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Ondas
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About this ebook

“O que se deve fazer sobre este país é ir embora de uma vez.”

Ángel nunca se imaginou em uma situação assim: esfomeado, extenuado e com a dúvida de se sobreviverá mais um dia. Mas o futuro de sua família não tem preço. Ondas submerge o leitor em um mundo de dominó, rum, charutos cubanos, sexo, drogas, boleros e tubarões, ao mesmo tempo em que traça um paralelismo entre três episódios de êxodo cubano aos Estados Unidos.

Um livro sobre Cuba que não toma partido da esquerda nem da direita, senão com as pessoas comuns, sufocadas pelas circunstâncias. Uma homenagem ao emigrante, suas esperanças e sacrifícios.

LanguagePortuguês
Release dateMar 2, 2016
ISBN9781507133477
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    Ondas - José Ramón Torres

    Nota do autor

    Com exceção dos históricos, todos os personagens e acontecimentos mencionados nesta obra de ficção são fruto de imaginação e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. O autor admite a possibilidade de que em seu romance fique transparente algum conteúdo de conhecimento público refletido em artigos, livros e documentários que ele consultou e que reconhece com gratidão.

    Dedicatória

    A minha esposa Liz e a meus filhos Daniel e Amelia, pelo tempo que este livro lhes roubou.

    O comunicado

    Como consequência da dolorosa morte de um guardião da sede diplomática do Peru, e diante da atitude tolerante do governo de tal país com tamanhos malfeitores, o Governo Revolucionário de Cuba decidiu retirar a proteção da tal sede diplomática. De agora em diante, os funcionários da mesma serão os únicos responsáveis daquilo que acontecer em sua embaixada. Não podemos proteger embaixadas que não colaborem com sua proteção.

    (Jornal Granma, Havana, Cuba, sexta-feira 4 de abril de 1980)

    O pátio

    No fim da tarde do sábado dia 5, a quantidade de asilados se aproxima aos 10 mil. Um enxame de pessoas se ocupa de chegar à embaixada em busca de asilo. Entre os que conseguiram entrar estão dez estudantes da Universidade de Havana que chegaram por volta das nove da manhã, três motoristas de ônibus que passavam por pontos próximos e que abandonaram seu trabalho, e o motorista do caminhão pipa que foi levar água e ficou por ali.

    Acabam de chegar três jovens seminus, provenientes da praia. Antes de dar passagem, um deles faz parar um taxista e lhe entrega um bilhete improvisado com o endereço de seus familiares para que os traga. Junto com o papelzinho, deixa um relógio, um boné, uma máscara de mergulho e a promessa de que a corrida será a mais bem paga de sua vida.

    ― Lembra-se da mulher que disse ter parido aqui e pediu um avião para que a levassem com urgência ao Peru? ― pergunta uma senhora com os cabelos brancos a outra encostada no canil ―. Então, filha, acontece que ela trouxe o bebê sem autorização da Maternidade de Línea em um lençol todo sujo de sangue.

    ― Não diga.

    ― É do jeitinho que estou contando.

    A poucos metros das senhoras, um homem enrolado na bandeira peruana vocifera no meio da multidão:

    ― Eu sou o Peru e ninguém põe a mão em mim. Nem a polícia, nem o exército, nem ninguém. Ninguém!

    Ángel contempla entre admirado e comovido o espetáculo do qual toma parte nos jardins da mansão. Não está nada convencido do que diz o maluco da bandeira, mas agora tem outro assunto mais importante pelo qual preocupar-se: a proximidade de um sujeito de nariz amassado como se fosse por um soco, o qual parece olhá-lo fixamente desde o chão. Ele sabe que o cara tem consigo uma lâmina de serra comprida e afiada com empunhadura de esparadrapo. Ele está olhando especialmente Ángel ou é este que imagina o olhar perverso? Será por causa do medo que brotam no cérebro esses perigos provavelmente inexistentes?

    Medo, suor e fome. Talvez sejam as substâncias primordiais, os tijolos com os quais se constrói a vida. Existe muito mais desde a ponta de Maisí até o cabo de San Antonio? Em Guantánamo, Holguín, Camagüey, Cienfuegos, Matanzas ou Pinar del Río? Haverá algum canto da ilha onde a fome, o suor e o medo não preencham a vida e não invadam os sonhos?

    *****

    A cada minuto que passa, chegam centenas de pessoas e os ânimos estão bem exaltados. No sábado, uns selvagens espancaram um jovem casal que queria voltar para sua casa. Naquele momento, não sacaram navalhas, mas ontem outros ameaçaram esfaquear um pobre infeliz que havia subido num pé de manga, só porque caiu um pouco de terra de seus sapatos. Esta não é a imagem de asilado que Ángel tinha. Ele supunha que tudo seria mais pacífico, mais solidário, e não uma antecipação do próprio inferno. Até ir beber água ou urinar está ficando perigoso. Não se sabe o que pode acontecer se, por acaso, sem querer, você esbarra com um cotovelo ou uma perna esticada. A ordem do dia é agrupar-se e cuidar da vaga de quem se ausente do grupo por alguns minutos, mas também aconteceram conflitos por causa disso. Imagine se, sem querer, encosta o pé na perna do sujeito e recebe um talho profundo no tendão de Aquiles que o deixa sangrando. Acabaria abandonando a embaixada arrastando o pé ferido.

    Por um acaso imaginou há apenas três dias antes que viria parar neste canto? Talvez a gente nunca decida nada. As circunstâncias. São sempre as circunstâncias que eventualmente acabam definindo tudo, pensa. E Mireya, que o arrastou até aqui. Mireya é uma circunstância? Que pensamento idiota, pensa imediatamente. Em outro momento, iria começar a rir, mas agora não está com humor para risadas. Agora está suando e tem fome. E medo, porque negar. Tem muito medo. Conhece bem o lugar pelos três dias que já está ali, sob as intempéries, sem banho e quase sem comida, e já viu um trecho da cerca por onde poderia pular e se mandar, mas ao mínimo indício de deserção a turba reage com agressões.

    A multidão e o caos impedem que se espreite mais longe do que onde se está, embora você se empine e estique o pescoço. Pensa que deveria se atrever a comprovar se o novo burburinho está relacionado com a distribuição das poucas caixinhas de comida que o governo fornece, mas diz-se que em seus quase quarenta anos não compensa arriscar sua magra pele por tão pouca coisa. De todo jeito, a comida sempre fica com os prepotentes, que também suam, mas têm menos medo e passam menos fome.

    A filha de doze anos recém-completados de Mireya não faz muitas perguntas, mas também não tem um bom semblante: tem umas olheiras violáceas debaixo dos olhos e seu olhar é triste, doentio. Ángel lhe afaga a cabeça. Parece-lhe curioso estar preocupando-se com Sofía quando ele mesmo está prestes a deixar para trás seus próprios filhos, talvez para sempre. Se não se sentisse tão cansado, tão superado pelas malditas circunstâncias, talvez derramasse algumas lágrimas por eles, mas ele sabe que o choro, em seu caso, já esperou tantos anos imóvel, coalhado, que não vai sair agora à superfície. Pergunta-se se terão dado a Eduardo a liberação da unidade militar. Se ele chegar ao quarto, verá o bilhete de despedida que lhe deixou em cima da mesa. E Emilia? Ángel confia que sua filha e Pepe podem se virar sozinhos, como tem sido até agora. O certo é que eles não lhe dão tanta preocupação como Eduardito. Quando o rapaz descubra o fato consumado do asilo pelas suas costas, não o perdoará.

    Uma leve brisa lhe traz um cheiro de vegetação que o transporta à infância, quando enlouquecia para ajudar a tirar o couro de um porco que seu pai acabara de matar, com uma lâmina de barbear e água bem quente, para enfiar um galho de goiabeira no talho sangrento do pescoço e virá-lo enquanto assava.

    Enquanto Ángel relembra aqueles tempos, uma voz de mulher começa a entoar as notas do hino nacional cubano e o canto se propaga com cansaço entre os asilados como se seus corpos fracos ressoassem e as ondas sonoras reverberassem em seus ossos. Os olhares se encontram e se reconfortam. Sem gestos. Sem espalhafato.

    *****

    Lá pelas seis da tarde, desde a fila para usar a pia, Ángel vê chegar dois Alfa Romeos e um luxuoso carro preto ao cruzamento da Rua 72 e a Quinta Avenida. As pessoas comentam que se trata do famoso ZIL de Fidel. Em vários momentos de sua vida, Ángel chegou a pensar que o Comandante em Chefe é uma deidade vestida de verde oliva, mas hoje pode comprovar que ele possui uma existência corpórea. É a primeira vez que está tão perto dele, e se pergunta por que ele quis acudir pessoalmente a embaixada. Com certeza a sorte dos asilados dependerá do que o Comandante disser e fizer nas seguintes horas.

    As sinapses do cérebro de Ángel se aglomeram para representar a sequência de acontecimentos que podem ter levado Fidel até ali. Recupera memórias e notícias ao mesmo tempo em que conjetura: na quinta feira 3 de abril, entre as graves tensões com Venezuela e Peru sobre o direito de asilo em suas sedes diplomáticas em Havana, o Chefe deve ter se reunido com vários altos comandos da Revolução para decidir se retirava a vigilância policial dessas embaixadas, especificamente, a peruana.

    ― Meus assessores acreditam que poderia haver problemas se retirarmos os guardas ― talvez alguém lhe advertira, como o ministro do Interior ou o chefe da Segurança de Estado.

    ― Nestas circunstâncias temos que ser sensatos. Tirar a vigilância de qualquer embaixada tem seus riscos ― teria alertado o irmão de Fidel, general do exército e ministro das Forças Armadas Revolucionárias.

    Hoje de manhã, no entanto, talvez diante de um relatório recebido em seu escritório no Palácio da Revolução que numerava os asilados em 10 mil, o Comandante pode ter decidido comprová-lo com seus próprios olhos. Com certeza conhece bem a mansão por ter vindo a recepções. Tem capacidade para acolher facilmente 100 pessoas, mas 10 mil é, sem dúvida, um número exagerado.

    Para chegar à embaixada, sentiu a tração dos pneus do ZIL sobre o pavimento ao cruzar as ruas com números pares no bairro de Miramar. Essa parte do trajeto Ángel imagina que seja impregnada de cheiro do mar, mas talvez o Homem tenha vindo ofuscado demais para notar. Será que ele ficou contente que os edifícios dos hotéis e cassinos de antigamente nos quarteirões paralelos à avenida não sirvam mais a seus fins originais? Ele limpou toda a região de ladrões do colarinho branco e agora suas ruas são percorridas por crianças de uniforme escolar com livros e sorrisos, estrangeiros amigos da Cuba socialista e trabalhadores integrados a ela. Os cubanos endinheirados que ocupavam estas opulentas residências nos anos 50 as abandonaram com o triunfo da Revolução, que primeiro as transformou em escolas e albergues para os estudantes do interior com bolsa de estudos em Havana. Depois, à medida que foram sendo construídos centros educativos por todo país, foram transformadas em embaixadas e firmas estrangeiras com presença comercial na ilha. Também não fica nenhum vestígio das casas decrépitas de jogo e prostituição que antes de 1959 se espalhavam vergonhosamente pelo lado sul da avenida, a escassos metros dos exclusivos clubes náuticos e sociais do lado norte, depois da rotatória do antigo parque de diversões Coney Island.

    Enquanto Ángel recita em silêncio esse tipo de panfleto governamental, consciente de que entoa uma música pegajosa, algo assim como aquelas cantigas de ninar com que sua mãe costumava fazê-lo dormir quando criança, o Comandante em Chefe abaixa o vidro da janela traseira do ZIL parado. Pode observar os refugiados trepados no telhado da casa, com as mãos levantadas e formando o sinal da vitória desafiando um helicóptero que sobrevoa a área. Ángel supõe que o Homem esteja se perguntando se errou a mão. Com certeza a única coisa que queria era dar uma lição na Venezuela e no Peru por dar respaldo às repetidas tentativas de asilo desde o ano anterior. Esse espetáculo ofusca os frutos gerados desde o princípio do governo presidencial de Jimmy Carter pelos esforços de diminuição de conflitos entre Cuba, o governo americano e alguns setores da comunidade cubana no exterior. O país vive nos últimos anos não apenas uma lua de mel com o poderoso inimigo, mas também momentos de verdadeira glória internacional. Enfrenta com sucesso há cinco anos um dos exércitos mais poderosos do mundo em Angola, e serviu de anfitrião de eventos como o XI Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes de 1978, ou a Conferência dos Países Não Alinhados de 1979.

    O Comandante sai do carro, fecha a porta com força e dá uns passos em direção à entrada da embaixada. As centenas de asilados apertados contra a cerca começam a retroceder em silêncio e um funcionário consegue sair à rua. Ángel se pergunta se se trata de um zé-ninguém qualquer ou o encarregado de negócios ou adido cultural, porque a hora é bastante intempestiva para que o embaixador esteja ali. Em todo caso, Fidel dirige umas palavras ao peruano, coloca um braço ao redor de seus ombros e o leva até o ZIL.

    *****

    O silêncio imperou durante grande parte da manhã de hoje, terça-feira. Até que uma frase, uns simples sons organizados no tempo, com uma ordem e significado arbitrários, devolveu a alma aos 11 mil corpos apinhados sobre a grama, o canil, o telhado e as árvores.

    ― Estão dando salvo-condutos!

    Em menos de dez minutos os rumores são confirmados: o governo começou a conceder a licença para que voltem a suas casas quando quiserem; basta solicitar. Garantem-lhes que viajarão ao exterior através de trâmites da embaixada assim que obtenham o consentimento do país receptor. Não pode tratar-se de outro relatório transmitido pelo Telefônico, como apelidaram um dos asilados que deu um jeito de levar um terminal de telefone do interior da embaixada e colocá-lo como extensão no jardim, porque faz um par de dias que os peruanos recuperaram o aparelho. Graças a ele, toda a negociação entre os funcionários peruanos e cubanos chegava ao conhecimento da multidão, que a divulgava, comentava e distorcia à vontade em questão de segundos.

    Vários asilados que fizeram entrevista com o pessoal da embaixada retornam a seus domicílios. A entrevista, conforme dizem, consiste de uma conversa informal, na qual um dos peruanos tenta dissuadi-los do asilo político e, vendo que persistem em seu propósito, lhes entrega um salvo-conduto. O encontro termina imediatamente de modo amável.

    Alguns vão saindo e não pensam em voltar à embaixada a menos que seja estritamente necessário. Muitos outros se negam a abandonar o lugar.

    ― Ángel, esta menina vai desmaiar ― Mireya lhe joga na cara, e o cenho franzido não lhe desaparece do rosto ―. Por aquilo que te é mais precioso, anda por aí e veja se consegue algo de comer.

    ― Acabei de dar uma volta e não achei nada. Vou trazer-lhe um lenço empapado de água para refrescar-se. Se começaram a dar salvo-condutos, quer dizer que a coisa começa a se destravar.

    ― Você não tem colhões para enfrentar esses caras e dizer-lhes que há menores de idade aqui sem comer há vários dias.

    ― Não é isso, Mireya. É apenas um par de caixinhas que nos jogam por cima da cerca. Aposto o que você quiser que fazem isso para ver como nos matamos por elas. Você viu alguma? Sabe o que têm dentro? Já te aconselharam ir ao posto de Assistência Médica para que te meçam a pressão e te deem um copo de água com açúcar, veja se pode trazê-lo para Sofía. Não acabou de entender...

    ― Quem não entende nada é você, cara, que está sempre no limbo. Não sei porque trouxe você junto se a única coisa que faz é atrapalhar.

    Ángel não consegue responder. Só pode culpar-se por tê-la seguido às cegas. Tenta se explicar como se deixou levar dessa maneira. Então recorda a tarde da sexta-feira, quando chegou à casa dela todo suado, exausto pela longa jornada de trabalho na oficina e pela caminhada sob o sol.

    Ao fechar a porta, ficou parado por um par de segundos para respirar fundo e sentir o frescor das escadarias de mármore e dos azulejos nas paredes. Ficaram para trás o pó, o calor e o barulho da rua. Em parte aliviado com essa pausa, começou a subir sem pressa as escadas enquanto se anunciava. Como ninguém respondeu suas chamadas, decidiu parar de novo um instante e apreciar com calma a quietude doméstica. Não era nada mal estar um instante sozinho.

    ― Que cedo, benzinho! Fico muito feliz! É como se te chamasse com o pensamento!

    Ángel respondeu com uma bufada. Mal podia ver a silhueta de Mireya, no topo da escada, com a luz natural do pátio interior na parte de trás.

    ― Já ficou sabendo? Tiraram a proteção da embaixada do Peru porque, aparentemente, uns caras enfiaram um ônibus pela grade e mataram um guarda.

    Era incomum que sua mulher viesse até aquela parte da casa para recebê-lo. E desconcertante que lhe falasse atropeladamente enquanto descia os degraus.

    ― Alfredo trouxe o jornal e tive que implorar-lhe que o deixasse aqui. Leia você mesmo.

    ― Um momento, né? Deixe-me chegar ― protestou Ángel enquanto subia.

    ― Ele me disse que não podia esperar, benzinho, mas se formos com ele, podemos ficar morando na casa de sua família em Hialeah quando cheguemos aos Estados Unidos.

    ― Vamos ver. Vocês ficaram doidos? Explique-me o que Alfredo vai fazer nos Estados Unidos com um olho só e sem falar uma palavra em inglês. E isso só pra começar.

    Agitada, Mireya começou a voltar pelo meio lance de escadas que tinha descido. Ao chegar ao patamar, inspirou ar antes de perguntar por sua vez:

    ― Você não sabe que seu irmão é chefe de manutenção de um hotel e que também é um dos donos de uma oficina em Miami Beach? Ele até pode arranjar uma vaga pra você ao chegar, só pra começar. Então não fale tão precipitadamente.

    ― Hotel? Oficina? Vou tomar café da manhã agora.

    ― Faça bom proveito. Escute-me bem um segundo. Um monte de gente já se enfiou lá e estão chegando caminhões inteiros das províncias. Quando a gente está lá dentro, lá é território peruano e o governo não pode fazer nada. Mas então temos que decidir rápido, porque você já sabe como são essas coisas.

    Ele foi sentar-se em um dos sofás de vime perto da sacada, com o Granma que ela lhe colocara nas mãos. Então começou a ler o comunicado do governo e, não consegue agora dizer por que, ficou contando as vezes em que as palavras governo e embaixada se repetiam, passando por elas a polpa do dedo indicador.

    ― Você leu ou não? O que está fazendo? ― perguntou Mireya, desconcertada.

    ― Tentando contar umas palavras ― respondeu ele com a

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