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Como Criar um Bom Filho
Como Criar um Bom Filho
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Como Criar um Bom Filho

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Finalista do Indie Reader Discovery Awards (educação familiar) e finalista da Foreword Reviews Book of the Year (nas categorias humor e ensaio), Como Criar um Bom Filho não é um manual convencional, mas uma coleção de 23 histórias bem-humoradas e sinceras sobre os desafios e as alegrias de criar os filhos de uma forma que seja divertida tanto para os pais quanto para as crianças. Explorando temas como honestidade, lealdade, coragem, trabalho, determinação e amor, Como Criar um Bom Filho garante boas risadas com histórias autênticas, universais ao tema e perfeitamente adequadas para iniciar uma conversa sobre a importância do caráter e da integridade. Como Criar um Bom Filho é muito divertido e relevante; um dos melhores livros sobre educação familiar que você vai encontrar.

LanguagePortuguês
Release dateJun 8, 2018
ISBN9781507164914
Como Criar um Bom Filho

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    Como Criar um Bom Filho - Starbuck O'Dwyer

    Starbuck O'Dwyer se graduou em Princeton, Oxford e Cornell. Seu romance Red Meat Cures Cancer (Random House/Vintage) foi selecionado pelo programa de leitura One Book One Vancouver de 2007 e ganhou dois prêmios de leitura humorística nos EUA. Os trabalhos de Starbuck já apareceram em inúmeras publicações, sendo considerados obras de um gênio cômico pela Kirkus Reviews. Visite seu website em www.starbuckodwyer.com.

    ––––––––

    Outras obras de Starbuck O'Dwyer

    Red Meat Cures Cancer

    Goliath Gets Up

    Para K, R e V, com todo o meu amor

    1

    A IMPORTÂNCIA DO ENTUSIASMO

    Avante, aaaaahhh!

    Na primavera de 1976, meu pai teve uma ideia. Em comemoração do Bicentenário do nosso país, ele levaria a família inteira em uma expedição de acampamento de verão. Foi um golpe ousado, pois todos nós, incluindo ele, odiávamos acampar. Mas ele estava determinado a nos mostrar a beleza da nossa grande nação e igualmente empenhado em realizar tal feito dentro do orçamento. A maneira como ele encarava aquilo era: por que pagar por um hotel confortável e seguro quando se pode dormir ao relento em um parque estadual, ao lado de estranhos perigos, tudo isso de graça?

    Ninguém nunca viu meu pai como um adepto do consenso. Produto da patriarcal década de 1950, ele acredita que os verdadeiros líderes se recusam a ser prejudicados pelas opiniões sacanas dos outros, principalmente dos membros da família. Por isso, ele anunciou nossa viagem da maneira como ele anunciava todas as decisões importantes que nos afetavam: durante o jantar, quando minha mãe estava mais vulnerável. Ele sabia que ela estaria exausta demais após passar o dia inteiro dando aulas para se opor a umas férias em família, mesmo que isso envolvesse spray e fogareiro e dias servindo apenas strogonoff enfumaçado de carne para a prole.

    Com anos de experiência, ela sabia que meu pai tinha uma força de vontade irresistível quando tratava de suas próprias ideias; assim, minha mãe imediatamente começou a avaliar os danos.

    Vamos passar duas semanas, querido?, ela perguntou cautelosamente, ciente da tendência do meu pai de exagerar.

    Estou pensando em seis, disse ele.

    Seis semanas?, ela perguntou, se engasgando com o estrogonofe.

    Como dono do próprio negócio, meu pai podia tirar longas férias. 

    Seis, talvez sete, disse meu pai. Não dá para ver nada em duas semanas.

    Mas não em uma barraca, né?, minha mãe perguntou; o medo na sua voz aumentava.

    Não, em uma barraca, não, disse ele.

    Ah, graças a Deus, disse ela.

    Duas barracas. Uma para nós e outra para as crianças.

    Com habilidade e sorte, minha mãe às vezes orientava meu pai e suas ideias a uma direção melhor. Neste caso, ao lembrar repetidamente as 13 semanas que passaram em uma barraca quando eram recém-casados, além da constipação que sofreu nesse período, ela conseguiu convencê-lo de que um trailer com água encanada cairia bem.  Pouco tempo depois, ele me levou até uma concessionária de trailers para ver as opções de aluguel.

    No local, fomos recebidos por Eddie, um vendedor vestindo jaqueta xadrez e com um sorriso de plástico; ele imediatamente nos conduziu até um veículo mais bem descrito como um navio de guerra sobre rodas.

    Parece grande demais, disse meu pai. Quanto ele faz por litro? 

    Uns dois quilômetros por litro, mas se você quiser ver o país em grande estilo neste verão, é o que recomendamos. Suba a bordo do El Conquistador, cavalheiro, disse Eddie, abrindo a porta para nós.

    Espaçoso, meu pai falou ao entrarmos na cabine.

    Ah, sim, realmente espaçoso, e equipado, também. Tem quarto principal, cozinha, sala de jogos, rádio estéreo. Esta belezinha é à prova de balas, inclusive! Eddie exclamou.

    Sério?, meu pai perguntou.

    Foi o que meu gerente disse, Eddie respondeu.

    Acha que vamos entrar em algum tiroteio durante a viagem?, perguntei cautelosamente.

    Provavelmente não, disse ele.  Mas é um bom recurso para se ter, só por segurança. 

    Infelizmente, assim que Eddie falou o preço do aluguel, meu pai abandonou o sonho do motor-home e pediu para ver um trailerzinho Airstream: um casulo alongado prateado que poderia ser acoplado à nossa perua.

    Este é dos bons, disse meu pai, passando a mão pela superfície elegante do Airstream.

    Claro, sem dúvida, disse Eddie. Não tem todos os recursos do El Conquistador, mas o Airstream o leva para qualquer lugar. 

    Esse é o objetivo, disse meu pai. Quanto é para alugar?, ele perguntou, depois de olharmos o interior.

    A resposta de Eddie foi igualmente insatisfatória; logo estávamos olhando o grupo mais distante do terreno, tentando achar algo que fosse melhor do que uma barraca, mas não tão bom quanto um Airstream, como meu pai colocou. Isso nos levou à categoria carreta-barraca.

    Todos as carretas-barracas pareciam iguais: sanduíches de sorvete gigantes quando fechadas e saco de pipoca de micro-ondas quando abertas. Elas eram sem graça, para dizer o mínimo, mas o preço era razoável, e Eddie garantiu a meu pai que montá-la era moleza.

    Basta soltar o teto quando chegar ao acampamento e, 42 etapas depois, você estará pronto para passar a noite.

    E isso fechou o acordo. Meu pai adorava conduzir uma barganha, principalmente as complicadas; deu pra ver um prazer enorme quando ele engatou nossa nova caravana no carro. Voltando para casa, no entanto, eu inadvertidamente azedei seu humor autoindulgente.

    Você acha que a mãe não vai se incomodar por não ter banheiro?  Perguntei.

    Não vamos mencionar isso, disse ele. Vamos deixar algumas surpresas para a estrada. 

    O dia da viagem chegou, e foi impossível não se contagiar pelo entusiasmo do meu pai.

    Avante, aaaaahhh! Ele gritou, enquanto saíamos da frente da garagem; um gutural incentivo que ele em breve nos faria repetir em uníssono cada vez que o carro saía de alguma parada. Ele era mestre em convencer as pessoas de que elas estavam se divertindo, independente de isso ser verdade.

    Não é genial? Ele perguntou animadamente enquanto passávamos por Erie, na Pensilvânia. É a mesma rota pela qual Lewis e Clark viajaram. 

    Não é, não, papai, disse minha irmã.

    Bem, é parecida, ele respondeu.

    Ele também tinha habilidade em convencer que cada vista da viagem era importante; uma verdadeira façanha, considerando que não havia nada para ver entre o oeste de Nova York e o Colorado, exceto o Monte Rushmore. Ele exalava o otimismo americano: a crença de que algo melhor estava bem ali na esquina. E era inútil resistir.

    Crianças, à sua frente estão as dunas de areia mais históricas do país, meu pai disse, enquanto passávamos no meio do Parque Nacional Indiana Dunes.

    O que tem de tão histórico nelas?  Perguntei.

    Não são magníficas? Ele perguntou, ignorando totalmente minha pergunta.  Esperem até ver o que tem mais à frente.

    Na estrada, apesar da falta de um DVD ou qualquer portátil, meus pais tentavam manter minha irmã e a mim ocupados com uma série de distrações. Eram palavras cruzadas, perguntas sobre as capitais dos estados e dos presidentes, e, claro, havia as cantorias. Tinha também as frequentes brigas entre irmãos, que eclodiam no banco de trás após ficarmos provocando um ao outro e fazendo guerrinha de bolinhas de papel, sem os cintos de segurança. 

    No entanto, ao atravessar uma rodovia inteira e cruzar as fronteiras dos estados, me veio uma sensação de aventura pela primeira vez na vida, e foi emocionante. À noite eu ajudava meu pai a montar a barraca e a acender a fogueira. Depois, comíamos grelhados com a família em pratos de latão. Caindo no sono, eu ouvia nervosamente o som dos animais da floresta e acreditava na minha mãe quando ela garantia que não havia ursos na área. Com a segurança da porta de tela do nosso lar temporário, eu estava me tornando um ávido aventureiro.

    Inevitavelmente, no entanto, com os dias de viagem de carro se arrastando e o sol atravessando as janelas, comecei a ficar inquieto e a questionar o motivo de tudo aquilo.  Meu pai havia nos prometido pontos turísticos que nos deixariam espantados e admirados, mas eu começava a achar que ele tinha exagerado nas promessas. Ao passarmos por Illinois, Iowa e Nebraska, fiquei esperando pelas surpresas, mas só recebi quilômetros e mais quilômetros de planície marrom. 

    Então, de repente, quando achei que tinha sido enrolado, as Montanhas Rochosas surgiram no horizonte, como a Cidade de Oz. Chegando cada vez mais perto, fiquei paralisado por aquela crescente imensidão. Nunca tinha visto nada parecido.

    Caramba. Estamos indo para as montanhas? Perguntei, com o entusiasmo que voltava. 

    Direto para o ventre da besta, disse meu pai. Vamos subir quase cinco mil metros acima do nível do mar. 

    Legal, eu disse, claramente empolgado.

    Avante, aaaaahhh!, nós gritamos.

    O Parque Nacional das Montanhas Rochosas não decepcionou. Nem o Yellowstone, o Bryce, o Zion ou o Grand Canyon; cada um tinha suas particularidades espetaculares. Nas duas semanas seguintes, acampando nesses cinco lugares, me convenci da ideia e da visão do meu pai. Ver esses locais de beleza natural era importante, inspirador e historicamente significativo. Ele tinha razão o tempo todo; todas as reclamações que eu fizera da viagem longa e do carro quente imediatamente pararam.  Quando saímos do Grand Canyon, eu estava pronto para mais.

    Então, e agora, pai? Yosemite? Talvez Redwoods? Perguntei, depois de ter roubado o guia que meus pais estavam usando. Eu sempre ouvi coisas boas sobre as geleiras. 

    Não vamos mais para nenhum parque nacional, disse meu pai. 

    Não vamos? Perguntei. Aonde estamos indo?

    Las Vegas, disse meu pai.

    Las Vegas?  Perguntei. 

    Quando meu pai estacionou nossa Perua Ford Country Squire na entrada do Caesar Palace, famosa pelas fontes, e entregou as chaves para o manobrista, ele parecia mais feliz do que eu já tinha visto. O que eu não tinha percebido era que os efeitos da nossa estada ao ar livre tinham finalmente apanhado meus pais. Meu pai estava de saco cheio de montar a barraca; minha mãe estava com o intestino desregulado há quase um mês. Ambos estavam loucos por uma ducha de verdade, uma cama de casal e uma refeição quente, servida em um prato que não fosse de alumínio. De uma só vez, com uma simples reserva de hotel, o flerte da nossa família com a natureza havia acabado.

    Surpreendentemente, minha irmã e eu rapidamente nos acostumamos àquela vida, e logo estávamos usando o serviço de quarto como profissionais, vendo comédias na TV a cabo e implorando para jogar nos cassinos. Junto com meus pais, nadamos e tomamos banho de sol em uma enorme piscina; logo nos acostumamos à boa, porém breve, vida.

    Após nossa estada no Caesar, nunca mais usamos a carreta-barraca. A volta para casa, que incluiu o Novo México, Texas, Oklahoma, Arkansas e Tennessee, antes de chegarmos ao norte de Nova York, foi passada em capitais como Albuquerque e Little Rock, onde curtimos as atrações turísticas e dormimos em hotéis baratos.

    Meu

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