A Oração de Jesús Iniciação à Prática

A Oração de JESÚS

Iniciação à Prática

Esteban de Emaús

Este livro está dedicado a Sonsoles e a Fernando, filhos amados, que consagraram suas vidas ao santo nome de Jesus.

Agradecemos especialmente à madre Hilda e a todas as freiras do mosteiro Abba Padre, por sua oração contínua e apoio ao projeto de Fraternidade.

Também agradecemos ao Frei Alberto Justo, por suas orações e sua amizade.

Uma lembrança muito especial para Adrián e Blanca, para Sofía, Irmã Margarita, Heraldo e para todos os leitores do blog d’A Oração de Jesus.

ÍNDICE

INTRODUÇÃO

A MENTE ERRANTE

A TIRANIA DO CORPO

UM ATO PARTICULAR

A PROPORÇÃO NECESSÁRIA

ASPECTOS DIVERSOS

SOBRE A PERSPECTIVA

A BATALHA ESPIRITUAL

A VONTADE DE DEUS

SOBRE A FÉ

A MEDITAÇÃO SILENCIOSA

PRIMEIROS FRUTOS

INICIAÇÃO DA ORAÇÃO DE JESUS

A ORAÇAO DE JESUS

VIGILÂNCIA

HESÍQUIA E COMPUNÇÃO

O LUGAR DA PRESENÇA

SOBRE A RESPIRAÇÃO

SOBRE O SILÊNCIO

SOBRE O APOSTOLADO

ESTADOS INTERNOS

SE PERCO A ORAÇÃO

SOBRE A MEDITAÇÃO E O SILÊNCIO

ALGUMAS OBSERVAÇÕES INTERIORES

VIVER NA CONFIANÇA

O LUGAR DA ORAÇÃO

COMO PEDIR?

TREINAR O OLHAR

MAIOR CONSCIÊNCIA

A CHAVE

ALGUNS ASPECTOS TÉCNICOS

A PERTENÇA DO CORAÇÃO

PREOCUPAÇÃO

PERGUNTA SOBRE A FRASE DA ORAÇÃO

COMPROMISSOS: SACRIFÍCIOS DO CORAÇÃO

GLOSSÁRIO

INTRODUÇÃO

"Os torrões são grandes e vão dando voltas, desintegrando-se embaixo da ferramenta do lavrador, que de acordo com o uso antigo, trabalha com suas mãos a terra do cultivo.

A enfermeira prepara com esmero a medicação sobre a bandeja impecável. Olha alternadamente as receitas e os frascos, de onde retira o material indicado para cada paciente.

O banco está abarrotado de gente inquieta, de reclamações e movimentos precipitados. O contínuo faz parte de uma extensa fila no caixa 3, destinado à recepção de pagamento de impostos.

Entre a cela e a capela se atravessa o claustro. Através dos vidros embaçados, o monge contempla pequenos rubis de rosas em botões e o verde esmeralda da folhagem úmida.

No pátio, as crianças gastam sua energia jogando jogos irreconhecíveis e enchem o ambiente de ruídos e gritos. A professora corrige os cadernos e ajeita os lápis ao passar pelas carteiras."

As cinco breves descrições acima são contemporâneas, ocorrem em nosso tempo e seus protagonistas praticam A Oração de Jesus. São situações reais de amigos que encontraram na oração do nome de Jesus um lugar de calma em meio a tempestade. Esta forma de orar transformou-se para eles em um refúgio que os abriga das agitações do mundo cotidiano; protege-os dos vendavais que vêm de fora e aqueles provenientes de suas próprias mentes.

O mundo pode tornar-se hostil se nos penetra a violência, a competitividade, a cobiça, a cultura da aparência que parece impor-se à do Ser. Nossa mente pode encontrar-se lidando com os valores do meio em que vive e terminar convertida em inimigo, em fonte de inquietação derivada da ânsia interminável.

A Oração de Jesus é refúgio porque dá paz à alma, mas não gera inércia, pelo contrário, ativa a ação transformadora. O praticante assíduo se fortalece e, mesmo em meio ao mundo, encontra em si mesmo a distância suficiente entre os estímulos e a reação. Esse espaço interior, anterior à resposta que se dá aos sucessos, lhe permite atuar com determinação, buscando a coerência entre sua conduta e a mensagem do Evangelho.

A Oração do nome de Jesus, conhecida também como a Oração do coração, é uma vocação particular, um desejo de unificação profunda da alma, e em geral, chegam a senti-la "almas velhas", que viveram muito e com intensidade e que encontraram uma certa desventura naquilo que aos demais lhes deslumbra.

É um chamado que convoca os arrependidos, os quais tomaram consciência de sua miséria, de suas motivações mesquinhas, de seu egocentrismo, e que sem perder a esperança desejam uma transformação radical. Não é compatível com o relativismo nem com o antropocentrismo, senão com aqueles que sabem e sentem que tudo nos foi dado e que nada se faz sem que Ele o saiba.

Implica uma ética centrada na virtude da humildade, que contrário ao que a lógica poderia supor, não debilita nem diminui, senão que expande determinada atitude espiritual que unifique firmeza e bondade do coração. O praticante concentra-se no silêncio e transmite uma alegria serena; conhece a insignificância dos esforços, que se exercem sem prestar atenção à Sagrada Presença do Divino.

Nascida já nas primeiras comunidades cristãs, que buscavam na invocação do nome de Jesus a realização de sua presença; faz-se ascese privada em alguns padres do deserto antes do século V e se sistematiza no oriente cristão, particularmente em Athos (Grécia) por volta do século XII. Enquanto difundia-se em toda a região eslava e nos mosteiros russos até o século XIX, era representada em alguns santos e monges do ocidente que fazem alusão a ela em seus escritos. Hoje encontra-se enraizada na prática dos fiéis e religiosos nas igrejas do oriente e muito difundida em nosso hemisfério.

A Oração de Jesus ficou conhecida no ocidente graças à publicação de Relatos de um peregrino russo e à posterior difusão dos tratados de Filocalia. Mas é a revolução tecnológica produzida pela internet que a expande hoje em dia além do previsto.

Formam-se grupos de leigos em algumas paróquias dedicados a estudá-la, praticá-la e ensiná-la. É possível encontrar retiros dedicados à sua aprendizagem e existem projetos de vida monástica planejados em torno da oração de Jesus. Praticamente não há livrarias religiosas que não tenham algum exemplar no qual se faça referência a ela.

É que a vereda do Nome, conhecida como A Oração de Jesus, transcende diferenças geracionais e até culturais. Partilha com outros métodos a repetição sistemática de uma frase ou uma palavra que unifica a mente ao redor de um centro. Utiliza o corpo como apoio para enraizar-se na vida cotidiana, utilizando para isso a respiração ou a atenção dirigida ao órgão cardíaco.

Mas a oração – hesicasta – por excelência conta também com a presença viva daquele a quem se invoca. De um modo quase sacramental, a menção do nome de Jesus com fé e devoção ou ao menos com atenção, torna presente o Senhor ressuscitado. De modo perceptível a quem aquieta o coração e para quem ama àquele a quem menciona; a presença do sagrado se faz manifesta a todos os sentidos do espírito, que acabam influenciando os do corpo, adocicando a vida.

A repetição contínua do nome de Jesus ou da frase escolhida onde inclui-se Seu nome, esclarece a percepção daquilo que ocorre ao nosso redor, ajuda-nos a compreender o outro com maior profundidade (como se os demais exigissem mais espaço) e acrescenta notavelmente a consciência do nosso mundo interno. Revela-nos uma nova face, como um espelho que evidencia as motivações que estavam ocultas nas boas ações aparentes. No livro somos advertidos que é necessário não se desencorajar diante deste novo conhecimento de nós mesmos e somos incentivados a perseverar polarizando a alma ao redor da pessoa de Jesus.

As catorze cartas que dão sequência e as notas sobre diversos assuntos nascem da experiência pessoal de um eremita atual que consagrou sua vida à vereda do Nome como senda espiritual. As cartas são uma síntese testemunhal que procura iniciar o leitor na prática concreta da repetição do Nome. Lidas com atenção e levadas como referência comportamental servem efetivamente para introduzir-se em esta ascese e inclusive arraigar-se nela.

As notas sobre assuntos variados surgem de consultas entre amigos realizadas por correio eletrônico, pedindo esclarecimentos instrutivos sobre assuntos que se levantam ao iniciar este caminho até o coração.

Estamos convencidos que a experiência pessoal do Irmão Esteban de Emaús será muito útil para os leitores que se aproximem com o coração aberto. Seu testemunho nos mostra que a corrente de espiritualidade profunda que surgiu nas primeiras comunidades apostólicas continua vigente e com força renovada.