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A Filha do Mar e do Céu
A Filha do Mar e do Céu
A Filha do Mar e do Céu
Ebook423 pages5 hours

A Filha do Mar e do Céu

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About this ebook

Brazilian Portuguese: "The Daughter of the Sea and the Sky"

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Vencedor: Com mérito em destaque do Pinnacle, outono 2014 – o melhor livro vencedor da categoria Fantasia.

Vencedor: Selos Maravilhosos de Excelência da Indies.

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A Evolved Publishing apresenta a saga literária de uma jovem garota retirada do mar sob circunstâncias misteriosas em "A Filha do Mar e do Céu" por David Litwack, escritor premiado do "The Children of Darkness" and "Along the Watchtower." [DRM-Gratuito]

[Literária, Saga, Especulativa. Embora escrito para adultos este livro é adequado para leitores a partir de treze anos de idade.]

Após séculos de guerra motivada pela religião, este mundo se dividiu em duas partes. Agora as Terras Abençoadas são governadas pela fé pura, e do outro lado, a República, a razão é que é sua luz guia; dois mundos completamente diferentes mantidos separados e em paz por um Tratado de Paz e um oceano.

Helena e Jason, cidadãos da Republica eram inseparáveis na sua época de juventude  até que o destino os separou enviando-os por caminhos diferentes. Luto e o dever desviaram os planos de Helena, e Jason passou a detestar o vazio de suas ambições.

Estas duas almas sofredoras pelo destino estão juntas quando um barco pequeno das Terras Abençoadas bate contra as rochas perto da casa de Helena. Um barco que veio pelo oceano; viagem conhecida como impossivel e proibida. A bordo, um único passageiro, uma garota de nove anos de idade chamada Kailani, que chama a si mesma de A Filha do Mar e do Céu. Uma missão nova e perigosa vincula novamente Jason e Helena a medida que eles fazem um juramento para proteger a menina inocente e perdida da ira das autoridades sem se incomodarem com o risco que correm com suas liberdades e futuro.

Mas será que o problema desta misteriosa criança é simplesmente a saudades que sente de voltar pra casa? Ou será que ela é uma poderosa profetiza enviada para desvendar  os segredos da Republica dos Desalmados como um líder rebelde e fora da lei da seita religiosa queria que acreditassem? Qual seja o final desta estória com certeza mudará seu modo de pensar para sempre…e bem provável o mundo deles também.

LanguagePortuguês
Release dateNov 12, 2015
ISBN9781622534296
A Filha do Mar e do Céu
Author

David Litwack

The urge to write first struck David at age sixteen when working on a newsletter at a youth encampment in the woods of northern Maine. It may have been the wild night when lightning flashed at sunset, followed by the northern lights rippling after dark, or maybe it was the newsletter’s editor, a girl with eyes the color of the ocean, but he was inspired to write about the blurry line between reality and the fantastic. Using two fingers and lots of white-out, he religiously typed five pages a day throughout college and well into his twenties. Then life intervened. When he found time again to daydream, the urge to write returned. David now lives in the Great Northwest and anywhere else that catches his fancy. He no longer limits himself to five pages a day, and is thankful every keystroke for the invention of the word processor.

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    Book preview

    A Filha do Mar e do Céu - David Litwack

    Direitos Autorais

    www.EvolvedPub.com

    ~~~

    A Filha do Mar e do Céu

    Direitos Autorais © 2014 David Litwack

    Criação da Capa e formatação por Mallory Rock

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    ISBN (EPUB Version): 1622534301

    ISBN-13 (EPUB Version): 978-1-62253-430-2

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    Editado por Lane Diamond

    Traduzido por Mirna Lislei Pache

    ~~~

    Notas da Licença do eBook:

    Você não pode de maneira nenhuma utilizar, reproduzir ou transmitir qualquer parte deste livro sem autorização, por escrito, salvo no caso de breves citações utilizadas em artigos críticos e comentários, ou nos termos de uso justo das Leis Federais. Todos os direitos são reservados.

    Este eBook é licenciado somente para seu desfruto pessoal; não pode ser revendido ou doado para outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, adquira uma cópia extra para cada um dos outros destinatários. Se você está lendo este livro e não o comprou, ou ele não foi comprado para seu uso pessoal, por favor, retorne ao revendedor do eBook e compre sua própria cópia. Obrigada por respeitar o trabalho árduo deste autor.

    ~~~

    Importante:

    Este é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor, ou o autor usou-os ficticiamente.

    Outros Livros por David Litwack

    Along the Watchtower

    There Comes a Prophet

    ~~~

    www.DavidLitwack.com

    Dedicatória:

    Ao Peter e ao Kevin,

    E a todos os filhos e filhas em todo lugar

    Sumário

    Titulo

    Direitos Autorais

    Outros Livros por David Litwack

    Dedicatória

    Prólogo

    Capítulo 1 – Um Barco Onde Ninguém Deveria Estar

    Capítulo 2 – O Departamento da Separação

    Capítulo 3 – Jason

    Capítulo 4 – Uma Promessa Diferente

    Capítulo 5 – A Natureza do Espírito

    Capítulo 6 – As Terras Abençoadas

    Capítulo 7 – Um Episódio de Irracionalidade

    Capítulo 8 – Escolhas

    Capítulo 9 – Amargo-doce

    Capítulo 10 – Um Caso muito Incomum

    Capítulo 11 – Uma Cafeteria Decadente

    Capítulo 12 – O Reino do Norte

    Capítulo 13 – Sebastian

    Capítulo 14 – A Fazenda do Vale da Águia

    Capítulo 15 – O Barco que Tinha Sido Roubado

    Capítulo 16 – Benjamin

    Capítulo 17 – O Espírito do Vento

    Capítulo 18 – O Conto da Filha

    Capítulo 19 – Poeira Num Raio de Sol

    Capítulo 20 – Uma Costa Distante

    Capítulo 21 – Uma Serpente no Jardim

    Capítulo 22 – Brasas

    Capítulo 23 – A Bênção do Vento

    Capítulo 24 – O Espanto do Anfitrião

    Capítulo 25 – Loucura

    Capítulo 26 – Pontos Cegos

    Capítulo 27 – Um Apelo à Ação

    Capítulo 28 – Visão Periférica

    Capítulo 29 – A Primeira Neve

    Capítulo 30 – O Secretário dos Desalmados

    Capítulo 31 – Um Bom Funcionário Público

    Capítulo 32 – Um Refúgio às Almas Perdidas

    Capítulo 33 – Chamado à Guerra

    Capítulo 34 – Seus Inimigos

    Capítulo 35 – Seu Aliado

    Capítulo 36 – Conversa de Guerra

    Capítulo 37 – Estado de Sítio

    Capítulo 38 – Achados e Perdidos

    Capítulo 39 – Tão simples como Pedras

    Capítulo 40 – Um Trailer no Bosque

    Capítulo 41 – Confronto

    Capítulo 42 – Numa Terra Desconhecida

    Capítulo 43 – A Cena do Apocalipse

    Capítulo 44 – O Portão de Asilo

    Capítulo 45 – Uma Reunião entre Dois Mundos

    Capítulo 46 – O Apocalipse em Mãos

    Epílogo

    Sobre o autor

    Mais informações na Evolved Publishing

    Existem apenas duas maneiras de viver a sua vida. Uma delas é que nada é um milagre, a outra é como se tudo fosse um milagre.Albert Einstein

    Prólogo

    O Ministro do Comércio caminhou pela ponte de terra até a cabana de aço que ficava no topo, caminho que ele tinha escalado umas centenas de vezes ou até mais. Só que nunca antes a tinha sentido tão íngreme.

    A ponte de terra era uma faixa de barro vermelho que se mantinha despojada de vegetação pelos dois governos, só que algumas plantas cresceram lá mesmo assim. Uma barreira de metal preta encimada por picos irregulares rodeavam o complexo, com um único acesso por dois portões, um em direção ao leste e o outro em direção ao oeste. Eles os chamavam de portões de asilo porque qualquer refugiado que passasse por eles, até mesmo por uma pequena abertura, tinha o direito de solicitar asilo do outro lado.

    Na crista do morro ficava o centro de reunião, uma estrutura branca e verde, antigamente, pintada com tinta brilho e fresca, agora desvanecida a quase a cor cinza. Uma pequena maravilha. Ela tinha sido construída há cinquenta e dois anos como parte do Tratado de Separação. Parecia que tinha chegado a hora de demoli-la e construir uma nova ou de pelo menos passar uma nova camada de tinta.

    Ela estabelecia o limite de negociação e providenciava o único contato entre o povo do Ministro e os "Desalmados"; raças que tinham se mantido separadas — exceto em tempo de guerra — desde a Grande Separação. Pelo menos foi essa a história pregada pelo Senkyosei em seus púlpitos. De acordo com eles, o Senhor Kanakunai, o criador do Espírito, em resposta à insensatez da lógica, tinha separado o mundo em duas terras continentais idênticas: As Terras Abençoadas para os crentes e A República para os "Desalmados". Essas a qual estavam separadas, segundo ele, por um grande oceano, deixando apenas um pedaço esguio de terra no topo, como uma traqueia conectada aos nós dos pulmões.

    Mas, e como o Senkyosei adorava dizer, apenas um lado possuía coração.

    O primeiro encontro do Ministro do Comércio com os "Desalmados" tinha sido como um burocrata jovem chegando para avaliar refugiados que solicitavam transmigração para As Terras Abençoadas. Naquela época, ele precisaria dois dias para viajar para a ponte de terra e chegaria cansado e empoeirado, um verdadeiro suplicante. Agora, ele vinha com uma comitiva, e a viagem levava menos de três horas, graças à nova tecnologia que ele negociava do outro lado — um veículo motorizado numa estrada recém-pavimentada. A inovação de tais invenções tinha sido uma de suas maiores realizações e resultou numa vida melhor para o seu povo, mas tinha também trazido grande fortuna para muitos do outro lado. Agora ele era um nobre aos olhos deles, não mais um suplicante.

    Quando ele chegou à cabana, esperou pacientemente, com o braço reto para baixo, enquanto os soldados da República apalpavam-no, procurando por armas e, ainda algo mais perigoso, qualquer forma da palavra escrita. Seus próprios guardas fariam o mesmo com os "Desalmados" do outro lado. Uma vez inocentado, dirigiu-se para dentro.

    Subordinados das duas raças ainda disputavam seus lugares na mesa de reunião. Ele assistiu a disputa, enquanto a bússola se inclinava primeiro para um lado e depois para o outro garantindo assim a posição precisa sobre a fronteira. Os representantes dos "Desalmados" mediam com sua bússola, uma coisa fantástica, mas desnecessária concebida pelo culto da razão. Seu povo tinha uma abordagem diferente, olhava fixamente para a linha de interseção no chão e rezava para ser concedida a eles sua parte justa.

    Quando as duas raças ficaram satisfeitas, ele tomou seu assento e esperou. Essa reunião tinha sido organizada a seu pedido, e então, de acordo com o protocolo, ele seria o primeiro a entrar. Depois de um doloroso minuto, uma porta do outro lado da parede se abriu e dois homens corpulentos dirigiram se para a sala, tomando suas posições nos dois lados da cadeira de couro acolchoada. Ainda que desarmados, pareciam mais do que capazes de se defender sem armas.

    Enquanto ele esperava, sua boca ficou seca e suas mãos começaram a suar. Ele tomou um gole d’água de um copo que estava na mesa e tirou um lenço de bolso do terno para limpar as mãos. Ele já tinha tido muitas vezes reuniões com altos funcionários da República, responsáveis pela educação, pela cultura ou pelo comércio, mas nunca antes tinha ele se reunido com um homem que comandou um exército.

    Momentos depois o Secretário do Departamento de Separação entrou na sala, um urso de homem com uma conduta de alguém acostumado ao poder.

    O Ministro sentou-se reto forçando-se a olhar o homem nos seus olhos, e assim tentar ler seus pensamentos e mais, para ver a alma daqueles que os da sua laia a negavam.

    Este homem não só controlava um exército, mas o destino de tudo o que um Ministro preza.

    Capítulo 1 – Um Barco Onde Ninguém Deveria Estar

    Helena Brewster sentou-se no topo das rochas, cinco pés acima da maré vazante e fingia ler. Pelo menos até que Jason chegasse correndo ao longo da praia na parte de baixo. Ela planejou esperar até que ele estivesse a poucos passos de distância e, em seguida, viraria a página que não estava lendo e deixaria seus olhos se encontrarem com os dele. Talvez os olhos dele depois de se encontrar com os dela, e desde a primeira vez que ele reapareceu, pararia e ficaria. Mas hoje, ele estava incrivelmente atrasado. Para preencher seu tempo e conter suas expectativas, ela praticava um só movimento de virar a página e olhar pra baixo.

    Cadê o Jason.

    Ela entendeu a estranheza do primeiro dia, causada pelo encontro inesperado dos dois— eles não tinha se visto por quatro anos, não tiveram contato há mais de dois. E o segundo dia não foi muito melhor. Ele estava sem fôlego e com a língua presa; ela ainda estava estarrecida do funeral. Foi só no terceiro dia que eles conseguiram uma breve conversa, uma troca de gentilezas, indignas de algo que tinha existido entre eles.

    Hoje ela esperava por mais.

    Ela abandonou toda sua pretensão de leitura e olhou para ao mar. Lá, no meio do nevoeiro, meditando sobre o oceano, um barco apareceu. O que, em nome da razão um barco estaria fazendo aqui? Possivelmente era sua imaginação criativa enquanto criava joguinhos com o nevoeiro enquanto esperava Jason chegar.

    Ela segurou a respiração e soltou lentamente, como ela tinha sido ensinada, para poder controlar as paixões e limpar a mente. Então ela procurou ouvir novamente pelo som das pisadas dos tênis dele na areia. Nada além das chapinhas das ondas quebrando na praia. Ela verificou a marca na água - alta demais debaixo dos seus pés, calculando quanto à maré teria de recuar antes de expor chão suficiente para um corredor. Havia ainda alguns minutos de espera.

    Eles tinham frequentado a mesma Academia, ela e o Jason, do oitavo nível, embora tivesse demorado um pouco antes deles ficarem mais próximos. Ela sentava perto da janela, e ele entre a parede. Ela prestava atenção no mentor, enquanto Jason olhava pra fora, parecendo construir castelos no ar. A cada ano, ele conseguia chegar um grau mais avançado, a um limite específico, e quando chegou a hora quando chegou ao quinto nível, ele sentou ao seu lado e entregava a ela bilhetes, perguntando se ele poderia caminhar com ela para casa depois da escola. Quando ela lhe dizia que estava preocupada que eles seriam pegos, ele trocava os bilhetes, cada um deles com uma frase final: Corra o risco, Helena..

    Na primavera daquele ano, ela concordou.

    A partir daí, ele caminhava com ela até a sua casa todas as tardes ao longo desta mesma praia, mas nunca além daquele ponto, muito intimidado pelas grandes mansões das falésias.

    Tudo isso chegou ao fim quando sua classe graduou para o ensino secundário. Ele estudava na única escola comunitária da aldeia e ela no Instituto Politécnico, escola particular onde estudavam alguns adolescentes. Sim, eles tentaram ver um ao outro todos os dias, mas ela se tornou obcecada por boas notas, tentando agradar seu pai, e ele conseguiu um emprego depois do horário escolar, numa lanchonete com o intuito de guardar dinheiro para a Universidade. Ela ia vê-lo sempre que possível, pedia uma bebida de sabor limão e o visitava durante suas folgas. Não era muita coisa, mas eles não tinham muito que se preocupar; eles teriam muito tempo pela frente quando mais velhos.

    Depois que ele foi embora — ela nunca questionou frequentar a escola de seu pai — eles ficaram em contato por um tempo. Jason enviava um bilhete, e ela respondia. De repente, de uma maneira estranha, dois anos de silêncio se seguiram.

    Agora, depois de todo este tempo, ele reapareceu, exatamente meia hora antes da maré alta, correndo pela praia, enquanto ela se entristecia ao longo dos penhascos. Como um vislumbre fugaz nesta mais sombria escuridão dos verões. Como um milagre.

    Ela balançou a cabeça. Se seu pai estivesse vivo, ele iria castigá-la por ter tal pensamento. Ela ainda conseguia ouvir sua voz falando, de um verdadeiro cientista — não acontece milagre algum.

    A ondulação na borda do nevoeiro novamente atraiu seu olhar. Por um instante, tomou forma, mas rapidamente se desvaneceu; uma miragem ao reverso, algo sólido, onde deveria ter somente água. Ela semicerrou os olhos, tentando penetrar na névoa e virou-se para encontrar algo mais sólido.

    Depois disso, ela fixou seu olhar na costa. A terra se erguia para o Sul em uma curva suave rumo à ponta do Ponto de Albion e terminava no Knob, que se estendia numa forma como um punho fechado, desafiando aqueles que navegavam pelo Mar Proibido. Os abetos do Norte que tampavam a costa rochosa tinham sido derrubados aqui e ali devido a um punhado de casas. Deste ponto de vista, pareciam grandes ninhos de aves marinhas.

    A névoa tinha mudado com a maré, o suficiente para ela ver a casa de seus pais, a branca do centro, com vista para todas as outras do mais alto penhasco. Foi onde ela dormiu por um tempo, onde ficou sozinha e separada. Daquele ponto podia ver somente o segundo andar e o sótão acima. Com o resto misturado no nevoeiro, a casa parecia mais um fantasma saindo do nada. Ela tinha se sentido assim desde que o seu pai morreu.

    Ela veio a esse local, todos os dias, por quatro dias seguidos, desde que conduziu sua mãe até a fazenda e vinha sempre meia hora antes da maré alta. À sua esquerda, um longo trecho de praia terminava nas falésias. À sua direita tinha um pequeno braço de mar esculpido por rochas, onde as ondas colidiam com um som que ecoava ao bater nas suas paredes. Seu pai costumava chamá-lo de buraco do trovão. Sentada em cima de uma destas pedras na forma de um banco, ela balançava seus pés descalços na espuma, nem dentro d’água, nem fora dela.

    Seu pai tinha lhe dado uma tornozeleira de prata no seu décimo segundo aniversário, na idade em que ela se preocupava que talvez já estivesse velha demais para se sentar no colo dele. Ele tinha alegado que se ela se sentasse sobre as rochas acima do orifício do trovão na maré alta, a espuma molharia a sua tornozeleira fazendo com que suas cadeias cintilassem com estrelas. Dois dias antes de ele morrer, ele a fez recordar da tornozeleira e disse a ela que quando o oceano mostrasse as estrelas, que era pra ela pensar nele.

    Jason, ela deduziu, veio com propósitos mais racionais — a parte mais larga da praia lá embaixo, a firmeza da areia compactada pelas ondas — este lugar, o lugar que era deles, o último e mais fácil lugar para se escalar para a estrada que ficava antes das falésias. Velhos amigos que se tornaram estranhos, reunidos novamente pelo ritmo das marés.

    Ela olhou para trás em direção ao mar e captou o sinalizador da Luz da Razão. A antiga torre ficava em uma rocha escarpada no meio da baía, dez andares de altura e sempre a primeira a se ver no meio do nevoeiro. Ela equilibrava o livro num dos joelhos e checava de vez em quando olhando para baixo, ao longo do horizonte.

    A miragem veio à tona e tornou-se sólida — um barco onde ninguém deveria estar.

    A vela dele estava orçada na brisa em forma de triângulo, desajeitada sem nenhum arco, segurando pouca brisa. A frente dele era moldada desajeitadamente, uma banheira mais que proa, e zarpava onde barcos eram proibidos zarpar — um alvo perfeito para a patrulha costeira. Era um barco de bordo muito pequeno e mal equipado para ser de fanáticos do zelo missionário, não tinha nada a ver com barco de salvação, e sim uma armadilha mortal.

    E ele estava à deriva em direção à costa rochosa.

    Ela virou-se para um novo ruído — Jason finalmente estava chegando ao seu cronograma das marés. Logo ele estaria num impasse lento, medindo o pulso com dois dedos na sua artéria carótida e bebendo meia garrafa de água fortificada. Depois de verificar o tempo, ele iria escalar nas pedras em direção ao seu poleiro, dar aquele sorriso com o brilho de um adolescente, que ela lembrava tão bem e ia perguntar como ela estava. Ela ia sorrir enquanto lutaria para encontrar palavras que compensasse os anos de separação. Se ela não conseguisse dizer muito, ele sussurraria alguma sutileza, viraria e correria de volta pelas escadas abaixo e ao longo da estrada para a aldeia.

    Ou era assim como tudo teria acontecido se não fosse pelo barco.

    Ele se aproximou agora, ganhando velocidade. A brisa do mar tinha aumentado com a virada da maré, e como resultado a maré manteve o barco sob o controle, conduzindo-o para as rochas abaixo do penhasco. Mesmo que estivesse em condições de navegar, estaria condenado.

    Jason aproximou-se das rochas e em direção a ela. Ela fechou o livro e colocou-o de lado, esquecendo-se de redefinir o indicador e apontou para o barco. Um Martim-pescador sobrevoou ao longo do litoral e mergulhou exatamente onde ela apontou, e desapareceu na água.

    Jason sorriu.

    Ela balançou a cabeça e tentando encontrar sua voz.

    Um barco, ela finalmente disse.

    Agora, Jason conseguia ver também. O sol cintilava algo na sua proa, como se alguma coisa estivesse mergulhada na calha. Quando surgiu novamente, apareceu alguém agarrado no mastro — uma menina de cabelos dourado.

    Jason abobado voltou à praia e fez sinal para Helena o seguir. Ela foi para a borda, agachou-se e saltou. Ele apanhou-a pela cintura e a lançou para a areia.

    Nesses poucos segundos, o barco bateu contra as rochas. As lascas da rachadura de madeira se espalharam ao subirem ao som das ondas.

    Os dois nadaram em direção as ondas, enquanto a menina de cabelos dourado se debatia na água, lutando para evitar os destroços denteados do barco quebrado. Eles entraram na água alguns passos, apoiando se contra a ressaca, e deram um impulso novamente para frente. Mais três ondas e chegaram até ela.

    Jason agarrou a garota assim que ela começou a afundar. Apesar do mar agitado, Jason a carregou de volta para a praia sem esforço e deitou sua frágil forma numa faixa de grama do outro lado das pedras — um lapsus de uma criança, não mais do que nove ou dez anos de idade.

    Calças lisas de algodão agarradas às suas pernas, e uma túnica manualmente bordada cobriam seu corpo esticado — traje típico de fanáticos, mas tirando a roupa, ela não parecia nada com uma fanática. Sua pele era clara e perfeita, sem mácula, senão fosse pela gotinha se sangue num de seus braços. Seu cabelo dourado pendurado até o meio das costas e seus olhos redondos guardava a cor azul do oceano.

    Se a Helena fosse uma crente, certamente teria analisado o rosto da garota como a de um anjo.

    Jason ofereceu sua garrafa, mas a garota se esquivou mantendo distância. Helena embalou a cabeça da criança e inclinou o queixo dela enquanto ele deixou cair algumas gotas na sua boca.

    A garota lambeu os lábios rachados e os abriu pedindo mais. Depois de se saciar, ela virou-se para Helena. Seus olhos se arregalaram e completou. O sonho, disse ela. É verdade. Eu vejo nos seus olhos.

    Helena sentiu uma súbita vontade de distrair a menina, para interromper aquele olhar penetrante. Quem é você?

    A garota ignorou a questão, em vez disso, repousou sua mão no antebraço de Jason.

    Os músculos dele contorceram-se como se estivessem decidindo entre ficar ou empurrar.

    Seu braço está quente, ela disse.

    É porque eu estava correndo.

    Os olhos de cor azul oceano da menina se abriram mais amplo. De quem?

    Ele retirou seu braço e flexionou os dedos. Você é das Terras Abençoadas?

    A menina assentiu com a cabeça.

    Por que fez uma viagem tão perigosa sozinha num barco tão pequeno?

    Eu não estava em perigo, ela disse.

    Ele acenou sua mão para os destroços, que apareciam ainda por cima da maré. Mas seu barco foi destruído, e fomos nós que você precisou para salvá-la.

    Sim, eu suponho. Ela olhou para trás em direção ao mar como se esperasse encontrar seu barco ainda à tona. Por isso eu agradeço o senhor Kanakunai por me poupar e me entregar ao tipo de pessoas que iriam me ajudar.

    Mas quem é você? Helena perguntou mais insistentemente.

    A garota acenou para beber mais, desta vez segurando a garrafa com as duas mãos e esvaziando-a. Quando ela terminou, sentou-se e levantou seu queixo como se fosse da realeza. Eu sou Kailani, a filha do mar e do céu.

    Então lentamente suas pálpebras se fecharam e seu corpo se esmoreceu.

    Helena olhou para Jason. "Meu caro, ela está...?

    Ele sondou as cavidades ao redor do pescoço da garota com seus dois dedos e encontrou um pulso. Só está exausta. Ela desmaiou.

    Uma porta bateu atrás deles, na rua, e passos se aproximaram. Um oficial uniformizado caminhou em direção ao mar, algum tipo de examinador disponível. No meio do caminho, ele parou para verificar novamente as coordenadas. O título inscrito acima do bolso da camisa lia: Examinador, Departamento de Separação.

    O que aconteceu aqui? ele gritou antes de alcança-los.

    Esta garota estava navegando, disse Helena, quase não acreditando no que suas palavras diziam. Em um pequeno barco que caiu nas pedras.

    Impossível.

    Jason o levou até à borda e mostrou os destroços espalhados na praia igual palitos de fósforo, já quase retomados pelo mar. Aí está o que sobrou do barco..

    Bem, isso explica o tamanho do bip na leitura. Quando eles são pequenos, são geralmente troncos ou um enxame de Cavalinhas. Ela está sozinha?

    Jason assentiu com a cabeça.

    Estranho, disse o examinador. Mesmo assim, ela terá que ser recolhida. Essa é a lei. ·.

    Helena se ajoelhou ao lado da menina. Não está vendo que ela precisa de atenção médica? Bem... pode ser, mas ainda assim ela está aqui ilegalmente..

    Ela é só uma menina.

    Entendi. Eu vou pedir ajuda, mas certifique-se de que ela não vai a lugar nenhum. O examinador se virou e voltou para seu carro de patrulha.

    Quando ele estava longe e fora do alcance de voz, Kailani começou a se mexer, sussurrando, pronunciando algumas palavras. Penitência... deve se fazer penitência pela falta do vento. ·.

    Helena removeu para o lado a mecha de cabelo que caia no rosto da criança. Não foi o vento, Kailani, foi o tipo de navegação. Ninguém poderia navegar naquilo, não num barco tão pequeno.

    Mas a garota voltou a cochilar novamente.

    Helena lançou um olhar para o examinador, que tinha um fone no seu ouvido e passava a maior parte do tempo com seu comunicador.

    Ela inclinou-se perto da garota e acariciou seu braço desnudo. Kailani, se eles lhe fazem perguntas, não diga nada sobre penitência ou sonhos. Você entende?

    A menina desmaiou gradualmente, e Helena a sacudiu de uma maneira suave, o mais devagar possível. Kailani, você consegue me ouvir?

    As pálpebras vibraram.

    Se perguntarem por que você veio, diga apenas uma palavra — asilo. Pode lembrar-se disso? Asilo.

    O lábio de Kailani moveu-se para formar as palavras, mas ela pegou no sono enquanto o som das sirenes que se aproximava.

    * * *

    Jason retornou da estrada onde tinha ido entregar Kailani à ambulância. Ele labutou com ela, esfregando suas mãos uma na outra, estudando o seu rosto como se tentasse entender como alguém poderia ter deixado uma garota assim sair num barco.

    Helena sentia o mesmo.

    Quando ele estava a dois passos de distância dela, parou e fixou seu olhar nela com aquele mesmo sorriso, que ela se recordava bem, de quando ele era um menino.

    O examinador pegou a minha declaração. Ele pediu pra você esperar por ele. Ele quer falar com você também. Ele olhou para o chão e caminhou de um lado para o outro, seus tênis de corrida respingando a cada passo. Suas roupas estavam ainda pingando numa combinação do salgado de suor e água do mar.

    Tenho uma toalha, ela disse, se você quer secar.

    Obrigado. Eu vou ficar bem. Ele olhou fixamente para o horizonte antes de fixar o olhar nela. Ele disse que eles precisarão entrevistar-nos lá encima na cidade. Você sabe o departamento — segurança sobre tudo.

    O que farão com ela?

    O departamento? Quem sabe? Descobrir por que ela veio e, em seguida, enviá-la de volta, eu suponho. A menos que ela continue falando assim...

    Helena se distanciou dele e olhou para longe no mar. Tudo o que ela conseguia pensar era suas perdas — do pai dela, da menina que mal conhecia. Ela é só uma criança.

    Se somente o barco pudesse chegar novamente. Se somente ela e o Jason pudessem resgatar a garota novamente, mas desta vez leva-la para um lugar seguro, abrigá-la, protegê-la. Algo justo, que deveria ser feito à filha do mar e do céu.

    Jason olhou para a estrada. Tenho que ir. Eu tenho tempo suficiente para terminar a minha corrida e voltar ao trabalho.

    Onde você trabalha?

    Ele lançou um olhar sobre seu ombro. No Instituto Politécnico.

    No Instituto Politécnico, como o pai dela. Pensamentos sobre o seu pai a distraía, e o feitiço parecia ter sido quebrado. A garota de olhos da cor do oceano se foi, e Jason arrancou numa corrida em direção à aldeia, sem nem olhar para trás.

    Ela se virou para observar, mas se distraiu com uma onda Mavericks, alheia à maré baixa, colidindo com o buraco de trovão e num gemido se arrastou de volta para o mar.

    Quando ela olhou para cima, estava sozinha.

    Capítulo 2 – O Departamento de Separação

    Segunda-feira de manhã, o chefe Examinador Carlson tentou moderar seu interrogatório habitual. Ele nunca tinha lidado com uma refugiada tão jovem antes. Uma menina de nove anos de idade era pouco provável que seria uma ameaça.

    Está se sentindo melhor hoje?

    Ela olhou para ele. Três dias atrás eu estava lá fora, no mar. Eu não vejo a luz do dia desde esse dia.

    Eu sei e me desculpe, mas temos que mantê-la segura, até podermos determinar o seu estado. Um sinal de desdém no tom dela havia forçado ele a pedir desculpas antes mesmo da entrevista começar. Eu confio em você... ficou confortável?

    A pergunta não necessitava de nenhuma resposta; ela parecia tudo, menos confortável.

    A cadeira estofada, projetada para ser acolhedora para os recém-chegados, era demasiada grande para ela. Ela se esparramou nela, incapaz de encontrar uma posição onde ela não ficava constantemente escorregando. Os pés dela chutavam, tentando alcançar o chão. O departamento de separação tinha fornecido um uniforme muito grande também — eles simplesmente nunca tinham recebido uma refugiada tão jovem. As mangas cor de laranja cobriam as mãos dela, tudo menos as pontas dos dedos, e algum atendente bem intencionado tinha mantido as calças com as barras enroladas para cima para não cair, amarrando uma fita rosa na cintura da criança.

    Carlson passou pela criança e num relance olhou para o cartaz da Senhora da Razão, segurando sua tocha nas alturas oferecendo esperança para os oprimidos. Ele tinha muitas vezes usado ela como inspiração em situações desafiadoras, embora ele nunca tivesse visto uma assim antes.

    Seria mais fácil se nós chamássemos uns aos outros pelo nome, não acha? Meu nome é Henry Carlson, mas todos me chamam de Carlson. Qual é seu nome?

    Ela brincava com a fita, inspecionando seu laço.

    Quando ela finalmente olhou para cima, ele piscou seus olhos duas vezes, certamente tinha visto o mar pelos olhos dela.

    Eu sou Kailani.

    Muito bem. Kailani. Ele anotou o nome dela foneticamente e seguidos de rabiscos parecidos com as ondas do mar. E tem um sobrenome?.

    Não. Só Kailani. Ela puxou o laço, mas era de nó duplo e se recusou desatar.

    Ok, Kailani, então pelo menos sabe quem são seus pais?

    Por que você não tem janelas neste quarto? O tom dela era estranhamente adulto e dominante.

    A presença dela, o cabelo dourado e o profundo olhar, fazia de seu escritório um lugar monótono. Com certeza, a madeira era escura, gasta e desbotada, mas ele tinha orgulho de seu local de trabalho e o mantinha sempre bem organizado. Pastas de arquivos ficavam alinhadas ordenadamente, em ambos os lados do cartaz, os retratos de seu pai e avô, pendurados com espaços entre eles perfeitamente calculado, seus certificados de excelência e suas fotos sem poeira. Centrada em baixo de cada uma tinha uma placa ligeiramente manchada gravada com as palavras: Chefe Examinador, Departamento de Separação. Era a terceira geração, defendendo a República de fanáticos e oferecendo apoio aos refugiados.

    Não tinha nada do que se envergonhar. Muitos dos nossos escritórios têm janelas. O meu não tem.

    Por que não?

    Porque é assim que é. Ele não pretendia explicar a posição de mais velho a uma menina de nove anos. Mas nós estávamos falando sobre você, Kailani. Seus pais sabiam que você ia vir aqui?

    Ela pressionou seus braços na cadeira e levantou a cabeça. O ângulo de seu pescoço ficou perfeito. Eu sou a filha do mar e o do céu.

    Carlsson fez um esforço para não virar seus olhos. Por que isto justo numa manhã de segunda-feira?

    Ele

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