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O Óbvio
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O Óbvio

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About this ebook

 "O futuro de uma importante agência de publicidade passa pelo sucesso do seu projeto mais ousado e ambicioso, ao qual está vinculado não só o destino da empresa, mas também o dos homens que a tornaram grande e conhecida.    Num clima de grande incerteza, todos são chamados a juntar as cabeças em torno do projeto, com comprometimento, tenacidade e algum sacrifício, abdicando até mesmo das merecidas férias de verão.    Cria-se, assim, para o protagonista, a oportunidade de conhecer, depois de vários anos, um professor Sénior, seu mentor na adolescência.    A idade e uma doença implacável misturaram memórias e experiências do envelhecido "parceiro de fugas", que volta a ser o professor crítico e sagaz, escapando das armadilhas da racionalidade e da lógica.    Num jogo de papéis, onde muitas vezes os personagens são invertidos, os dois amigos analisam a sociedade moderna do ponto de vista económico, ambiental, social e político, com um olhar também para a maçonaria.    É um romance sem um momento ou um lugar específico; não existe nem um nome nem uma cidade. Cruzam-se diferentes épocas e lugares, numa encruzilhada de experiências passadas e expectativas futuras.    Os pequenos e frequentes sinais que passam despercebidos, não revelam ao protagonista a perceção real do que está a viver: somente ao final do verão, num momento de desespero lúcido, vai encontrar a consciência inesperada de ter vivido as visões de uma mente degradada!"
LanguagePortuguês
Release dateFeb 12, 2017
ISBN9781507148426
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    O Óbvio - Giuseppe Cardullo

    idioma

    a  VOU...................................................................................9

    b  FUI....................................................................................13

    c  IA.......................................................................................17

    d  TINHA IDO.....................................................................20

    e  IDE....................................................................................27

    f  FUI INDO.........................................................................31

    IREI..................................................................................39

    h  TEREI IDO......................................................................43

    QUE VAI...........................................................................46

    l  QUE TINHA IDO............................................................53

    m  FOSSE............................................................................58

    n  FOSSE INDO.................................................................65

    o  IRIA..................................................................................70

    p  TERÁ IDO.......................................................................77

    q  ANDANDO......................................................................85

    r  IDO....................................................................................91

    s  INDO................................................................................97

    t  TENDO INDO..............................................................102

    ––––––––

    Dedico estas páginas a quem me quis bem, porque amanhã poderei encontrar-me noutro tempo ou noutro lugar... e esquecer-me.

    VOU

    Olho para ele quase dez minutos. É óbvio.

    É ele, sem dúvida, ele. Observo o seu perfil relativamente acentuado, reconheço o seu cabelo, agora branco, as mãos delgadas, os seus gestos.

    No entanto, não é ele.

    Conheço-o há uma vida, era uma criança e admirava-o, era o meu mestre de estrada. Há anos que não o encontro, mas reconhecê-lo-ia entre mil.

    No entanto, não é ele! Ou não está aqui!

    É uma dor imensa: dez minutos com a caneta na mão e ainda não escreveu nada, nem mesmo um sinal. Está à procura de alguma coisa, é evidente, de algum lugar na sua mente. Ele está a examinar cada recanto escuro do seu cérebro para entender por que teria pegado na caneta, mas não consegue lembrar-se, não consegue encontrar os seus pensamentos: para onde foram eles? E para onde foste, velho professor?

    Poderia ficar a olhar para ele durante horas, gostaria de entender, gostaria de encontrar os seus pensamentos perdidos, mas já se faz tarde. Tenho que ir, para mim a vida ainda galopa, não posso parar para recuperar o fôlego: há sempre uma nomeação, um compromisso, um prazo...

    Ajusto o nó da gravata e fujo.

    Mas volto, velho professor. Espera-me que volto.

    Sorrio sempre que te encontro... não faço ideia de onde és... nem mesmo agora que te vejo sobre aquele banco!

    Na reunião há tensão. Não é aquela agitação de mudança de cadeiras e promoções iminentes, há mais uma aposta e uma preocupação generalizada. Hoje fala-se de tudo e de nada: a recessão, a crise económica e financeira, a crise política, os mercados emergentes, a concorrência desleal, a carga tributária, os custos laborais, a segurança,...

    ... gostariam de refazer o mundo em duas horas e acabam todos na frente da máquina de café, sem soluções, sem ideias e sem pensamentos.

    Enquanto o Oriente cresce, a Europa abrandou e os governos atrapalham-se na procura da fórmula mágica que permita estimular as atividades produtivas, reduzir a carga fiscal, promover o emprego e, ao mesmo tempo, apoiar o sistema público e garantir a dignidade social, sem quebrar os parâmetros impostos por pertencer à moeda única.

    Este é o quadro no qual nos encontramos.

    Quando a economia desacelera, diminui o consumo e reduz-se o supérfluo. Para uma empresa em dificuldades, os custos publicitários podem ser considerados uma despesa e, portanto, caiem nos custos a ser reduzidos.

    E nós ocupamo-nos da publicidade, promoção e visibilidade no mercado; se a crise corta na publicidade a publicidade corta-nos: os nossos empregos ou os nossos salários! É uma equação com apenas uma incógnita: a quem vai calhar desta vez?

    Diretores, funcionários, consultores e assessores: 120 cabeças estão ocupadas, para garantir que numa única imagem se possa concentrar a essência daquilo que queremos transmitir ao consumidor, para que a banda sonora seja envolvente e que essa frase possa ressoar na cabeça durante todo o dia. Pode ser a iluminação de um segundo ou o estudo de semanas, em que os resultados serão grandes sucessos ou pequenos fiascos, mas a intensidade e o empenho destas pessoas são indiscutíveis: são profissionais que amam o seu trabalho e que merecem esse trabalho. Mas eles também são 120 famílias que vivem deste trabalho, que pagam a hipoteca, que enviam os seus filhos para a escola e que têm construído, não apenas o presente, mas também o futuro apoiados neste trabalho.

    Quem de nós já não estará aqui em setembro?

    Como pudemos ter permitido que se chegasse a este ponto? Um continente de joelhos, o belo país em pedaços.

    Nós permitimos que uma nova moeda fosse posta em circulação, sem que uma autoridade super partes supervisionasse a transição, com os preços ao consumidor a subir subtilmente, na névoa do desconhecimento ou da manifesta ignorância do povo.

    Nós permitimos que a moeda única substituísse aquela já existente, sem antes ter estabelecido que as condições fossem as mesmas para todos, que o sistema fiscal fosse equivalente no seio da Comunidade Europeia, que o custo do trabalho fosse comparável e os salários equivalentes!

    Com este pano de fundo, aqueles que já são fortes, sairão reforçados, mas para aqueles que já estão débeis, será um caso perdido! E não me refiro ao indivíduo, mas a estados inteiros: nestas condições, os estados-membros falham e, a longo prazo, a Europa morre.

    Precisaria de férias, sinto essa necessidade. Todos os anos, prefiro o mês de junho para me afastar do escritório e descansar um pouco. O ar começa a aquecer e é agradável ser-se acariciado por um sol que ainda não é agressivo; pode-se usar uma camisa leve, apenas desabotoada, sem sofrer com o calor. Pode-se ir à praia, mas ainda é possível viver a cidade. Acima de tudo, porém, os dias nunca acabam, são tão longos que se conseguem gozar plenamente e deparar-se a jantar às nove com um pôr-do-sol que avermelha o horizonte oeste. Eu não poderia viver na outra costa, com o sol a apagar-se atrás das montanhas: a casa do sol é o mar!

    Em junho as campanhas publicitárias de Verão já estão entregues ao cliente e estão prontas para o bombardeamento dos Média. Se ainda estás a trabalhar sobre o produto, então já estás penalizado e o cliente esperneia e jura que da próxima vez vai recorrer a alguém mais capaz e diligente. Se ainda estás no escritório pelas 20:00 em junho, então falhaste o projeto.

    Sempre tirei féria em junho: eu não falho com os meus projetos!

    Com as baterias vazias, poucas ideias na cabeça e criatividade limitada, em junho estou pronto para me dedicar à minha esposa e às minhas filhas, como um homem livre, não apenas pelos compromissos mas também pelos pensamentos e preocupações... e de sapatos arrumados.

    Mas, a reunião que concluímos leva-me a pensar que este ano possa ser algo diferente e perverso: a única certeza à qual se pode chegar é que, quem sair hoje, talvez não esteja aqui amanhã.

    Explicar isso à minha esposa tornou-se mais fácil do que eu temia. É incrível como consegue ser intransigente sobre um disparate e é, no entanto, abrangente e colaborativa quanto às dificuldades reais que a vida oferece!

    Reagimos perante uma situação de contingência da forma mais conveniente para reduzir o incómodo.

    – Este ano vai bem. Isto também vai passar. Não partimos, mas as meninas vão-se divertir mesmo assim: tenho a solução! –

    A ideia é alugar uma pequena casa de praia na costa, a algumas dezenas de quilómetros da cidade, perto da casa de verão dos meus pais. É uma costa ainda selvagem, sem estruturas nem turistas. É o refúgio de quem ama o mar, sem barracas, espreguiçadeiras ou salva-vidas; não há jogos para crianças, nem quiosques, nem música, apenas alguns pequenos barcos voltados na praia. Não é a Sardenha, o destino habitual das nossas férias, mas é a melhor aposta: eu posso permanecer no escritório de manhã e ir ter com elas à tarde, além disso há os avós... que presente para eles...

    FUI

    A casa é agradável, de construção recente, funcional e acolhedora. Tem um amplo espaço habitável e belos terraços, o que é fundamental numa casa de praia, e está localizada não muito longe de outros chalés semelhantes, de onde os gritos animados dos miúdos prometem às minhas meninas um verão divertido.

    Sinto uma sensação estranha: cresci por entre estas casas, reconheço tudo e reparo em cada detalhe que o tempo e o sal impuseram nesta paisagem; nos últimos anos tenho vindo ao encontro dos meus, frequentemente, para lhes dar uma mão ou passar algumas noites juntos. As memórias distantes levam-me de volta a familiares e amigos no nosso terraço entre um café frio e uma gargalhada. Mas hoje é diferente, porque estou de volta numa casa alugada, uma casa onde nunca vivi,

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