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O Manto De Chumbo
O Manto De Chumbo
O Manto De Chumbo
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O Manto De Chumbo

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About this ebook

Byron Shaw pode rastrear e encontrar qualquer pessoa no planeta. Exceto aqueles que tentaram lhe assassinar.

Em 2081, não existe privacidade. A Treliça permite que as pessoas revivam qualquer momento de suas vidas. O passado e o presente — ou até mesmo a mente dos vivos e dos mortos — podem ser vivenciados por qualquer pessoa.

Muitos amam a Treliça. Alguns querem destruí-la.

Coronel Byron Shaw acabou de salvar a Treliça contra o mais perigoso ataque de sua história. Agora, ele precisa encontrar os responsáveis. Porém, existe uma pergunta que deve ser feita: a Treliça merece ser salva?

A resposta pode custar sua vida.

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateJan 25, 2015
ISBN9781633394520
O Manto De Chumbo
Author

Erik Hanberg

Erik Hanberg has been a writer all his life. He lives in Tacoma Washington with his wife Mary and two children.In addition to writing novels, Erik Hanberg is an expert in nonprofit management, fundraising, marketing, and leadership. His books for nonprofits have sold more than 10,000 copies.He has served as the director of two nonprofits, the interim executive director of two more, and served in positions in marketing and fundraising. He has been on more than twelve boards. In addition, he has consulted with nonprofit boards and staff of dozens and dozens of nonprofits and foundations across the country.

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O Manto De Chumbo - Erik Hanberg

Joy, obrigado por ter me encorajado a começar.

Mary, obrigado por ter me encorajado a terminar.

Somos as criaturas que sabem demais.

— Ray Bradbury

O Manto de Chumbo

O Ano 2081

Parte Um:

Esferas

Capítulo 1

Byron Shaw estava em um salto. Durante dez minutos extraordinários, o vestiário masculino foi transformado em uma pequena colina arborizada nos arredores de alguma fazenda na Pensilvânia.

O corpo do Coronel Byron Shaw estava em uma das cabines sanitárias, mas sua mente encontrava-se no passado, duzentos anos atrás, visitando outro Coronel, Joshua Chamberlain, que protegia a colina de Little Round Top do exército Confederado que tentava flanquear sua posição.

Temos munição apenas para uma única salva, Shaw/Chamberlain informou as tropas mais próximas. Usaremos as baionetas e atacaremos no final da colina, o flanco esquerdo iniciará o ataque e o resto seguirá logo atrás, em ondas. Avise aos outros e diga para que aguardem minhas ordens.

Chamberlain esperou que a ordem fosse passada aos homens sob seu comando, seu rosto parecia calmo.

Apesar dos anos que os separava, Shaw podia sentir como sua expressão era intencional e o quanto Chamberlain mascarava seu medo. Ele sentia a dúvida começando a se formar na mente de Chamberlain. Era loucura? Como seria lembrado por sua família e amigos no Maine caso falhasse? Seria este um último ato de desespero de um homem desesperado?

Entretanto, não havia tempo para tais pensamentos e Chamberlain deixou suas dúvidas de lado. Ele não tinha como ganhar mais tempo dos rebeldes que se encontravam no fim da colina.

Armar as baionetas! Gritou Shaw/Chamberlain.

Conforme as linhas da União começavam a montar as baionetas em seus rifles, Shaw sentiu uma pontada em seu dedo anelar direito. Na verdade, o pequeno anel de metal havia esfriado bastante, fazendo com que o metal se contraísse e apertasse contra a pele. E iria apertar ainda mais caso não saltasse de volta de Gettysburg dentro dos próximos cinco segundos.

Com um suspiro, Shaw encostou o anel contra o implante em sua têmpora direita e imediatamente Chamberlain e o exército da União desapareceram, sendo substituídos pela porta de metal de um azul monótono da cabine sanitária.

Ele não deveria ter dado o salto estando de serviço. Ele nunca conseguia ficar mais que alguns minutos antes que o anel indicasse uma solicitação urgente. Em seus aposentos, quando não estava de serviço, ele podia saltar por algumas horas, escolhendo um soldado aleatório que pudesse seguir, assim como seus pensamentos. A maioria das pessoas consideraria esse tipo de salto chato, mas Shaw preferia assim... ainda que o motivo principal fosse continuar dizendo para si mesmo que não era um viciado.

Shaw lavou-se rapidamente e encontrou um rapaz esperando por ele do lado de fora do banheiro. Era um rosto novo... Yang? Primeiro-Tenente Tim Yang, lembrou-se Shaw. Yang parecia agitado. Seu nervosismo não era uma surpresa, era seu primeiro dia na Instalação e havia acabado de interromper seu oficial superior na toalete.

— Desculpa, senhor, eles disseram que eu deveria vir e... — começou Yang, mas Shaw não deixou que ele concluísse.

— Não precisa se desculpar. Mais uns dias trabalhando aqui e você pode ter certeza que alguém irá arrastá-lo do banheiro umas oito vezes. Posso pegar sua abotoadura emprestada um segundo?

Yang a entregou, confuso, e Shaw brincou com ela por alguns segundos.

— Qual é a mensagem?

— Um intruso foi detectado pelos sensores no deserto. A uma distância de cento e dez quilômetros.

— Cento e dez? Merda.

Shaw baixou o braço de Yang e juntos se apressaram pelo corredor.

— Aliás, você percebeu como prendi a manga do casaco sob a abotoadura? Assim, você sempre poderá ver seu punho. Ele não ficará escondido sobre a manga.

Yang olhou para o punho enquanto caminhavam.

— Obrigado, senhor.

— Não há de quê. É o jeito mais fácil de parecer distinto com essa porcaria de uniforme — disse Shaw, batendo a mão contra o capacete padrão. — Após cuidarmos desse invasor, não esqueça de arrumar a outra manga.

— Sim, senhor.

Shaw examinou Yang enquanto caminhavam. O rapaz parecia estar procurando um canto para esconder-se.

— Você não é muito novo para estar aqui?

— Só alguns meses até completar vinte e quatro, senhor.

— Você não deveria estar na Academia ainda?

— Meus pais acreditavam que a infância servia para estudar e não brincar. Por isso progredi mais rápidos que os outros.

— Sem dúvida. Eu não consegui sair da Academia antes dos vinte e seis. Então, o que você sabe sobre o invasor?

— Major Iverson disse ser um hovercraft. Deslizando apenas alguns pés sobre a superfície do deserto. Estava indo a trezentos quilômetros por hora — acrescentou Yang, a voz tensa.

Shaw reconheceu a nota de pânico. Ele esperava poder acalmar Yang. Shaw lembrava-se de como havia ficado nervoso em sua primeira incursão, muito antes de ficar entorpecido pela rotina. Agora, elas apenas interrompiam seus saltos até a Guerra Civil.

— Alguma possibilidade de ser apenas um turista?

— Não, senhor. Está em curso direto de colisão vindo de óes-sudoeste.

— Vindo do Vale da Morte. Isso explica por que só captamos o sinal agora.

— Senhor?

— A obtenção de imagens lá é complicada com o calor. Aviões invisíveis ou drones podem passar facilmente. Assim, temos sensores por todo o deserto e, mesmo assim, eles podem ser enganados. Se o movimento for lento o suficiente, se a areia no ar for suficiente, ou se o calor que você emana não for muito diferente do calor sendo radiado, você consegue ir longe o bastante antes de podermos pegá-lo. Qual a intensidade do resíduo de radiação?

— Não há radiação, senhor.

— Sério?

As sobrancelhas de Shaw arquearam e ele apressou o passo. Nenhum resíduo de radiação significava que o piloto não estava transportando uma bomba suja. Porém, isso era tão raro nos dias de hoje que ele começou a sentir-se inquieto.

— Convencionais, então. Incomum.

— O que é incomum, senhor?

— Os invasores desistiram das armas convencionais anos atrás. Na teoria, elas funcionam, mas apenas se o piloto achar que pode chegar próximo o suficiente, a poucos quilômetros de distância. E ninguém mais tenta isso. Humm.

Shaw começou a pensar alto, em parte para ajudar Yang.

— Certo, então temos um invasor a cerca de cem quilômetros vindo direto para nós. A trezentos quilômetros por hora, temos cerca de quinze minutos antes que ele entre na mira de ataque de um míssil convencional resmungou Shaw — Bem, nenhum outro invasor chegou tão perto quanto ele nos últimos anos. Quem sabe, Yang? Não falta muito e logo você lembrará do seu primeiro dia como o mais próximo em que alguém chegou da Treliça em dez anos.

Shaw abriu um sorriso largo para Yang, seu rosto refletindo sua excitação. Ele conseguia sentir a adrenalina percorrendo seu corpo com a perspectiva de uma luta real. Normalmente, o computador já teria passado a sua equipe tantos avisos que, caso não estivesse no banheiro, ele já teria despachado o invasor em uma nuvem de fumaça e areia. Porém, hoje, as coisas poderiam realmente ficar interessantes. Se houvessem outros dias como este, pensou, talvez não precisasse continuar os saltos para a Batalha de Gettysburg. Por mais que gostasse das batalhas históricas, elas não faziam seu sangue ferver, pois já sabia o resultado. Não importava quantas vezes saltasse, não importava as diferentes perspectivas que encontrasse, a batalha de Little Round Top, infelizmente, permanecia a mesma.

Contudo, o resultado da luta de hoje também era bastante claro. O piloto solitário possuía apenas algumas armas convencionais, provavelmente ultrapassadas há décadas, ou pior, feitas em casa. Ele não tinha chance. Naquele momento, lasers na terra e no ar aguardavam às ordens de Shaw para destruir o hovercraft. Se por algum milagre o piloto viesse a sobreviver ao ataque, Shaw ainda tinha uma pequena variedade de armas nucleares táticas sob seu comando. Desde que fossem detonadas a uma distância de mais de dez quilômetros da Instalação, não havia como danificar a Treliça.

Shaw encostou a mão na porta metálica no final do corredor e esperou que suas digitais, temperatura corporal e DNA fossem reconhecidos. Não era infalível, claro, mas o que era?

Era tentador deixar que um invasor se aproximasse, só para ter um pouco de emoção, pensou Shaw, antes de reprimir por completo a ideia. É esse tipo de pensamento que pode custar seu trabalho, disse para si mesmo.

A leitura de sua mão autorizou o acesso e Shaw entrou no centro de comando. Ao abrir da porta, disse a Yang:

— Minha prioridade é derrubar o hovercraft, mas fique próximo, sei que aqui é um pouco diferente ao que você estava acostumado em Genebra, então, farei o possível para responder quaisquer perguntas.

O brilho familiar dos monitores iluminava a sala. Shaw caminhou até a ampla mesa no centro da sala e verificou cada tela iluminada. Ele focou primeiro no mapa, confirmando tudo o que Yang havia lhe dito. O veículo encontrava-se, naquele instante, a uma distância de 100 quilômetros e em menos de quinze minutos estaria dentro de alcance para usar suas armas.

Shaw buscou outros dados sobre o invasor incomum. Que tipo de jogo era aquele, tentando atacar o sistema de armas mais sofisticado do mundo, mas com o que exatamente?

— Quem saltou até o hovercraft?

— Eu, senhor — respondeu Johan Iverson de sua estação.

— O que ele está transportando?

— Antiguidades, senhor. Seis mísseis interceptadores, com, pelo menos, um quinze anos. Nenhuma outra arma. A coisa toda parece ter sido montada na garagem de alguém. É sorte estar a dois metros da superfície.

— Um drone?

— Não, senhor. Um único piloto.

Shaw continuou verificando as telas.

— Os lasers estão travados no alvo?

— Sim, senhor. Por algum motivo, estamos com dificuldade para fazer com que os lasers de terra entrem on-line, porém, os satélites Thunderbolt travaram no alvo assim que a IA encontrou o hovercraft. Estão aguardando o seu comando.

Shaw assentiu. Ele olhou para Yang, que estava atrás dele, próximo demais, como um cachorro leal. Shaw teve dificuldade em encontrar as palavras para explicar por que isso lhe dava um frio na barriga. Ele olhou de volta para a mesa e murmurou:

— Há algo errado.

— Senhor? — perguntou Yang, aproximando-se ainda mais.

— Ninguém mais usa armas convencionais contra nós.

— E por que isso é significante, senhor?

— Uma tecnologia tão ultrapassada contra tudo isto? — Apontou com a mão indicando a mesa e a sala, englobando os satélites e lasers no processo. — É como tirar doce de criança. E mesmo assim, não parece estar certo. O calor foi modulado para a temperatura externa dentro de um centésimo de um grau. Isso permitiu com que ele chegasse tão longe sem que o computador reconhecesse a diferença de temperatura. Todo esse trabalho e ele nem se preocupou em adquirir uma bomba suja? Você entende o que estou dizendo?

Yang concordou com a cabeça.

— Parece simples, senhor. Seguindo o manual.

— E o que o manual diz sobre como devemos proceder quando um invasor com um único piloto se aproxima da Instalação?

— Entrar em contato com o piloto e avisá-lo.

Isso nunca funcionou, é claro, mas Shaw concordou.

— Você está certo. Em que frequência está o piloto? — Shaw perguntou para Iverson.

O protocolo indicava que aquele que saltasse no invasor deveria buscar armamentos e olhar dentro da cabine do piloto, tomando nota de todos os dispositivos de comunicação.

— Rádio antiquado. Canal quatro.

— Yang, você poderia pegar aquele rádio ali?

Yang correu até a parede onde o rádio estava e voltou com o transceptor.

Shaw pegou-o de sua mão, observando o cabo espiral preto que ia do console ao microfone. Por vezes, não conseguia conformar-se com o fato de que as pessoas fizeram uso daquilo. Ele pressionou o botão na lateral.

— Veículo não identificado, veículo não identificado, você está em espaço aéreo restrito. Reduza a velocidade e dê meia-volta. Iremos escoltá-lo para fora da área restrita. Câmbio, desligo?

Fez-se silêncio e, após alguns segundos, Shaw repetiu a mensagem.

Novamente, silêncio.

— Oitenta quilômetros — informou Iverson.

Shaw pegou o rádio novamente.

— Escute. Você sabe que tipos de armas temos aqui... o que temos apontado para você? Não é tarde para voltar... Isso não precisa terminar assim.

Shaw esperou. Aquilo não era o que dizia o manual e Yang o olhava de um jeito estranho. Era uma tentativa válida. Qualquer coisa para fazer essa sensação desaparecer.

Shaw abriu a boca para falar, mas o rádio crepitou:

— O futuro é incerto. Se ainda existe algum mérito à humanidade é que a Treliça não consegue ver o futuro. Este golpe é em nome de nosso passado e nossa privacidade, os quais pertencem a nós mesmos e a mais ninguém.

Esta foi a primeira vez que alguém havia respondido e Shaw e Iverson olharam-se em espanto. Deveria tentar avisar novamente o piloto? Ele voltou a olhar para a tela do mapa e viu a velocidade com que o hovercraft aproximava-se. Seria ele capaz de argumentar com o piloto? Ele pensou por alguns segundos preciosos antes de baixar gentilmente o rádio.

— Disparar Thunderbolts contra o invasor — disse Shaw.

— Disparar Thunderbolts — repetiu Iverson.

Shaw tocou seu anel no símbolo vermelho do hovercraft na mesa e, então, encostou-o contra sua têmpora. Dentro de instantes, ele estava em movimento a uma velocidade absurda sob o deserto claro em perfeita sincronia com o hovercraft. Iverson não havia exagerado sobre o estado de abandono do veículo. Era um balde de parafusos. Placas de metal pareciam estar penduradas a esmo, algumas delas chamuscadas de preto, como se tivessem sobrevivido a um acidente na oficina; outras pareciam ter sido remendadas a partir de um carro esporte vermelho.

A explosão ocorreria nos próximos segundos. Ele esperou... esperou... esperou.

No momento em que Shaw começou a questionar se algo havia dado errado com os satélites Thunderbolt, a explosão veio chiando em sua direção. Embora a explosão não pudesse afetá-lo durante um salto, Shaw esquivou-se.

Ele esperou as chamas dissipassem e ficou surpreso ao ver que o hovercraft havia sobrevivido, movendo-se pelo ar a uma velocidade vertiginosa. Parecia ser um novo veículo. As placas de metal caíram durante a explosão do laser revelando uma sonda de um preto lustroso que provavelmente formava o esqueleto interno da nave.

Movia-se rápido também? Shaw sentia estar voando duas vezes mais rápido sobre o solo.

Sua mente ainda estava no salto observando o hovercraft, mas seu corpo, próximo a mesa, gritou:

— Disparar novamente os Thunderbolts!

Shaw esperou pela próxima rodada de lasers. Ele mais ouviu do que viu os lasers cortarem o ar. O veículo aproximou-se da superfície do deserto sob o impacto direto, mas, para o espanto de Shaw, permaneceu em voo e continuou em sua trajetória mortal.

Shaw tocou o anel contra sua têmpora e sua mente estava de volta à sala. A primeira coisa que percebeu foi o som da sirene, um sistema automático que era ativado quando um invasor encontra-se a cinquenta quilômetros do impacto. Ele não conseguia lembrar-se de quando foi a última vez que ouviu as sirenes.

— Eles contavam com os lasers! — exclamou Shaw.

A leitura mostrava que o hovercraft realmente movia-se mais rápido. Agora, o impacto estimado ocorreria em menos de seis minutos.

— O hovercraft enferrujado era apenas um disfarce — praguejou Iverson. — A energia do laser foi de alguma forma transformada em propulsão.

Shaw olhou para Iverson, mas seu anel já havia tocado sua têmpora. Shaw voltou-se a outro oficial.

— Bailey! Os lasers-terra estão travados no alvo?

— Não, senhor — ela respondeu. — Eles ainda estão off-line. Não sabemos porquê.

Shaw não perdeu tempo gritando o seu "Que?" em resposta.

— Chame Braybrook. Preciso das armas nucleares on-line.

Ele pressionou sua mão na mesa e disse:

— L T C T T W 3 V 1 1 G.

DNA, temperatura, impressões digitais e, agora, sua voz impressos em uma longa sequência de números e letras memorizadas. Até mesmo isto poderia ser burlado se alguém tivesse o trabalho, mas seria muito improvável.

— Autorização confirmada pelo General Braybrook — respondeu Bailey. — Armas nucleares estão travadas no alvo. O comando completo está agora em sua tela.

Uma porção do mapa na tela alternou para uma sequência de seis botões vermelhos. Tudo o que precisava fazer era arrastar um deles e, literalmente, soltá-lo sobre o alvo.

Iverson havia saltado de volta:

— O painel de controle parece ser antigo, mas por baixo é todo moderno. Não consegui reconhecer metade dele. Tudo não passou de um maldito golpe! E eu caí direitinho — esguichou Iverson. — Trabalhando nos lasers-terra, senhor.

Shaw olhou de volta para a mesa. Trinta e cinco quilômetros. Menos de três minutos.

— Esqueça. Não tenho certeza se poderiam ser eficazes. Iremos derrubar a nave com as armas nucleares e descobriremos depois o que aconteceu.

— Senhor? — Perguntou uma voz ao seu lado.

Shaw ignorou Yang.

— Bailey, acione a sirene de radiação. Precisamos avisar a todos na torre que as armas nucleares serão disparadas.

— Sim, senhor.

Por toda a Instalação, uma nova sirene soava estridente.

Shaw olhou para o relógio. Ele queria dar ao pessoal na torre uma vantagem de pelo menos trinta segundos. O hovercraft estaria prestes a avistar o topo da torre sobre a paisagem.

— Senhor? — Disse novamente Yang.

— O que é, Tenente?

— Obrigado por ter me falado sobre as abotoaduras. — Yang soava quase arrependido.

— O quê? — Shaw perguntou, levantando os olhos.

Yang estava ao seu lado, muito próximo. Em sua visão periférica, Shaw viu o braço de Yang vindo em direção ao seu quadril, algo preto em sua mão.

Shaw estava muito chocado para ter reagido conscientemente, mas sentiu seu corpo girar e sua mão avançar para segurar o punho de Yang. Ao invés do punho, ele prendeu o dedão de Yang. Tateando por algo, sentiu a ponta de dois dedos tocar um chumaço preto na mão de Yang.

Não havia dúvida do que era aquilo. Um nanochoque. Uma massa preta úmida de milhões de nanorobôs, programados para absorver a pele mediante contato e atacar as células nervosas. Seu efeito...

Dor intensa, de certa forma misturada com um torpor intenso. A dor irradiava pelo corpo de Shaw a partir de seus dedos. Ele reconheceu a sensação de um salto curto realizado durante o treinamento. De algum modo, a dor era pior quando estava acontecendo em seu próprio corpo. Shaw tentou gritar, mas nenhum de seus nervos respondiam direito e tudo que conseguiu fazer foi gemer. Suas pernas perderam a força e ele caiu no chão.

O negrume se espalhava, rastejando-se visivelmente a partir de seus dois dedos.

Enquanto contorcia-se no chão, Yang olhava-o de cima tão em choque quanto Shaw. Como se o efeito daquilo fosse algo que nunca havia presenciado.

Yang voltou a si e desviou sua atenção para a mesa.

As armas nucleares, percebeu Shaw através da dor. Ele queria as armas nucleares.

Shaw forçou-se a mover o braço. Ele tinha alguns segundos antes que o nanochoque o deixasse completamente imóvel. Seus dedos estavam a centímetros da perna de Yang. Com toda a sua energia mental focada no esforço, Shaw avançou, seus dois dedos infeccionados prendendo-se ao calcanhar de Yang. Yang olhou para ele em surpresa. Apenas mais um ou dois segundos e pronto! O rosto de Yang contorceu e seu corpo estremeceu. Ele agarrou-se a mesa para ter apoio.

Shaw tentou soltar, mas descobriu que seu corpo não respondia. Caso tivesse demorando alguns instantes mais antes de agarrar Yang, seu corpo já estaria nos estágios finais do choque e incapaz de mover-se. Mas teria isto sido suficiente? Yang arqueava. Teria ele conseguido disparar as armas nucleares?

A visão de Shaw começou a desaparecer e através da escuridão crescente, pensou ter visto Iverson afastando Yang da mesa. Havia outra figura também, alguém ao lado de Shaw, erguendo sua camisa. Shaw pensou ter visto uma agulha penetrar em seu antebraço.

Instantaneamente, o choro de dor que havia segurado até aquele momento foi liberado. Um grito terrível fez tudo parecer ainda pior. Mas, enfim, conseguia mover-se. Shaw curvou-se, desejando que a dor diminuísse.

Havia uma mão em seu ombro.

— Senhor? Senhor? O senhor está bem? — Era Iverson.

Shaw sentiu-se melhor, ao saber que podia reconhecer uma voz, era provável que o choque não tivesse atingido seu cérebro.

— O hovercraft — tossiu Shaw. — Não se preocupe comigo. O...

— Eu o atingi. A doze quilômetros de distância. Senhor, precisamos...

Shaw moveu novamente a mandíbula, recobrando a musculatura.

— Ajude-me a levantar.

— O senhor precisa ter cuidado, senhor.

— Ajude-me a levantar!

Iverson e outra figura, um médico, ao que parecia, ajudaram-no a levantar-se. Shaw apoiou-se na mesa, seus olhos tentando focar no mapa, o qual entrava e saía de seu campo de visão. Shaw respirou fundo e fechou os olhos.

Ele contou até cinco e abriu os olhos. Tudo estava claro. Sua mente calma. Ele voltou a olhar o mapa.

O rastro do hovercraft havia sido traçado no deserto, terminando em um ponto vermelho que fora marcado com um símbolo de radiação. Shaw olhou para a contagem de armas nucleares. Vazia.

— Você usou todas as seis?

— Não, senhor. Yang tentou ativá-las contra a Instalação, mas a IA solicitou um segundo código de confirmação. Ele começou a desviar as armas para as colinas, afastando-as do hovercraft. Ele disparou cinco. O senhor impediu que ele disparasse a última. Caso tivesse conseguido, a Instalação teria ficado sem defesas contra o hovercraft. Todos estaríamos mortos.

— Você só teve uma tentativa?

— Bem, o computador fez quase todo o serviço — disse Iverson deixando um sorriso transparecer em seu rosto.

Shaw tentou sorrir de volta, mas foi interrompido por uma tosse profunda e seu rosto ficou carrancudo.

— Não temos muito o que celebrar. Nenhum invasor havia chegado tão próximo da Treliça. Alguém vai ter que pagar por isso.

Capítulo 2

Shaw caminhava de um lado a outro no escritório de Marc Braybrook, esperando pelo retorno do general e curioso para saber se sua carreira sobreviveria à reunião.

Quando cansou de andar de um lado a outro, ele inspecionou a ponta dos dedos infeccionados. Onde haviam entrado em contato com a superfície da arma portátil de Yang, pareciam aço escurecido.

O nanochoque era uma ferramenta bastante simples. Como um estojo de pó compacto, podia ser guardado em um bolso até ser aberto. E, então... Shaw estremeceu. Existiam cepas de bots de autodefesa não-fatais e que causavam pouca dor que podiam ser impressas legalmente em casa. Shaw sabia que aquele usado contra ele não era proveniente de uma impressora caseira. Yang intencionava matar.

Braybrook entrou e sentou atrás de sua mesa de mogno, seus olhos voltados para os dedos de Shaw.

— Você teve sorte de só ter encostado naquela merda.

— Sim, senhor — disse Shaw, colocando a mão de lado. — Porém, os bots desinfetantes que o médico me deu não tiveram qualquer efeito.

Braybrook arqueou as sobrancelhas.

— Não existe antídoto?

— Parou a dor e interrompeu a propagação, mas o hematoma ainda está lá. Eles precisam de tempo para reconfigurar o antídoto, eu acho. O doutor disse que o choque havia sido ‘criptografado’ de alguma forma.

Braybrook resmungou:

— Hovercraft de última geração, porque o nanochoque também não seria de última geração?

— Sim, senhor.

— Sente-se, Shaw — disse Braybrook.

Shaw tentou focar no General, seu corpo largo, o bigode grisalho e seus olhos acinzentados, "o direito não parecia um pouco mais claro?"

— Se você acha que vou conduzir o interrogatório sem um escriba... — disse o General.

Shaw assentiu, sem surpresa. Em algum lugar, provavelmente na sala ao lado, o assistente de Braybrook saltou na mente de Shaw e alimentava seus pensamentos literalmente para as lentes de contato de Braybrook. Fazia um bom tempo desde a última vez que alguém falou com Shaw usando um escriba. Mas depois do dia de hoje...

— Exatamente — confirmou o General.

— O senhor deseja um relatório verbal?

— Pelos velhos tempos — disse Braybrook com um traço de um sorriso.

— As zero nove cinquenta e seis horas, o Tenente Yang me alertou de um intruso em aproximação — iniciou Shaw, informando Braybrook sobre o curso dos eventos daquela manhã.

Era uma formalidade, na verdade. Braybrook e a equipe de investigadores do Exército iriam saltar para ver tudo o que precisavam. Entretanto, fazer Shaw narrar os eventos permitia com que analisassem a resposta emocional de Shaw a cada evento e o que ele retinha como informação privilegiada, aquilo que pensava ser importante.

— Resumindo — concluiu Shaw —, foi o ataque de um especialista, coordenado de forma perfeita e tirando proveito de todas as nossas fraquezas. Eles sabiam que um Saltador não verificaria o suficiente para detectar que a aparência inicial do hovercraft era apenas um engodo. De alguma forma, conseguiram deixar os lasers-terra off-line. E, pela primeira vez, foram capazes de recrutar um dos nossos sem que soubéssemos. Isso é, seu escriba, minha suposição. Foi apenas graças a ação rápida de Iverson que pudemos parar o hovercraft antes que entrasse no alcance de ataque.

— Primeiro, repetindo o que Iverson lhe disse de manhã, foi sua ação rápida em devolver o choque ao atacante que salvou o dia. E, segundo, os invasores não recrutaram um dos nossos. Aquele não era Yang.

Shaw endireitou-se num sobressalto. O escriba não teria problemas em registrar a veracidade de sua surpresa.

— Quem era, então?

— Um rapaz japonês chamado Yukihiro Ono.

Shaw estava atônito. Ele pensou sobre quantas vezes recitou números e pressionou sua mão contra portas, achando ser mais teatro que segurança. Caso os invasores realmente tivessem obtido sucesso seria...

— Não sei o que dizer, senhor.

— Ter um dublê em nosso centro de comando não foi o ato mais impressionante dos invasores — continuou Braybrook —, mas sim sua paciência. Rastreamos o caminho do hovercraft até um hangar na extremidade do deserto. O veículo ficou pronto quatro meses atrás, então, só esperou. Eles precisavam de alguém dentro para que o plano funcionasse e a transferência de Yang vindo de Genebra foi a oportunidade que esperavam. Ono foi submetido a cirurgia cosmética extensiva e maquiagem que o ajudou a desempenhar o papel, bastando que se apresentasse para o serviço de manhã como Yang.

— O que aconteceu com o verdadeiro Yang?

— Ontem à noite, Yang deitou-se para dormir e não acordou. Dopado, graças à Deus, não de forma letal. Ainda não sabemos como injetaram a droga, mas a dose foi alta o bastante, a equipe médica que chegou ao apartamento dele há uma hora mal conseguiu reverter o efeito — disse Braybrook

Shaw franziu a testa.

— Eles corriam risco de investigarmos Yang.

— Claro que investigamos Yang. Verificamos cada pensamento que ele teve desde os dois anos de idade, praticamente. Até saltamos ontem à noite, após ter sido drogado, por incrível que pareça. Às vezes, as pessoas ficam ansiosas na noite anterior ao seu primeiro dia, então, verificamos antes de começarem.

— Então, como deixamos isso passar?

— Yang não sabia que havia sido drogado. O protocolo indica que, na noite anterior a entrada de alguém, seus pensamentos sejam verificados. No que diz respeito ao saltador, Tim Yang estava na cama, dormindo profundamente e empolgado com seu primeiro dia aqui. Não tínhamos ideia de que ele não acordaria.

— O próximo salto para Yang estava agendado para quando?

— Há quatro meses que não fazemos mais isso, existem muitas formas de enganar o sistema mantendo verificações regulares agendadas. Agora, a IA entrega as tarefas aos saltadores de forma aleatória. Até mesmo os saltadores só ficam sabendo em quem vão saltar minutos antes do salto. Mesmo assim, o sistema foi programado para que todos trabalhando aqui ou na Treliça de Genebra sejam verificados pelo menos três vezes por semana, inclusive eu, caso esteja se perguntando.

— Quando fui verificado pela última vez?

— Além de agora? Sábado.

Três dias atrás.

— E você encontrou algo?

— Claro que não. O que me preocupa foi algo que aconteceu hoje.

O General citou o pensamento de Shaw para ele:

Era tentador deixar que um invasor se aproximasse, só para ter um pouco de emoção.

— E o senhor sabe que abandonei esse pensamento imediatamente — disse Shaw, a voz firme.

— Realmente — reconheceu Braybrook —, mas seu pensamento seguinte foi: "É esse tipo de pensamento que pode custar seu trabalho. Isso não é muito animador. Preferiríamos que seu pensamento seguinte tivesse disso: Colocar meus desejos a frente da Treliça é uma merda de ideia".

— Não posso voltar atrás, senhor.

— Não, você não pode.

Shaw assentiu, pensando. Após alguns segundos, a conclusão a que chegou foi: "O Senhor não confia mais em mim".

O General Braybrook sentou-se na ponta da cadeira.

— Isso não é verdade, Byron.

Geralmente, quando alguém fazia uso de um escriba, a conversa era conduzida de modo a parecer informal, porém, hoje, Braybrook não parecia importar-se com as convenções.

— Você sente que deve sua vida à Treliça, sabemos disso. Não duvidamos de sua lealdade, suas ações hoje foram prova o suficiente, mas o chefe de segurança da Treliça não pode ficar desejando que o serviço seja mais emocionante. Desejando que fosse mais como... como um ataque de baionetas que obtém a vitória às garras da derrota.

— Isso não é justo, senhor.

— Isto aqui não é Little Round Top. Não podemos nos dar ao luxo de termos outro ataque como este.

— Não teremos.

— Eu sei. Mas não podemos mantê-lo neste cargo enquanto se sente desta forma. Chegamos tão perto hoje. No grande esquema das coisas, doze quilômetros poderiam ter sido doze metros. Foi por um triz que quase perdemos a Treliça.

— Genebra poderia ter assumido.

— Temos um sistema de segurança contra falhas de modo a nunca ter que recorrer a Genebra! — Braybrook arrumou-se novamente na cadeira e olhou fixamente. — Tem mais uma coisa. Dvorak, L.R.I. e outras três empresas que produzem leitores Treliça concordaram em juntar seus recursos e adquirir um novo guarnecimento maciço de chumbo para proteger a torre da Treliça. O Presidente deu sinal verde para que começassem a trabalhar imediatamente.

— Eles são muito generosos, mas preciso estar no local para isso. Quero ficar aqui, senhor — disse Shaw.

Ele não tinha certeza como expressar isso com clareza, em fala ou pensamento.

— Eu sei. Porém não podemos permitir isso no momento. Além disso...

— Então, o senhor diz que confia em mim, mas não quer que eu desempenhe meu papel por um tempo. Férias remuneradas?

Era perigoso interromper um general, mas Braybrook olhou de forma condescende.

— Muito pelo contrário. Se é excitação que você quer, é isso que você vai ter.

Shaw abriu a boca, mas fechou-a novamente. Esperou.

— Quero que você rastreie esses invasores. Encontre seu paradeiro e os prenda.

— Com todo o respeito, senhor, agora que o ataque aconteceu, rastreá-los levará apenas algumas horas de salto. Não acredito que isto se qualifique como excitante ou até mesmo interessante.

Braybrook negou com a cabeça.

— Você está errado. Já demos início a nossa busca e o que encontramos é preocupante, para dizer o mínimo. Ono não possuía conhecimento direto do projeto do hovercraft. Até o

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