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Morrer Na Praia
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Morrer Na Praia

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About this ebook

Max Fried trabalhava como analista forense computacional, mas agora dedica o seu tempo a nadar, a beber e a apanhar banhos de sol na quente Flórida, mas hoje…está para morrer. Um assassino vai cruzar-se no seu caminho.
Quando um advogado de falas mansas convence Max a localizar os ativos de um cliente falecido, Max aceita o trabalho a pensar que vai ser canja. Porém, um velho assassino com uma nova identidade assalta a sua casa e leva o computador do seu cliente.
Max não sabe que o computador contém pistas de um homicídio cometido há 20 anos, mas o ladrão assassino também não sabe que Max guardou uma cópia dos conteúdos do computador roubado no seu iPod. Infelizmente para o mau da fita, a cópia contém provas que lhe poderão valer a pena de morte.
Agora Max é a única pessoa viva que sabe por que razão estão a morrer pessoas. Se ele conseguir ser mais esperto do que o assassino poderá regressar ao seu banco no bar da praia. Se não conseguir, será a quinta vítima.
MORRER NA PRAIA é uma história de mistério e homicídio que inclui um advogado playboy, uma herdeira milionária, o nosso analista preferido e, ah pois, um monte de gente morta, alguns polícias e um homicídio.
Tanto o Max como eu trabalhamos na área da análise forense computacional, somos detetives privados e vivemos numa ilha pequena. Por favor, não lhe diga que apenas um de nós é real.
Max Fried trabalhava como analista forense computacional, mas agora dedica o seu tempo a nadar, a beber e a apanhar banhos de sol na quente Flórida, mas hoje…está para morrer. Um assassino vai cruzar-se no seu caminho.
Quando um advogado de falas mansas convence Max a localizar os ativos de um cliente falecido, Max aceita o trabalho a pensar que vai ser canja. Porém, um velho assassino com uma nova identidade assalta a sua casa e leva o computador do seu cliente.
Max não sabe que o computador contém pistas de um homicídi
LanguagePortuguês
Release dateOct 27, 2014
ISBN9781633395718
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    Book preview

    Morrer Na Praia - Falafel Jones

    Quatro

    AVISO

    ––––––––

    Este livro é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, locais e acontecimentos são produto da imaginação do autor ou são usados num contexto fictício. Qualquer semelhança com acontecimentos, locais ou pessoas, vivas ou mortas, é puramente coincidente.

    Isto é sobre o quê?

    ––––––––

    Max Fried trabalhava como analista forense computacional, mas agora dedica o seu tempo a nadar, a beber e a apanhar banhos de sol na quente Flórida, mas hoje...está para morrer. Um assassino vai cruzar-se no seu caminho.

    Quando um advogado de falas mansas convence Max a localizar os ativos de um cliente falecido, Max aceita o trabalho a pensar que vai ser canja. Porém, um velho assassino com uma nova identidade assalta a sua casa e leva o computador do seu cliente.

    Max não sabe que o computador contém pistas de um homicídio cometido há 20 anos, mas o ladrão assassino também não sabe que Max guardou uma cópia dos conteúdos do computador roubado no seu iPod. Infelizmente para o mau da fita, a cópia contém provas que lhe poderão valer a pena de morte.

    Agora Max é a única pessoa viva que sabe por que razão estão a morrer pessoas. Se ele conseguir ser mais esperto do que o assassino poderá regressar ao seu banco no bar da praia. Se não conseguir, será a quinta vítima.

    MORRER NA PRAIA é uma história de mistério e homicídio que inclui um advogado playboy, uma herdeira milionária, o nosso analista preferido e, ah pois, um monte de gente morta, alguns polícias e um homicídio.

    Tanto o Max como eu trabalhamos na área da análise forense computacional, somos detetives privados e vivemos numa ilha pequena. Por favor, não lhe diga que apenas um de nós é real.

    Sobre o autor

    Falafel Jones recebeu o seu nome em honra de uma sanduíche mediterrânica que era um dos desejos da sua mãe quando ela estava grávida. Se é verdade que foi difícil crescer com este nome, o facto é que ajudou o autor a distinguir-se dos restantes Manéis que andam por aí. Aliás, as coisas podiam ter corrido muito pior. Perguntem ao irmão do Falafel, um trabalhador da construção civil chamado Sweet Pickles.

    Capítulo um

    ––––––––

    Reparei neles assim que chegamos. Ela era uma loura peituda que quase não cabia no seu biquíni azul e segurava num cigarro manchado de batom. Ele parecia um jogador de futebol irlandês bonito que tinha envelhecido e engordado e tinha um copo de uísque escocês a decorar-lhe a mão. Para além de Jack, o dono, eles eram os únicos que estavam no bar.

    Sentamo-nos nos bancos da esplanada a admirar o oceano e Jack trouxe uma imperial para mim e uma vodka tónica para Mariel.

    Agradeci e quando levantei a caneca gelada da imperial, a condensação molhou-me as virilhas. Decidi ficar sentado até que secassem.

    Jack limpou o sítio que tinha ficado molhado no balcão e chegou-se à frente, pousando as mãos.

    - Estávamos à tua espera Max.

    - De quem? De mim?

    - Sim. Eu sei que costumas vir a esta hora, por isso pedi para esperarem.

    Mariel e eu olhamos um para o outro e depois para Jack. Às vezes não sabíamos se ele estava a brincar ou não.

    Jack, ou Jack Jr. como também era conhecido, trabalhava no Jack’s Beachside Patio desde a infância. Ele dizia que tinha nascido atrás do balcão daquele bar quando o pai ainda era o dono e onde, alegadamente, a sua mãe grávida, Bobbi, serviu bebidas até e imediatamente após dar à luz. Às vezes dizia aos clientes mais ingénuos que o seu nome verdadeiro era Jack Daniel’s em honra da bebida que a sua mãe carregava no tabuleiro nessa ocasião.

    - Amigos, não quero intrometer-me, - Jack levantou a sobrancelha, - um dos meus clientes habituais do almoço precisa de uma mão. Talvez possam ajudar. O Ed é um advogado aqui da terra. Acho que está na pré-reforma, - Jack apontou para um homem e uma mulher no balcão.

    Ela tanto podia ser uma mulher mais velha e bonita que parecia ser mais nova ou uma mulher mais nova e abatida que parecia ser mais velha. Era difícil perceber. Independentemente da sua idade, diria que gostava muito do homem com quem se sentava. As suas mãos estavam nele sempre que havia oportunidade.

    Apesar da atenção que estava a receber da mulher, quando Jack apontou para ele, Ed olhou na nossa direção. Eu disse: Tudo bem. Eu falo com ele, e o Jack indicou-lhe que ele se podia aproximar.

    Quando se levantou do banco, Ed baixou-se e sussurrou algo à mulher. Depois, endireitou-se e pôs algum dinheiro no balcão. Ela sorriu para ele e disse alguma coisa que não consegui ouvir. Quando ele se baixou outra vez, os dois beijaram-se. Ele pegou na sua bebida e veio em direção ao local onde eu e Mariel estávamos sentados. Uma vez que tinha a mão esquerda ocupada com um cigarro e a bebida, Ed estendeu a sua mão direita.

    - Ed McCarthy. – Ele apertou a minha mão e depois a mão de Mariel.

    Mariel esboçou um sorriso perfeito.

    Ed usava o que parecia ser o uniforme de New Smyrna Beach: bermudas e sandálias. A sua versão desta moda incluía uma camisa de manga curta com um padrão floral azul e branco. A minha versão incluía um polo de manga curta de cor preta para fazer lembrar que era inverno.

    - O Jack disse-me que você se mudou de Nova Iorque para este canto do bar, - Ed riu-se entre dentes da sua piada. – Eu também sou de Nova Iorque. Na Faculdade de Direito namorei com uma rapariga de Daytona Beach, por isso tenho a licença dos dois Estados.

    Ed deu um trago no seu cigarro.

    A forma como ele falava sem parar deu a entender que ele já devia estar à minha espera no bar há muito tempo. Bem, isso e a forma como os palitos estavam todos alinhados onde ele tinha estado sentado.

    - É um prazer conhecê-lo, Ed. – Achava que já o tinha visto ali antes. O sítio tem menos gente durante a temporada baixa e com o tempo começamos a reconhecer os clientes habituais.

    - Sou o Max, esta é a minha esposa, Mariel. O Jack disse que precisa de um favor.

    Ed respirou fundo. – Estou a tratar do inventário de um cliente. O Ray foi o meu primeiro cliente na Flórida. Escrevi o testamento dele e tínhamos feitios muito parecidos. Pescávamos juntos... Fui ao funeral dele esta manhã. Ele tirou uma folga na sexta-feira à tarde para fazer as compras de Natal e em vez disso morreu. Quando tratamos dessas coisas, de organizar tudo para quando uma pessoa morrer, nunca pensamos que dias como o de hoje podem chegar.

    Mariel desviou o olhar dele, olhou para mim durante algum tempo e depois voltou a olhar para Ed.

    - Os meus pêsames pelo seu amigo.

    - Obrigado. A Kathleen e o Ray não tinham aqui ninguém, por isso depois do funeral ela vai para casa dos pais. Está a fazer as malas, por isso estou a beber sozinho.

    Ele balançou a cabeça. Talvez a loura não estivesse a beber, ou então não contava.

    Mariel parecia perturbada. – A Kathleen é a esposa dele?

    - Sim. – O seu olhar voltou-se para o céu por um momento e depois voltou para mim. – Este é pelo Ray.

    Ele levantou o seu copo e deu outro gole.

    Mariel e eu levantamos os nossos copos e bebemos com ele.

    Ed disse: - Já é mau o suficiente perder um amigo, mas quando ele morre às mãos de alguém, é muito mais difícil de aceitar.

    Estava quase a deixar de prestar atenção a Ed por achar que não passava de um bêbado melancólico, mas aquela frase acordou-me.

    - O seu amigo foi assassinado?

    - A polícia encontrou o carro dele virado e despedaçado na berma da estrada. O céu estava limpo, não havia marcas de pneus. Foi uma morte sem testemunhas e em circunstâncias suspeitas, por isso estão a investigá-la como um homicídio. Estou à espera de notícias do médico legista.

    - Se a polícia está envolvida, porque precisa de mim?

    - A Kathleen tem de localizar os ativos deles. A polícia encontrou o computador dele no carro. A Kathleen quer que o analisem. – Ele encolheu os ombros. – Diz que ele o usou para fazer transações bancárias na internet.

    Ele bebeu uma grande quantidade da bebida que ainda tinha no copo e depois pousou-o no balcão com força.

    Não estava a gostar desta história. Tinha pedido a reforma cedo porque fui alvejado e tinha prometido a Mariel que não me colocaria mais em perigo. Um caso que envolvia um homicídio parecia perigoso.

    Ed deu mais um gole na sua bebida e continuou a falar.

    – Eu disse ao Jack que não conhecia ninguém que soubesse analisar o computador. Preciso de obter as palavras-passe antigas e manter a informação para usar em tribunal. Sabe, para o caso de alguém contestar o testamento ou os bens. O Jack disse-me que o senhor fazia esse tipo de trabalho.

    - Fazia, antes de me reformar. Trabalhava para o Estado como analista forense computacional.

    - Quer dizer que consegue analisar um computador, descobrir as palavras-passe e encontrar coisas?

    - Sim, claro. Era o que fazia.

    Ed pousou a sua bebida. Colocou as mãos no balcão e aproximou-se de mim. – Max é disso que preciso. Faz isso?

    - Desculpe, mas não. Agora estou reformado. Neste momento estamos a trabalhar na nossa saúde. A Mariel e eu temos uma rotina de exercício que inclui caminhar três quilómetros na praia para chegar aqui. Depois bebemos e voltamos para casa.

    Ed inclinou a cabeça para trás e olhou de soslaio para mim.

    – Nunca pensei que visitar bares contasse como exercício.

    - Bem, - disse em minha defesa, - às vezes, se não estiver muito calor, também andámos quase um quilómetro de uma ponta da ilha à outra na Flager Avenue, desde o mar até ao rio. A Mariel faz compras nas lojas e eu experimento cadeiras.

    Ele meneou a cabeça. Acho que Ed não levava o meu exercício a sério. – Conhece alguém que o possa fazer?

    - Em Nova Iorque, sim, mas aqui não.

    - Se tivesse de contratar um estranho, o que teria de procurar?

    - Eu sou um estranho, mas procure alguém com um certificado de forense computacional. Tente encontrar alguém com letras como ENCE, ACE ou CCFE no cartão de negócios.

    - O senhor é certificado?

    Eu sorri para ele. – Sou um ACE.

    - O que é isso?

    - AcessData Certified Examiner. A AcessData cria software forense. Mas agora sou um reformado a tempo inteiro e vagabundo de praia.

    - O Jack diz que tem uma licença de detetive privado.

    - Sim, muitos Estados exigem que os analistas tenham essa licença.

    - Então faz esse tipo de trabalho?

    Eu ri-me. – Não, nunca usei essa licença. Consegui-a antes de ser alvejado. Achei que se precisasse de trabalhar depois de me reformar, devia ter um plano B e com a minha personalidade nunca conseguiria receber pessoas no Wal-Mart. Descobri que a minha experiência era suficiente para obter uma licença de detetive privado na Flórida. Candidatei-me a uma e consegui-a, mas foi só isso.

    - Foi alvejado? O que aconteceu?

    - Sobrevivi... prefiro não falar sobre isso.

    Ed sentou-se no banco que estava ao meu lado, esperou uns segundos e disse:

    - Max, preciso de alguém que possa procurar contas bancárias, investimentos e outras informações financeiras neste computador. Já procurei. Raios, não consegui encontrar mais ninguém. Não pode fazer só este trabalho para mim, por favor?

    - Gostaria muito de poder ajudá-lo, mas reformei-me há um ano, vendi a minha casa e mudei-me para aqui para nunca mais trabalhar. Ainda tenho algum equipamento e a licença caso precise de trabalhar, mas não preciso. Não quero trabalhar e não quero perder o tempo que tenho para a praia ou para a Mariel. A vida é como um rolo de papel higiénico. Esgota-se mais depressa quando está a chegar ao fim.

    Levantei o meu copo para beber.

    Ed meneou a mão. – Sim, eu compreendo, mas não deve ocupar assim tanto tempo, pois não? Só preciso dos resultados daqui a uma semana ou assim e, tendo em conta o estilo de vida do Ray, isto pode render algum dinheiro. Posso pagar-lhe honorários que lhe compensam o esforço.

    - Não quero problemas. Não preciso de mais perigo na minha vida.

    Ed meneou a mão, descartando o que tinha dito. – Ah, é um trabalho seguro. A polícia está a tratar do homicídio. Você só tem de encontrar as contas bancárias da família...não é mais do que isso.

    Senti Mariel a tocar-me no braço.

    – Não faz mal se quiseres fazer isto. – Ela fez uma cara triste. – Não me importo que faças isto. Tenho de fazer umas coisas que te vão aborrecer. Além disso, tenho pena da mulher dele e é dezembro. Não me parece que vás passar muito tempo na água.

    Quando Mariel falou, também senti pena. Magoava-me pensar que alguém poderia recusar ajudá-la se eu morresse. Ela tinha razão. Ultimamente tinha muito tempo livre. Não havia motivos para não gastar uns dias nisto. Parecia não haver grande perigo e algum dinheiro a mais dava jeito para comprar barras de tejadilho para poder transportar o meu caiaque. Inclinei a minha cabeça para Mariel.

    - A chefe falou. Fico com o caso. Que tal estabelecermos um preço por hora de trabalho, mais as despesas independentemente do que eu consiga ou não encontrar.

    Ed sorriu pela primeira vez desde que o tínhamos conhecido.

    - Muito bem. Obrigado. Tenho de voltar para o escritório para acabar de tratar de alguma papelada. E se fizéssemos o seguinte? Eu preparo um acordo padrão de serviço para o senhor assinar. Apareça por lá daqui a uma hora. Enquanto estiver a ler o acordo, eu ligo à polícia e descubro quando vão entregar o computador.

    Maneei a cabeça em acordo e li o cartão-de-visita que Ed me entregou. Para chegar ao seu escritório tinha apenas de andar uma curta distância na Flagler Ave.

    Quando Ed se levantou para ir embora, a loura mandou um beijo. Ele sorriu e acenou. A relação deles despertou a minha curiosidade, mas achei que seria indelicado perguntar quem era ela.

    Cinco minutos depois de Ed ter saído, esqueci-me que ele tinha lá estado. Em New Smyrna Beach, também conhecida por NSB estava uma tarde de dezembro solarenga. Estavam 25ºC. e era quase Natal.

    No Bobbi and Jack’s Patio, uma banda de dois membros tocava uma versão de Rudolph, the Red Nose Reindeer. A melodia estava a cargo de um tambor de aço e o acompanhamento vinha de uma guitarra acústica. Gostávamos de dizer que NSB também podia significar Not So Bad (Aceitável). Estávamos lá há seis meses (há seis meses em New Smyrna Beach, não há seis meses no bar). Bem, esta afirmação é quase completamente verdadeira.

    Agora que Ed se tinha ido embora, sentia-me muito bem e revigorado. Tinha uma reforma boa, um dia quente de sol, um banco na praia, música ao vivo e uma mulher linda. Onde estava o problema em fazer mais um ano nesse dia?

    - Parabéns, Max, - disse Mariel e entregou-me um embrulho pequeno.

    - Não costumo receber o meu presente antes do jantar. Não me estou a queixar, mas deixaste-me curioso. Porquê agora?

    - Vais ver quando o abrires. Pensei que talvez quisesses dar-lhe uso mais logo. Além disso, vais receber outro tipo de presente à noite.

    Abri o presente e dentro da caixa estava um iPod.

    - Achei que podias gostar disso para correr na praia. - Disse ela.

    - Uau, ótimo. Obrigado. Agora já não tenho desculpas para não ficar em forma.

    O aspeto de Mariel já era um incentivo suficiente para manter qualquer pessoa em forma. Tínhamos a mesma idade, mas as pessoas pensam que ela era dez anos mais nova.

    Ela não tinha mudado muito desde o nosso baile de finalistas. Já eu, tinha o aspeto da idade que tinha.

    Os saltos altos, que já eram a imagem de marca de Mariel, acentuavam as suas pernas esculturais. Ela usava um vestido solto com um padrão âmbar, uma cor que acentuava o seu tom de pele caramelo. O vestido tinha um pequeno fio que se amarrava à volta do pescoço e agarrava-se à sua barriga lisa e coxas magras. Apesar da sua figura pequena, a Mariel enchia bem o peito do vestido. O vestido ficava-lhe bem. Tudo ficava.

    Eu tinha vestido umas bermudas, um polo e sandálias. O meu aniversário era uma ocasião especial por isso nós vestimo-nos de gala, o que significava que ambos estávamos a usar as nossas alianças e roupa interior. O costume era vivermos dentro dos nossos fatos de banho e deixarmos a nossa roupa íntima nas gavetas, assim como as joias.

    Depois de tantos anos no gélido nordeste, viver sete dias por semana nos nossos fatos de banho tornou-se um símbolo da vida descontraída da ilha para onde fomos viver. Tal como as festas que pedem aos convidados para levarem roupa de cerimónia, nós começamos a classificar os nossos eventos de acordo com a necessidade de usar roupa interior.

    Até aí, se excluirmos algumas ocasiões especiais, tais como aniversários, idas ao aeroporto e nos raros dias frios, não havia muito mais a acrescentar à lista. Até começamos a deixar que a regra começasse a abranger mais coisas para que só fosse necessário usar as alianças quando estivéssemos a usar roupa interior. Quando a Mariel me perguntava se eu estava a usar cuecas, mostrava-lhe o meu dedo anelar e ela tinha a sua resposta.

    Jack meandrou pelo bar e voltou ao vir ao nosso encontro.

    - Mais bebidas?

    Mariel e eu abanámos a cabeça.

    - Não, obrigado. – Disse eu.

    Ele olhou para o pacote que estava no balcão. – O que recebeste?

    Mostrei-lhe o iPod. – Foi um presente de aniversário da Mariel.

    Jack levantou a sobrancelha para ela e meneou a cabeça. Ela sorriu satisfeita para ele, contente por ele ter aprovado a sua escolha de presente.

    - Parabéns. – Ele pegou nas notas que eu tinha deixado no balcão e devolveu-mas. – Esta rodada fica por minha conta.

    - Obrigado, a sério. – Levantei o meu copo e fiz-lhe um brinde.

    - Muito obrigada, Jack. – Mariel tocou no pulso dele. – És muito simpático.

    Mariel voltou-se para mim. – Max, tu prometeste ao homem. Temos de ir embora.

    Despedimo-nos de Jack e saímos. Quando concordei em ajudar Ed, pensava que o trabalho seria canja. Como poderia adivinhar que as coisas correriam tão mal? Quem diria que a reforma poderia ser tão perigosa?

    * * *

    Caminhamos em direção a oeste na Flagler Avenue, a pisar os tijolos gravados vendidos pela Associação de Comerciantes de Flagler. Por 50 dólares a unidade, os turistas e os habitantes locais tinham a oportunidade de se imortalizarem a si próprios com três linhas de texto que todos podiam ver. Mariel parou para ver o tijolo que comprou para imortalizar o pai.

    Alguns blocos mais à frente virámos à esquerda para o escritório de Ed. A morada que me dera levou-me a uma casa de um andar construída com tijolos de cimento. Uma placa na janela da frente continha um número de telefone e anunciava que o local estava disponível para arrendar. Chegamos à porta e eu bati na mesma. Ninguém respondeu. Confirmei a morada com o cartão-de-visita de Ed e verifiquei que estava no local correto. Enquanto procurava uma campainha, reparei que havia um caminho de pedra que ia dar à esquerda do edifício.

    Seguimo-lo e encontramos outra entrada. Bati à porta mais uma vez e aí ela abriu-se. A casa tinha um pequeno anexo que tinha sido convertido num escritório com a sua própria entrada. Ed convidou-nos a entrar.

    Ed agarrou a minha mão e apertou-a. – Max, Mariel. Obrigado por virem.

    - Sentem-se, por favor.

    Ed indicou-nos duas cadeiras de madeira para clientes com assentos estufados. As cadeiras não combinavam com o resto da divisão. Perguntei-me se elas teriam vindo de um conjunto de sala de jantar que talvez tivesse se tivesse repartido após um divórcio.

    - O que achas? – Perguntou ele, apontado para toda a divisão. A decoração tinha um estilo que se dividia entre uma casa costeira e um escritório de advogado. Entre as gravuras de barcos e um diploma de uma universidade da Ivy League, as estantes obrigatórias continham os livros obrigatórios. Parecia que ele tinha todos os livros de que necessitava, mesmo que não tivesse todos os livros alguma vez publicados.

    - Parece que está bem equipado. – Disse-lhe.

    - Obrigado. – Ed caminhou para o outro lado do escritório onde se encontrava um rádio ao lado de um leitor de CD’s e de colunas. Começou a tocar música clássica.

    Ed baixou o volume da música e sentou-se atrás de uma velha secretária de madeira. Era pesada e escura e podia ter vindo dos aposentos de um capitão qualquer. Não conseguia imaginar como ele tinha conseguido fazê-la passar pela porta. Também não conseguia imaginar como ele conseguia encontrar alguma coisa que estivesse em cima dela.

    Havia tantos papéis a cobrir a sua superfície que, se eu não tivesse reparado no fio que subia a secretária a partir do chão, não saberia que em cima dela estava um telefone. Além das estantes, das cadeiras e da secretária, não havia mais mobília no escritório. Se houvesse, duvido que sobrasse espaço para Ed.

    - É muito acolhedor. – Arriscou Mariel.

    Ed abriu a boca para responder um segundo antes de um toque abafado surgir debaixo dos papéis da sua secretária.

    - Uh, se não se importarem. – Ed levantou uma pasta e atendeu o telefone.

    Serviços de advocacia McCarthy, em que posso ser útil...?

    Desculpa, estou numa reunião...

    Não, também foi bom voltar a ver-te...

    Não, acho que não é boa ideia...

    Bem, é um bocado apertado...

    Não, não está mais ninguém interessado em arrendar...

    Sim, eu diverti-me, mas...

    Sim, desculpa. Não posso mesmo falar agora...

    Eu volto assim que puder. Podemos falar sobre isso aí...

    Está bem.

    Ed desligou e, evitando olhar-nos diretamente nos olhos, pegou num ficheiro da pilha que tinha na secretária.

    - Obrigado, agora vamos a negócios. – E continuou a conversar como se o telefone não tivesse tocado.

    Chegamos a acordo em relação a um preço por hora e, enquanto Mariel e eu líamos o acordo

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