de personagens: desde piratas, a noivos e bonecas de porcelana, passando por uma detective privada um pouco diferente do que costuma ser a norma. O leitor tem também a oportunidade de ler três contos inéditos. Há textos mais humorísticos, mas também uma incursão pela semiótica. Em suma, encontrará com certeza uma série de narrativas (entre curtas e longas) que lhe agradará.
Ágata Ramos Simões
Colaborou na tradução japonesa das obras “Todos os Nomes” e “A Caverna” de José Saramago.Representada com três poemas na colectânea de poesia contemporânea portuguesa, “Ventana A La Nueva Poesía Portuguesa”, editada no México pela Ediciones Desierto.Escreveu “Lisboa singular”, livro infanto-juvenil, publicado em português por uma editora francesa (Éditions 00h00).Teve uma participação no Salão do Livro em Paris, entre os dias 16 e 21 de Março de 2001, convidada pela editora Éditions 00h00.Ganhou o 1o prémio no concurso literário “António Mendes Moreira” da Câmara Municipal de Paredes com o manuscrito “À Procura de um Livro” e ganhou igualmente o 1o prémio ex-aequo no concurso literário Orlando Gonçalves da Câmara Municipal da Amadora com o mesmo manuscrito.No princípio de 2006 foi publicada a obra "Sr. Bentley, o Enraba-Passarinhos" pela editora Saída de Emergência.Participou no DN Jovem durante alguns anos.
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Panfleto - Ágata Ramos Simões
PANFLETO: CONTOS
Publicado por Ágata Ramos Simões na Smashwords
Copyright 2014 Ágata Ramos Simões
Smashwords Edition, License Notes
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INDEX
1.PANFLETO
2.OS PIRATAS
3.HÁ QUEM OS PARE?
4.CARGA D’OSSOS
5.O PENSIONISTA SATISFEITO
6.O DRAGÃO SEM ALTURA
7.A PORTA DO MEIO
8.AS MENINAS
9.CAMARATE
10.OS MISTÉRIOS DA MISS WRINKLE
11.NUNCA MAIS FOI VISTO
12.ATÉ AMANHÃ
13.O CANDIDATO A ESCRITOR
14.AS DUAS PARTES
15.MIRIAM
16.A SANTA PEREGRINAÇÃO DO NÃO
17.O CAPÍTULO
18.529
19.AMÉLIA E BRUNA
20.TEMPO IMORTAL
21.A REVOLUÇÃO
22.O NOIVO E A NOIVA
23.O SENHOR ETECETERA
24.EL DITADOR! OLÉ!
25.ARTIGO 56
26.O HOMEM PROVÁVEL (inédito)
27.ALTA (inédito)
28.NIF (inédito)
1.PANFLETO
Ia eu todo lampeiro na direcção do meu trabalhinho (olarilólelas) quando me passam para a mão o panfleto com os seguintes dizeres:
Astrólogo Cura-Tudo, mas é que cura mesmo tudo!
Epá, pensei eu cá com os meus botões, até calos? (O que eu sofro com os calos, ai meu Jesus, nem imaginais). O Grande Vidente da Virgem Maria e Pai de Santo para Todos os Ofícios, como o senhor a si se nomeia, lista a série de Enfermidades Sérias que tem a capacidade de curar.
Passei os olhos pela lista. Vi:
- Especialmente que garante ocultamente todos os trabalhos (epá, eu preciso de remodelar a cozinha! Será caro? E ocultamente será Mais caro ainda?). Resultados bueda, mas bueda rápidos, man, assim mesmo muito rapidinhos (isso é que eu gosto: rápido e barato. 'Xa cá ver se é mesmo barato... continuei a ler). Dom herdado de Ancestrais dotados (os meus eram pouco dotados. Enfim. Não se pode ter tudo). Soluciona casos desesperados como: Espiritualidade nos Problemas ou vice-versa; Sexuais Impotências (ou vice-versa, concluí); Negócios maus e/ou Piores que Maus; Amor Malfadado e Doído, Amor Entrevado e Maltratado; Insucesso Escolar, Insucesso Precoce, Obeso Insucesso (e insucesso magro?, perguntei-me, e insucesso anoréxico?); Mau-olhado, Mau pisado, encostado e encravado; Bruxarias de Feitiços e Feiticeiros; Drogas e Álcool; Desmanchos Imprevistos e Calculados. Calçudos e Cálculos Renais. Desaproxima e Desafasta a Pessoa Querida.
Ora bolas. O meu problema não resolve. Prossegui a leitura.
Leio toda a boa sorte e dou previsão para o passado, adivinho o presente e calculo o futuro - mesmo muito ao longe. Vou a casa, mas não é preciso.
Termina pungentemente com a frase:
SE QUERES SER BASTANTE FELIZ E PARAR A DESINFELICIDADE TELEFONA-ME E VERÁS. TU MERECES. TU MERECES.
Li que o pagamento podia ser fraccionado e racionado e apequenado. Li que se davam facilidades (ah, eu gosto tanto de facilidades). E li que as consultas eram todos os dias a quase todas as horas. Ora isto convém-me, pensei eu, portanto não fui.
Ah. Para quem quiser ir: é junto aos Correios. Junto aos CORREIOS!
2.OS PIRATAS
Evitamos passear por Lisboa desde que a falha espácio-temporal trouxe do mar às nossas praias costeiras os piratas de antanho.
Piratas por piratas preferimos os modernos, hackers anarquistas que laboram na obscuridade para o derrube do Partido. Abençoados piratas esses!
Mas estes... por Deus. São feios, ranhosos, fétidos e vêm a terra causar sarilhos ou resolverem querelas começadas a bordo e, por ser proibido duelar nos barcos, trazem os duelos para as ruas, às vezes até para as avenidas largas de Lisboa!
Polícia, GNR ou nenhum Homem do Primeiro se atreve a abordá-los antes, a meio ou no fim do esgrimir. Levava com espadeirada em cima que se fornicava.
Em ocasiões, seguros da solidez do nosso disfarce, aproveitamos para assistir à luta sem tréguas destas criaturas vindas do século XVI ou XVII, XVIII ou até da antiguidade clássica – animados da secreta esperança de que um – apenas um – dos Homens do Primeiro (esses desprezíveis seres sombra que mantêm a normalidade social
prendendo arbitrariamente quem espirre ou tussa fora de compasso ou quem pisque os olhinhos de modo provocador ou simplesmente quem use barba – ou não a use de todo), de que uma dessas pulgas, dizíamos, tenha sofrido suicídio colectivo de neurónios, e avance, decidido na sua divina estupidez, e... tente deter o duelo.
Ó, como queríamos vê-lo guinchar como porco na matança enquanto as estranhas manchavam o asfalto de vermelho vivo!
Para infelicidade nossa em nenhuma das nossas – escassas porque perigosas – visitas a Lisboa tivemos a boa-venturança de testemunhar tal cenário idílico.
Os piratas até nem chateiam muito, verdade seja dita. Os alfacinhas cedo aprenderam a conviver com eles e a satisfazê-los: basta vinho – barris – e profissionais do ramo horizontal (ou vertical. Ou oblíquo. Depende da superfície disponível, é como tudo).
Embebedam-se. Gastam os dobrões, a moeda antiga que hoje vale muitas vezes mais que o valor facial, e ala para o navio rumo a novas presas.
Porém se calharmos dar de caras com um sóbrio – é bem certo aliviar-nos de tudo e nem pensar contar com a ajuda da Autoridade. A Autoridade põe o rabinho entre as pernas como um caniche tuberculoso e dá à sola.
Não fosse o pequeno inconveniente passearíamos – incógnitos – mais amiúde por Lisboa.
Incógnitos porque se um dos Homens do Primeiro nos apanha... lá nos remetem para o Tarrafal – prisão que a muito custo evitámos.
Mas o mundo, senhores, não é dos covardes!
Ah, cá está o nosso contacto. Pobre: um pirata alijou-o de tudo, desde o gorro às meias
- Ó homem...!
- Você não me diga nada!
- Tome lá o meu casaco.
- Você não se ria! Não se ria!
- ‘Tá mais aconchegadinho? Vamos lá falar de coisas sérias.
3.HÁ QUEM OS PARE?
Qu’isto no parir não há ajuda que valhe ou deixe de valer. Salete, parturiente em final de estação, semeou descendência Lisboa abaixo, com a força de um tsunami japonês. Começou a desovar na Avenida da República, antes de conseguir entrar no Metro. Empurraram-na, aos gritos, para um táxi de cor creme e condutor moreno, o bigode russo devido ao tabaco. A mulher tentou refrear-se, mas o puto sai a mil à hora seguido de cinco dezenas de irmãos. O taxista pôs-se a milhas e a mulher seguiu parindo Avenida da Liberdade adiante, os filhos, que num alvoroço de membros, placenta e sangue iam aos atropelos derrubando viaturas, árvores, pessoas, cães vadios, pombos, gaivotas e semáforos.
No Rossio Salete arremeteu