O desconhecido - Romantic Time 2
By Anna Arnold
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Tália vivia isolada com sua avó e desconhecia o desejo até o dia em que encontrou um desconhecido gravemente ferido. Clarence se viu consumido pela paixão e pela dúvida: seria capaz de sacrificar sua carreira pelo amor daquela jovem?
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O desconhecido - Romantic Time 2 - Anna Arnold
Tália vivia isolada com sua avó e desconhecia o desejo até o dia em que encontrou um desconhecido gravemente ferido. Clarence se viu consumido pela paixão e pela dúvida: seria capaz de sacrificar sua carreira pelo amor daquela jovem?
The stranger
Copyright © 2011 Anna Arnold
Tradução: Augusta Legat
Todos os direitos reservados. Exceto para uso em qualquer análise, a reprodução ou utilização deste trabalho, no todo ou em parte, em qualquer forma ou por quaisquer meios eletrônicos, mecânicos ou outros, atualmente conhecido ou futuramente inventado, incluindo xerografia, fotocópia e gravação, ou qualquer armazenamento de informação ou sistema de recuperação, é proibido sem a permissão escrita do autor.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produto da imaginação do autor ou são usados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, estabelecimentos comerciais, acontecimentos ou locais é mera coincidência.
Publisher: Candice Press
Capa: Sunshine Design
CAPÍTULO 1
Com o jarro ao ombro para trazer água fresca da fonte, Tália começou a descer a trilha serpeante da encosta.
Era uma jovem com pouco mais de dezoito anos, de rara beleza. Uma beleza agressiva, selvagem, que em outra parte do mundo provocaria olhares cobiçosos nos homens e a inveja das mulheres. Com certeza, até mesmo paixões súbitas e desejos extravagantes.
Mas naquele ermo perdido na imensidão dos Andes onde vivia — ou talvez vegetasse — com sua avó Oaiana, ninguém desfrutava desse privilégio. Não havia ali um único filho de Deus para admirar aquela deusa mestiça ou ouvir-lhe a voz melíflua, levada longe pelas mãos do vento quando Tália saltitava cantando pelas grimpas nas manhãs de sol.
Tinha longos cabelos pretos que lhe chegavam aos ombros, cabeça imponente, porte altivo de graça e elegância inatas. Sob a testa bem talhada exibia dois grandes olhos negros de compridos cílios encimados por sobrancelhas finas e delicadamente arqueadas. Seu nariz era sóbrio e a boca sensual, de lábios rubros, quando se abria mostrava uma fileira de dentes admiravelmente alvos.
Sua pele era de um moreno acobreado, macia, tenra, agradável, ao tato como a superfície polida do mármore. E aquele corpo majestoso de virgem, que jamais provara qualquer perfume de frascos, exalava um odor de frutas maduras, de rosas quando atingem seu esplendor máximo. Um cheiro profundo, envolvente, inebriante. Um cheiro puro de mulher que desperta para o amor.
A noite se debruçava lenta sobre as vastidões da cordilheira. Alguns raios esquivos do sol mortiço pousavam como enormes borboletas douradas sobre a figura mansa de Tália enquanto ela caminhava sem pressa, detendo-se a curtos espaços. Seu rosto, as vestes e os membros adquiriam uma tonalidade afogueada, e recortada em um fundo de nuvens pintalgadas de amarelo e púrpura, seu vulto gentil assemelhava-se ao de uma deusa do prazer baixando de seus domínios para povoar a Terra de pecados.
A despeito disso, na sua existência extremamente humilde, Tália personificava a simplicidade. Perdera a mãe ao nascer e o pai desapareceu meses depois, durante uma tempestade. Foi criada pela avó, Oaiana.
Naquele sítios distantes, habitando modesto casebre situado num planalto sobre colossais abismos, ela cresceu levando vida singela a apascentar cabras. Os animais constituíam a fonte de sustento das duas, dando-lhes carne e leite para a alimentação. Forneciam também a matéria-prima para os queijos e defumados que Oaiana vendia duas vezes por mês em Oripa, a aldeia mais próxima, após percorrer quilômetros de trilhas em lombo de mula. Em criança, Tália acompanhava a avó nessas viagens, mas fazia então anos que não ia à aldeia por lhe desgostar o incômodo da jornada. Oaiana, ao contrário, adorava ir a Oripa.
Tal qual uma muda de planta silvestre, a pequena Tália firmou suas raízes naquele sítio inóspito, venceu com soberbia todas as privações do ambiente, adaptou-se a ele, floresceu, tornou-se uma bela mulher. Livre como ave, ingênua como os animaizinhos que tinha por companheiros de travessuras, generosa como a natureza, onde pontificava à semelhança de rainha. Mas para Oaiana, avançada em anos — tantos que nem ela mesma sabia sua idade — Tália continuava sendo apenas uma criança. Os olhos bondosos da velha não enxergavam os seios bonitos como dois pomos de bom tamanho libertos sob as blusas de algodão fino. Não viam os quadris salientes e as nádegas forçando o tecido da saia. Jamais notavam a inquietude da neta em certas épocas, quando se punha a correr e a cantar doidamente, sem o saber dissipando energias que lhe incendiavam as veias, incandesciam os seios intocados e explodiam na gruta úmida abaixo do ventre — o apelo da carne!
No final da sinuosa vereda, Tália depositou o jarro na relva junto ao regato e sentou-se numa rocha, com os pés imersos na água. Era um de seus hábitos.
Sua voz pálida ecoou pelos vales próximos enquanto chapinhava na cristalina corrente com os pés delicados espargindo borrifos sobre os cascalhos. Cantava. Uma canção montesina ensinada pela avó, dizendo coisas que desconhecia. Falava de amor a canção. Herança secular legada pelos espanhóis, sofrera alterações nos versos mas mantinha a estrutura original. Um drama antigo — ou talvez perene. A donzela e um amor impossível. O amante infeliz retornando à Espanha, seu derradeiro adeus numa serenata sob a janela da amada,
— ...su nombre yo guardaré como relicário e mi alma arrastada contigo no más sabrá sonrir!
— vibraram suspensas na brisa, instantes depois, as palavras finais da canção diluindo-se aos poucos na imensidão.
A moça