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A Innsmouth de Lovecraft
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A Innsmouth de Lovecraft

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About this ebook

... se tratava simplesmente de acompanhar o professor Franco Brandellini – este é o nome do cliente – por mais ou menos uma semana a uma cidadezinha para turistas nas costas de Massachusetts, onde tinha sido reconstruída para uso e consumo dos tolos – esta era a explicação de Vergy – a Innsmouth do conto As sombras sobre Innsmouth de H.P. Lovecraft. O nome da estrutura era, em sua enorme originalidade, A Innsmouth de Lovecraft. 
“Em suma”, explicou Vergy, “construíram esta espécie de Disneylândia para adultos que retrata fielmente a cidade do conto. Casebres, cabanas, hotel nojento, a igreja da ordem daquele... como se chamava a porra daquela espécie com escamas com o qual os habitantes fechavam o pacto blasfemo?” 
Fiz minha memória voltar aos tempos da escola. “Dagon, diria. Um capitão do lugar que havia estado em alguma localidade exótica o tinha contatado. Ali, ele soube sobre esta criatura que, pelo preço módico de um sacrifício humano, garantiria peixe, ouro e mulher por todos os anos vindouros.” 
“Sim, certo, uma coisa assim. Ah! você vai gostar dessa. Pelas ruas andam algumas pessoas fantasiadas como os habitantes da história. Alguns miseráveis raquíticos que caminham trôpegos, fedem a peixe e no lugar do rosto tem uma grande máscara de bacalhau ou algo do gênero. Bem, agora você não vai acreditar, mas parece que há pelo mundo um bom número de apaixonados por essa coisa e o nosso professor é um deles.  E quer dar um pulo lá para aproveitar-se de tanta beleza. Você e eu precisamos acompanhá-lo e protegê-lo. Do quê, eu não saberia te dizer.” 
“Parece uma tarefa exequível.” 
“É. O problema é que diziam o mesmo sobre o desembarque na Normandia.”

LanguagePortuguês
Release dateJun 12, 2015
ISBN9781507112168
A Innsmouth de Lovecraft

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    A Innsmouth de Lovecraft - Claudio Vergnani

    Claudio Vergnani

    A Innsmouth de Lovecraft

    Cthulhu Apocalypse - Vol. I

    A Innsmouth de Lovecraft

    © Claudio Vergnani

    Código isbn 9788898361762

    Dunwich Edizioni, Via Albona, 95 - 00177 Roma

    www.dunwichedizioni.it

    Capa: Andrea Piera Laguzzi

    Licença de uso

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    Gratos pelo apoio!

    A Innsmouth de Lovecraft

    Se nada começou, nada haverá.

    (Provérbio tibetano)

    Chovia forte, lama misturada com cimento e reboco pingava da estrutura em construção, tornando os pavimentos desconexos escorregadios. E nem por isso os trabalhos foram interrompidos. Embora vestisse o meu sobretudo, um Stockman australiano, as minhas roupas estavam encharcadas. Subir e descer as escadas de um prédio de quinze andares em construção com um saco de cimento nas costas, pelo menos me mantinha aquecido. O que não significa que o rompimento dos colhões fosse menor. O meu Casio – que apesar de todas as pancadas dos últimos anos, ainda funcionava – e me dizia que o turno do trabalho estava terminando. Fiz uma pequena pausa abusiva para festejar. Encontrei um ponto protegido para depósito de materiais de construção no térreo e me sentei sobre um pallet de ladrilhos. Eu estava em posição oeste, no sentido da extensão plana dos edifícios abandonados que recentemente o plano regulador da cidade tinha decidido demolir. Poderia ter aproveitado o por do sol se não fosse pela cortina de chuva que dava ao panorama – somente além do intrincado de traves e postes – um véu escuro e indistinto. Estava acendendo um charutinho (um produto barato de contrabando que pelo sabor, parecia que as cubanas o tinham confeccionado alisando as folhas de tabaco no sulco entre as nádegas, e não sobre as coxas, como reza a lenda) quando o engenheiro encarregado dos trabalhos surgiu na escuridão do pátio como um pedaço de merda. Percebo que a metáfora pode parecer azarada, mas foi o que pensei no momento.

    Pode se saber que merda está fazendo? me perguntou rudemente. No curso de motivadores profissionais provavelmente tinha se distraído brincando com o celular.

    Olhei-o e concluí que um pedaço de merda teria se anunciado com mais discrição. E teria também tido um aspecto mais gracioso do que aquele gorducho de quase setenta anos, permanentemente irritado porque toda vez que estava para se aposentar, alguém do governo pensava bem e ampliava o prazo para a aposentadoria. O capacete amarelo dançava sobre a cabeça como uma saladeira, das calças impermeáveis excessivamente curtas despontavam um par de tornozelos ressecados e peludos enfiados em meias brancas empastadas de areia, lodo e cimento. O rosto enrugado, em algumas partes, estava coberto por uma barba híspida e em outras estava completamente pelado. Parecia que tivesse se barbeado com um maçarico. Um olho era parcialmente coberto por uma pálpebra caída, o outro piscava em intervalos regulares, dando a impressão que o seu olho te esquadrinhasse e te mandasse a merda ao mesmo tempo. No geral, tinha o aspecto de algo que havia sido desenterrado por um grupo de cães.

    Recuperando o fôlego, respondi. Foi um dia duro.

    Não queria ser mal educado. Queria construir para mim um carma positivo. E naturalmente não queria ser despedido.

    O homem fitou com desprezo e raiva o meu StockmanAinda com esta porcaria de roupa de cowboy. Quantas vezes preciso te dizer que não pode usar este casaco de merda no local de trabalho?

    Terá notado que chove. E aqui ninguém nos fornece as capas impermeáveis que a lei prevê. Arranjo-me com o que tenho. De qualquer, modo o senhor também não está na última moda.

    O homem observou com raiva o saco de lixo no qual tinha se enfiado na cabeça como se fosse um poncho.

    Deixe pra lá como me visto, gaguejou furioso, cuspindo para todo lado. Então a sua boca se abriu em um sorriso que me fez lembrar, de forma sinistra, a abertura de uma fossa séptica. Apesar do cheiro da chuva, cal, cimento e de verniz, o seu bafo que era tudo exceto balsâmico estava impregnando o ar. Se eu tivesse aproximado de sua boca as brasas do charuto, teria provavelmente provocado uma erupção de chamas infernais. O verdadeiro problema era que quando sorria daquele jeito era porque tinha alguma coisa de desagradável para comunicar. A sociedade criava homens como aqueles, embrutecidos, extenuados, insatisfeitos e azedos a tal ponto de encontrar uma centelha de vida somente no momento no qual podiam descarregar parte de suas frustrações nas costas de alguém ainda mais desafortunado. Neste caso, o alguém era eu. Em face daquela boca de pato de Tenzin Gyatso[1] e de sua convicção que a humanidade sobrevive graças à bondade, ao amor e a compreensão. Preparei-me para a má notícia.

    Bem, de qualquer modo, cuspiu, preciso que trabalhe até as vinte e duas.

    Levei cerca de um segundo para absorver a comunicação. Senti cair sobre mim todo o cansaço do mundo. Estava exausto, não via a hora de largar tudo e ir para cama.

    Escuta, disse, procurando não perder a calma, faz quase dez horas que carrego para cima e para baixo sacos de cimento e baldes de cal. E isto porque o elevador de carga está quebrado já faz uma semana. Daqui a cinco minutos termino o meu turno. Estou quebrado.

    E apesar disso, precisará fazer um esforço. Estamos sem pessoal. Tamango se machucou.

    Tamango, um negro de dois metros que faria Balotelli parecer uma mocinha.

    O que aconteceu?

    Nada demais, um pacote de ladrilhos lhe caiu sobre um pé. Choramingava como uma criança. Queria que o acompanhássemos ao pronto socorro.

    E o que ele deveria fazer? Pôr-se a dançar uma giga e pular para cima e para baixo as escadas em um pé só com um saco de cimento equilibrado sobre a cabeça?

    O engenheiro não me escutava. E também o lituano... continuou.

    Ernst.

    ... o lituano foi preso.

    Ernst. Uma raposa. Os seus genes de delinquente tinham origem há milênios e teriam podido corromper os da própria madre Teresa de Calcutá se por qualquer motivo improvável os dois tivessem decidido se acasalarem. Era protegido porque o canteiro não queria histórias com a máfia do leste, depois que o mestre de obras tinha caído do segundo andar e, por algum capricho da balística, além de ter se quebrado um pouco dos ossos, foi encontrado também sem o dedo mindinho da mão esquerda. O engenheiro tinha sustentado que o ferimento não era tão não natural como se podia pensar. Pena que o dedo cortado na raiz nunca tivesse sido encontrado. Talvez um pombo o tenha comido durante o voo enquanto o sujeito caia.

    O que o Ernst fez desta vez? perguntei.

    Nada que te interesse.

    Um pouco me interessa. Gosto de saber se trabalho com degoladores, traficantes e pedófilos. Se um dos colegas faz parte das três categorias então diria que certamente me interessa.

    Chega dessas bobagens! Hoje você trabalha até às vinte e duas. Levanta a bunda e vá trabalhar. Estamos atrasados.

    Embora soubesse, desde o início, que era uma discussão perdida, procurei ainda faze-lo entender. Estou muito cansado. Chove e venta muito. Nada mais fácil que eu também me machuque.

    Há quanto tempo está aqui?

    Três meses.

    Quantos anos têm?

    A pergunta me entristece. E é contra o bom tom. Mas necessito encontrar o lado positivo: a acne da juventude desapareceu há três décadas.

    Pronto. Bem. Quantas possibilidades acha que tem de encontrar outro trabalho se te mando embora?

    A argumentação não estava fora da realidade. Porém, estava começando a ficar de saco cheio. Estava seriamente avaliando a possibilidade de mandá-lo se foder, quando às suas costas emergiram dois homens que pelas dimensões, estrutura e expressividade lembravam bem trens de carga que ninguém queria encarar. Os trens, eu os conhecia. Se tratavam de Cagar (nomen omen, ou seja, o nome é um presságio) e Kemal, dois irmãos turcos, que oficialmente eram ajudantes do canteiro, mas na realidade dois guarda-costas e puxa-sacos do engenheiro. Os dois somavam pelo menos trezentos quilos e, considerando que o interior de suas caixas cranianas abrigava um vazio desolador, o peso parecia ainda mais considerável.

    O engenheiro me olhou com um sorriso mordaz que alargou a abertura da fossa séptica. Então, problemas? perguntou deliciado.

    Era a mesma história, tão velha quanto o mundo: as armadilhas do orgulho com a sua ponta afiada e furiosa contra as fracas resistências do bom senso. Tive uma grande vontade de mandá-lo para o inferno, mas ele tinha razão, ficaria sem uma porcaria de trabalho e, visto que já me esforçava para colocar junto o almoço e a janta, o meu teor de nutrientes ficaria abalado. Sem contar que os dois irmãozinhos teriam podido demonstrar toda a sua sofisticada eloquência para me convencer a ficar.

    Resignado, estava para me levantar e retornar ao trabalho, quando uma sombra maciça emergiu da cortina de chuva às nossas costas. Era um homem, dentro de um velho impermeável liso, alto, mais de um metro e noventa, mal barbeado, forte e com aquele movimento leve e desenvolto que os atletas têm que manter mesmo quando não são mais tão jovens. Os cabelos desarrumados e grisalhos estavam grudados na testa e no pescoço (apesar do dilúvio, o sujeito não tinha se dignado a colocar um chapéu ou usar um guarda-chuva) e os

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