Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

Graça Corrompida
Graça Corrompida
Graça Corrompida
Ebook333 pages4 hours

Graça Corrompida

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

Os mortos se levantaram e estão evoluindo. Um pequeno grupo de sobreviventes luta com as ameaças constantes, tanto de mortos quanto dos vivos. Nem todos sobreviverão. Esperanças serão esmagadas, forças e fraquezas serão testadas e ligações serão quebradas

LanguagePortuguês
PublisherM.
Release dateApr 22, 2018
ISBN9781547526659
Graça Corrompida

Related to Graça Corrompida

Related ebooks

Dystopian For You

View More

Related articles

Related categories

Reviews for Graça Corrompida

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    Graça Corrompida - M. Lauryl Lewis

    GRAÇA CORROMPIDA

    Livro Dois da Série Graça

    M. Lauryl Lewis

    Copyright 2014 M. Lauryl Lewis& Larson Falls Publishing

    CAPÍTULO 1

    - Boggs? – eu sussurrei na escuridão de nosso quarto – Está acordado?

    - Não – ele resmungou sonolento – Zoe, é tarde.

    - Eu sei. Não consigo dormir. Estou com tanto frio.

    - Chega perto. Eu te esquento. – ele disse em resposta parecendo um pouco mais acordado de repente.

    Me mexi para perto dele. Não conseguia ver nada em nosso quarto escuro. Nunca deixávamos velas acesas durante a noite, só por questão de segurança. Eu usava seu calor como guia e seu cheiro era maravilhosamente familiar. Ao me aninhar ao seu lado, coloquei meu rosto em seu peito nu. Senti como se sugasse seu calor. Passei meus dedos gelados em seu peito, o que fez com que se retraísse.

    - Zo, você está gelada.

    - Desculpe. – resmunguei em seu peito.

    - Só chega mais perto. – ele se virou para o lado para me olhar e envolveu meu corpo com um braço e uma perna – Você sabe mesmo como me acordar. – ele começou a se roçar em mim e senti sua masculinidade me procurar

    - Boggs – eu ralhei – Agora não.

    Ele parou:

    - Por que não? Gus disse que não teria problema.

    - Boggs! – dei um tapa leve em seu braço – Você perguntou para ele?

    - É, ué. Eu estava com medo de te machucar, ou o bebê.

    - Estou com muito medo, Boggs. Mal conseguimos cuidar de nós mesmos. Como vamos cuidar de um bebê?

    - Vamos dar um jeito, Zo. Eu cuido de vocês dois. Você sabe disso, né?

    Suspirei.

    - E se eu morrer, como Louisa?

    - Shhhh. Tá bom agora. Não pense assim.

    Ele encontrou meus lábios e me beijou com vontade. Eu respondi da mesma forma, apreciando seu sabor. Finalmente esquentando, desci até sua haste e ele gemeu em minha boca. Ele me abraçou mais forte e me colocou sobre minhas costas. Meu coração estava palpitando e minha respiração estava em arfadas superficiais.

    - Tem certeza de que o Gus disse que não tem problema? – perguntei entre arfadas.

    - Uhum. – ele respondeu pegando meus pulsos e segurando meus braços na cama, sobre minha cabeça. Ele se abaixou e usou seus dentes para pegar a parte de baixo da minha camiseta e devagar a puxou até meu peito. Ele beijou minha barriga de uma forma provocativa, leve como uma pena.

    - Eu juro. – ele resmungou debaixo do meu seio esquerdo.

    - Você vai soltar meus braços? – perguntei já sem ar.

    - Não. - ele balbuciou colocando sua boca no meu mamilo ereto e chupou com desejo.

    Fiquei sem ar. Meus seios estavam começando a inchar e a ficar sensíveis com a gravidez, mas também fiquei excitada com a sensação. Lutei embaixo dele enquanto ele subia, sabendo muito bem que minha tentativa de resistir o deixaria louco. Ele levou um dos meus pulsos para a outra mão e as prendeu firmemente com apenas uma de suas mãos grandes. Me movi embaixo dele novamente, fazendo com que ele segurasse meus quadris usando suas coxas. Meu coração parou por um momento quando sua mão livre suavemente desceu pelo lado do meu corpo. Seu toque, quando suave assim, causava ondas de prazer dentro de mim. Ele me prendendo daquela maneira fez surgirem desejos mais sombrios em mim que raramente apareciam.

    - Tudo bem se eu te foder com força, Zoe? – ele sussurrou em meu ouvido – Ou eu devo ir com calma e te provocar bem devagar? – sua respiração em meu rosto era inebriante.

    - Acho que você sabe como eu quero – sussurrei de volta.

    Ele pôs a mão livre sobre minha mandíbula para me firmar, então se curvou sobre mim e beijou meu pescoço com tanta força que gemi. Por um breve momento percebi que ficaria um hematoma, mas como ele continuou a saborear minha pele vigorosamente a ideia de um chupão se foi de minha mente. Tudo que me importava agora era a sensação do toque dele, dentro e fora. Eu o desejava de toda e qualquer forma possível. Meus quadris se levantaram para encontrar os dele esperando encontrar a parte dele que eu mais desejava. Ele respondeu com um gemido em meu pescoço e segurando meus pulsos com mais força ainda.

    - Ah não, ainda não – ele disse com uma voz rouca – Você não me deixa te tocar desde que descobrimos que você está grávida. É hora do troco, Zoe Kate. – ele deu uma risadinha e soltou meus pulsos descendo para meus seios novamente. Ele apertava um enquanto tentava devorar o outro com a boca. Eu o abracei pelos ombros e cravei minhas unhas em suas costas.

    - Por favor, Boggs? – eu implorei.

    - Por favor, o quê? – ele perguntou, sem fôlego, e rapidamente voltou ao meu seio. Ele brincava com meu mamilo entre seus dentes.

    Eu peguei seus cabelos escuros e puxei gentilmente para que ele olhasse para mim.

    - Por favor, me fode? – eu quase nunca uso palavrão, mas descobri que nossa transa se intensifica quando falo.

    - Implora. – ele disse.

    - Por favor? – eu disse novamente, tentando fazer uma voz suplicante.

    - Por favor, o quê?

    - Me fode, Boggs. Por favor, me fode.

    - Com prazer. – ele gemeu.

    De repente ele me forçou a ficar de barriga para baixo.

    - Meu Deus, como eu amo sua bunda. – ele disse acariciando meu traseiro com as mãos, se curvando para beijar o fim das minhas costas.

    Eu arqueei minhas costas quando ele me montou e gemi alto quando sua ereção entrou profundamente em mim. As preliminares tinham me deixado mais que pronta. Ele agarrou a trança loira, à qual já estava me acostumando a usar para deixar o cabelo longe do rosto, e a puxava delicadamente enquanto balançava sua pélvis contra a minha. Eu podia sentí-lo bem fundo dentro de mim, apesar de sentir certa dor, era uma dor que me fazia sentir completa e amada.

    - Meu Deus, Zoe, faz tanto tempo. - ele gemeu.

    Em seguida, sem aviso, ele derramou sua semente em mim. Ouvir seus grunhidos e gemidos me levaram a cantar minha própria canção de prazer intenso. Despenquei na cama e logo ele se juntou a mim ao meu lado, arfando.

    - Eu te amo. – ele sussurrou no meu ombro.

    Eu me virei para encará-lo no escuro:

    - Também te amo, Boggs.

    Ele me abraçou e vi que estava feliz como há muito não sentia. Adormeci e sabia que estava sorrindo.

    - Zoe! – escutei Boggs gritar. Parecia distante. Eu acordei grogue com gosto de sangue na boca.

    - Porra, Zoe! Mas que merda?

    Não estava acostumada com Boggs zangado comigo.

    - O que foi? – perguntei, realmente não entendendo. Minha cabeça estava pesada e eu estava com uma fome absurda. – Meu Deus, - eu resmunguei pesadamente – Meu Deus! Boggs, estou com muita fome! – eu gritei.

    - Que merda, Zoe, você me mordeu! Caralho!

    Houve uma batida na porta, que abriu de supetão antes que qualquer um de nós pudesse responder.

    - O que houve? – perguntou Gus rude. Gus tinha uns trinta e poucos anos, mais velho que qualquer um de nós. Ele era meio que um caubói. Nós o pegamos em um posto de gasolina em que havíamos parado para suprimentos no Primeiro Dia. Ele nos salvou de alguns mortos-vivos.

    - O que está acontecendo? – perguntou Emilie entrando no nosso quarto logo atrás de Gus. Ela tinha um pouco mais do que meus vinte anos, mas se apaixonou por Gus um pouco depois de se juntar ao grupo. Ela segurava uma vela, que jogava uma luz fraca no quarto. Seus olhos se arregalaram quando ela viu Boggs. Eu olhei e vi sangue descendo pelo seu peito nu. Ele estava em pé nu e sangrando. Eu grunhi com desejo.

    - Zoe me mordeu dormindo – ele disse mais calmamente agora – Que merda.

    Eu estava confusa, para dizer o mínimo. Eu via Boggs de pé ao lado da cama. Gus havia jogado um cobertor ele, que estava amarrado na cintura. Ele tinha um pedaço de pano no pescoço, tentando parar o sangue. Entretanto, eu podia ver algo mais sinistro também. Eu podia ver o corpo de um velho no chão. Olhei para minhas mãos e vi sangue que não estava realmente ali. Senti a fome no meu estômago, bem lá no fundo, que não se saciava mesmo comendo carne, ossos, músculos e ligamentos. Nada saciaria a fome. Pude me ouvir começando a chorar e grunhir ao mesmo tempo. Eu não queria ver ou sentir aquilo.

    - Emilie. Acorda a Susan – ouvi Gus dizer calmamente – Acho que tem problema lá fora.

    Senti Gus e Boggs pegarem cada um em um braço. Em algum ponto eu havia sentado no chão do quarto e eles estavam me ajudando a levantar.

    - Zoe, senta na cama. – instruiu Gus – Você está na cabana, querida. Diga o que está vendo.

    - Está comendo ele – eu fui amaldiçoada com um elo mental com os mortos-vivos. Eu podia sentir sua presença, suas emoções básicas e ver através de seus olhos quando estivessem por perto.

    - Onde, Zo? – perguntou Boggs.

    - Perto. Não sei bem onde. Está muito escuro para ver detalhes. Na floresta.

    - Quantos?

    - Acho que só um. Não sei por que está sozinho e não em bando. Está faminto. Está comendo ele, mas ainda está vivo. Meu Deus, Boggs, eu tentei te comer – eu balbuciei.

    - Zoe, aguenta aí. – ouvi Gus sussurrar em meu ouvido.

    Acenei com a cabeça em reconhecimento:

    - Só fica comendo, comendo sem parar. Não fica satisfeito, não importa o quanto tente.

    - Zoe, você acha que ele sabe que estamos aqui? – perguntou Gus.

    Balancei a cabeça negativamente:

    - O velho está morto agora. O gosto dele não é bom agora que está morto. Acho que vou vomitar. – eu disse.

    Alguém me entregou uma lata de lixo pequena que eu tinha perto da cama desde que os enjoos começaram. Com cinco de nós e só um banheiro, ele se mostrou bem útil várias vezes já. Vomitei até o estômago ficar vazio.

    - Nojento.

    Eu ouvi Susan resmungar do corredor. Não era minha pessoa favorita, mas tinha aprendido a ignorar a maioria dos seus comentários rudes e inconvenientes. Eles não valiam meu tempo ou energia. Ela era como a meia-irmã mais velha e maldosa – família agora, gostando ou não.

    - Vamos nos reunir lá embaixo – disse Gus – Logo o sol vai sair e acredito que devemos estar alertas e preparados até termos certeza de que este puto morto já foi embora.

    - Vou esquentar água para fazer chá – disse Emilie.

    Ela já me conhecia bem agora. Chá havia nos ajudado muito em muitas situações estressantes na cabana nas últimas semanas. Eu estava tão feliz por ter esta mulher ruiva em minha vida. Ela tinha se tornado uma irmã para mim.

    - Obrigada, Em. – sussurrei. Eu estava sentada na ponta da cama, puxando a minha camiseta para ficar coberta – Vou me vestir e desço em um minuto.

    - Boggs, vem para o banheiro para eu limpar esta mordida. – disse Gus.

    Eu estava muito envergonhada pelo que havia feito para olhar para qualquer um.

    - Valeu, cara. – resmungou Boggs.

    Senti o colchão mudar quando Boggs se levantou. Esperei até a porta se fechar e o quarto ficar escuro para me levantar de novo. Fucei a gaveta do criado-mudo atrás do isqueiro. Já estava tão familiar para mim que o encontrei rapidamente e acendi a chama. Olhei ele brilhar por alguns segundos antes de acender a vela que tínhamos na penteadeira. Respirei fundo e me levantei. O quarto incomodamente frio com o ar de inverno penetrando pelas paredes. Meu moletom da noite anterior ainda estava no chão, perto da cueca e jeans do Boggs. Pus as minhas calças e fui até o armário procurar um par de meias. A maior parte das roupas que tínhamos havia pertencido a quem quer que houvesse morado na cabana. Ele deve ter sido um homem grande. Havíamos recuperado algumas malas de roupa de um acidente com vários carros antes da neve começar a cair, então eu tinha calças que quase me serviam. Ainda assim, tudo era muito grande. Peguei um par de meiões masculinos do fundo da gaveta e puxei uma camisa flanelada extragrande do cabide.

    Uma vez vestida mais apropriadamente para o frio, saí do quarto e cruzei o corredor para o único banheiro. Gus e Boggs estavam ocupados na pia com peróxido e unguento antibiótico.

    - Oi – eu balbuciei – Está muito feio?

    Gus bufou de leve e depois deu uma respirada funda:

    - Não está mal, Zoe. Só me preocupo com infecção. Mordidas podem ser terríveis.

    - Oh Deus, você quer dizer porcaria de zumbi? – eu gritei.

    - Nem, acho que se você fosse contagiosa Boggs já teria pegado. Só estou falando dos velhos germes comuns da boca.

    - Boggs, - eu comecei a dizer.

    Ele levantou a mão:

    - Está tudo bem, criança.

    - Eu sinto muito, - continuei – Eu estava dormindo. Eu... Eu... Eu não sei o que aconteceu. – Senti lágrimas surgindo em meus olhos.

    - Eu vou ficar bem, Zoe. Sério.

    Eu me aproximei para ver o que tinha feito. Tinha marcas de dentes atrás da orelha esquerda de Boggs. Eu havia tirado sangue, mas, felizmente, não parecia muito ruim.

    - Meninos, eu preciso muito fazer xixi. Vocês se importam se eu fizer bem rápido? –perguntei um pouco envergonhada.

    - Contanto que use o vaso. – brincou Gus.

    Eu o ignorei, sabendo que dar corda para seu senso de humor somente levaria a uma sucessão de piadas ruins. Ao invés disso, fui até o fundo do banheiro, puxei minhas calças para baixo e sentei no vaso. As necessidades sanitárias se tornaram urgentes de alguma forma por causa das transformações impostas pelo bebê. Eu me aliviava enquanto Gus terminava de tratar a mordida do Boggs e usei um pedaço de pano que mantínhamos em um cesto para nos limpar. Estávamos sem papel higiênico há algumas semanas. Terminei puxando meu moletom para cima e lavei as mãos na pia. Tínhamos sorte por ter um painel solar que fornecia energia para a bomba do poço, para o forno e fogão, para a geladeira e para o tanque de água quente. Ele havia sido montado por quem quer que tivesse sido dono da cabana como apoio para falta de energia, mas não gerava energia para rede elétrica da casa.

    - Zoe, sua cabeça está boa agora? – perguntou Gus. Eu sabia que ele se referia à presença, ou falta, de zumbis por perto.

    - Ele se foi. – respondi apenas.

    - Bom. – disse Boggs.

    - Não. – eu disse balançando a cabeça para os lados.

    - Não? – perguntou Gus levantando a sobrancelha.

    - Bem, é bom que ele tenha partido, mas não, não é bom.

    - Zo, você não está fazendo sentido. – disse Boggs.

    - Ele saiu correndo atrás de carne mais fresca. – expliquei – Não animal. Humana.

    Gus suspirou alto:

    - Merda.

    - Bem, tudo que podemos fazer e esperar que consigam escapar. – disse Boggs – E ficar feliz por que quem quer que seja atraiu o bastardo para longe.

    - Gus? – perguntei.

    - Sim, Zoe?

    - Você se importa se eu falar a sós com Boggs por um minuto?

    - Claro que não. Encontro vocês lá embaixo.

    Gus se virou e saiu do banheiro fechando a porta atrás dele. Nós ficamos sozinhos eu e Boggs no banheiro, nossa única companhia eram o frio da noite e o brilho da vela.

    - Tudo bem, criança? – perguntou Boggs

    - Na verdade não. – respondi honestamente – Sinto muito mesmo ter te mordido.

    Boggs abriu os braços para mim e caminhei até ele. Ele me abraçou e falou delicadamente encostado na minha cabeça:

    - Você não sabia o que estava fazendo, Zo. Eu te perdoo.

    - E se acontecer de novo?

    Senti Boggs suspirar:

    - Acho que eu teria de te morder do volta. – ele deu uma risadinha de leve.

    - Fala sério. – eu disse.

    - Ok. – ele disse – Sério. Acho que de agora em diante, quando dormirmos, talvez eu tenha de algemar você na cama.

    Recuei de seu abraço e olhei para ele para saber se estava falando sério mesmo. Seu peito começou a pular como que querendo rir.

    - Para com isso, Boggs. – dei um tapa brincalhão no braço dele.

    - Qual é, Zo, se anima – ele sorriu para mim – Se eu te algemasse, eu poderia fazer o que quisesse toda noite.

    Eu revirei os olhos:

    - Vamos descer.

    Boggs me puxou de volta e me beijou no rosto:

    - Eu vou ficar bem. – ele sussurrou.

    Acenei com a cabeça em seu peito;

    - Ok. – eu resmunguei.

    Nós nos reunimos na sala de estar pelo restante da noite. Bebemos chá, comemos espaguete puro que havia sobrado e truta do lago defumada e assistimos o fogo do propano lançar sombras na sala. Eu sabia que todos estavam esperando que eu anunciasse uma onda de mortos-vivos nas proximidades, mas nunca houve. Boggs adormeceu. Gus admitiu ter dado a ele um dos analgésicos que tínhamos para emergências. Claro que saber que ele estava com dor partia meu coração, então estava feliz que estivesse confortável o suficiente para tirar uma soneca.

    - Logo deve ter luz lá fora – Emilie disse baixinho – Deveríamos sair, preparar algumas armadilhas e nos livrar do corpo que Zoe viu.

    - Estava pensando a mesma coisa. – disse Gus. Emilie estava no sofá de dois lugares deitada sobre ele. – Talvez Boggs e eu devamos sair e deixar você meninas aqui. Está frio lá fora.

    - Não. – respondi rapidamente – Acho que eu deveria ir junto. Posso avisar caso eles retornem. E pode ser que eu consiga achar o corpo?

    - Acho que todos nós precisamos de exercício e um pouco de ar fresco. – disse Em.

    Gus concordou:

    - Ok.

    - Eu deveria ficar aqui e lavar roupa. – disse Susan.

    Sempre tentávamos deixar alguém na cabana. Se não por outra razão, ter alguém em casa para abrir a porta deixou mais seguro para aqueles de nós que se aventurasse pela floresta.

    - Certeza que você não se importa? – perguntou Emilie.

    - Certeza.

    - Saímos quando o sol raiar. – disse Gus.

    - Vou preparar os casacos e as meias. – ofereci.

    Era inverno e a neve estava cobrindo o chão havia duas semanas seguidas. Nenhum de nós tinha boas botas para neve, então começamos a cobrir os sapatos que tínhamos com pelo menos dois pares extras de meias. Sem as luvas apropriadas, também, usávamos meias nas mãos. Esperávamos que durassem até a primavera, quando poderíamos vasculhar as áreas vizinhas novamente. As estradas estavam intransitáveis por causa do tempo.

    Emilie levantou para se juntar a mim:

    - Vou pegar as arapucas e armadilhas e deixa-las perto da porta. Podemos tentar pegar o jantar.

    Gus havia nos ensinado como armar arapucas e armadilhas simples. Coelho havia se tornado item básico, assim como os peixes do lago. Evitávamos usar armas tanto para economizar munição quanto para não atrair os Andarilhos, que era como começamos a chamar os zumbis mais lerdos. De vez em quando Boggs ou Gus apareciam com carne que eles já tinham limpado. Nestas ocasiões nenhuma de nós perguntava o que estava na refeição. Todos sabiam que gambá, esquilo e castor viviam na área. Ainda assim, o jantar não é bem gostoso quando se está pensando que tipo de roedor se está comendo. Talvez um dia isso pudesse ser superado.

    CAPÍTULO 2

    O piso principal da cabana tinha tábuas dentro e fora para evitar que os mortos entrassem. Dava para ver a luz do dia brilhando no corredor de cima. Acordei Boggs delicadamente, ele parecia exausto.

    - Oi, Zo. – ele disse baixinho.

    - Oi. – sussurrei de volta. Está se sentindo bem?

    - Estou. Só cansado. Gus me deu um analgésico. Só me sinto drogado. – ele se sentou devagar e se espreguiçou.

    - Estamos saindo para caçar e encontrar o corpo de ontem à noite. Acha que consegue ir?

    - Claro. Talvez o frio me acorde.

    - Eu tenho quatro meias e as coisas preparadas e Emilie preparou o equipamento para as armadilhas. Vista-se e vamos tentar fazer uma viagem rápida. – eu disse antes de me curvar e beijá-lo no rosto.

    Ele levantou o braço e acariciou meu cabelo com a mão:

    - Te amo, Zoe.

    Sorri em resposta:

    - Então vamos nos mandar para a floresta?

    Ele deu uma risada, o que fez ele se contrair.

    - Tá doendo? – perguntei preocupada.

    - Só um pouquinho.

    Estendi a mão e o ajudei a se levantar do sofá. Andamos de mãos dadas até a cozinha, onde os outros esperavam.

    Susan fechou a porta atrás de nós, se trancando lá dentro. O sol já havia surgido revelando um céu azul e claro. Eu expirei e assisti minha respiração flutuar e se misturar com as copas das árvores sempre verdes.

    - Está frio hoje. – eu disse olhando para o céu. Eu estava focando minha mente, para ter certeza de que houvesse assinaturas intrusas de um dos mortos-vivos.

    - Puta merda. - resmungou Gus, chamando minha atenção.

    Olhei para a clareira coberta de neve à nossa frente. O cobertor branco usual estava marcado por pegadas sangrentas. Centenas delas.

    - Que merda é esta? – resmungou Boggs. Sua pistola Kahr calibre .45 já estava sacada e preparada antes que ele terminasse a pergunta.

    Gus também estava alerta instantaneamente.

    - Não sinto nada. – eu disse.

    - Boggs, precisamos circular a cabana. Ver a extensão das marcas.

    - Estou com você. – respondeu Boggs – Meninas, é melhor vocês entrarem.

    - Sem chance. – Emilie e eu dissemos ao mesmo tempo.

    - Esperem na varanda. – disse Gus – Se ouvirem tiros, entrem. – Não parecia que estava pedindo.

    - Em, bata na porta para avisar Susan sobre o que está acontecendo? Preciso ir com Gus e Boggs.

    Estranhamente, ninguém me questionou ou me guiou para ficar atrás. Emilie me deu um abraço rápido, depois foi até a porta e bateu de leve. Quando desci os degraus da varanda seguindo os homens ouvi a porta de frente abrir com um rangido. As pegadas sangrentas começavam a uns cinquenta centímetros do fim dos degraus da varanda. Muitas sobrepostas, algumas manchadas e todas pareciam como se tivessem sido passos frenéticos.

    Cruzei os braços como proteção.

    - Eles estavam calçados. – eu disse baixinho.

    Algumas pegadas pareciam de pés descalços, outras tinham padrões que se poderia esperar de solas de sapatos.

    Gus parou por um momento e olhou para mim e depois olhou para algumas das pegadas na neve:

    - É parece isso mesmo. – ele disse e apontou para um lugar escuro perto de nós – Tem um pouco de carne e cabelo aqui.

    - Meu Deus. – disse Boggs – Parece um massacre.

    - Vamos dar a volta por trás bem rápido. – sugeriu Gus – Quero acabar logo com isso.

    Uma brisa soprou trazendo com ela o cheiro excessivamente doce que já era bem familiar. Ainda não sabíamos por que, mas quando um morto-vivo morre pela última vez, o fedor de podridão se transforma em um cheiro excessivamente doce de decomposição.

    - Tem um morto por aqui, sentem o cheiro? – perguntei.

    Boggs acenou com a cabeça:

    - Sim. Deve estar contra o vento.

    - Muito bem, crianças. – disse Gus – Vamos ver quais monstros estão escondidos nos fundos.

    Demos a volta pelo canto da cabana. As pegadas sangrentas se intensificaram. Partes de corpos estavam espalhadas pela área entre os fundos da cabana e a beirada da floresta. Algumas davam ver que eram mãos, pés, braços, pernas e alguma coisa que parecia placenta esmagada. Outras estavam muito mutiladas para serem reconhecidas.

    - Puta que pariu. –

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1