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Uma Travessia Difícil
Uma Travessia Difícil
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Uma Travessia Difícil

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About this ebook

FEVEREIRO DE 1942: O Struma, um navio à vapor, explode e afunda no Mar Negro, afogando 768 judeus romenos fugindo dos nazistas e indo para a Palestina, e para a segurança.

JUNHO DE 1944: Trinta e um soldados do Serviço Aéreo Especial são capturados atrás de linhas inimigas e são forçados a cavar seus próprios túmulos antes de serem mortos e enterrados em uma floresta no coração da França.

SETENTA ANOS DEPOIS: Uma jovem mulher é atacada no jardim zoológico de Edimburgo, o atacante procura o documento que pode ligar estes dois eventos de guerra.

O investigador particular Sam Dyke resgata a mulher, Chantal Bressette, e embarca em uma missão para descobrir por que o documento que ela carrega está sendo procurado por um alto funcionário do governo e sua equipe de ex-bandidos do Exército. Eles seguem uma série de pistas que os levam, a uma vila isolada no centro da França, rastreada pelos bandidos e ministro do governo Gideon Blake, que fica obcecado em descobrir o que o documento revela porque acredita que implica sua família em um crime de guerra.

O é o terceiro da série de investigações de Sam Dyke do autor Keith Dixon.

Se você gosta de thrillers de movimento rápido com as mesmas raízes de O Dia do, os filmes de Jason Bourne e Jack Reacher de Lee Child, então você vai adorar “Um Mergulho Para o Passado”.

LanguagePortuguês
Release dateJan 18, 2017
ISBN9781507169391
Uma Travessia Difícil
Author

Keith Dixon

Keith was born in Durham, North Carolina in 1971 but was raised in Bellefonte, Pennsylvania. He attended Hobart College in Geneva, New York. He is an editor for The New York Times, and lives in Westchester with his wife, Jessica, and his daughters, Grace and Margot. He is the author of Ghostfires, The Art of Losing, and Cooking for Gracie, a memoir based on food writing first published in The New York Times.

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    Uma Travessia Difícil - Keith Dixon

    Uma travessia difícil

    Keith Dixon

    Uma investigação de Sam Dyke

    Copyright © Keith Dixon 2013

    Publicado por Semiologic Ltd

    Keith Dixon afirmou seu direito sob a Lei de Direitos Autorais, Desenhos e Patentes de 1988, para ser identificado como o autor deste trabalho.

    Todos os direitos reservados

    Este livro não pode ser reproduzido total ou parcialmente, por mimeógrafo, fotocópia ou qualquer outro meio, eletrônico ou físico, sem a permissão expressa e por escrito do autor.

    Qualquer semelhança com alguém vivo ou morto é pura coincidência.

    Imagem por Chris Combe  Desenhado por Keith Dixon

    Índice:

    Primeira Sexta-feira

    Sábado

    Domingo

    Segunda-feira

    Terça-feira

    Quarta-feira

    Quinta-feira

    Sexta-feira

    O Dia Anterior

    O Último Dia

    Epílogo

    Primeira Sexta-feira

    ––––––––

    ELE QUERIA levá-la junto, porém agora ele teria que matá-la. Haviam muitas pessoas ao redor e todos estavam muito perto uns dos outros. E todos eles eram tradutores, eles conseguiam pedir por ajuda em mais de vinte línguas diferentes. Connell Steele, que tinha um bom senso de humor, sorriu ironicamente para si mesmo. Embora o conceito de uma pessoa diabólica, era um em que ele não acreditava, ele reconhecia que outras pessoas poderiam pensar que era um ato muito cruel, matar alguém.

    Porém, neste momento de sua carreira; ele não se importava. Sua experiência o ensinou que todos tinham seus afazeres, e que não era seu trabalho entender esta mulher. Ele foi pago para isso e, a maioria das vezes, ele dizia a si mesmo que era tudo que importava para ele.

    A conferência dos tradutores europeus foi recebida pela primeira vez na Mansão House of Edinbutgh Zoo, um casarão vitoriano, dentro de um zoológico, que era localizada no topo de um terreno e quando se olhava para baixo via-se uma grande quantidade de animais exóticos. As conferências geralmente eram todas dentro do casarão, sem o conhecimento dos visitantes que passeavam pelo zoológico abaixo.

    Seu alvo chegou uma hora antes e estava em uma discussão calorosa com um dos guardas logo na entrada do zoológico. O guarda estava tão irritado, que fez uma ligação, olhando para ela com desconfiança por debaixo de seu boné. O alvo então conversou com uma mulher de aparência rígida, que recém tinha chegado, ela vestia uma saia cor grafite e caminhava pela entrada quando, eventualmente fora autorizada a subir para a mansão, acompanhada pelo guarda.

    Steele viu uma mudança nela, um ar triunfante em sua linguagem corporal – como se estivesse estufando seu peito ao andar, provavelmente sem ela mesma saber disso. Steele fizera parte de muitas observações secretas e achava que era especialista em analisar a linguagem corporal das pessoas que ele observava.

    O guarda chamou uma das pessoas responsáveis pela conferência, enquanto este jantava – um cara magro, com cabelos compridos, que para Steele parecia um arquivista com ambição. O alvo conversou com o delegado por dois minutos e depois, aparentemente, com a conversa encerrada amigavelmente, ela foi autorizada pelo guarda a ir até o bar, onde Steele a observava intensamente.

    Pela sua posição, em um canto escuro da sala, embaixo de uma pintura à óleo de um barbudo, à entrada de um camarim vitoriano, Steele observava seu alvo beber coca-cola e rum. Ela parecia estar satisfeita consigo mesma, sentada em uma das mesas ao lado de uma janela grande, e sorrindo. Sua mão segurava sua bolsa de couro, que nunca saia de seu lado.

    Obviamente era onde ela guardava algo muito importante.

    Steele se mexia na cadeira, sentindo novamente o fio de cobre no bolso de sua jaqueta, que era firme e frio ao encontro de seus dedos. Ele olhava ao redor do bar, casais, trios e até grupos grandes de homens e mulheres de, o que lhe parecia, várias nacionalidades, sentados e conversando em muitas línguas diferentes. A conferência atraiu praticamente duzentas pessoas de mais de vinte países diferentes, prontas para discutir as áreas da tradução, onde ele leu no encarte de programação da convenção, tanto obscuro quanto patética.

    Mas tudo bem. Agora ele sabia quem era o alvo, e com quem ela havia conversado, agora ele poderia focar em seu principal objetivo. Ainda pensando em quando era militar – apesar de tudo que aconteceu com ele – ele gostava de objetivos que se ligavam em um plano. Sua habilidade especial, ele dizia a si mesmo, era ser flexível ao redor desses objetivos, contanto que o resultado final fosse obtido. Ultimamente ele pensava muito sobre carma, e o que significava para alguma pessoa com a mesma profissão que a sua. Se fosse verdade que os pecados que ele cometeu nesta vida iriam lhe acompanhar na próxima, então ele estaria mais que ferrado para a próxima encarnação. Porém, até esta próxima jornada chegar, ele iria fazer todo possível para viver uma vida com propósito. Independente do que fosse aquele propósito.

    Sem se retirar de sua posição, ele observava o alvo sair do bar. Ela teria que andar através do jardim até o caminho que levava mais abaixo para as portas de vidro da sala de estar que levavam à saída principal.

    Ela alisava sua saia azul escura com suas mãos pálidas, na parte de cima, ela usava uma blusa cor creme com bolsos na frente. Ela era alta, 1,80m, com cabelos castanhos claros, muito bem cuidados. Steele a achava muito magra, porém ele pensava que ela era atrativa para os outros homens. Ele achava que ela tinha genética francesa.

    Ela pegou sua jaqueta preta curta, que estava no encosto de uma cadeira, para vesti-la, depois se abaixou para pegar sua bolsa onde está o diário, sua bolsa era daquelas de lado, com uma longa alça. Ela deu mais uma olhada ao redor da sala, depois andou em direção às portas de vidro que levavam à saída do bar, em direção ao jardim.

    Connell Steele terminou sua bebida, olhou rapidamente em seu relógio, como se tivesse se lembrado de alguma coisa, depois a seguiu, tentando suprimir um sorriso sagaz de antecipação.

    ––––––––

    CHANTAL BRESSETTE estava do lado de fora do bar da mansão, por um momento ela deixou seus olhos se acostumarem com a escuridão da noite.

    O tempo tinha um ar frio, como de março, e ela colocou seus braços ao redor de si mesma, para se esquentar. De sua posição, ela conseguia ver o jardim à sua frente, e quando olhou mais adiante, ela conseguia distinguir vagamente a ascensão e queda da Pentland Hills, o que lhe parecia como uma colcha delicadamente enrugada através da luz da lua.

    Ela sorria com satisfação. O dia tinha sido longo e difícil, porém pelo menos, ela conseguira marcar uma reunião com Duhamel, o tradutor. Um almoço amanhã. Parecia-lhe que tinha atingido algo muito maior que suas expectativas – um sucesso para combater seu habitual medo de fracassar.

    Ela se orgulhava de sua independência, especialmente após a morte de seu pai dois anos antes, porém ainda havia vezes em que o risco que ela tomara a surpreendia. Tirando o dia de folga do trabalho para vir a este tipo de iniciativa oportunista era, em muitas maneiras, típico de sua conduta, porém toda vez que ela fazia isso, ela tinha como experiência dois tipos de pensamentos contraditórios – primeiro que ela tinha que encarar essas aventuras ou morrer, segundo que ela deveria ser louca de comprometer a vida confortável que ela estava construindo para si mesma.

    Ela desceu em direção à saída, passando pelo caminho de pedras que a levava para o portão principal, sentindo as pedras uma a uma a convidando a sentir dor através de seus sapatos de sola fina, o barulho do bar diminuindo atrás dela.

    Ela sabia que tinha uma parada de ônibus na rua de trás do zoológico, que a levaria de volta a cidade, e ela acelerou o passo, ansiosa para comemorar esta vitória com uma refeição maravilhosa em um dos excelentes restaurantes no centro da cidade. O caminho não era tão escuro onde ela andava agora, mas ela se assustou quando uma pessoa saiu das sombras e ficou diretamente em seu caminho.

    Chantal parou assustada, quase tropeçando em seus próprios pés, por causa do susto que tomara. Agora ela conseguia ver que a pessoa, era na verdade, um homem de altura e peso medianos, seu cabelo com um corte bem curto, encaracolado, ela não conseguia ver suas feições claramente até mesmo quando ele falou.

    Ele disse: você vem comigo.

    Ele usava um casaco curto, preto, e calças pretas, uma costura branca na jaqueta que se salientava. Sua voz não tinha nenhum tipo de sotaque que ela conseguia distinguir. Ele parecia muito real no caminho, lançando uma sombra afiada, mas sua presença era leve, quase sem consistência, como se ele fosse um fantasma. Seu rosto ainda estava indistinto, porém ela sentia uma profunda calma emanando dele, como se ele soubesse o que estava fazendo e como tudo isso iria terminar.

    Chantal nunca gostou de homens que pensavam que sabiam o que ela iria fazer – suas presunções eram praticamente um insulto para ela como se eles rissem dela.

    Quem é você? Mais um segurança? Eu tenho permissão de estar aqui.

    Vou lhe pedir encarecidamente, por favor, não me faça carregá-la.

    Agora Chantal sentiu um frio na barriga, e ela agarrou sua bolsa com mais força ainda. Percebendo que sua boca estava seca, ela engoliu, tentando fazer mais saliva antes que ela falasse novamente. Saia de perto de mim, se não eu vou gritar.

    Ele parecia estar se divertindo. Pode gritar o quanto quiser, não tem ninguém perto de nós.

    Pegue minha bolsa, em minha carteira, tem todo o dinheiro que eu tenho.

    Agora ela pareceu ver um brilho obscuro nos olhos dele. Ele estendeu a mão.

    Ah, mas não é seu dinheiro que eu quero, não é mesmo querida?

    Ele deu um passo rápido para frente, e estendeu sua mão direita em direção ao seu rosto, em um gesto que parecia sensual, em seguida, colocou a mão na boca dela, girando-a, fazendo com que ela perdesse o equilíbrio, inclinando-a para trás, em direção ao seu peito, com sua mão esquerda ele  agarrou as mãos dela, as prendendo nas costas dela.

    Chantal se sentiu impotente, seu corpo caindo para trás, em seguida foi puxada para uma área com pouca luz para um dos cantos do caminho, onde tinham muitas árvores, e uma mata fechada. A força física e súbita, em relação a sua leveza, veio como um choque para ela. Ele tinha um cheiro forte de homem, mas tentava camuflar com um desodorante de cheiro mais doce, porém isso não funcionou.

    Ela se deparou olhando para o céu, enquanto ele a arrastava para dentro da mata, os galhos e grama seca onde seus pés tocavam se arrastavam junto com ela. Ela tentou morder os dedos dele que cobriam sua boca, mas o homem usava luvas grossas, e seus dentes não penetravam na luva. As luvas tinham gosto de terra.

    Ela tentou chutar os joelhos dele, porém ele caminhava tão rápido que ela não acertou em nada, mal conseguia ficar em pé, e com seus sapatos finos que quase nem sentiam o chão por onde passava. Ela ouvia algum tipo de barulho que vinha de algum lugar próximo a eles, quando percebeu que era sua própria respiração, que de tão alto a envergonhou.

    Parecia ser impossível que ninguém havia escutado eles, mas ao mesmo tempo, ela sabia que tudo estava acontecendo tão rápido, e que a vida dela estava por um fio.

    Então, de repente, por trás dela, veio um som, que parecia ser de uma barra de metal batendo em um pneu e as mãos que apertavam sua boca, a largaram.

    Não conseguindo manter seu equilíbrio, ela caiu de costas, dando um pequeno grito. Suas pernas se enroscaram e ela só esperou o tempo de cair no chão.

    Porém sua queda foi absorvida por duas mãos grandes, que rapidamente a colocaram em pé novamente. Ela deu um passo à frente e se virou, levantando em vão seus punhos, em um gesto de proteção ou agressão, ela não sabia qual o certo. Ela ouvia sua respiração alta, encarando um homem.

    Um homem diferente estava em sua frente, mais alto, mais pesado, cabelos mais escuros e mais compridos do que do outro homem. O homem parecia mais sombrio que o outro, mais forte e com uma presença muito forte, parecendo que não poderia ser comparado com a de qualquer outro homem.

    O homem que a seqüestrou estava caído no chão, seu corpo amassado e deformado, parecendo um saco de batatas vazio. Ela olhou para o homem que a havia ajudado.

    Quem é você?

    Meu nome é Sam Dyke, e eu sou seu salvador por hoje.

    ––––––––

    EM UMA SEMANA, Sam Dyke, iria querer saber se ele havia se envolvido em todo este negócio apenas pelo corte de cabelo da mulher. No bar, vinte minutos antes, isso chamou a sua atenção pois era curto, esculpido, parecendo uma daquelas mulheres mais cultas de antigamente, olhares ostentados por todos os outros do salão – homens e mulheres. Ele tinha pouco interesse em estilos de roupas ou cabelos, porém ele se pegou reparando nela que estava no outro lado do bar. Primeiramente foi seu cabelo, após ele reparar mais intensamente, ele percebeu que ela tinha um tipo de beleza singular, aquela que você não percebe na primeira vez que olha. Ele conheceu muitas mulheres bonitas, as quais a beleza era evidente, no contorno de seus lábios, na curva suave de suas cinturas e da pele impecável em seus corpos, o delicado formato de suas orelhas. Esta mulher parecia estar escondendo sua beleza por detrás de seus olhos, pernas cruzadas, um sorriso que era para ela mesma, não para ninguém ao seu redor. Ela tinha um tipo de magreza que o lembrava de Laura, embora sua postura com a multidão do bar era diferente, pois Laura, não gostava de lugares tumultuados.

    Esta realização que ele teve o surpreendeu, pois não era como geralmente se lembrava de Laura, que estava aberta e disposta à ele em suas próprias condições.  Provavelmente isso estava mudando, assim como toda a relação deles.

    Esta linha de pensamento foi parada assim que ele viu a mulher no outro canto do bar levantando, pegando sua jaqueta e bolsa e saindo.

    E ao mesmo tempo ele viu um homem fingindo olhar em seu relógio e a seguindo até a saída do bar. Desde o primeiro momento que ele viu aquele homem, ele sentiu algo estranho por dentro. Foi uma combinação deliberada de sua falta de atenção à mulher enquanto ela estava sentada, o jeito que o homem levantou da cadeira, o tipo do seu olhar a observando e a seguindo enquanto ela saía pelas portas altas de vidro em direção ao jardim escuro.

    Sam sabia que seu impulso lhe traria mais problemas que recompensas, mais sofrimento do que alegrias. Mas ele gostava de pensar nisso como uma ligação direta entre o conhecimento instintivo de como as coisas funcionavam. Seus coronéis costumavam lhe dizer que ele tinha pouca inteligência emocional, mas por outro lado sua experiência lhe ensinou que suas primeiras impressões em situações como essas geralmente estavam corretas. Então quando ele viu o homem saindo do bar, ele largou sua cerveja no balcão do bar e foi atrás dele, hesitando somente perto da porta, pois o homem estava parado no pátio em frente ao casarão.

    Ele observou o homem manter sua posição enquanto olhava a mulher descendo pelo caminho escuro em direção à saída. Ele lhe parecia calmo e focado. Em posição assim como Sam aprendeu em seu treinamento militar, se mantendo em silêncio e parado, estudando o terreno antes de agir.

    Evidentemente feita sua decisão, o homem cortou caminho através das árvores, movendo-se rapidamente para chegar até onde a mulher estava mais abaixo na descida do caminho até a saída. Sam seguia ambos à distância, o som de seus passos, escondido no som dos passos do outro homem. O homem não estava sendo particularmente cuidadoso, provavelmente sabendo que a mulher não desconfiava do que fosse acontecer.

    Sam estava perto suficiente para ver o conflito entre o homem e a mulher. Ele pegou um galho grande que estava no chão, deu dois passos e mirou na parte de trás da cabeça do homem. Ele acertou em cheio e, provavelmente deixara um hematoma grande.

    Agora a mulher o encarava com os olhos arregalados, seu rosto vermelho, onde a mão do homem a apertava, suas pernas ligeiramente afastadas, pronta para correr, suas mãos movendo lentamente, como garras segurando a alça de sua bolsa. O ocorrido nestes últimos instantes fez com que sua beleza ficasse mais evidente, exagerando o fogo em seus olhos, os delicados tendões de seu pescoço e a vermelhidão de suas bochechas. E apesar do que Sam acabou de fazer, ele se sentiu envergonhado, especialmente depois que ele se apresentou à ela, com uma fala que ele se arrependeu de ter dito imediatamente.

    Ela disse o que está acontecendo? Quem é você?

    Sam deu um passo para trás, e baixou seus braços, ele havia largado o galho, que ainda segurava em suas mãos, que caíra no meio dos dois, como se fosse uma bomba que não havia explodido. Ela olhou para baixo, para o galho e para frente, para o Sam. Havia um olhar de desconfiança nela, em seus olhos azuis, o qual Sam não podia culpá-la, mas foi por um curto período de tempo.

    Nós não deveríamos conversar sobre isso aqui. Um momento

    Ele se abaixou, e colocou a mão dentro de um dos bolsos do homem, que ainda estava caído, desacordado perto deles, e pegou sua carteira.

    Olhe, um cartão Visa, em nome de John Smith, trezentas libras em dinheiro, nenhuma identidade, um telefone, ele pressionou algumas teclas sem nomes ou telefones na lista de contatos, provavelmente é um telefone descartável. O que é isso? ele retirou um pedaço de fio de cobre amarrado a duas estacas de madeira. Ele retirou as estacas para mostrar para a mulher diria que isso é um trabalho profissional, você tem sorte que ele não teve tempo de usá-las.

    Ele virou o homem de barriga para cima e usou o arame para amarrar suas mãos atrás de suas costas usando as estacas de madeira. Ele tirou as luvas do homem e as deixou de lado, depois virou o homem de costas novamente.

    Ele irá se machucar muito mais tentando livrar suas mãos presas. Ele vai ter que esperar até um de seus amigos o acharem

    Amigos?

    Duvido que ele esteja agindo sozinho. Pegue os pés dele e vamos arrastá-lo para dentro da mata. Ele não sairá de lá por um bom tempo.

    Ele se abaixou e pegou o homem pelos ombros, depois olhou para a mulher, que ainda não havia se movido.

    Vamos lá, não temos a noite inteira

    A mulher o encarou por mais alguns instantes, depois deu as costas e voltou para o caminho de onde ela veio. Sam a ouvia caminhando rapidamente em direção a saída. Então ele agarrou com mais força os braços do homem e o levou para dentro da mata.

    Sam voltou correndo para ir de encontro à mulher, que ainda não havia parado de caminhar. Ela olhava fixamente para a saída, como que não querendo ser distraída de sua intenção de sair. Ele estava pensando em como ela conseguira se recuperar do que aconteceu com ela tão rapidamente. Ela era jovem, porém tinha uma espécie de autocontrole que ele já havia visto antes em mulheres que trabalhavam em ambientes masculinos. Isso não significava que ela não tinha sido afetada pelo que acontecera.

    Ele disse: olhe, você fará bem a si mesma se me escutar, nós deveríamos denunciar isso que aconteceu. Eu vou com você até a polícia, ou deveríamos, pelo menos, contar para aqueles guardas parados nos portões lá embaixo e deixar que eles cuidem disso tudo.

    Não posso me envolver com isso.

    A polícia insiste que estes tipos de ataques sejam sempre relatados, e se ele fizer isso com outra pessoa?

    A mulher agora parou de caminhar e o encarou ferozmente.

    Você mesmo disse que ele era um profissional, você disse que ele tem amigos, ele estava atrás de mim, não de qualquer outra pessoa que passasse por ele.

    E por que você é tão importante?

    Eu não sou. Eu não sei o que ele estava procurando. Ela voltou a caminhar novamente, forçando Sam à segui-la.

    Você não é uma boa mentirosa.

    Não estou mentindo.

    Certo. Suas mãos estão tremendo, você está pálida, sua voz está tremida, mas você não está gritando, e nem chorou, como qualquer pessoa que fosse atacada faria. Você tem alguma ideia do que está acontecendo aqui, porém por algum motivo, você não está querendo me falar.

    Ela parou novamente, as portas de vidro de entrada estavam à 30 metros de distância, brilhando duplamente. Ela olhou para frente, aparentemente fixada à elas. Ele pensou porque ela estava mentindo para ele.

    Ela disse você não é um tradutor, não é mesmo?

    Não exatamente.

    E então o que é?

    Tenho um cartão que diz que sou investigador particular, mas isso faz parecer muito glamoroso. O que não é o caso. Bom, não na maior parte do tempo.

    E então, acontece que você só estava aqui no exato momento para parar aquele homem de... fazer o qualquer coisa que ele iria fazer comigo?

    Sam hesitou por um momento.

    Eu estava trabalhando.

    Em que?

    Não posso lhe contar.

    Então, boa noite.

    Ela virou-se.

    Espere.

    A mulher se virou e olhou para ele impacientemente.  Achei que você havia falado que iríamos sair daqui rapidamente.

    Eu fui pago para entregar documentos para um homem nesta conferência.

    E?

    Eu tinha somente uma chance de lhe entregar os papéis, hoje à noite, ele decidiu que não queria visitar sua mulher enquanto estivesse aqui.

    Por quê?

    Porque ele tinha a tinha trocado por uma modelo de Geneva.

    Você está certo.

    O que?

    Não é glamoroso, é chato.

    Um simples obrigado seria suficiente.

    Ela olhou para o céu, obrigada, agora, por favor, me deixe sozinha.

    Essa não é uma boa ideia, vou repetir, aquele cara não está sozinho aqui, pode haver outras pessoas em algum lugar por aqui, que estão esperando por ele. Se ele não der nenhum sinal, eles irão procurar por ele.

    A mulher olhou ao seu redor, depois voltou a olhar para a mansão. Você acha que eles vão estar no zoológico?

    Provavelmente não, ou ele estaria indo para o meio da floresta para terminar o trabalho ou para encontrar uma maneira de lhe tirar do zoológico por lá. Ele pode ter precisado de alguma distração ou ajuda de alguém, fora do zoológico. Nós deveríamos sair daqui o mais rápido possível. Aliás, eu lhe disse que meu nome é Sam?

    Sim.

    E você é?

    Difícil de dizer, não?

    Ela olhou para baixo no caminho para o prédio onde era a entrada do zoológico. Podemos ir para lá juntos?

    Sim, ou não me chamo Sam Dyke. Já havia lhe comentado isso?

    ––––––––

    ELES PASSARAM pelo caminho escuro de pedras até a saída do zoológico, sem os guardas os perceberem, estes engajados em sua própria conversa. Eles continuaram andando até o caminho que os levava a rua principal. Carros e ônibus que passavam rapidamente na rua, indo em direção ao aeroporto e hotéis 5 estrelas ou na direção oposta, que levava ao centro de Edimburgo.

    O clima era gelado e com muito vento, longe da proteção das árvores dentro do zoológico, Chantal tremia com o frio que batia nela. Ela parecia pálida, agora que Sam conseguia enxergar seu rosto claramente, seus olhos azuis agora tinham um tom violeta debaixo das luzes amarelas dos postes de luzes da rua e, pelo que ele conseguia ver, ela não usava batom.

    Ele estava imaginando desde quando ele se interessava em mulheres com ou sem maquiagem.

    Ele enganchou seu braço no dela e a levou pela escadaria na rua, as botas dele fazendo um barulho muito alto, comparado com os sapatos dela, que não faziam nenhum tipo de barulho, depois viraram à esquerda na rua andando rapidamente até o Holiday Inn, o hotel onde ele estava hospedado. Não tinha nenhum carro estacionado na rua, porém isto não significava que eles estavam salvos.

    Ele sabia que, pelo seu tipo de trabalho, ele via perigo em vários tipos de situações, mesmo quando não havia nenhum. Este sentimento de cautela que ele tinha estava quase sempre em conflito com sua necessidade de agir. Ele estava pensando se ele estava dramatizando demais o que havia ocorrido no zoológico, porém depois lembrou o tipo de comportamento do homem, depois que Sam o derrubou. Ele foi muito ágil e rápido, depois de decidir que tipo de ação ia tomar, não teve nenhum tipo de hesitação ou medo, como poderia se esperar de qualquer outro tipo de assaltante. Isto levou Sam a acreditar que havia algum tipo de intenção deliberada por trás do ataque. A falta de identificação do homem também era muito suspeita, até mesmo alarmante. Isso sugeria o envolvimento de algum tipo de organização ou um grupo maior de pessoas com acesso à recursos.

    Ninguém criaria identidades falsas, a não ser que se tenha algo muito maior para esconder.

    Sam não tinha nenhum plano para aquela noite, a não ser relaxar no hotel antes de voltar para casa no dia seguinte mas, mudanças de planos não eram nenhum problema para ele. Apesar de tudo, ele se sentia frustrado com a teimosia da mulher, parecia que, para ela não contar quem ela era para ele, iria protegê-la de alguma forma, como um animal que se recusa a olhar você nos olhos, tendo como esperança que você não o tenha visto. Porém, se ele fosse proteger ela, ele precisaria de muitas informações, as quais ela não estava disposta a dividir com ele.

    Ele pensou por um momento se não deveria apenas abandoná-la. Laura falou para ele que este desejo que ele tinha em ajudar as pessoas, especialmente mulheres, era uma forma equivocada de proteção, que na maioria das vezes o colocava em perigo. Se ele pensasse melhor, ele saberia que isso era realmente verdade, mas era muito difícil para ele não ajudar quando ele percebia potencial injustiça nos casos.

    Se ela pedisse para ele ir embora e deixá-la sozinha, aí sim era outra questão.

    Enquanto eles caminhavam, ele a abraçou pela cintura, forçando-a a caminhar mais rápido do que ela gostaria. Então ele diminuiu o passo e falou: de onde você é? Você está visitando a cidade ou mora aqui?

    Você realmente precisa caminhar tão rápido assim?

    Nós precisamos sair desde caminho onde tem muita luz. Nós não sabemos quem está nos olhando. Tem certeza que você não quer ir até a polícia?

    Você pode me deixar no centro da cidade se tiver um carro ou eu pego um táxi.

    Você ouviu alguma coisa que lhe disse antes?

    Meu Deus, como você é chato! Estou hospedada no hotel Radisson, localizado no centro da cidade, tenho reserva lá para uma noite.

    Tem alguma coisa muito valiosa lá, a qual você não se importaria de deixar por lá?

    Tenho uma mala da Gucci e você quer que eu a deixe lá? Eu acho que não. Onde estamos indo? Você percebeu que eu não estou de acordo com nada disso?

    Nada disso o quê?

    O que quer que seja isso, você tomando conta da minha vida, como se eu não pudesse tomar conta de mim mesma.

    Sam parou e ela quase se bateu com ele. Você está certa. Estou aqui tentando lhe ajudar e eu nem pensei em seus sentimentos. Como você se sente?

    Não seja sarcástico. Onde você está me levando?

    Para minha casa, óbvio.

    Sam largou as mãos dela e ela ergueu seus braços em um gesto de irritação.

    Eu penso que é uma pergunta muito boa, devido às circunstâncias em que nos encontramos.

    O problema é que estas circunstâncias não são sensatas. Olhe, sou um pouco propenso a ver os piores cenários, lhe garanto. Na verdade eu não sou o Senhor feliz, porém se eu estivesse no seu lugar neste momento, eu gostaria de estar bem longe daqui, o mais rápido possível. Eu não sei o que você tem aí, mas é mais que óbvio que estes criminosos o querem.

    E você sabe disso somente porque aquele cara nojento tentou me roubar?

    Espero que você não esteja questionando meus anos de experiência. 

    E quantos anos são?

    Que?

    Há quantos anos você faz isso? Investigador particular.

    Sam olhou para ela e não pode conter um sorriso. Quase quatro anos."

    Quatro?

    Mais dez anos trabalhando para o governo.

    Ok, está certo! E então, para onde você está me levando?

    Venha comigo e verás. Será uma surpresa muito agradável.

    Ela olhou para baixo e respirou profundamente. Certo, vou ter que confiar em você, não vou mesmo? Estou fazendo a coisa certa?

    Sam não disse nada, porém a pegou pelo braço novamente. Na verdade, ele não sabia o que dizer que a fizesse sentir mais segura. Quando ele se focava muito em alguma coisa, sua atenção com os sentimentos dos outros era praticamente zero. Isso era outra coisa que Laura lhe falara.

    Ele às vezes pensava que se Laura não conversasse com ele, ele não saberia absolutamente nada sobre ele mesmo, ou suas reações à coisas e pessoas. Ele não sabia ao certo se isso era bom ou ruim, para seu crescimento como pessoa. Ou jornada, como Laura costuma dizer.

    Ele virou à esquerda e começou a subir a rampa de entrada no hotel onde estava hospedado que era estranhamente posicionada na parte de trás do edifício. Um táxi apareceu subitamente ao lado deles, passando por eles, para deixar outro hóspede na entrada do hotel. 

    Sam notou que agora a mulher estava mantendo o mesmo ritmo que ele até a rampa do hotel, sem que ela ficasse sem ar. Ele estava se lembrando que a via como uma pessoa muito ágil, quando a viu no bar anteriormente. Ele pensava que seus instintos ainda estavam bons, embora a hora e local em que ele os exerceu era duvidoso.

    Ele entrou através das portas de vidro do hotel e a guiou para ir à direita, assim passando longe da recepção, em direção a uma pequena sala onde ficavam os elevadores. Um grupo de chinesas que estavam nesta sala olhou para eles e sorriram, seus rostos enrugados como um saco de papel. Sam largou o braço da mulher. Sua vida já era complicada o suficiente, para que fosse visto como um daqueles caras mais velhos que se encantam por meninas mais jovens.

    ––––––––

    QUANDO ELES entraram no elevador a mulher falou as únicas pessoas que conheço com o nome de Sam são mulheres.

    Sou de Yorkshire, ao norte da Inglaterra.

    Mas você não tem sotaque.

    Não moro mais lá.

    Mora onde?

    Crewe.

    Uau, que sofisticado!

    Vou acrescentar esnobe para sua lista de atributos.

    Você está fazendo uma lista?

    Você deveria ver, está cada vez mais longa.

    Em seu quarto de hotel, Sam foi diretamente ao guarda-roupa, pegou sua mochila e começou a organizar suas coisas. Neste momento ele estava feliz em ser uma pessoa organizada e o quarto não estava bagunçado.

    A mulher parou diante da porta de entrada do quarto, porém sem entrar. Sam se virou e olhou para ela, pela primeira vez ela parecia hesitar, parecendo se dar conta do que acabara de acontecer alguns momentos atrás.

    Este foi outro momento dele mostrar sua sensibilidade.

    Ele disse: você está pensando que não me conhece, você não faz ideia do que acabou de acontecer e isso tudo poderia ser algo combinado somente para trazer você ao meu quarto.

    Passou pela minha cabeça.

    Vai sonhando, aqui... Ele pegou seu cartão de visitas de sua carteira e entregou à ela. "Este é meu

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