Contos & Crônicas do Século XXI
By Manuel Funes
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About this ebook
Todos os relatos contidos nesta coletânea aconteceram, situações inimagináveis, fantásticas que nos levam a perceber uma realidade dentro de outra. Olhando os bastidores, da nossa vida e da sociedade, sob diversas dimensões: Humor, Medo, Ilusão, Fantasia, Amor, política e ciência. O século XXI e suas lendas urbanas. Você nunca será o mesmo após esta experiência!
Manuel Funes
Sobre o autor: manuel funes PULP FICTION WRITER É escritor de livros técnicos e novelas curtas, classificadas como “Pulp Fiction”. Nasceu em San Salvador, El Salvador (América Central) . Formado pela UFPR em 1983, fez estudos de extensão em informática, política e religiões comparadas. Atualmente mora em Curitiba, estado do Paraná (Brasil).Trabalha como consultor de “Business Intelligence”. Defende livros eletrônicos, e independência dos escritores em relação à indústria do livro tradicional. e-mail: manuelfunes@yahoo.com
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Contos & Crônicas do Século XXI - Manuel Funes
Contos & Crônicas
Contos & Crônicas
do Século XXI
By Manuel Funes
rev 27.12.2014
Copyright Manuel Funes 2014
Notas de Licença Smashwords Edição: Este ebook livre pode ser copiado, distribuído, republicado, reproduzido e compartilhado, desde que aparece em sua totalidade sem alteração, e o leitor não seja cobrado para acessá-lo.
ISBN 9781311955654
Dedicatória
Estas Crônicas & Contos são dedicados à minha esposa Luci Mendes de Carvalho Funes Yanes, que durante estes anos todos se manteve firme, em tempos bons e outros nem tanto, com amor! Ela é artífice, a capa deste livro é uma tela que recebi de presente e uma das minhas preferidas: Anjos e Tempo
.
1 Ravi, o pintor do Ganges
Ravi, era este seu nome, sempre tinha sido um pintor. Conta-se que ainda no ventre sua mãe se incomodava com os movimentos esquisitos das pequenas mãos. Ao nascer, o que mais chamou a atenção foi o formato longo e perfeito de seus dedos, os movimentos coordenados que rabiscavam o ar; no verso seus olhos se perdiam observando alguma coisa imaginária, parecia estudar detalhadamente tudo que o rodeava. Em um dos momentos notáveis, aos três anos pegou no chão da cozinha um toco de carvão e começou a desenhar rostos com perfeição; ao final todos se reconheceram com admiração nos traços negros, alguns até queriam arrancar as lajotas para levar para casa e pendurar na sala.
Astrólogos e magos do Reino o visitaram, suas exclamações de assombro e incredulidade redobradas. Maravilhoso! Esta criança é a reencarnação de Shiva!
Os mais desconfiados falavam coisas assustadoras: Possessão do Demônio! As ninfas do lago lançaram feitiços nele!
Com o tempo, sempre é assim, as pessoas achavam natural que as pinturas de Ravi fossem mais reais do que a própria realidade. Suas telas exerciam uma atração poderosa em alguns e repulsão insana em outros. Ravi brincava com os elementos da natureza, sem malícia ou surpresa.
Todos nós, em algum momento, perdemos essa habilidade, somos por algum motivo obrigados a abandonar este mundo mágico, mas com ele isso nunca aconteceu. Cresceu em talento e técnica, porém seu coração puro e sua visão da realidade permaneceram.Sua mãe o levou para estudar com um grande mestre da pintura, Abha Abha.
Apresentou o filho, suplicando que fosse recolhido como aprendiz. Abha Abha aceitou, já que tinha escutado falar de suas habilidades extraordinárias, mas, como podemos saber que coisas fora do comum gravitam em torno desses seres dotados, que vêm à Terra por um destino insólito?
Após alguns dias, Ravi retornou a casa, mostrando sinais de tristeza e confusão extremas. Sua mãe em vão tentou descobrir os motivos. Curiosa, viajou até a aldeia onde o mestre morava para descobrir o que tinha acontecido. Ao chegar sua surpresa foi imensa, longas faixas de tecidos pretos cobriam as janelas, olhares assustados fincavam-se nela. Ficou petrificada com os gritos dos moradores: É ela! É ela! A mãe do maldito!
As vozes vinham de todos os lados e a turba a rodeava de forma ameaçadora. Um dos alunos se adiantou olhando-a com furor, teu filho trouxe desgraça!
Ela perguntou com voz tremula, me diz, o que fez meu filho para ganhar tanto ódio e recriminação?
E o rapaz, em lágrimas, teu filho, mulher, é a causa da morte de nosso Mestre!
Ravi nunca mataria uma criatura deste mundo, eu sei!
, disse a mulher, jogando-se no solo e cobrindo seus cabelos com terra. Os lábios do rapaz desafogaram seu coração, pior que isso ele fez, nosso mestre se enforcou, atentou contra a própria vida, no momento em que soube que nunca pintaria como ele!
A partir daquele fato, solidão e contido desespero tomaram conta do jovem. Tinha percebido o que todos os gênios descobrem cedo ou tarde: que até o fim de seus dias seria um solitário, estrangeiro entre seus semelhantes, que sua visão do cosmos, natural aos seus olhos, era vertigem fatal para os outros.
Ravi conseguia mergulhar nas profundezas dos bastidores e retornar ileso com suas misteriosas visões, plasmando-as na tela de algodão.
II
A primavera despertara de seu sonho, com suas cores brilhantes. Fachos de luz se refletiam nas águas do Ganges, no bosque, perto dos altos bambus e da relva rasteira em forma de serpente onde Ravi costumava se deitar, perceber os objetos. Seu olhar profundo penetrava nas entranhas dos alvos, como flechas que sempre acertam em cheio; com o passar do tempo, distinguia o momento em que sua percepção adentrava o portal de um mundo que parecia ser mais denso do que aquele em torno dele, em seu estado normal de consciência.
As imagens se derretiam como gelo à luz do sol; no seu lugar se levantavam outras, semelhantes, palpáveis para o seu espírito, aquelas que ele, em seu retorno ao mundo comum, pintava de forma desesperada para se convencer de que tudo aquilo tinha acontecido. Algumas entidades, parecendo próximas aos olhos ampliados, manifestavam-se de forma natural.
Uma delas era a flor de Lótus que crescia no remanso do rio. Sua cor violácea vibrava até fazer parte da tela exterior. Nesse momento, o encanto do tempo se estilhaçava e tinha um único rosto, o presente; acontecimentos pretéritos e futuros colidiam num redemoinho, onde mitos, filosofias e religiões se desmanchavam como pétalas de uma flor murcha, sem vida.
O medo da verdade penetrava seu corpo como agulha candente; uma dúvida, qual das visões seria a verdadeira? E se a humanidade estivesse presa num mundo ilusório? Como podia ser que um pobre homem, feito de sangue e fé, sobrevivesse à energia do golpe brutal de uma realidade alternativa, que talvez fosse a fonte da outra, esta em que estamos acostumados a viver?
Suas pinturas caminhavam para o hiper-realismo, aquele que Dali tentou capturar. Cada observador enxergava formas diferentes, que variavam de acordo com seus filtros interiores; seu pincel caleidoscópico produzia uma obra original para cada um, num único suporte: era como se um número infinito de figuras fosse derramado sobre aquele tecido inerte de fibras de algodão e linho, aguardando para pular nos olhos, como feras.
Na beira do rio podia conversar com os viajantes de terras distantes, que acalmavam sua sede com as águas puras e frescas. Uma tarde, um velho monge samana não conseguia se ajoelhar para beber; Ravi pegou um pouco de água na sua taça de madeira e levou à boca do penitente, Ele bebeu e se retirou, com o sol nas costas irradiando misteriosas orações: Obrigado, um dos caminhos da santidade é a Arte!
III
No início do inverno, quando os ventos gélidos do norte corriam para os vales, as pinturas do jovem não podiam ser mais compreendidas. O grau de abstração causava uma sensação de vácuo insuportável, cada imagem era um abismo que podia sugar a alma. O Marajá de Norebur soube do prodígio e mandou chamá-lo para ser um dos artistas na decoração de seu palácio, aquele que deveria levar boas novas ao mundo.
No dia marcado, junto com o primeiro arquiteto, Ravi visitou a cúpula da origem do universo. Era enorme e perfeita, alva e profunda, a tela perfeita para