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Uma família perfeita
Uma família perfeita
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Ebook311 pages4 hours

Uma família perfeita

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About this ebook

À procura de um futuro diferente.
Tinham-se reunido três gerações de Crighton na casa da família para uma grande reunião familiar. Infelizmente, a esperada celebração acabou por ser uma encarniçada luta pelo poder, com a herança familiar como prémio.
Os irmãos convertiam-se em rivais e os aliados em adversários à medida que se descobriam os escândalos familiares. Antigos amores, traições... já nada era sagrado e todos os segredos tinham um preço.
O bom nome dos Crighton começava a ficar manchado. Aprenderiam a aceitar as suas falhas antes que a família desmoronasse?
LanguagePortuguês
Release dateJun 1, 2015
ISBN9788468769769
Uma família perfeita
Author

Penny Jordan

After reading a serialized Mills & Boon book in a magazine, Penny Jordan quickly became an avid fan! Her goal, when writing romance fiction, is to provide readers with an enjoyment and involvement similar to that she experienced from her early reading – Penny believes in the importance of love, including the benefits and happiness it brings. She works from home, in her kitchen, surrounded by four dogs and two cats, and welcomes interruptions from her friends and family.

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    Uma família perfeita - Penny Jordan

    Editado por Harlequin Ibérica.

    Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

    Núñez de Balboa, 56

    28001 Madrid

    © 1997 Penny Jordan

    © 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

    Uma família perfeita, n.º 73 - Junho 2015

    Título original: A Perfect Family

    Publicado originalmente por Mira Books, Ontario, Canadá.

    Publicado em português em 2004

    Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), acontecimentos ou situações são pura coincidência.

    ® Harlequin, Harlequin Internacional e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

    ® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

    Imagens de portada utilizadas com a permissão de Dreamstime.com.

    I.S.B.N.: 978-84-687-6976-9

    Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

    Sumário

    Página de título

    Créditos

    Sumário

    Prólogo

    Um

    Dois

    Três

    Quatro

    Cinco

    Seis

    Sete

    Oito

    Nove

    Dez

    Onze

    Doze

    Treze

    Catorze

    Quinze

    Se gostou deste livro…

    Prólogo

    1917

    A Primavera tinha sido fria e húmida e já durante o Verão a chuva torrencial arruinara a colheita.

    Josiah Crighton estava a limpar a janela completamente suja da carruagem em que viajava, de forma a conseguir contemplar a paisagem, mas fez uma pequena pausa para contemplar o rosto pálido e terno da jovem que se encontrava sentada ao seu lado.

    A jovem era sua esposa e, dentro de pouco tempo, seria também a mãe do seu filho. Cerrou os dentes ao recordar a fúria do seu pai quando descobriu o que acontecera.

    – Por amor de Deus, se querias fazer uma estupidez tão grande, porque raios não o fizeste longe de casa? Em Oxford… Em Londres, no escritório… Certamente que lá tiveste imensas oportunidades para… – o seu pai deixou a frase em suspenso e começou a tocar ritmadamente com os dedos na mesa, enquanto o olhava de uma forma fulminante. – Bem, a verdade é que já não há remédio. Temos de encontrar um marido adequado para esta jovem. Em relação a ti…

    – Ela já tem um marido – contrapôs Josiah, calmamente.

    O alívio afastou a impaciência e a raiva do seu pai, que suspirou:

    – Ela já é casada? Porque é que não me disseste isto antes?

    Mas voltou a enrugar a testa quando Josiah continuou a olhá-lo, imperturbável, e lhe explicou:

    – Nós casámo-nos, pai… Bethany e eu.

    Josiah não ficou surpreendido com o alvoroço com que a notícia foi acolhida nem com o consequente exílio para ambos e para as respectivas famílias. A família de Bethany também não tinha ficado propriamente feliz com a novidade. Bethany era filha de um fazendeiro que trabalhara na mansão de lorde Haver. Josiah conheceu-a num dia em que o seu pai a encarregou de levar alguns papéis ao seu cliente. Reconheceram-se de imediato já que tinham passado algumas férias de Verão juntos quando eram crianças e imediatamente recordaram-se também dos jogos proibidos que partilharam nas margens do rio Dee.

    Uma coisa levou à outra e, finalmente, o inevitável aconteceu. Quando Bethany lhe deu a notícia, pálida e assustada, Josiah fez a única coisa que lhe parecia ser honrada, sem se preocupar com o facto de a sua família esperar que ele consolidasse os laços familiares, casando-se com uma prima. Bethany também já tinha um casamento previsto com um parente afastado, um viúvo dono de ricas terras de cultivo e com dois filhos de tenra idade, que precisavam dos mimos de uma mãe.

    Sem puderem contar com o apoio familiar e sem o cargo que lhe estava destinado no escritório de advogados da família, Josiah não teve outra hipótese senão encontrar outra forma de sustentar a sua mulher e o filho que estava a caminho. Assim, alugou uma casa modesta na pequena cidade mercantil de Haslewich, com esperança de que os negócios dos habitantes e da comunidade rural fossem suficientes para sustentar a sua recém-criada família.

    – Tens a certeza de que me amas, Josiah? – perguntou Bethany, chorosa e angustiada, no dia do seu repentino casamento secreto.

    Josiah abraçou-a com força, sem ser capaz de responder-lhe com sinceridade e com receio de mentir-lhe. O passado, repleto de comodidade e estabilidade, ficara para trás. O futuro apresentava-se tão obscuro e tão pouco animador como a paisagem devorada pela chuva. Enquanto voltava a olhar pela janela da carruagem, tentou comparar a vida que deixara com aquela que iria agora começar.

    Naquela altura, em Chester, a secretária do seu pai devia estar a servir o chá do meio da tarde. O fogo estaria a arder na lareira do escritório, revestido a madeira, propagando o seu calor. Como sócio mais antigo do escritório de advogados mais prestigiado de Chester, o pai de Josiah era um homem muito estimado pelos empregados e, em particular, pela menina Berry, que protegia a sua intimidade como se fosse um cão de guarda, ao ponto de nunca perder de vista os irmãos mais velhos de Josiah, que também eram sócios da empresa familiar.

    A magnífica chaleira de prata em que o seu pai tomava o chá era um presente de um cliente rico, enquanto o belíssimo e original serviço de porcelana de Sèvres tinha sido concebido justamente para ele.

    Nos quartos vazios que Josiah conseguira alugar, e que seriam simultaneamente a sua casa e escritório, teria sorte se conseguisse alguma vez desfrutar de um chá a meio da tarde, apesar de não ter nenhuma chaleira de prata para servi-lo nem um serviço de porcelana para bebê-lo.

    Enquanto contemplava a paisagem, o seu semblante foi ficando mais carregado. Como o mais jovem dos seus três irmãos, sabia que o seu pai o tinha renegado porque ele era o seu bem menos precioso. Com dois filhos mais velhos, Edwards e Williams, já integrados no negócio familiar, um irmão, uma irmã e uma infinidade de outros familiares, o seu pai podia prescindir facilmente de um filho desobediente que desonrara a família.

    Josiah jamais trataria o seu filho como o seu pai o tinha tratado a ele, decidiu naquele momento, fervorosamente. Queria assegurar que o seu filho tivesse uma herança familiar tão valorizada e respeitada como aquela da qual ele tinha sido expulso… aliás, até queria mais. Enquanto observava o rosto adormecido da sua mulher, Josiah propôs-se a fundar uma dinastia que algum dia iria rivalizar com a do seu pai e com a dos seus irmãos.

    Iria rivalizar e superá-la.

    1969

    David Crighton viajava rumo ao norte no descapotável encarnado que o seu pai lhe oferecera, como recompensa por ter concluído a sua licenciatura. Apesar de não ter sido o melhor aluno da turma, pelo menos tinha conseguido terminar os estudos. Girou a cabeça para contemplar a jovem que estava sentada ao seu lado e experimentou uma sensação de imensa alegria.

    Tinha-a tirado, quase raptado, a um dos seus amigos, outro membro do grupo de música pop que ele e outros três companheiros tinham formado durante o último ano do curso. Durante vários meses desfrutaram de um sucesso impressionante: um homem gordo e baixo, com uma lustrosa careca e um fato ainda mais lustroso, dirigiu-se aos bastidores depois de uma actuação e ofereceu-se para os ajudar a conseguir um contrato com um dos principais estúdios de música.

    Era a época em que jovens desconhecidos se tornavam milionários da noite para o dia, enquanto milhares de jovens admiradoras sussurravam os seus nomes e lançavam gritos histéricos, por isso David e os amigos pensaram que lhes podia acontecer o mesmo. Só que o homem gordo e baixo acabou por ser mais esperto do que parecia e, enquanto eles tentavam coordenador o grupo, ele metia ao bolso grande parte dos lucros.

    A única coisa que lhes deixou foi as cópias que sobraram de um disco que não tinha conseguido chegar à lista dos cinquenta mais vendidos e uma factura quase infinita de impostos para pagar.

    O seu avô, Josiah, saldou a sua parte da dívida e disse-lhe, furioso, que apenas o fazia para que a família não ficasse desonrada. David não queria saber qual era a razão. Sorrindo de orelha a orelha para o velho senhor, e com uma boa disposição dada pela marijuana, limitou-se a prestar atenção ao sermão do seu avô e depressa voltou para Londres, para perto dos seus amigos e do estilo de vida de que tanto gostava.

    Isto acontecera há já mais de dois anos. Naquela altura, gozou com o seu irmão gémeo por este não desejar mais nada além de criar raízes em Cheshire e ocupar um lugar nos negócios da família… mas as coisas tinham mudado.

    Voltou a olhar para a jovem que dormia suavemente ao seu lado. Tinham-se casado em Londres há três dias. Na cerimónia, ela vestira o vestido mais curto que alguma vez existiu, deixando visível uma imensidão de pernas bem torneadas, enquanto sorria com os seus olhos de Bambi emoldurados por um cabelo loiro, liso e brilhante. Tinha dezoito anos, feitos recentemente, e era modelo, a mais conhecida, desejada e famosa de Londres. E, finalmente, era só sua. Também estava grávida.

    – Mas, como é possível? – questionou quando o médico lhe comunicou o resultado. – Eu estou a tomar a pílula.

    – É evidente que a pílula não faz efeito quando fazes amor com um homem tão sensual como eu – disse-lhe David, sorrindo.

    Ela recusava-se a partilhar da sua alegria e recordou-lhe que tinha imensos compromissos como modelo.

    Desta forma, eles casaram-se e começaram uma nova vida em Cheshire, mas não apenas porque Tiggy estava grávida. David franziu a testa, mas não fazia sentido continuar a pensar no outro infeliz acontecimento. Cometera um erro e descobriram, mas, como ele própri dissera ao seu pai em jeito de justificação, outros advogados faziam o mesmo e não lhes acontecia nada. Não tinha culpa de que o sócio mais antigo do seu escritório fosse tão rígido. Afinal de contas, não fizera nada de ilegal.

    1996

    – Fala-me novamente da tua família e do aniversário que vamos celebrar – pediu Caspar Johnson.

    Mesmo depois de estarem juntos há seis meses, o seu sotaque ritmado do outro lado do Atlântico tinha quase o mesmo poder para transtornar os seus sentidos tal como a sua figura corpulenta e máscula de um metro e oitenta e cinco centímetros de altura, pensou Olivia enquanto lhe devolvia o sorriso.

    – Continua atenta à estrada – advertiu Caspar. – E não me olhes dessa forma – acrescentou suavemente. – Ou já sabes que…

    A forma como expressava o seu desejo sexual por ela, de uma forma aberta e frequente, era umas das coisas que o distinguia dos outros homens que Olivia conhecera, pensou, enquanto voltava a centrar a sua atenção no intenso tráfego que se fazia sentir na auto-estrada e respondia à primeira pergunta.

    – O aniversário – recordou. – Já te contei mil vezes.

    – Eu sei – reconheceu Caspar. – Mas gosto de ouvir-te contá-lo, e gosto ainda mais de ver a tua cara quando falas da tua família. Ainda bem que abandonaste a ideia de te dedicares à magistratura – brincou. – Os teus olhos iriam trair-te em todas as sentenças. Eles podem ser muitos eloquentes.

    Olivia Crighton fez uma careta, apesar de reconhecer que Caspar tinha razão. Tinham-se conhecido enquanto ela fazia uma pós-graduação sobre Direito dos Estados Unidos da América. Caspar tinha sido seu professor e, como ela, era filho de advogados e optara por não se juntar ao escritório familiar e seguir o seu próprio caminho. Optara… Talvez Caspar tivesse tido escolha, mas ela…

    Existiam outras razões para que fossem um casal perfeito, apressou a tranquilizar-se, enquanto abandonava aquela perigosa linha de pensamento: iam visitar a família, não desenterrar velhos problemas. E o que os unia não era uma tradição familiar ligada à advocacia, mas sim algo muito mais íntimo. Automaticamente, apertou os dedos dos pés, contraiu os músculos da barriga e corou um pouco… a paixão que partilharam na noite anterior tinha sido fantástica.

    Já tinham passado dois meses desde que Caspar e ela decidiram ir viver juntos e nenhum dos dois lamentava essa decisão, bem pelo contrário. Mas Olivia não tinha contado à família os seus planos para o futuro com Caspar nem a sua decisão de ir viver para os Estados Unidos com ele. Claro que não esperava que colocassem alguma objecção; como mulher que era, não havia grande problema em prescindirem dela, já que não precisavam dela no escritório da família, tal como acontecia com os filhos varões.

    Caspar passou da alegria à surpresa quando ouviu pela primeira vez a história da família de Olivia, incapaz de acreditar que eles continuassem a ser regidos por tradições tão antigas. Ele recebera uma educação muito diferente da dela. Os seus pais divorciaram-se quando Caspar tinha apenas seis anos e Olivia acreditava que ele tinha alguns traumas a nível sentimental e, por isso, valorizava tanto o facto de ele expressar o desejo sexual que sentia por ela sem tabus.

    Sabia que ele a amava tanto como ela a ele, mas os dois estavam marcados pelas experiências ocorridas na sua infância e, por isso mesmo, ambos se mostravam cautelosos quanto à intensidade das suas emoções. Olivia suspeitava que os dois temiam apaixonar-se mas, apesar de ser ainda muito jovem, já tinha aprendido que era uma tolice reprimir aquilo que sentia. As recordações dolorosas, como os estalos e os pontapés, curavam-se melhor na solidão.

    Não tinham feito planos a longo prazo, além de que ela o acompanharia até Filadélfia quando Caspar regressasse ao seu país natal. No que dizia respeito à sua profissão, teria de dar um passo atrás já que teria de voltar a revalidar o seu título, mas Caspar e ela concordavam que o que sentiam um pelo outro era demasiado importante para que não lhe dessem uma oportunidade. Mas uma oportunidade para quê? Para que o seu amor se consolidasse ou para que se extinguisse?

    Olivia não sabia qual das duas possibilidades preferia e acreditava que Caspar também não. Naquele momento, a maior promessa que podiam fazer um ao outro era o desejo de estarem juntos e o facto de que a sua relação era muito importante para ambos.

    – Fala-me da tua família – pediu Caspar, sentado no lugar do pendura do pequeno e robusto Ford de Olivia, que fora um presente do seu avô quando fizera vinte e um anos. Lembrou-se que quando Max, o seu primo mais próximo em relação à idade, atingira a maioridade, o avô tinha-lhe oferecido um luxuoso carro desportivo.

    A família… Por onde poderia começar? Pelos seus pais? Pelos seus avós? Ou pelo princípio, pelo seu bisavô Josiah que fundara o escritório da família e se desligara da sua própria família, que vivia em Chester, tendo começado uma nova vida ao lado da mulher que a sua família tinha desprezado?

    – Quantas pessoas vão estar na festa? – a pergunta de Caspar interrompeu os seus pensamentos.

    – Não sei dizer-te. Vai depender de quantos primos direitos e primos mais afastados foram convidados. A família mais directa estará lá: o avô, os meus pais, o tio Jon e a tia Jenny, Max, o meu primo, e a minha tia-avó Ruth. E talvez alguns da parte de Chester – olhou para o sinal da auto-estrada. – Já só faltam duas saídas – disse. – Daqui a pouco estaremos em casa.

    Enquanto se concentrava no trânsito, Olivia não se apercebeu da ligeira careta que Caspar fez ao ouvi-la dizer «casa». Para ele, a sua casa era onde vivia em cada momento, mas para ela…

    Olivia, aquela bonita e inteligente mulher inglesa, começava a significar muito para ele. Em muitos aspectos, parecia muito mais jovem que as suas conterrâneas americanas e, noutros aspectos, muito mais madura. Ao contrário das outras mulheres, Olivia colocava a sua relação com ele acima de tudo e isso era muito importante para Caspar, que passara toda a sua infância a sentir-se como uma batata quente que os seus pais atiravam de um para o outro.

    As famílias… sentia um receio instintivo mas, por sorte, seria uma visita breve e logo em seguida Olivia e ele viajariam para os Estados Unidos e começariam uma nova vida juntos… os dois sozinhos.

    Um

    – Achas que se vai manter o bom tempo? Seria terrível se chovesse, já que vamos montar uma tenda no jardim.

    Jenny Crighton tirou os olhos da lista de convidados que estava a rever para sorrir para a sua cunhada.

    – Se tivermos sorte, o bom tempo vai manter-se, Tiggy – tranquilizou-a. – E mesmo que assim não seja, teremos aquecimento na tenda e…

    – Sim, mas os convidados têm de atravessar o jardim e se não estiver coberto…

    – Quando montarem a tenda, vamos pedir para incluírem um corredor até à porta de casa. Assim estará coberto e ninguém ficará molhado – prometeu-lhe pacientemente, como se ainda não tivessem falado daquele assunto milhares de vezes.

    Não tinha sido nenhuma surpresa descobrir que, apesar de Tiggy ter passado bastante tempo ao telefone a falar sobre o quão complicado estava a ser organizar a festa conjunta do quinquagésimo aniversário dos seus maridos, era ela, Jenny, quem fizera todo o trabalho. Mas, claro, era assim a sua relação, pensou ironicamente. Tiggy sempre fora a mulher atraente e ela, a trabalhadora.

    Todas as pessoas desculpavam as fraquezas de Tiggy; a mulher de David deslumbrava todos os homens, inclusivamente naquela altura em que ambas já tinham passado dos quarenta, e Tiggy, porque era Tiggy, nunca conseguia resistir à tentação de aproveitar toda aquela admiração. Mas fazia-o sem qualquer malícia, claro. Adorava David, todos sabiam disso, e era óbvio que o sentimento era mútuo.

    Jenny ainda se recordava do olhar de orgulho e admiração de David no Verão em que levou Tiggy à casa da sua família e a apresentou como sendo a sua mulher. Todos adoravam David: a sua mãe, os clientes, os amigos, as crianças, toda a gente, mas ninguém o adorava com tanta força nem de forma tão incondicional como o seu marido, Jonathon, o irmão gémeo de David.

    Tinha sido ideia de Jonathon celebrarem juntos o aniversário e organizar uma imensa reunião familiar.

    – O pai vai adorar a ideia. Já sabes o quanto a família significa para ele – disse a Jenny, ao contar-lhe a sua ideia.

    – Pode ser que ele goste, mas irá refilar por causa do dinheiro que gastará – preveniu-o Jenny, com uma certa ironia. – Vai ser caro, se quisermos fazer uma coisa como deve ser.

    – É claro que o faremos como deve ser e o pai não se vai importar… como é para David, não faz mal.

    – Não – admitiu Jenny, mas teve de virar o rosto para que Jonathon não visse a sua expressão.

    Jenny sabia, sem dúvida, porque é que todos tinham tanta consideração por David e porque é que o seu sogro se empenhava tanto para que os gémeos permanecessem unidos e se apoiassem um ao outro ou, melhor dizendo, para que Jonathon apoiasse o seu irmão.

    Ben também tinha um irmão gémeo, mas este morrera à nascença e esse facto marcara-o para toda a vida. Jonathon cresceu sabendo que, aos olhos do seu pai, devia considerar-se bastante sortudo por ter o seu irmão gémeo junto a ele.

    Só numa ocasião Jenny presenciara o orgulho visível de Ben a transformar-se em decepção, e tal aconteceu quando David abandonou o escritório de advogados, abandonando assim a trajectória que estava traçada para ele desde que nasceu.

    – Bem, espero que estejas certa em relação ao tempo – disse Tiggy, consternada. – Os meus sapatos ainda não chegaram, mas eles prometeram-me que os receberia a tempo da reunião. Já é muito tarde para encomendar outros e…

    – Vão chegar a tempo. Ainda faltam alguns dias – tranquilizou-a Jenny.

    Tiggy tinha sido modelo nos anos sessenta e ainda exibia a mesma beleza de outrora, apesar da mania pelas dietas e a obsessão pela magreza a terem deixado demasiado esquelética, na opinião de Jenny. O seu ar de mulher abandonada, que numa jovem se tornava bastante atraente, quase que se tornava chocante tendo em conta que ela já era uma mulher de quarenta e cinco anos.

    Claro que Jenny jamais diria a sua opinião. Tinha consciência do que os outros pensavam acerca da sua relação com Tiggy e sabia que, da mesma forma que achavam que Jonathon tinha inveja do seu irmão, diriam que ela também invejava a sua cunhada.

    Os olhos castanhos de Jenny, normalmente doces, reflectiram a dor que sentia, antes que pudesse voltar a concentrar a sua atenção no enorme jardim que se encontrava diante delas. Tinham sido necessárias verdadeiras negociações diplomáticas para convencer o seu sogro, Ben, a permitir que a reunião familiar se realizasse ali.

    Ele tinha refilado, tal como Jenny previra, acerca das despesas e do transtorno, mas, certamente, quando chegasse o grande dia, ele iria comportar-se como um anfitrião alegre e paternal e aceitaria os elogios e a admiração dos seus convidados sem qualquer remorso.

    Tinham travado autênticas batalhas em absolutamente todas as etapas dos preparativos para o fim-de-semana, mas o mais irónico naquilo tudo é que Ben seria o primeiro a protestar caso o mais ínfimo pormenor não correspondesse às suas expectativas… algo sobre o qual o velho senhor era tão consciente como ela. Mesmo assim, em algumas ocasiões, Jenny viu-se obrigada a jogar sujo, relembrando-o de que tinha de impressionar os parentes de Chester, que ele próprio insistira em convidar.

    Claro que Jenny não se importava; pelo contrário, até gostava de enfrentar o seu extraordinário sogro. Apesar de tudo sabia que, apesar de todos pensarem que Ben gostava mais de Tiggy pela sua beleza, no fundo era ela quem tinha ganho o seu respeito.

    Sim, os homens respeitavam-na, confiavam nela, recorriam a Jenny em busca de conselhos e mimos, mas não a namoriscavam nem a consideravam uma mulher desejável. Esta situação fazia-a sorrir naquela altura, mas na sua juventude não tinha sido bem assim.

    Jenny ainda se recordava do que sentira ao conhecer Tiggy. Jon e ela estavam casados há quatro ou cinco anos e já há dois que tentavam ter um filho, mas sem êxito. Ao ver Tiggy radiante de felicidade, orgulhosa do amor de David e da sua visível gravidez, Jenny sentiu simultaneamente dor e pena de si mesma. Custara-lhe imenso olhar para os olhos de Jon e, quando o fez, viu a expressão distante que ele tinha ao observar a barriga saliente de Tiggy. Nesse instante, Jenny mordeu os lábios, sentindo uma mistura de culpa e desespero.

    A alma de Jenny tinha-lhe caído aos pés quando Ben lhes telefonou a convidá-los para irem até Queensmead, para conhecerem oficialmente a mulher de David. Tal aconteceu num quente e pegajoso dia de Verão, naqueles em que parece que o ar já não tem oxigénio.

    O escritório estava a passar por uma fase menos boa e Jon aceitara, sem ripostar, a decisão do seu pai de reduzir-lhe o salário. O abandono de David diminuíra consideravelmente os lucros do negócio, mas Jenny sabia que Jon não se importava muito com isso. Por sorte, Jenny era uma dona de casa organizada, que poupava dinheiro sempre que podia, não comprando roupa para ela. Por isso sabia que não tinha nenhum vestido minimamente apropriado para a festa nem fora o copo-de-água tardios que Ben insistira em organizar para os recém-casados. Contudo, depois de rejeitar obstinadamente a sugestão algo hesitante de Jon para utilizar parte das suas poupanças para comprar um vestido novo, Jenny acabou por decidir costurar ela o seu próprio vestido.

    – Compra um vestido muito bonito – tentou convencê-la Jon, mas ela fez um gesto negativo com a cabeça e contraiu os lábios, gesto que ele interpretou como sendo de contrariedade mas, na verdade, era a forma que Jenny encontrara para reprimir as suas lágrimas, suscitadas pela mensagem escondida nas palavras de

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