Diálogos de Plutão (Pluto Dialogues)
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Esses “Diálogos de Plutão” surgiram aos poucos de um exercício puramente mental, em que duas pessoas desconhecidas entre si entabulam conversas sem sentido aparente ou qualquer lógica cartesiana, muitos anos depois de o autor haver lido “Diálogos de Platão”, em que Sócrates e Critão (Criton) conversam durante o tempo que precede a morte do primeiro.
O diálogo entre os dois é muito tocante e repleto da sabedoria que Sócrates instila em Critão, que lhe propõe a fuga, recusada por Sócrates enquanto aguarda o dia em que será cumprida sua sentença de morte. Do texto, foram transcritas apenas três passagens: a primeira, início do texto, é entre Sócrates e Critão, a segunda entre Critão e Sócrates, e a terceira é de Sócrates, antes do pôr-do-sol.
Já aqui, os personagens são apenas pessoas comuns que também têm sua filosofia de vida simples, mas para elas profundas tanto quanto é profunda sua simplicidade. Em cada diálogo, encontram-se em cenários imaginários diversos e bastante específicos para cada situação, como nas ruas, em repartições públicas, andando de metrô, bebendo em bares, em delegacias, em lojas, em confabulações, em sessões de psicoterapia e muitas outras que formam o palco para esses diálogos.
Alguns dos trechos que mais marcaram a mente do autor resultaram depois em uma compilação livremente ampliada, em que lhes foi atribuída uma pequena “história” sobre assuntos e cenários em que os diálogos poderiam haver ocorrido.
Evidentemente, na realidade tais diálogos não existiram de fato, no entanto a imaginação viaja e se mistura com ideias e vivências particulares, de maneira a produzir alguma coisa que lembra o teatro do absurdo, pertinente ao mundo interior dos seres humanos, em que a lógica das emoções nada de cartesiana e, talvez por isso, as sensações que podem ser geradas pelas falas são por vezes divertidas, trágicas ou tristes, dentre a miríade de sensação possíveis que todos temos.
Depois de sua conclusão, pensou-se em ambientar os diálogos em forma de minúsculas peças de teatro, de acordo com a sensação deixada em cada um deles.
No entanto, essa ideia permaneceu no limbo e o resultado são apenas as falas de cada personagem sem qualquer identificação, havendo unicamente alternação entre dialogante normal e dialogante itálico apenas para facilitar a identificação de qual dos dois disse o que: em itálico será sempre o mesmo personagem, e o outro em fonte regular.
Recomenda-se ao leitor que preste alguma atenção extra nas alternâncias entre os dialogantes, já que por vezes poderá parecer algo confuso, tendo em vista que os textos não pretendem ser lineares e nem lógicos, mas sim tem em seu foco cenários, digamos assim, quase que kafkianos; ou brechtianos.
Apesar disso, é um livro que não carece de bula; ou, ao menos, essa foi a intenção do autor.
Firmino de Tibúrçia
Nascido em 16 de junho de 1948, em São Paulo/SP, iniciou graduação em Engenharia Eletrônica no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, Brasil - 1968-1970), havendo sido desligado (por anarquia) em novembro de 1970 no período da ditadura militar no Brasil e acabou por concluir sua graduação no IST (Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal - 1971-1974).Nesses anos, quando a Universidade de Lisboa andava conturbada por greves, esteve por três meses em Heidelberg (Alemanha), para onde foi de motocicleta a partir de Lisboa visando a trabalhar como estudante e conhecer um pouco esse país. De julho a setembro de 1974, fez estágio na General Eléctrica de Madrid, para conclusão de sua Graduação pelo IST.Retornou ao Brasil no final de dezembro de 1974, validou seu diploma e começou a trabalhar em maio deste ano. Em 1978, ingressou na FGV (Fundação Getúlio Vargas, SP) para cursar o CEAG (Curso de Especialização em Administração para Graduados), onde obteve indicação por parte de um professor de Psicologia do Trabalho para fazer terapia de orientação profissional com a terapeuta Maria Elci Spaccaquerche, pois não conseguia se enquadrar profissionalmente.Foi durante esse período em terapia que, por sugestão da terapeuta, começou a escrever o que lhe viesse à cabeça. A cada sessão, levava textos para análise junto com Maria Elci. Passadas algumas sessões, ela sentiu que havia algo nos textos além de esperados sinais de fundo psíquico, desconfiando haver neles algum talento literário.Diante disso, perguntou se poderia encaminhar alguns textos para Maria Lucia Santaella Braga (à época professora titular no programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP, com doutoramento em Teoria Literária na PUCSP em 1973), com o que concordou o autor e o material foi encaminhado a ela.Como retorno, Lucia Santaella disse à terapeuta que ficara surpresa com os textos e que somente havia um aluno seu de pós-graduação que demonstrava também características literárias semelhantes.Provavelmente esse foi o estopim para que o autor começasse a escrever rotineiramente a partir do momento em que foi demitido de seu trabalho no Grupo Philips por sair mais cedo uma vez por semana para sua terapia (coisa de anarquista?).Consequência de seu temperamento: desempregado, faltando apenas o último semestre para concluir o CEAG na FGV, viu-se obrigado a abandonar o curso por falta de dinheiro e, pouco depois, também a terapia.Acreditava que poderia viver de literatura...! Participou de concursos literários, classificou-se em dois deles (1980, Concurso de Contos Eróticos, revista Status, e 1981, concurso de contos Prêmio “Ignácio de Loyola Brandão”). A realidade o fez voltar ao trabalho formal – BOVESPA, BASF, CPM Informática, Banco de Boston, etc.Muita água rolou por baixo da ponte. Em janeiro de 1996, decidiu cursar graduação em Direito e passou por teste na única faculdade que ainda tinha inscrições abertas, UNIb – Universidade Ibirapuera. Surpreso, 30 anos depois de haver feito cursinho para vestibular de Engenharia, classificou-se em 1o lugar...! Conclui a graduação, fez estágio concursado na Procuradoria da República em São Paulo e obteve sua inscrição na OAB/SP no primeiro exame da Ordem. E a vida continuou.
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Diálogos de Plutão (Pluto Dialogues) - Firmino de Tibúrçia
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Dedicatória
Manual de Instruções
Errata
Parte I
De Sócrates para Critão (e vice-versa)
Telefone para Abigail
Num Guichê Público
O Homem que Perdeu a Vida
A Senhora da Sombrinha
Justiça, Justiça…!
A Abóbora Voadora
Um Garçom Reticente
O Relojoeiro e Tempo
Fala, Doscenso!
Confissão Enrolada
Joana B. di B.
Intervalo
Parte II
De Critão para Sócrates (e vice-versa)
Ajuda prum Miserávi!
Carne-seca com Capim
Chuva no Metrô
O Último Zenóbio
O Bicho, a Lei e a Bastilha
A Morte do Defunto
Conspiratio Nobis
Sombra Profunda
País à Matroca
Aqui, d´Ambrósio!
O Camerlengo e o Poço
Parte III
Sócrates, enfim, Filosofa
Sobre o autor
Próximos livros de Firmino de Tibúrçia
Entre em contato com o autor
Dedicatória
Dedico esse livro àqueles (muitos) que pensam que o diálogo acabou.
Manual de Instruções
Esses diálogos surgiram de um exercício puramente mental, em que duas pessoas desconhecidas entre si entabulam conversas sem sentido aparente ou lógica cartesiana.
Os personagens, em cada diálogo, encontram-se em cenários imaginários diversos e bastante específicos para cada situação.
Depois de sua conclusão, pensou-se em ambientar os diálogos em forma de minúsculas peças de teatro, de acordo com a sensação deixada em cada um deles.
No entanto, essa ideia permaneceu no limbo e o resultado são apenas as falas de cada personagem sem qualquer identificação, havendo unicamente alternação entre dialogante normal e dialogante itálico apenas para facilitar a identificação de qual dos dois disse o que: em itálico será sempre o mesmo personagem, e o outro em fonte regular.
Apesar disso, é um livro que não carece de bula; ou, ao menos, essa foi a intenção do autor.
Errata
No terceiro diálogo, quase no final da primeira página, quando Catarina diz‘agora não, por favor’, leia-se ‘tudo bem, pode pôr’.
Na segunda linha do sexto parágrafo desse mesmo diálogo, quando um cachorro entra em cena latindo desesperadamente, na verdade trata-se de um lobo uivando alucinadamente.
No oitavo diálogo, à sua última página (sua do diálogo), leia-se ‘sopa de bigorna’ sempre que estiver escrito‘sova na codorna’, que aí dá certinho.
Nessemesmo diálogo, nessa mesma página, a vigésima quarta frase não existe mesmo; foi um erro de interpretação do revisor.
Nodécimo diálogo, na antepenúltima linha da página 459, deve-se ignorar o que está escrito, pois seu Azambuja não disse nada daquilo; foi acréscimo do revisor, não intencional.
Aindanesse mesmo diálogo, onde consta a página459, pede-se a gentileza de corrigir a numeração (somente dessa página): é459e não459.
Nodiálogo de número setenteum, nada há de errado: é aquilo mesmo que está escrito (sic).
Odiálogo de número setentedois, infelizmente deixou de constar nesta edição, por falha lamentável do editor (infelizmente, porque era o melhor de todos).
Tendoem vista que o leitor já pagou também pelo diálogo supra, o mesmo será publicado como matéria paga, em data a ser oportunamente agendada, no jornal de maior circulação de Requixá de Dentro,O Requixense, vencedor da concorrência.
Finalmente, no último diálogo, à primeira frase da primeira página, onde Marli diz ‘Puta que o pariu, Carlão, você de novo!’, era para ser ‘P… que o p…, Carlão, você de novo!’, pelo que o autor pede desculpas ao leitor mais recatado (foi mais um cochilo extra do revisor).
Grato e bom proveito!
O Editor
Em tempo: brevemente, providenciaremos um novo revisor.
Parte I
De Sócrates para Critão (e vice-versa)
Por que vieste a estas horas, Critão? É madrugada ainda, nãoé?
Perfeitamente.
Telefone para Abigail
Alô, é a Abigail?
Não, não,aqui não tem ninguém com esse nome…
Tem sim, me chama a Abigail, por favor.
Meu senhor, aqui não tem ninguém chamada Abigail.
Ah,é? Então quem é que está falando aí?
Quem fala aqui não é a Abigail.
Se não é a Abigail, quem é então?
É qualquer pessoa, menos a Abigail.
Você é contra a Abigail…
O cavalheiro está enganado, eu não tenho nada contra a Abigail.
Ah, é?, Então porque é que você não quer me chamar ela?
É porque aqui não tem ninguém chamada Abigail.
Nem você é a Abigail?
Nem eu.
Tem certeza?
Absoluta, cavalheiro: eu não sou a A-bi-ga-il.
???
Alô? Alô…?
Com que então, hem?! Já vi que você não vai mesmo com a cara da Abigail e nem com a minha.
O senhor continua enganado.
Eu jamais me engano! Queira chamar a Abigail já, porfavor!
Ora, cavalheiro, o senhor está começando a ficar inconveniente.
Eu, inconveniente? Mas se é você quem insiste em não me chamar a Abigail ao telefone, ora essa!?
O senhor está em telefone público?
Estou sim,por quê?
E tem ainda algum crédito consigo?
Tenho um saco com meio quilo de cartões fresquinhos. Não vou desligar enquanto não vier ao telefone a Abigail. Acho que o melhor que você tem a fazer é chamar ela pra mim, sim?
Quanto pesa cada cartão desses?
Pesa pouco, bem pouquinho,por quê?
Quer dizer então que o cavalheiro pretende se aliviar do peso deles em cima de mim…?
Não, eu pretendo esvaziar o saco em cima da Abigail. Queira ter a gentileza de chamar ela pra mim, sim?
E se eu simplesmente desligar o telefone?
Torno a ligar
Eu tiro do gancho.
E nuca mais põe de volta?
Qualquer hora eu ponho.
Assim que puser, ligo de novo.
Duvido.
Experimente e você vai ver.
Creio que o cavalheiro não se atreveria…
Você nunca mais terá sossego, enquanto não chamar a Abigail.
É sério?
Palavra do amigo da Abigail.
Eu chamo a polícia.
Duvido.
Experimente e o senhor vai ver.
Você não de atreveria…
Acho que o senhor tem razão, eu não me atreveria…, que é que eu posso fazer…?
Chamar a Abigail.
Chamar a Abigail?
Exatamente o que venho lhe pedindo desde o começo.
Chamar a Abigail…, chamar a Abigail…, chamar a Abigail?
É, por favor.
Aqui não tem ninguém com esse nome.
Tem sim que eu sei, mas já que você insiste, será que você não quer sair comigo hoje à noite?
Eu?
É.
O cavalheiro persiste no engano, eu não sou a Abigail.
Eu sei.
E então?
E então pergunto eu, vamos sair?
O senhor quer sair comigo?
Isso mesmo, eu quero sair com você hoje à noite.
Não.
Não?
Não!
Mas…,por que não?
Porque não e porque não.
Seja mais explícita, por favor.
Porque