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Olhos de Fogo
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Olhos de Fogo

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About this ebook

A Terra é atingida por uma tempestade solar de grandes proporções que queima e destrói cidades, campos e florestas. No meio do cenário apocalíptico, um grupo de jovens resiste à tormenta e luta pela sobrevivência. Entre o amor, a amizade, a aventura, a traição e a morte, este grupo tornar-se-á a semente de uma nova Humanidade.

LanguagePortuguês
PublisherEd. Vercial
Release dateFeb 5, 2018
ISBN9789897000300
Olhos de Fogo
Author

Francisco Martins

Francisco Martins was born in Santarém, Portugal. He wrote and directed his first play when he was twelve, and got curious about the effect it produced on people. Bearing that in mind, he began experimenting with essays and short stories that he only showed to a small group of friends. When he was fourteen, he started conjecturing about the underpinnings of human nature, and wrote a series of stories about significant historical events. It was only after spending a month in New York City that he started writing in English. The Salmon under the Soulberry Tree is his debut novella.

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    Olhos de Fogo - Francisco Martins

    Capítulo I

    Aproximava-se o fim do ano letivo. Era o tudo ou nada para os alunos que estavam entre passar ou reprovar. Ao Adolfo corria tudo bem. Sabia com antecedência que passaria de ano. Tivera boas notas até ao momento e o resultado da primeira série de testes do terceiro período foi razoável.

    No ano letivo anterior esteve numa turma problemática. Mesmo assim, conseguiu ser o melhor aluno. Como houve muitos chumbos, o grupo desmembrou-se e no ano letivo seguinte colocaram-no numa das melhores turmas da escola. Agora não passava de um estudante mediano, mesmo a esforçar-se muito, porque havia lá umas raparigas marronas que o deixavam a anos-luz de distância. Mesmo assim, estava satisfeito com o seu desempenho, porque reprovara na escola básica e não podia dar outro desgosto aos pais.

    Viveu três anos em Angola, mas deu-se mal por lá. Andava constantemente doente. Apanhou malária e paludismo e nunca mais se viu livre da última doença. Teve de voltar com a mãe para Portugal. O pai ainda ficou por lá mais um ano a cumprir contrato. Trabalhava na construção civil e no fim da obra que estava a dirigir veio-se embora. Ganharam dinheiro para construir uma casa nova numa quintinha que lhes tocou de herança da parte da família da mãe.

    Quando o Adolfo voltou, não se adaptou ao sistema de ensino daqui. Não foi porque o ensino em Angola fosse pior, mas porque o ritmo de vida é diferente.

    De manhã ouviu barulho dos pais e pouco tempo depois tocou o despertador do telemóvel. Levantou-se e foi à casa de banho tratar da sua higiene pessoal. Vestiu-se e desceu à cozinha para tomar o pequeno-almoço. Estava com sono porque estudou até tarde para o teste que iria fazer a Matemática. Enquanto bebia o leite com café, conversava com os pais. O pai chamava-se Jaime, era engenheiro civil e trabalhava numa construtora; a mãe Irene, era economista e trabalhava num banco. Como de costume, estavam cheios de pressa.

    O Adolfo tinha aulas de manhã, mas havia dois dias na semana que também tinha aulas à tarde. Nesses dias, almoçava na cantina da escola. Este era um deles.

    Quando iam a sair de casa, a mãe chamou o filho à atenção.

    – Onde é que vais assim vestido?

    – Assim como?

    – De manga curta. Vai vestir um casaco, que ainda está frio.

    – Mas, mãe, eu vou ter aulas todo dia e à tarde fica muito calor. Não quero andar carregado com o casaco.

    – Olha, faz o que quiseres – respondeu a Irene encolhendo os ombros.

    O pai, para não haver zangas logo de manhã, decidiu intervir:

    – Bem, pelo sim pelo não, traz lá o casaco. Se não o quiseres, fica no carro.

    Enquanto o pai tirava o carro da garagem, o Adolfo aguardou para fechar o portão e olhou à volta da casa a ver se estava tudo fechado. Lá seguiram os três de viagem para a cidade com o pai a olhar para o relógio. Estava atrasado.

    Viviam numa aldeia a menos de dez minutos de carro de Braga, numa quintinha com dois hectares de terreno, toda vedada com muros de pedra altos. A toda a volta da herdade plantaram uma sebe de cedros para não se ver para dentro. Na entrada, havia um grande portão com abertura automática e outro mais pequeno de serviço. A entrada era resguardada por um telhado rústico, em madeira de pinho flandres e telha cerâmica tradicional. Daí até à casa havia uma avenida de hortênsias em flor de cor azul e rosa. Foi uma tentativa de imitar o que viram nos Açores quando estiveram aí a passar férias.

    A casa era uma habitação com dois pisos e uma garagem anexa para dois carros, de construção tradicional mas moderna. Tinha um telhado de quatro águas em telha cerâmica lusa, a cornija e cunhais em granito, assim como as contras das portas e janelas. A caixilharia era em PVC de cor branca com vidro duplo. Por fora estava pintada de amarelo-torrado.

    Apesar de o pai ser engenheiro civil, não quis uma construção de arquitetura moderna por causa das coberturas planas. Achava que não eram adequadas ao clima do Minho, onde chovia muito.

    No exterior da casa ainda andavam com obras. Estavam a construir a piscina e uma cave enterrada que também servia de galeria técnica à piscina. Era um abrigo para a guerra nuclear, como gostava de dizer o Adolfo.

    Sobre a laje de betão armado da cave, levou mais de um metro de terra bem compactada. Por cima construíram um alpendre, com as paredes e pilares em pedra de granito e a estrutura do telhado e forro em madeira de pinho nórdico. O telhado era em telha cerâmica tradicional de quatro águas. Por baixo construíram uma churrasqueira em tijolo burro refratário com duas chaminés, uma para a churrasqueira e outra que servia de ventilação da cave.  

    Demoraram um pouco mais a chegar à cidade por causa do trânsito caótico. A mãe ficou à porta do banco onde trabalhava. Deu um beijo ao pai e saiu do carro. O Adolfo também saiu, deu um beijo à mãe e entrou para o lugar da frente. De seguida o pai deixou-o na escola sem casaco e seguiu para o parque industrial onde se situava o estaleiro da empresa onde trabalhava. Além de engenheiro civil, também era o responsável pela segurança e higiene no trabalho e pela gestão de resíduos.

    O Adolfo andava no sexto ano. Em breve faria catorze anos. Estava crescido e foi nesse ano que começou a interessar-se por raparigas. Até à data nunca deu grande importância ao sexo oposto, mas agora as coisas mudaram.

    Ele gostava muito da colega de carteira, a Ana Cristina. Todos a tratavam por Ana, mas o Adolfo tratava-a por Cristina porque sabia que era o nome de que ela mais gostava. A paixão pela Cristina surgiu logo nos primeiros dias de aulas em que a conheceu. Sentiu uma atração muito forte por ela e a partir daí nunca mais a esqueceu. Foi o seu primeiro amor. Nunca teve coragem de lhe contar o quanto a amava.

    Ela era a delegada de turma e ele o subdelegado, ambos eleitos por sufrágio universal. Mas lá no fundo ele é que era o líder. Encarregava-se de fazer todo o serviço: tirar fotocópias, fazer os recados aos professores e participar nas reuniões dos delegados de turma da escola. Quando se tratava de trabalho, era o primeiro a alinhar.

     Ele era dos rapazes mais velhos na turma e o segundo maior. Naquela idade é uma mais-valia, pois acabam por ser mais respeitados.

    Quando chegou à escola, ainda faltava meia hora para a primeira aula. Juntou-se aos rapazes da turma e alguns conhecidos que no recreio jogavam aos três paus em linha, também conhecido como o jogo do estica. É um jogo de salto em comprimento em que se coloca três paus no chão afastados uns dos outros e o jogador tem de saltar entre eles em corrida sem lhes tocar. O Adolfo tornou-se o campeão da escola neste jogo. Ganhava aos mais velhos e maiores que ele.

    À medida que os rapazes da escola chegavam, reuniam-se em torno deles para assistirem aos saltos.

    O Adolfo cada vez saltava mais longe e deixava a concorrência a milhas. Sentia-se orgulhoso com a admiração que os rapazes lhe tinham. Era constantemente aplaudido. Só tinha pena que as raparigas da turma não o vissem a saltar, principalmente o seu grande amor. Mas as raparigas não ligavam nenhuma às coisas dos rapazes.

    Tiveram feriado na primeira aula. A professora de Geografia faltou. Por isso foram para o bar rever a matéria que sairia no teste de Matemática.

    O teste foi na segunda aula. O Adolfo com calma foi resolvendo os exercícios. Quando tinha dúvidas, passava as questões à frente. Olhou para a Ana Cristina e viu que ela estava concentrada a resolver o teste com uma segurança que o deixava enternecido. Inspirou fundo a ver se, com a renovação do ar, se lhe avivava a memória e sentiu aquele cheirinho doce que ela dava. Entretanto a Ana Cristina apercebeu-se de que o Adolfo estava a olhava para ela e, sem dizer uma palavra, às escondidas da professora, deixou-o dar uma olhada no seu teste. Quando deu o toque de saída, ninguém se levantou. A Cristina já tinha acabado, mas deixou-se estar, permitindo que o Adolfo fosse deitando uma olhada nas respostas às questões que não conseguira resolver. Estava quase a dar o toque para entrar para a aula seguinte quando a professora resolveu recolher os testes.

    Os alunos saíram vermelhos cheios de calor. Foi um teste difícil e longo. Precisavam de mais tempo para o resolver. A Cristina também achou que o teste foi puxado, mas como estava bem preparada, fez os exercícios todos e à saída, em conversa com a professora, confirmou que acertara em grande parte dos exercícios. O Adolfo ficou todo contente por ela o ter ajudado e, enquanto seguiam para outra sala, aproximou-se e disse-lhe baixo:

    – Obrigado pela tua ajuda.

    Ela sorriu sem dizer nada.

    A manhã foi longa e, perto do meio-dia, estava um calor pouco comum para a época. Parecia um dia de verão. A última aula foi desesperante. O Adolfo não ouvia a professora de Francês. Reparou que nem a Cristina estava interessada na aula. Ela era a melhor aluna da turma, mas a fome e o calor tiravam a concentração a qualquer um. A professora também estava farta. Foi uma aula a baixo ritmo como em Angola. Ainda não tinha terminado e os alunos já estavam a arrumar. A professora chamou-os à atenção de que a aula ainda não tinha terminado. Por causa do teste de Matemática e sabendo que teriam a tarde toda ocupada na escola, acabou por deixá-los sair um pouco mais cedo. Os que almoçavam na escola correram para a cantina antes que saísse a enchente de alunos.

    O Adolfo ficou numa mesa com dois rapazes. O almoço foi demorado porque estava muito calor. Beberam mais do que comeram e, quando terminaram, foram para trás do pavilhão onde iriam ter aulas. Deitaram-se na relva à sobra das árvores. Sentiam-se pesados e moles.

    Para matarem o tempo, falaram das raparigas da turma. Todos concordavam que a mais bonita era a Sofia. Tinha o cabelo comprido e liso e os olhos azuis. Era alta e vestia bem. Tinha tanto de boa como de antipática.

    O Adolfo não concordava. Gostava mais da Ana Cristina, a colega de carteira. Essa sim, é que era uma beleza. Moreninha, os grandes olhos castanhos, simpática e meiga.

    Estavam a falar das raparigas quando se aproximou a Sofia com a Ana Cristina e mais algumas raparigas da turma. Também procuravam sombra. Os rapazes tentaram mudar de assunto, mas elas aperceberam-se de que falavam delas e insistiram que repetissem o que tinham dito. Os rapazes lá se decidiram dizer do que estavam a falar e a Sofia ficou nas nuvens ao saber quem era a escolhida.

    A Ana Cristina sentou-se no chão ao lado do Adolfo e os rapazes olharam para eles com malícia.

    – O que foi? – perguntou ela.

    Começaram todos a rir-se.

    A Cristina olhou para o Adolfo desconfiada.

    – O que se passa? Quero saber porque é que se estão a rir.

    Um dos rapazes resolveu falar:

    – Nós achamos que a Sofia é a rapariga mais gira da turma, mas o Adolfo é o único que discorda.

    – Ah, é? E então para ti quem é a rapariga mais bonita da turma? – perguntou curiosa voltada para o Adolfo.

    Ele, todo embaraçado, olhou para a Sofia e esta lançou-lhe um olhar que o fulminava. Olhou para a Ana Cristina e acabou por dizer:

    – És tu! A mais bonita és tu, Cristina.

    – Muito obrigada! – retorquiu a moça visivelmente satisfeita.

    – Vocês gostam um do outro – concluiu uma colega com malícia a olhar para os dois.

    – Não! Não é verdade – negou a Cristina a olhar para o Adolfo. – Pois não?

     O Adolfo, com algum acanhamento, respondeu:

    – Claro! Por achar que és a mais bonita, não significa que gosto de ti.

    – Isso é o que tu dizes agora. Mas não me enganas – atirou a colega.

    – Não sejas ridícula! – acudiu a Sofia. – Não vez que a Ana não gosta dele? Ainda por cima não têm nada a ver um com o outro.

    – Estão a ver? – concluiu a Ana Cristina.

    Os rapazes ficaram a olhar para o Adolfo e ele, para não se dar por fraco, disse:

    – Eu nunca me apaixonaria por um corrospiço como tu.

    – O quê?! – exclamou a Ana Cristina furiosa. – Não te falo mais!

    Levantou-se e foi sentar-se ao lado da Sofia.

    O resto do pessoal continuou na mesma conversa. Depois foi a vez de elas dizerem qual era o rapaz mais bonito. A escolha recaía sobre o Nuno, que se juntou entretanto ao grupo. Era filho de um casal de médicos. Andava sempre com roupas de marca e telemóvel da última geração. Conhecia meio mundo por causa das viagens que fazia e não frequentava uma escola privada porque não gostava. Talvez por ser quem era e não pelos seus atributos, as raparigas andavam caidinhas por ele. A Cristina devia ser a única que não ia na onda. Alegava que não o conhecia bem.

    Até que a conversa foi interrompida pelo toque de entrada e lá foram para a sala todos molengões. Por causa das piadas dos colegas e da atitude do Adolfo, a Cristina foi sentar-se numa mesa com outro rapaz da turma que era muito divertido.

    O Adolfo ficou sozinho. Sentia-se tão arrependido de ter dito o que disse. Que idiota que fora!

    Os dias seguintes foram terríveis, com testes quase todos os dias e um calor que fazia derreter a testa. Não conseguia estudar nem pensar direito. Sentia a falta da Ana Cristina. Acabara-se a cumplicidade entre eles. Não tinha quem o ajudasse nos testes e nos intervalos ignorava-o.

    A meio do mês de junho, os termómetros marcavam mais de quarenta graus e, apesar de ter chovido muito no mês de maio, as ervas rasteiras secaram. A televisão alertava a população para a vaga de calor. Havia previsões de ser o ano mais quente do século e todos os distritos estavam em alerta vermelho.

    No sábado, sentiu-se livre. Já não precisava de estudar mais, pois tinham acabado os testes. O último fora na sexta-feira e correu mais ou menos bem. Quanto à Cristina, o Adolfo suspeitava de que tinha arranjado um namorado que ela não queria dizer quem era. Uma colega da turma tranquilizou-o. Disse-lhe que a Cristina não tinha ninguém.

    Passou a manhã a ajudar os pais a fazer a limpeza da obra. A piscina estava pronta, mas ainda não estava totalmente cheia porque a água vinha de uma nascente e, com a seca, saía pouca. Entretanto tinham as bombas ligadas para fazer os ensaios de estanquidade e para ver se não havia fugas. À tarde já deveria estar cheia e poderia dar um mergulho. Andava ansioso pelo momento.

    O acesso à cave fazia-se pela garagem, por um compartimento com uma porta de segurança corta-fogo. Em baixo havia uma escada em betão que seguia por um túnel com mais de dez metros de comprimento. A meio ficava a galeria técnica que contornava todo o tanque da piscina. Nesse compartimento situava-se a casa das máquinas. Estava cheia de tubagens e bombas para fazer o tratamento e recirculação da água. No final do túnel ficava a cave.

    Era um compartimento fechado com seis metros de comprimento por quatro metros de largura, toda construída em betão armado, tal como a piscina. Tinha uma porta de segurança em ferro corta-fogo. No chão foi aplicada tijoleira rústica de grés. Havia uma pequena casa de banho, com sanita e lavatório. O construtor não teve problemas com os esgotos, porque o terreno por trás da casa tinha muito declive e, como era mais fundo, foi construída uma fossa séptica.

    Na cave cobriram uma das paredes com prateleiras para arrumos, e noutra puseram uma garrafeira. No meio colocaram uma mesa velha em madeira maciça de carvalho do tempo dos avós.

    De início, a mãe ficou zangada com o pai porque, em vez das obras, ela preferia que o Jaime comprasse um carro novo como o do tio Carlos. Mas agora, que a obra estava pronta, ela concordava que foi um bom investimento.

    Andaram os três nas arrumações e mudanças. Levaram para a cave tudo o que estava a atulhar a garagem: caixas cheias de roupas que não usavam, a coleção de garrafas de vinho e bebidas espirituosas do pai, alguns móveis, um cesto de nozes, o equipamento de proteção e segurança que o pai usava regularmente para fazer demonstrações quando dava aulas num centro de formação profissional e também às pessoas da família, pois queria que soubessem o que fazer numa situação de emergência.

    Enquanto arrumavam as coisas, a mãe foi para casa fazer o almoço. No exterior estava um calor abrasador. Só se estava bem na cave.

    Antes de irem almoçar, o pai disse que podiam dar um mergulho na piscina. Ainda não estava completamente cheia, mas servia para refrescar. Foi o mergulho inaugural. A água estava boa e nem apetecia sair.

    Depois da refeição, não se conseguia andar lá fora por causa do calor. Os pais decidiram dormir uma sesta e o Adolfo foi jogar na consola.

    Depois das dezassete horas, retomaram o trabalho. Andaram os três a lavar o chão do alpendre e a envolvente da piscina de mangueira. Quando terminaram o serviço, foram para dentro da piscina. A água estava tão quente que parecia terem-se metido em banho-maria.

    À noite fizeram um churrasco junto à piscina: costeletas de boi grelhadas na brasa, acompanhadas de arroz branco, salada de alface e tomate, broa de milho, vinho maduro tinto fresco para o pai e para a mãe e sumo de laranja natural para o Adolfo.

    Conversaram entre eles como há muito não o faziam. Falaram do churrasco que tinham agendado para a noite de São João. Iriam lá a casa uns amigos do pai e o tio Carlos com a família.

    Como continuava calor, a mãe foi abrir as janelas de casa para refrescar as divisões. O pai ligou o sistema de rega automática à volta da casa.

    Foram para dentro passava da meia-noite. Continuava muito calor e, antes de ir dormir, o Adolfo ainda foi tomar outro banho na piscina.

    Deitou-se na cama quase nu, com a janela aberta. Não corria sequer uma brisa e continuava muito quente. Tentava não se mexer para não aquecer, mas ainda era pior. Parecia que estava num tacho ao lume com a parte do corpo que se encontrava em contacto com o lençol a assar. Começou a rolar de uma lado para o outro da cama à procura de frescura, mas, com os movimentos, ainda ficou com mais calor. Levantou-se desesperado e foi à casa de banho. Encheu a banheira de água fria e deitou-se lá até arrefecer. Passados uns bons minutos, voltou para a cama sem se secar. Deixou-se estar quieto, enquanto pensava na sua amada acabou por adormecer.  

    Mal o Sol começou a raiar, acordou. Foi à casa de banho e, quando regressou, fechou os estores para escurecer o quarto e voltou a deitar-se. Mas não conseguiu dormir mais, teve de se levantar.

    Durante a noite a temperatura não desceu e lá fora o Sol raiava. Prometia ser um dia igual ou ainda mais quente do que o anterior. Tomou um café morno para ver se despertava. O pai e a mãe costumavam ir à missa, mas nessa manhã não estavam com disposição para saírem de casa.

    Como passaram mal a noite por causa do calor, o pai estava decidido a instalar o ar condicionado. Já tinham as infraestruturas prontas, bastava colocar os aparelhos. Na próxima semana iria contactar empresas da especialidade para pedir orçamentos. 

    A meio da manhã de domingo, o monte da aldeia começou a

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