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Contos Meio Estranhos (Kind of Weird Short Novels)
Contos Meio Estranhos (Kind of Weird Short Novels)
Contos Meio Estranhos (Kind of Weird Short Novels)
Ebook147 pages1 hour

Contos Meio Estranhos (Kind of Weird Short Novels)

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Esses contos foram escritos há mais de trinta anos, alguns manuscritos em papel e outros datilografando (sim, existia isso antigamente!) em uma máquina de escrever Olivetti puramente mecânica. Dormiram anos a fio, com revisões episódicas.
E sempre que saem da clausura, olham para fora com ar de interrogação e mistério. Sem jamais se revelarem completamente, mantiveram certa aura de inescrutáveis alguns ou delirantes outros. No entanto, por vezes pedindo por algum polimento. Mas não demais.
Não existe qualquer estrutura conhecida neles, algum estilo ou algo analisável, o que seja. Apenas estão vivos, mexendo-se em seus casulos. E ultimamente parece que estão querendo sair ao mundo, vir à luz e expor seus arcanos.
Foram selecionados oito contos, cuja principal característica é o não planejamento de qualquer deles. Não há um roteiro, enredo ou qualquer ideia pré-estabelecida do que seria escrito, nem alguma lógica já conhecida em estruturação literária.
O que há, no entanto, é uma forma diferente de lidar com textos, utilizando-se palavras que se oferecem (algumas inexistentes, autocriadas no momento de escrever) e se ligam mais pelas sensações do que pela lógica tradicional, quase sempre surpreendendo o leitor. Monotonia, certamente não há neles.
Talvez uma sensação de estranheza surja ao leitor, mas dificilmente qualquer tédio ou sensação de algo já lido em outros livros. Espero que o leitor possa aproveitar essa leitura e ter vontade de reler os textos, assim que como ocorre com o autor.

LanguagePortuguês
Release dateDec 13, 2014
ISBN9781311439048
Contos Meio Estranhos (Kind of Weird Short Novels)
Author

Firmino de Tibúrçia

Nascido em 16 de junho de 1948, em São Paulo/SP, iniciou graduação em Engenharia Eletrônica no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, Brasil - 1968-1970), havendo sido desligado (por anarquia) em novembro de 1970 no período da ditadura militar no Brasil e acabou por concluir sua graduação no IST (Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal - 1971-1974).Nesses anos, quando a Universidade de Lisboa andava conturbada por greves, esteve por três meses em Heidelberg (Alemanha), para onde foi de motocicleta a partir de Lisboa visando a trabalhar como estudante e conhecer um pouco esse país. De julho a setembro de 1974, fez estágio na General Eléctrica de Madrid, para conclusão de sua Graduação pelo IST.Retornou ao Brasil no final de dezembro de 1974, validou seu diploma e começou a trabalhar em maio deste ano. Em 1978, ingressou na FGV (Fundação Getúlio Vargas, SP) para cursar o CEAG (Curso de Especialização em Administração para Graduados), onde obteve indicação por parte de um professor de Psicologia do Trabalho para fazer terapia de orientação profissional com a terapeuta Maria Elci Spaccaquerche, pois não conseguia se enquadrar profissionalmente.Foi durante esse período em terapia que, por sugestão da terapeuta, começou a escrever o que lhe viesse à cabeça. A cada sessão, levava textos para análise junto com Maria Elci. Passadas algumas sessões, ela sentiu que havia algo nos textos além de esperados sinais de fundo psíquico, desconfiando haver neles algum talento literário.Diante disso, perguntou se poderia encaminhar alguns textos para Maria Lucia Santaella Braga (à época professora titular no programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP, com doutoramento em Teoria Literária na PUCSP em 1973), com o que concordou o autor e o material foi encaminhado a ela.Como retorno, Lucia Santaella disse à terapeuta que ficara surpresa com os textos e que somente havia um aluno seu de pós-graduação que demonstrava também características literárias semelhantes.Provavelmente esse foi o estopim para que o autor começasse a escrever rotineiramente a partir do momento em que foi demitido de seu trabalho no Grupo Philips por sair mais cedo uma vez por semana para sua terapia (coisa de anarquista?).Consequência de seu temperamento: desempregado, faltando apenas o último semestre para concluir o CEAG na FGV, viu-se obrigado a abandonar o curso por falta de dinheiro e, pouco depois, também a terapia.Acreditava que poderia viver de literatura...! Participou de concursos literários, classificou-se em dois deles (1980, Concurso de Contos Eróticos, revista Status, e 1981, concurso de contos Prêmio “Ignácio de Loyola Brandão”). A realidade o fez voltar ao trabalho formal – BOVESPA, BASF, CPM Informática, Banco de Boston, etc.Muita água rolou por baixo da ponte. Em janeiro de 1996, decidiu cursar graduação em Direito e passou por teste na única faculdade que ainda tinha inscrições abertas, UNIb – Universidade Ibirapuera. Surpreso, 30 anos depois de haver feito cursinho para vestibular de Engenharia, classificou-se em 1o lugar...! Conclui a graduação, fez estágio concursado na Procuradoria da República em São Paulo e obteve sua inscrição na OAB/SP no primeiro exame da Ordem. E a vida continuou.

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    Book preview

    Contos Meio Estranhos (Kind of Weird Short Novels) - Firmino de Tibúrçia

    Links de Conteúdos

    Agradecimentos

    Prólogo

    Paixões, Segundo São Elas

    Dona Beja e Seo Cosminho

    A Árvore que Atrapalha

    Conto Aoristo

    A Condessa e a Pinoia

    O Julgamento de Dioniso

    Chão da Terra

    Retirada

    Sobre autor

    Próximos livros de Firmino de Tibúrçia

    Entre em contato com o autor

    Agradecimentos

    Enfim, tomei coragem. Explicarei os motivos no tópico sobre o autor, para os que chegarem até lá depois de haver passado incólumes pelos oito contos que se seguirão. Alguns, na verdade, são muito estranhos até para mim. Quem sobreviver à maratona, favor me dizer qual achou o mais estranho deles.

    Aqui, quero apenas deixar consignado meu profundo amor e sentimento de gratidão à mulher que me atura desde 1987, convivendo com um cérebro portador de um alucinante Distúrbio do Déficit de Atenção (vulgo DDA), transtorno neurológico este que também me é altamente complexo de lidar.

    Sandra Jasponte Monteiro Sampaio é seu nome. Sandra faz das tripas compreensão, buscando dentro de seu psiquismo recursos mentais para lidar comigo e, quando não os encontra, tenta arduamente criar os que não existem (e são a maioria…), pois estão fora da Curva de Gauss.

    Incansável lutadora, que (imagino) deve muitas vezes sentir ganas de me atirar pela janela do oitavo andar. Ou me empurrar para os trilhos do trem (que vem veloz). No entanto, Sandra não sucumbe à tentação e isso é admirável, pois tenho consciência do quão difícil é lidar com minhas características mentais. Sou, e serei sempre, eternamente grato a ela, meu grande amor.

    Também gostaria de dizer a meus queridos filhos – Rodrigo, Maira, Priscilla, Ivan e Rudah – que sinto muito por não haver conseguido ser o pai que merecem e lhes dar a atenção devida. Apesar de amá-los muito, sinto não haver consegui participar de suas vidas com a cumplicidade que um pai deveria ter com seus filhos. Vida de DDA.

    Finalmente, the last but not the least, agradeço a todos aqueles que conseguiram conviver comigo e se manter psiquicamente saudáveis, assim como aos que não me atiraram ao lixo. E à vida, por ainda estar vivo.

    E, in memoriam, a meu pai, que faria cem anos de idade hoje, 13 de dezembro de 2014. Ele faleceu de parada cardíaca no final de 1980, quando corria atrás de um gato que invadiu sua casa às três horas da madrugada de um domingo. Jamais se soube o que houve com o gato.

    Prólogo

    Esses contos me foram paridos sem aviso prévio há mais de trinta anos, alguns manuscritos em papel e outros datilografando (sim, existia isso antigamente!) em uma Olivetti puramente mecânica. Dormiram anos a fio, com revisões episódicas.

    E sempre que os arranco da clausura, olham para mim com ar de interrogação e mistério. Sem jamais se revelarem completamente, mantiveram certa aura de inescrutáveis alguns ou delirantes outros. No entanto, muitas vezes pedindo por algum polimento. Mas não demais.

    Não sei se existe qualquer estrutura conhecida neles, algum estilo ou algo analisável, o que seja. Apenas sinto que eles estão vivos, mexendo-se em seus casulos. E ultimamente acho que estão querendo sair ao mundo, vir à luz e expor seus arcanos.

    Então, boa sorte a cada um deles: que sintam as vibrações humanas, sem desespero. Vida!

    Paixões, Segundo São Elas

    Cara de judeu, testa de aço, braços e pernas argolados. Medianamente natural. De qualquer lugar, pode-se mesmo dizer. Vestido como quiser, sem qualquer aprumo. Sorri devagarinho, e raramente. Tem dente de ouro, cheque especial e relógio de bolso (que não usa). Surrado terno preto quase, desbotado; camisa esbranquiçada, tons amarelentos; puídos punhos, e colarinho; vezenquando falta algum botão, no meio do peito. Gravata quase nunca, borboleta. Cadarço mal amarrado, sapato preto; sola com furo..., meio-furo fronteiro. Não chega a ajudar mais ainda no encardimento das peúgas, ralas de uso. Quinta coluna, só.

    Tipinho engraçadinho. Passa por debaixo de escada mas pisca três vezes cada olho, durante. Um de cada vez. Toma pinga quase nunca e fuma demais. Dos baratinhos, que os caros dão mais câncer, sempre diz. Voz sumidiça de frango engasgado, olhar baço castanho-escuro e flutuante. Sempre-nunca, nunca-sempre. Ele é assim. E parece mesmo ser assim.

    Já ela, não. É completamente diferente, a começar pelo sexo. Agrada-lhe muito o sexo. Dos outros, especialmente. Vive entretida com o sexo – dos outros. Sabe-se mulher – entantamente não se sente. Tipo assim ausente qualquer carmim – nas faces ou nos superiores lábios. Movediços e ainda não tão buliçosos quanto os inferiores; futuramente.

    E foi isso, ou outra coisa qualquer, que se a fez iniciar no ainda recente interesse, curiosidade mesmo, pelo sexo alheio. E alheio para ela não era apenas o oposto, não. Era também, mas não principalmente. O daquela mulher à sua frente, por exemplo.

    Suada e roliçosa fêmea, de jeitão bem comum, normalzinho. ‘..., devia ter seus segredos’, pensava ela. E começou a imaginá-la em sua intimidade, já que intimidade ela considerava um viciozinho comum, que todos tinham e até mesmo ela.

    Via-a nua, no quarto de sua também imaginada casa de subúrbio. Brincando com seu distúrbio. Poderia ser só ou não, isso não importava na imaginação. Via, ah... E nessas horas, ainda iniciante na arte, ficava com as narinas dilatadas, olhos glúteos e respiração daquele jeito. Suava por debaixo. Pelos baixios de seus pelos.

    Seu amigo judeu, ao lado, como se inexistisse. Carinha de sempre, jeitinho ancestral. O que lhe passava pela cabeça, nem ele sabia. E ela, muito menos. Mas ela imaginava. E era sempre da mesma maneira, como um diapositivo velho e surrado: nu, de costas e olhando sua cueca encardida contra a luz do abajurzinho da sala. Logo desistia de imaginá-lo. Não pagava a pena, sentia.

    Continuavam a andar, lado a lado. Ela ainda úmida da mulher vista de recém, mas que entrara numa lojinha meia quadra atrás, deu um suspiro e voltou à falta de conversa com o seu testa. Talvez fosse uma lojinha de aviamentos..., a fêmea vista suada compraria novelos para tricotar coletes, refrescosamente nua na poltrona da sala e com um sedoso gato aninhado por de sobre seu púbis, ao voltar para sua casinha. Suburbana moradia.

    Ela já não se aguentava mais. À noite, na cama, sozinha. Tinham-lhe posto na cabeça – por sinal fora sua amiga magrela, também colega de escritório – que o ‘testinha ´tava a fim dela’. Não era a primeira vez nem seria a última. ‘Mas havia de ser sempre um sebozinho?’, defendia-se. Armadamente desarmada, a greco-romana.

    Com a magrela a coisa já era bem outra. Davam-se muito bem e a magrela não era ciumenta, pensava. A colega gostava mesmo é de mulher. E não o negava a quem quer que fosse, desde que não fosse homem. No íntimo, detestava-os. Por fora, sempre se chegava a eles, mas para servir às amigas.

    Se umas eram-lhe ingratas, outras acabavam por retribuir fortemente seus favores. De corpo, a magrela era um pedaço. Esguia mas uma Vênus moderna, com as carnes muito bem arranjadas. Ela sabia disso e aproveitava. Desfizera vários arranjos de novos casais, tipo recuperação de ex-namorados para amigas nem tanto, segundo confidenciava às novas. Afinal, o quê é que tem? Também é gostoso, você vai ver, dizia, um dia.

    E, na noite desse dia, ela resolveu ‘ir ver’. Estava que não dava mais, o teso apertando-lhe as goelas. Todas. Decidiu.

    Nua, já no encharco do novo sentimento, cobriu-se com um roupão de banho e foi ao telefone da pensão. Sentia-se escorregando. A magrela precisava estar em casa.

    Alô? Magrela? Oi, sou eu... 'Tô querendo‘ver’...

    Meia hora mal passada, aparece suntuosa a Magrela. Entra no quarto, arfante e dilatada. Flecha os olhos na nova hospedeira dos amores, que agachada de bunda para a porta. No fundo do quarto, quase larga a garrafa de rum que lhe enchia o copo, ali ao pé de seu barzinho improvisado no rés-do-chão. Esperava nua, a malandra. Corou de susto e cobriu-se logo com o roupão que lhe rodeava o pescoço. De galinha a ser abatida.

    Que noite, hem querida?’, disse como veludo a pulsante amiga, arrancando o sobretudo e se mostrando não menos preparada que ela. Seu corpo brilhava de prazer, rijo e esguio como na imaginação da outra. Espreguiçou-se com a vibração dessas horas, mexeu-se um tanto e foi sentar-se com a malícia numa das poltronazinhas do quarto. Era um quarto até que bem grande, pensaram as duas ao mesmo tempo. Tomadas pela empatia mútua da ocasião.

    Ela, ainda parada, de roupão entreaberto, recompôs-se de si mesma, deslizou para a cama, recostando-se num almofadão, com o copo cheio de rum na mão. No corpo cheio, intumescimento.

    A magrela e ela olharam-se, com o fio do amor físico. Ela apontou um pé para o barzinho de canto de quarto, com o escândalo se mostrando ao desejo.

    Já estou quente demais, meu amor. Mas se você quer...

    E levantou-se da poltronazinha, com a irreverência da paixão. ‘Nua..., ela está nuinha...!’, pensou a outra. Sentiu uma mornidão gostosinha e latejante.

    A magrela, já agachada servindo-se do rum e de costas para ela, deixou-a entrever os pelos, por baixo de seu volumoso ressalto. Assim que a magrela se levantou com o copo abastecido na mão esquerda, a outra percebeu que sem ter percebido estava se roçando com os dedos da direita. Excitadíssima. Sentindo a coisa, magrela não resistiu e chegou-se a ela.

    Tirou-lhe os dedos dali e colocou-os em si mesma. Seus olhos, ensimesmados, fecharam-se e a paixão aumentou. Pararam as duas. Era muito cedo ainda, disse magrela. E voltou mais sensual e úmida que antes para a poltronazinha, bebericando seu rum.

    Já bem à vontade, a noviça do amor sabático começou a contar:

    Isso já faz quase um ano...’, disse. ‘Eu trabalhava numa firmeca ali no bairro. Lá não tinha banheiro separado, não. Era uma entrada só e dentro umas quatro casinhas separadas. Uma hora lá, fui fazer meu xixi, entrei no único mijadeiro livre que

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