O Fantástico e o Maravilhoso na obra de José de Mesquita e Tereza Albués
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Análise da presença do Fantástico e do Maravilhoso nas obras dos autores matogrossenses José de Mesquita e Tereza Albués. Análise de contos e romances dos autores citados.
Hilda Magalhães
Hilda Magalhães é uma pesquisadora brasileira.Doutora em Teoria da Literatura pela UFRJ, com pós-doutoramento na Université de Paris III e na EHESS(França), é autora de dezenas de obras na área de Literatura.
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O Fantástico e o Maravilhoso na obra de José de Mesquita e Tereza Albués - Hilda Magalhães
Vico, em fins do século XVIII, ao analisar o processo civilizacional, afirma ser o mito a linguagem fundadora da Humanidade. Na Idade Gentílica ou Divina, o mito foi não apenas a primeira linguagem, mas também a primeira forma de sabedoria do homem, oriunda do sentimento do medo e da imaginação fértil e virgem de um povo dotado tão somente «de robustos sentidos e vigorosíssimas fantasias » (VICO, 1988, p. 181) e geradora dos universais Fantásticos, isto é, os mitos.
Até então, o homem não havia desenvolvido a sua faculdade linguística. No momento, entretanto, em que, assustado com as tempestades, atribuiu ao céu características de um poderoso ser vivo cuja linguagem são os trovões e os raios, pensamento e linguagem se materializaram no primeiro mito. A esse primeiro mito denominaram Ian (Júpiter), a quem atribuíram os adjetivos de « máximo » (ilimitado como o céu), « ótimo » (fortíssimo), « sóter » (o salvador, pois poupou de seus raios o gênero humano) e « stator », porque fez pararem, pelo medo, os homens que, naquela época, eram essencialmente nômades, constituindo-se assim as primeiras famílias, célula da sociedade humana. (VICO, 1984, p. 184)
Esse momento semiológico fundador deu origem a toda uma teologia, constituindo-se cada metáfora numa fabulazinha minúscula, das quais a primeira foi, evidentemente, a de Júpiter, a maior de quantas construíram depois.
Surgiam, dessa forma, não apenas o primeiro mito, como também a primeira poesia, a primeira fábula, a primeira divindade, a primeira metáfora e os primeiros ícones de nossa civilização. E, de acordo com Vico (1988, p. 183), a imagem de Júpiter foi uma fábula tão popular, perturbante e ilustrativa que eles próprios que a forjaram nela creram, mediante terríficas religiões.
A partir do nascimento da primeira fábula, várias outras foram criadas, atendendo a uma imperativa e nova necessidade do homem, a necessidade de conhecer e controlar as forças da natureza, então compreendidas como forças sobrenaturais. Para isso, desenvolveram a primeira ciência, a « musa » ou « adivinhação », a que os gregos denominaram depois teologia
, ou ciência da fala dos deuses
.
Pela via do mito e através da linguagem poética, cada metáfora apontava o caminho para as coisas humanas, inteligíveis depois pelo raciocínio, mas, naqueles tempos primevos, apreensíveis tão somente pela imaginação. Por ser origem, o mito está ligado, portanto, a uma ampla zona de significado, a várias áreas do conhecimento humano, como a antropologia, a sociologia, a psicanálise, as artes, a religião e o folclore, passando pela história, pela filosofia, pela ciência e mesmo pela Verdade.
Na poesia, o mito traz uma espécie de verdade, pois que constituem a primeira forma de registro da história da humanidade. Assim é que Ilíada e Odisseia, para nós requintes da imaginação, constituíam, para esses povos, relatos fiéis dos fatos do dia-a-dia, tal como eles os concebiam, isto é, permeados de imagens que acreditavam serem reais.
Na teoria de Vico, mito, linguagem e poesia nascem simultaneamente, filhos do medo e da piedade, e perduram, embora transformados, no tempo e no espaço, atualizando-se em todas as circunstâncias em que a razão não consegue atender às expectativas do homem.
É verdade que, com o fortalecimento da razão, o mito passou a ser negado enquanto verdade histórica. É preciso lembrar que a imaginação, já dizia Platão, deturpa o homem na medida em que o afasta da Verdade. No entanto se imaginarmos que o mundo pode ser apreendido por outras formas que não o raciocínio, podemos compreender a posição de Aristóteles, para quem a imaginação exerce um papel importante no amadurecimento humano, possibilitando-lhe um maior conhecimento de si e do mundo.
Dentre as narrativas fundamentadas na imaginação e na relação com o sobrenatural temos o mito, a lenda, a narrativa fantástica e o realismo mágico (ou o Maravilhoso), terminologias que abarcam as diversas manifestações, na literatura, do lendário, do místico e do mítico.
O mito é, em termos literários, em princípio uma fábula, isto é, uma composição de episódios construída pela imitação de ações. Aristóteles já relacionava o mito a uma forma, a um enredo, a uma fábula, em oposição a logos, o discurso filosófico. De um modo geral, podemos afirmar que o mito sempre se refere a uma narrativa de fatos passados. Significa qualquer narração de estórias anônimas, referentes às origens e aos destinos dos homens, procurando explicar o mundo, o comportamento das pessoas, com fins didático-moralistas.
Entretanto o passado a que se refere o mito não é um passado próximo. Mais do que um passado remoto, ele nos remete ao in illo tempore, isto é, ao tempo das origens, o que o torna a um só tempo partícipe do Passado, do Presente e do Futuro. O mito é também uma forma de concepção do divino, que é visto não como algo inatingível e distante, mas, ao contrário, como algo que participa da vida real, do cotidiano das pessoas. Basta nos lembrarmos de que na sociedade greco-romana, por exemplo, os deuses conviviam (e mesmo coabitavam) com os mortais. As heroicas figuras de Hércules, Odisseu e Aquiles são suficientes para nos dar a ideia de como os níveis terreno e celeste, real e surreal se encontram entrelaçados no mito.
Os mesmos princípios do mito são responsáveis pelo surgimento de outra narrativa também apoiada na crença e na imaginação: as lendas, com a diferença de que, nestas,