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Guardião das Sombras
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Guardião das Sombras

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Suspense/Terror Semifinalista nos Prémios de 2014 de Melhor Livro!

O ano é 2038

Feoran manteve a sua promessa de escravizar a humanidade e a humanidade está a ser esmagada debaixo da sua opressão. Quem se rebelar é mandado para a Fábrica.

Até que uma mulher, Psyche Tawton, decide fugir.

E ela provar-se-á a sua ruína.

Psyche leva uma vida normal - bem, para alguém vivo na era da longa sombra do Clã. Um único evento envolvendo a sua melhor amiga e o seu mestre vampíro, leva-a para o caminho da rebelião causando uma onda que mudará o curso da história e das vidas daqueles com quem ela entra em contacto.

Então ela conhece Torolf.

Um lobisomem com um passado duvidoso, Torolf fica imediatamente intrigado quando põe os olhos na beleza de olhos violeta, mas o lobo interior não pode aceitar uma humana como companheira. Mas decidir se devem ou não ceder aos seus desejos é o monor dos seus problemas, à medida que Feoran os mantém firmemente debaixo de olho e tornando-os o poster central da sua mais recente horrenda campanha. Começando com a sua melhor amiga sendo mandada para a Fábrica.

Com a ajuda de Torolf, os outros imortais e a Rebelião Humana, Psyche será o catalisador para a mais importante mudança na história humana desde que o Clã tomou posse. Mas ela também será o catalisador para o seu próprio destino, desvendando um segredo sobre si mesma que é tão destrutivo...

... que a pode matar.

* Tenha em conta que este livro foi traduzido do Inglês para o Português e contém palavrões, alguma violência e cenas de sexo.

LanguagePortuguês
PublisherIsara Press
Release dateFeb 14, 2016
ISBN9781507131596
Guardião das Sombras

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    Guardião das Sombras - Miranda Stork

    Guardião das Sombras

    Miranda Stork

    Publicado por Isara Press

    Tradução por Patrícia Alexandra Rocheta de Almeida Alves

    Direitos Autorais © Miranda Stork 2016

    Publicação Original 2013

    Esta Edição 2016

    O direito de Miranda Stork ser identificado como o autor deste trabalho tem sido afirmado , em conformidade com os pontos 77 e 78 do Copyright, Designs and Patents Act 1988

    Todos os personagens deste livro são fictícios e qualquer semelhança com pessoas reais , vivas ou mortas , é mera coincidência.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida , armazenada em um sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio , eletrônico, mecânico , fotocópia, gravação ou outro, sem a prévia autorização dos editores ; Isara Press.

    ––––––––

    Este ebook é licenciado apenas para seu prazer pessoal. Este ebook não pode ser re- vendido ou distribuído para outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este livro com outra pessoa , para adquirir uma cópia adicional para cada destinatário. Se você está lendo este livro e não comprá-lo , ou ele não foi comprado apenas para seu uso , então por favor compre sua própria cópia . Obrigado por respeitar o trabalho duro deste autor.

    DEDICATÓRIA

    ––––––––

    Um enorme obrigado para o amor da minha vida, Mark. Tu aguentas ter uma escritora por companheira, levando-me a vários sítios para pesquisa, assegurando-te sempre que há chocolates suficientes no armário e dando-me abraços quando preciso de um. Eu não poderia escrever sem ti e gosto tanto de ti que te daria todos os meus Rolos. Não poderia imaginar a minha vida sem ti. Obrigado, querido.

    Também um enorme obrigado para as minhas senhoras, Tara S. Wood, K. S. Haigwood, Trish Marie Dawson, Caroline F. Levy, Lindsay Avalon e Karen Aminadra. Vocês estão sempre aí para termos uma conversa tola, para analisarmos através de estranhos pontos do enredo e rir de imagens engraçadas. Gosto de todas e cada uma de vocês e eu sei que seremos amigas por tanto tempo que estaremos todas nas nossas cadeiras de balanço juntas um dia. CHUAC.

    E um especial obrigado para Two Steps From Hell. Sem a vossa fantástica música, não teria superado o bloqueio de escritor e acabado e metade das cenas dramáticas devem o seu drama a 'All's Hell That Ends Well'.

    PRÓLOGO

    Ano 2013

    Feoran fechou os seus olhos à medida que a emoção da batalha corria pelo seu corpo, uma emergente onda de controle que punha o seu sangue em fogo.

    Abrindo-os uma vez mais a um alto grito de raiva, ele deparou-se com a cara de um homem humano, uma pistola apontada ao seu intestino. Feoran sorriu suavemente para si, mal se encolhendo quando a primeira salva de balas rasgava o seu lado. Ele simplesmente levantou o seu arco, estreitando os seus olhos e fez pontaria ao seu alvo. O humano hesitou, o uniforme de combate coberto de sangue dos seus camaradas caídos, olhando fixamente para os olhos vermelho-sangue do seu atacante. Feoran saboreou o momento, rodeado pelos gritos e gemidos de agonia e medo, mantendo a seta alinhada com a testa do humano.

    Ele gostava de enervar a presa. Alguns juravam que gostavam da caça, mas não Feoran. A caça simplesmente cansa-te, demolindo as tuas próprias reservas. Mas aquele momento em que te encontravas olhos nos olhos com a tua presa, olhando para a sua própria alma... isso sabia como ambrósia. Os últimos segundos onde a sua determinação se desfazia em terror, onde se apercebiam que não haveria escapatória, que o seu último momento estava nas suas mãos.

    Com a exceção de Arianwen Harris. Ou Aodhan Drummond. Eles nunca hesitaram quando viram morte.

    Feoran silvou para si mesmo em fúria, afastando o pensamento da sua cabeça. Sem pensar duas vezes no tormento do humano na sua mira, ele deixou a seta voar. Saltou do arco, voando rapidamente pelo ar com a suavidade do vento, cimentando-se firmemente na cabeça do homem.

    O humano não se mexeu à medida que um fio vermelho esguichou da ferida, deslizando pelo seu olho. Não houve um piscar quando ele salpicou as suas pestanas, pingando para se encontrar com o resto do líquido viscoso cobrindo o seu casaco. Atirando o seu arco de volta para o seu ombro, Feoran observou com fria indiferença à medida que o humano tombava para a frente, deslizando primeiro para os seus joelhos antes de chegar ao chão lamacento debaixo.

    Os dois demónios apareciam-lhe na sua mente há algum tempo. Desde que ele os encontrou na casa do seu assassino pessoal, Duifean, a sua bravata tinha-o enervado. Ele não o tinha demonstrado, claro. Mas estava lá. Um desagradável bichinho de medo, abrindo caminho na sua mente, lembrando-o de todas as coisas que podiam correr mal no seu plano. Lembrando-o da possibilidade dos humanos rebaterem o ataque dos vampiros, de matar os seus irmãos e caçar aqueles que restavam. Lembrando-o como ele podia falhar.

    Feoran voltou ao presente, olhando para baixo em asco quando o humano arranhou a sua perna. Então até mesmo com uma seta atravessando a sua testa, ele ainda vem atrás de mim. Estes humanos são persistentes, dou-lhes isso. O homem olhou para cima em terror uma vez mais, a sua mão levantada num gesto de súplica. Feoran voltou a puxar o arco, atirando a seta para o olho do seu inimigo. O homem gaguejou, um gorgolejar emanando do seu corpo à medida que sangue borbulhava pela sua boca.

    Não haveria misericórdia. Nenhuma fraqueza. Feoran deu um pontapé no homem afastando-o e passou por cima dele, empurrando o seu adversário para a crescente pilha de corpos, inspirando o potente aroma de sangue com apreciação. Os seus olhos pousaram na terra à sua frente, os arredores de Londres. É aqui que as novas cidades vão começar. Eu dizimarei as suas modestas conquistas e substitui-las-ei com um mundo nunca antes visto. Uma parede, com vinte metros de altura, elevar-se-á à volta de cada cidade, prendendo os fracos humanos dentro das suas existências limitadas.

    Com uma renovada determinação, ele empurrou os seus medos para o fundo da sua mente e analisou a cena à sua frente. Dos seus irmãos e irmãs, uma parede de poder vampírico, esmagando os humanos que tentassem vingar. Lamentos de terror e gritos de agonia. De sangue e poder.

    Feoran permitiu um sorriso malvado enrolar os seus lábios, mostrando presas brancas ao mundo. Os seus olhos pretos refletiam o vazio que agora substituía a esperança para os humanos.

    Um novo mundo.

    O seu mundo.

    CAPÍTULO UM

    2038, 25 anos depois da guerra

    Nuvens cinzentas, prédios cinzentos, pessoas cinzentas. A vida era cinzenta.

    Ou vermelha.

    Psyche tremeu quando ela permitiu aquele pensamento assentar na sua cabeça, antes de o afastar rapidamente. Ela não queria pensar na cor vermelha.

    Porque vermelho queria dizer morte. Vermelho significava... sangue. Para eles.

    Caía chuva miudinha à sua volta, um prematuro chuvisco primaveril. Não que importasse a Psyche se era prematuro ou não. Não havia Primavera, já não havia estações. Apenas um infindável ciclo de dias. Quando o sol saía, quando chovia, quando nevava... nada disso importava. Não havia folgas. Feriados. Nada. Eles tinham erradicado isso tudo.

    O único barulho era o ocasional murmúrio dos membros do Clã tomando conta das fileiras de pessoas em frente das bancas de comida e uma ou duas tosses reprimidas. Nenhuns pássaros cantavam alegremente, mas aparentemente eles existiam no campo. Psyche não saberia, ela nunca esteve fora da muralha da cidade. Como não o tinha feito ninguém que ela conhecesse.

    A fila avançou. Uma mulher mais velha atrás de Psyche estalou a língua sob a sua respiração quando Psyche não avançou rápido o suficiente para acompanhar o resto da fila. Quando a mulher deu um passo em frente, ela pisou o salto de Psyche, atirando-a de cabeça para o chão de cimento. Psyche gritou quando tropeçou, voando em direção ao pavimento duro. Ela esticou os seus braços para impedir-se cair, mas eles rasparam na rua de gravilha, mandando um ardor correndo pelos seus braços. Ela virou-se para gritar com a mulher, então paralisou em terror.

    Um deles estava a observá-la, a não mais de trinta centímetros de distância. Um batedor. Ele gozou, os seus frios, olhos vermelhos perfurando o seu crânio. A sua altamente polida bota batia impacientemente perto do seu braço, como se ele estivesse à espera que ela dissesse algo. Ela baixou o seu olhar, olhando, em vez, para a rua húmida.

    Desculpe. Eu... t-tropecei.

    Sim. Sim, pois foi. Certifica-te de que não volta a passar, ou darás por ti na Fábrica. Ele pôs-se de cócoras, dobrando o seu dedo debaixo do queixo dela para obrigá-la a olhar para ele. Psyche levantou a sua cabeça, mas manteve o seu olhar baixo. Tudo o que ela conseguia ver do seu ângulo de visão era o seu queixo pontiagudo e lábios finos e cruéis, dobrados num sorriso arrogante. Ele suavizou o seu tom quando falou novamente, mas manteve um tom de sadismo. E nós não quereríamos isso, quereríamos?

    Psyche abanou a sua cabeça em silêncio. Os seus olhos viram que ele tinha uma cicatriz ao longo do seu queixo, quase esvaída, mas ainda visível a esta distância. Vampiros não tinham cicatrizes, por isso ele obviamente tinha sido humano a dada altura. Não que fizesse alguma diferença uma vez que eram transformados. Ele soltou o queixo dela com um riso abafado e levantou-se. Os seus passos soaram no tranquilo ar da manhã à medida que ele a deixava.

    Ela engoliu nervosamente, permitindo-se recuperar o seu fôlego antes de tremulamente o soltar novamente. Psyche levantou-se, encolhendo-se à medida que a dor latejante nos seus braços lembrava-a de os ter raspado. A mulher deu-lhe um olhar quase apologético, mas não disse nada à medida que Psyche voltou para o seu lugar na fila. Puxando as suas mangas para baixo outra vez para tapar a pele sangrando debaixo, ela olhou para a frente da fila. Era quase a sua vez.

    Ela teve um momento de pânico quando pensou que se tinha esquecido das suas fichas e remexeu loucamente no seu bolso. O seu coração contraiu-se dolorosamente contra as suas costelas à medida que tateava por elas, o pensamento de as ter perdido fazia lágrimas picarem atrás dos seus olhos. Ela deu um suspiro de alívio quando o seu dedo alcançou as frias peças de plástico e avançou à medida que a fila se aproximava. Perder as fichas seria de partir o coração.

    Levantou-se um vento frio, puxando alegremente o fino casaco de algodão e calças que Psyche vestia. Ela vestia o mesmo que todos os outros, o uniforme que todos eles tinham de usar. Consistia num par de calças e casaco brancos, com o seu número cosido na manga. Se alguma coisa alguma vez acontecesse às suas vestimentas, competia a eles assegurarem-se que ficavam arranjadas. Havia penalidades por terem roupas novas antes da entrega anual das próximas.

    Havia apenas duas exceções na regra dos uniformes e não querias estar em nenhuma delas. A primeira era para aqueles que faziam parte do 'Bordello' do Clã. Os habitantes do Bordello vestiam roupas vermelhas e roxas vibrantes, geralmente cortadas para mostrar um pouco mais que a imaginação permitiria, para ambos homens e mulheres. Aqueles que eram escolhidos para fazerem parte do Bordello tinham uma melhor vida que muitos, com fichas de comida extra, as suas próprias casas, mobiliário luxuoso... mas vinha com um custo terrível. Aqueles que faziam parte do Bordello tinham de vender os seus corpos por este luxo. E todos sabiam que os membros do Clã não tinham exatamente... apetites normais. Psyche tinha perdido uma das suas melhores amigas, Melinda, para o Bordello. Ela não podia culpá-la. Ela própria quase o tinha considerado algumas vezes.

    E além disso, o outro lugar era ainda pior. O segundo conjunto de uniformes pertencia àqueles que iam para a Fábrica. As suas roupas eram iguais às de Psyche, com exceção de serem cinzentas em vez de brancas. Eles eram raramente vistos, a não ser quando o Clã queria assustá-los para mantê-los subjugados. Eles estavam sempre esgotados e de aspeto doentio. Eram os que tinham ficado demasiado velhos para trabalharem, ou pior, tinham-se rebelado. Ninguém sabia o que se passava na Fábrica, mas eles tinham a certeza de uma coisa. Uma vez que fosses para a Fábrica, nunca mais voltavas.

    Saindo do seu devaneio, Psyche avançou quando chegou à frente da fila. Ela marchou até à pequena banca de comida, a mulher lá dentro olhando fixamente para ela com olhos cansados, olheiras profundas debaixo deles por falta de sono. Ela aparentava estar nos seus trintas, mas uma vida de labuta e preocupação tinham-na envelhecido. O seu fino cabelo castanho estava apanhado para trás num apertado rabo-de-cavalo, os seus lábios contraídos numa linha implacável.

    As bancas de comida era onde os pacotes alimentares eram distribuídos. As fichas eram ganhas através de trabalho e usadas para comprar o básico; comida, água e outras necessidades. Havia uma longa linha de bancas ao longo da muralha da cidade, pequenas cabanas ligadas a um enorme armazém atrás.

    Bom dia.

    Bom dia. A resposta da mulher foi tão seca como a de Psyche.

    Psyche tirou as fichas do seu bolso, vasculhando por elas ansiosamente. Ela tinha tentado poupar algumas delas ao longo das últimas semanas, para conseguir, desta vez, mais do que ela precisava. Havia uns quantos luxos que se podia ter, mas apenas se tivesses fichas suficientes.

    A mulher bateu os seus dedos no balcão à sua frente impacientemente e tossiu severamente. Vá lá, vá lá! Não tenho o dia todo, sabes. O que é que tu queres?

    Oh, er... desculpe. Psyche deu um olhar rápido à prateleira por cima da janela da banca, analisando o menu rapidamente. Eu quero um pacote básico e... e também um pacote vermelho.

    A mulher levantou as suas sobrancelhas e hesitou antes de ir buscar os pacotes. Um burburinho de sussurros rodopiou pela multidão atrás e Psyche sentiu as suas bochechas queimarem com a atenção súbita na sua compra. Um vermelho? Sabes que isso custará um total de cinquenta fichas, não sabes, querida?

    Psyche assentiu ansiosamente e pôs as suas fichas no balcão, mostrando à mulher que as tinha. A mulher olhou rapidamente para elas e acenou, como se satisfeita. Ela virou-se e desapareceu no escuro da pequena cabana, procurando à volta na escuridão. Regressando um minuto mais tarde, ela entregou dois pacotes embrulhados em papel a Psyche, dando ao de etiqueta vermelha um olhar de anseio antes de voltar o seu olhar para a fila. Obrigado, querida. Próximo, por favor!

    Psyche afastou-se rapidamente, não se atrevendo a olhar para trás dela. Embora nenhum dos outros a atacariam à frente dos membros do Clã vigiando-os, eles podiam tomar nota dos seus pacotes e tentar segui-la e tirá-los à força. Ela entrou numa ruela, tomando um caminho rápido para casa. Psyche permitiu-se um olhar apressado para os pacotes, o seu estômago dando piruetas de excitação com a visão da etiqueta vermelha. O que poderia estar lá dentro? Ela ainda se podia lembrar da última e única vez que ela alguma vez tinha visto um destes pacotes antes e até mesmo ter sido capaz de provar algumas das suas iguarias.

    A sua mãe conseguiu-o como surpresa. Era o oitavo aniversário da pequena Psyche e os seus pais tinham poupado para conseguirem-no para ela. Psyche tinha convidado Melinda, claro, e os seus pais e irmão, e eles fizeram uma pequena festa para ela. Ela ainda podia visualizá-la agora...

    ...Vamos lá querida, vamos abri-lo! Estás pronta?

    Sim! Já vou, mamã! A pequena Psyche quase que guinchava de excitação. Ela entrou a correr, o seu longo cabelo preto caindo nas suas costas, as suas bochechas rosadas de fervor. Ela bateu as suas mãos em delícia, olhando à volta da sala para a sua pequena festa.

    A sala de estar apertada dos seus pais tinha sido transformada, pelo menos na mente infantil de Psyche, numa sala de festas de conto de fadas. Eles tinham conseguido arranjar algum papel colorido de algum lado e tinham-no pendurado ao longo das janelas para esconder a tinta a descascar e penduraram-no do teto para afastar a atenção da longa fenda de metro e meio que serpenteava o seu caminho através dele. Os sofás remendados tinham sido cobertos com as mantas das camas e os pais da Melinda tinham trazido a sua mesa barata de plástico, visto que Psyche e os seus pais não tinham uma. O pacote estava pousado em cima, parecendo para todo o mundo como se contivesse um génio dentro de uma exótica garrafa.

    Melinda correu para ela com o seu irmão, que estava a sorrir timidamente para Psyche. Os seus olhos verdes iluminaram-se com excitação à medida que ela atirou os seus braços à volta de Psyche, apertando-a fortemente. Parabéns, Psyche! Ben e eu fizemos-te isto.

    Psyche apanhou o oferecido pedaço de papel e a sua cara abriu-se num brilhante sorriso. Oh, Obrigado! Adoro-o!

    Era um pequeno desenho, assinado por ambos Melinda e Ben. Era deles próprios com Psyche e estavam todos de mãos dadas. O sol brilhava no canto e a muralha estava desenhada atrás deles.

    Eu fiz a muralha. E a maior parte do sol também, adicionou Ben orgulhosamente, antes de olhar timidamente para os seus sapatos outra vez.

    Psyche riu, aquele doce inocente som que todas as crianças têm e bateu-lhe no braço de maneira brincalhona. Ele olhou para cima com um grande sorriso na sua cara e bateu-lhe de volta.

    Vamos lá, querida, queres ver o que a mamã e o papá conseguiram para ti? O som da voz da sua mãe fez Psyche lembrar-se do pacote, posto no meio da sala. Ela olhou para cima e viu a cara sorridente da sua mãe olhando para ela, as suas próprias longas madeixas pretas caindo sobre os seus ombros, os seus olhos azuis suaves cansados, mas felizes. O pai de Psyche tinha o seu braço à volta dos seus ombros, a sua bonita cara aberta num grande sorriso torto. O seu cabelo castanho caía sobre a sua testa, dando-lhe um ar mais jovem do que realmente era.

    Psyche parou à frente do pacote, sustendo a sua respiração. Ela praticamente não se atrevia a tocar-lhe, quanto mais abri-lo. O seu papel castanho falava de surpresa, a sua pequena etiqueta vermelha como o bilhete dourado de aventura.

    Vá lá, a mãe de Melinda incitou-a na sua suave voz. Era parte da razão porque Psyche e Melinda tinham sido sempre tão próximas, as suas famílias tinham sido sempre como uma grande família. Ambas tinham duas mães, dois pais, e Ben era irmão das duas.

    Psyche assentiu ansiosamente e respirou fundo. Os seus pequenos dedos agarraram as pontas do papel áspero e ela apreciou a sua sensação, grossa e luxuriosa na sua novidade. Uma vontade súbita de entusiasmo infantil superando-a, ela rasgou-o, o rasgão ecoando na pequena sala. O papel caiu, balançando para os lados da mesa e aterrando no chão.

    O papel mostrou uma simples caixa branca, a qual Psyche abriu, a sua tampa saindo facilmente. Os seus olhos esbugalharam-se como pires com a visão no interior e ela pensou para si mesma que ela nunca tinha visto nada tão bom.

    Havia uma grande galinha rechonchuda, envolvida em papel anti-gordura. Estava flanqueada por uma variedade de legumes frescos em verdes frescos e vívidos amarelos. Frascos de coisas que Psyche nem sequer tinha ouvido falar contornavam as bordas da caixa. No topo estava uma grande placa de algo em papel brilhante. Curiosa, Psyche apanhou-a para ver melhor, descascando a cobertura brilhante. O objeto dentro era castanho e duro, mas tinha um aroma doce.

    A mãe de Psyche ajoelhou-se e tirou suavemente a placa das mãos de Psyche. Ela partiu um bocado e ofereceu-o à sua filha, que estava a fazer caretas àquilo. Vá lá, ela incitou. É bom. Chama-se chocolate.

    Choco-late, Psyche ecoou nos seus tons agudos, tomando o pedaço da placa das mãos da sua mãe em suspeita. Ela cheirou-o primeiro, antes de levá-lo para a sua boca e lambendo um pequeno canto.

    Ela não conseguia saborear nada, por isso respirou fundo e mordeu metade.

    Uau...

    O sabor era... como... bem, Psyche não conseguia pensar como era. Doçura dançava à volta da sua boca e a estranha placa castanha... derreteu-se? Era como seda deslizando pela sua garganta...

    Sim, Psyche ainda se podia lembrar do sabor daquela mistura. Ela também se lembrava da sua mãe dizendo-lhe como ela costumava comprá-lo a toda a hora quando criança, antes da Insurreição.

    Esse pensamento acalmou Psyche e ela caiu em si, acelerando a sua passada para chegar a casa. Ela não queria que ninguém lhe roubasse o pacote, especialmente sem os membros do Clã por perto.

    Pelo menos eles tinham impedido isso de acontecer no centro, mesmo que eles fossem vampiros sedentos de sangue.

    CAPÍTULO DOIS

    ––––––––

    Psyche soltou um suspiro de alívio quando fechou a sua porta da frente atrás dela, finalmente relaxando desde que obteve o seu pacote. Ela olhou para ele outra vez, afagando a etiqueta vermelha com o seu polegar.

    Tinha custado muito obter este pacote. Por muito tempo, o último tinha permanecido nada mais que uma doce mas distante memória. Então um dia ela acordou com esta vontade de fazer algo... mais com a sua vida. Não havia muitas escolhas para ela fazer com a sua vida, mas uma coisa que ela podia fazer era ganhar uma recompensa por trabalhar mais.

    Ela labutou como se não houvesse amanhã, em qualquer trabalho que lhe tinha sido atribuído. Uma semana, ela tinha estado a coser roupas para a quota da cidade, na semana seguinte, ela tinha estado a limpar casas de alguns membros do Clã. Uma das casas tinha sido a casa de Pietor Dobrynin, o chefe do Clã no seu distrito. Tinha-lhe sido dito pelos seus pais que a área onde eles tinham vivido tinha uma vez sido conhecida como Camden e tinha sido parte de uma grande cidade chamada Londres. Psyche conhecia o seu distrito apenas como Cuan Delta, que aparentemente queria dizer 'Quarto Refúgio'. Psyche pode nunca ter vivido em mais lado nenhum em toda a sua vida, mas ela estava segura que isto não era um refúgio.

    A sua casa era magnífica. Uma mansão de estilo vitoriano gótico, era resplandecente na sua localização em pleno coração do distrito. Tudo o que ela tinha feito aquele dia foi esfregar os chãos, mas até isso a tinha feito desejar poder olhar para eles para sempre. Os seus brilhantes ladrilhos tinham sido tão coloridos e vívidos, retratando histórias de pessoas que tinham andado naqueles mesmos chãos muito antes que ela.

    Todos os humanos eram permitidos trabalhar duas horas adicionais por dia sobre as que eram obrigados a fazer. Vendo que era obrigatório trabalhar pelo menos dez horas por dia, a maioria das pessoas escolhia não fazer o trabalho extra. Mas Psyche tinha-o feito, ganhando as fichas extra. E agora ela tinha a sua recompensa.

    Acendendo as suas luzes, Psyche atirou os seus sapatos, aterrando algures perto da porta. Ela colocou os pacotes na mesa riscada de madeira da cozinha e atravessou a sala para ligar a sua pequena televisão. Psyche deu outra olhadela aos pacotes, pensando no seu trabalho extra.

    A sua mãe e pai falaram-lhe de um tempo onde nada disto tinha existido. Onde a vida era muito diferente e as pessoas nem acreditavam em vampiros. Os vampiros tinham estado a conspirar por anos para se apoderarem da humanidade, os seus planos expostos há mais de seis séculos. Quando o ano 2013 chegou, há aproximadamente vinte e cinco anos atrás, eles tinham escolhido esse como o ano em que eles assumiriam o controle.

    Líderes mundiais, cientistas, executivos... todos eles foram transformados ou subornados para se aliarem aos vampiros. A humanidade simplesmente não estava preparada para um inimigo que não podia ser parado por balas ou bombas. Um predador imparável com a capacidade de te matar, ou fazer-te juntares-te aos seus números. Então os humanos tinham simplesmente esgotado. De tudo. Esgotado as balas, esgotado a energia, esgotado o tempo. Os vampiros tinham-se unido e fizeram uma nova era para eles.

    Todos os humanos eram agora escravos e estavam todos sob o controle da população vampírica – ou o Clã, como eram coletivamente conhecidos. O Clã estava espalhado por todo o mundo, dividindo cidades em como eles achavam que deviam ser dispostas. Então cada cidade era dividida em distritos. Tanto quanto Psyche sabia, ninguém tinha alguma vez deixado um distrito para ir para outro. As pessoas nasciam e morriam no distrito em que viviam.

    Afastando o pensamento da sua cabeça, Psyche acordou do seu devaneio à medida que a televisão ganhou vida, cores e sons inundando a sala. Ela grunhiu em descontentamento. Até as redes de TV eram possuídas e controladas pelos vampiros, por isso toda a programação era o que eles queriam ver. Deixando-a ligada, Psyche afastou-se do atarefado ecrã para o seu novo presente.

    Pensamentos daquela doce, sedosa tablete de chocolate passaram pela sua mente, fazendo a sua boca salivar. Ela sabia que era pouco provável que houvesse outra tablete de chocolate ali, mas poderia haver algo. Pelo menos, ela sabia uma coisa daquela caixa surpresa todos aqueles anos atrás. Estaria cheia de comidas maravilhosas que ela normalmente nunca tinha hipótese de comer. Podia parecer uma coisa tão simples para os outros, mas para ela representava um pequeno vislumbre de liberdade, um minúsculo momento arrebatado de como era a vida sem o Clã a dizer-te o que fazer.

    Fechando os seus olhos à medida que alcançava o pacote, Psyche agarrou as pontas do papel áspero, da mesma maneira que ela tinha feito há todos aqueles anos atrás. Ela passou os seus dedos ao longo dele por um segundo, sorrindo gentilmente à medida que ela se permitia imaginar o que poderia conter dentro. Rasgando o papel para mostrar a caixa abaixo, Psyche preparou-se à medida que retirou a tampa.

    Bem, realmente não havia nenhum chocolate.

    De facto, não havia muito de nada. Psyche olhou fixamente em desapontamento para a caixa, lágrimas picando nos seus olhos. O abundante banquete que ela se lembrava revelar todos aqueles anos atrás não era mais que uma distante memória. Não havia praticamente nada na caixa. A galinha tinha sido substituída por um pequeno pacote de salsichas, mesmo assim difíceis de conseguir, mas dificilmente o mesmo que uma galinha. Os frascos tinham reduzido em número e a maioria era de coisas que ela nunca poderia comer sozinhas. Em vez de latas de fruta ou carne, havia latas de pickles e molhos. Coisas que precisavam de outras coisas – claramente a ideia do Clã de uma piada, vendo que os humanos raramente comiam carne, em vez, consumindo uma dieta constituída maioritariamente de pão. Havia alguns outros bocados de carne, corte barato, e duas maçãs. E era isso.

    Psyche afundou-se no seu linóleo rasgado, a sua cara abatida e pálida. Uma pequena aranha escapulia-se rapidamente à medida que ela se foi sentar perto da sua casa de fios empoeirados no canto da sala.

    Psyche pôs a sua cara nas suas mãos e chorou. Os seus ombros abanaram com o esforço, os seus soluços ficando mais altos, até que gritou de raiva e dobrou as suas mãos em punhos. Ela bateu com eles contra o chão.

    Todo aquele trabalho. Todo aquele inútil, inútil trabalho.

    Nada alguma vez mudaria. Psyche tentou fazer algo que tornasse a sua vida um pouco mais suportável, mas o Clã tinha ganho. Como se atrevem! Porque nos roubaram esse único prazer? E eu perdi todas aquelas fichas...

    Uma batida forte na porta fê-la saltar e a sua cara manchada de lágrimas olhou na direção dela. Ela levantou-se do chão, esticando o seu pescoço na direção da porta da frente, pensando se o tinha imaginado. A batida veio outra vez, desta vez mais insistente.

    Psyche levantou-se atabalhoadamente, correndo para a porta. Ela olhou rapidamente pelo

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