Prosa Versificada II
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O agonismo, sendo uma escrita pós-moderna, está para além do pós-modernismo, no sentido de o ter ultrapassado. Num mundo onde todos os caminhos são conhecidos e portanto redundantes como o dialelo escolástico, a linguagem agonista abre um que apenas existe virtualmente, à maneira de um jogo informático.
José Leon Machado
José Leon Machado nasceu em Braga no dia 25 de Novembro de 1965. Estudou na Escola Secundária Sá de Miranda e licenciou-se em Humanidades pela Faculdade de Filosofia de Braga. Frequentou o mestrado na Universidade do Minho, tendo-o concluído com uma dissertação sobre literatura comparada. Actualmente, é Professor Auxiliar do Departamento de Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde se doutorou em Linguística Portuguesa. Tem colaborado em vários jornais e revistas com crónicas, contos e artigos de crítica literária. A par do seu trabalho de investigação e ensino, tem-se dedicado à escrita literária, especialmente à ficção. Influenciado pelos autores clássicos greco-latinos e pelos autores anglo-saxónicos, a sua escrita é simples e concisa, afastando-se em larga medida da escrita de grande parte dos autores portugueses actuais, que considera, segundo uma entrevista recente, «na sua maioria ou barrocamente ilegíveis com um público constituído por meia dúzia de iluminados, ou bacocamente amorfos com um público mal formado por um analfabetismo de séculos.»
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Prosa Versificada II - José Leon Machado
O Filho do Chão
A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.
Jorge de Sena
I
Em fluxo o desespero.
Rebatem sinos
Pela montanha catedral do sol.
Extenuaram-se as águas
E os rios deixaram de seguir.
II
Terra e água um regresso a rocha
Um tesouro de minerais a tocarem-se
Para de um arbusto
Imaginar as feições iniciais.
III
Muralhas um olhar
Estradas uma face
Os pés a força
Do espaço a percorrer.
IV
Pintada uma corça
Ronda a verdura
Que perdura
Em arquivos de filme.
V
Sobre a laje cinzenta
Depositaram crisântemos
..........................................
VI
A espada rubricou o céu
Em coberturas amargo o destino
Que permite ser grande.
Plantaram um desejo:
Subir torres partidas as faces.
VII
Luz da rua branca
Atraente o precipício
A que se agarra o náufrago.
Suite de Bach intermitente.
Não era seu o vulto
sob a tília de mãos grossas
A desafiar os deuses
Como descanso das aves.
VIII
A estreiteza da árvore
Numa procura da luz
Abafada pela sombra dos montes
Embala-se ao vozear da brisa.
Sinopse as nuvens em caos
No vidro um lago
No lago um espelho
Vermelho ao fundo o caos.
IX
Bailado os ramos despidos
A serra aguarda um olhar
Para o degelo.
Seguem ovelhas pela estrada
A voz de comando
Numa agressão proclama
O dia.
X
Troféus em vitrina
Na extensão do céu
Perdeu um anjo o rumo
E transpondo as asas
De signos bordado
Refez num passo o mundo.
XI
Incógnita a montanha
Na palidez de névoa
Os corpos os mortos
Penetra faces de negrume
Para a imersão nos vales
Precipitou a voz
O desejo do sol.
XII
No vale a sombra
Húmida em trânsito a morte
carnaval máscaras
Sob as feições de digerir-se
Como cão a trincar a cauda
E o resto.
XIII
A eternidade de Deus
Um adeus
Oração fúnebre
Por alguém que não morreu.
XIV
O castelo perdeu as ameias
Atiradas pelo vento
Mina o tempo
Sob o peso da bruma.
XV
Distúrbio a luz que fere
Um cuidado de metal
Para alcance de três desejos impossíveis
Desconforme o tamanho do que seduz
O brilho perturba do sol
Picante penetrante.
XVI
Canto bravio hino
Tambores furores um ritmo
De dança ancestral e rude.
Magia de cura homenagem
A guerreiro sem voz
Estampido