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O Tempo Pro Amor, Agora!
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O Tempo Pro Amor, Agora!

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About this ebook

Marile Helene viaja no tempo para estudar o maior fsico do mundo na sua tese de doutorado, no imaginando que seu amor abrevia os sculos e agita o futuro.

Em 2187, a Historiadora -1 Marile Helene apenas quer seu Ph.D.

Planeja ganhar seu diploma ao viajar no tempo pesquisando Milton Carver, um afro-americano e o maior fsico de todos os tempos. Os professores do Departamento de Histria afligem-se com a historiadora por interferir inadvertidamente no passado. O Chefe do departamento j sabe que Helene e Carver compartilham um amor que em vez disso pode mudar o futuro. 2187 um paraso?

Graas s propulsoras descobertas na fsica terica de Milton Carver no incio do sculo XXI. A energia no custa nada, os historiadores realizam viagem ao passado estudando eventos histricos.

Sem guerra, sem fome, sem dificuldades.

Ningum sofre de problemas de relacionamento. O governo atribui a todos um parceiro sexual e, atravs da realidade virtual, garante a todos quatro orgasmos por sesso.

Marile Helene gosta do parceiro sexual atribudo e dos quatro orgasmos garantidos que desfruta com ele, entretanto sente algo faltando em sua vida. A jovem se pergunta o que acontece no passado quando homens e mulheres encontram satisfao entre si da maneira que eles mesmos desejam - ao se apaixonar.

Como isso aconteceria? Ela teria a ousadia de se apaixonar por um homem - por conta prpria. Apenas ela e ele? Marile Helene decide escrever seu Ph.D., uma tese sobre como o fsico, Milton Carver, cujas descobertas ento mudaram o mundo, conseguiu essa faanha apesar de sofrer com a pobreza, racismo e preconceitos acadmicos contra suas teorias.

A humanidade sobreviveu ao Perodo de transio, um momento de intensa mudana social, anarquia poltica, terrorismo, desastre ecolgico, fanatismo destrutivo, guerras e revolues. Os Advogados restauraram a ordem e impuseram o Gerenciamento de Riscos em toda a Terra. Sem liberdade, sem entusiasmo, sem amor.

O Chefe do Departamento de Histria aprova o projeto de Marile Helene, assim a historiadora visita Carver em 1957, 1968, 1986 e 2002. Marile no imaginava se apaixonar por Milton. Ou que o cientista poderia se apaixonar por ela. Nem que, alm disso, Helene romperia a lei do sculo XXII, no apenas por desenvolver um romance inter-racial em suas viagens no tempo, mas sobretudo uma paixo fsica com Carver.

Da mesma forma inicia uma gravidez no autorizada e, portanto, ilegal dentro de seu tero. Quando no esse romance acaba por auxiliar Carver a fazer suas descobertas revolucionrias e tambm por agitar os alicerces dos advogados que controlam o mundo de Helene em 2187.

Em 2187 cientistas, mdicos e outros - uma pequena minoria de indivduos - praticam profisses teis que requerem uma pessoa real. Os robs executam todo o trabalho no qualificado. Milhes de pessoas desafiadas pela utilidade social residem em casulos individuais confinados em Armazns, vivendo sonhos em estrias de realidade virtual.

LanguagePortuguês
Release dateJun 10, 2018
ISBN9781547532339
O Tempo Pro Amor, Agora!

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    Romance com surpreendente e fascinante estória de amor.
    Esta versão em português valorizou ainda mais a obra do autor.

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O Tempo Pro Amor, Agora! - L.A. Zoe

O Tempo pro Amor, Agora!

Uma viagem no tempo, romance inter-racial

L. A. Zoe

(Tradução: Osvaldo Cruz)

Índice

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Quatorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezesseis

Capítulo Dezessete

Capítulo Dezoito

Capítulo Dezenove

Capítulo Vinte

Capítulo Vinte um

Capítulo Vinte e dois

Capítulo Vinte e três 

Prólogo

Salão Hayley, Universidade de Kiowa, Campus de Cromwell North

Sábado à noite, 25 de maio, 20XX.

––––––––

Lê-se no brilhante banner de nylon verde Day-Glo:

PARABÉNS!

FELIZ APOSENTADORIA, MILTON!

OBRIGADO!

Explosivas palavras lançavam-se irradiantes sobre Milton Carver, enquanto o mais musculoso de seus estudantes de graduação, acompanhado por um auxiliar de enfermagem, empurrava a cadeira de rodas pelo corredor central conduzindo-o à mesa da frente.

Levantou-se a multidão aplaudindo. Um sonoro ruído flutuava precipitando sobre os ouvidos de Carver como um movimento browniano.

À sua frente surgiam rostos sorridentes lembrando pop-up, jogos de jack-in-the-box, fantasmas de casa mal-assombrada e monstros de filmes de segunda classe.

As mulheres se inclinavam para os beijos em sua face, embora não poder senti-los, Milton sabia que evitavam a baba escorrendo pelo canto direito de sua boca.

Uma toalha drapejada cobria o ombro direito, protegendo seu terno preto, elegante sob medida. Sem dúvida atendentes trabalhavam seu corpo solto, com traje adequado à sua condição física acometida por um pré-acidente vascular cerebral.

O Professor conhecia essas pessoas, todas elas. Entretanto seus nomes permaneciam retidos numa fortaleza de pedra, trancados em base subterrânea de dados armazenados num segmento do disco rígido de seu cérebro, o qual não era mais possível acessar.

Sua língua e lábios tensos estavam incapacitados de articular nomes, ainda que se lembrasse deles.

Por um segundo, pensou em seus pais que mal podiam acreditar ao graduar-se na faculdade com formação de quatro anos em Física. O quanto ficariam surpresos presenciando a multidão, predominante branca, que aclamava a carreira de seu filho mais novo na colação de grau.

O ambiente cheirava a raios gama.

Como desejava morrer ali mesmo, naquele momento.  Consentir que um raio o  atinja provocando o terceiro derrame, aquele que o mataria bem em frente à Faculdade inteira  do Departamento de Física. Seja lá o que for o lacaio Keaney,  Presidente da Universidade de Kiowa, ordenava que Milton Carver ficasse em pé diante dele, haja vista o ódio  concebido contra o desbravamento do físico e por estar ciente do ressentimento deste com o reitor.

Então foi nisso tudo que resultou: trabalhando mais de cinquenta anos na Universidade de Kiowa como Assistente de ensino, chegando a Chefe de Departamento, por fim afastado por mau comportamento.

Obrigado a sair devido à sua equipe traiçoeira - de modo que o Departamento de Biologia venceu a batalha final para a concessão de financiamento - e a turma de teóricos de cordas supersimétricas embaraçou-se por ele não se prostrar a suas teorias.

No semestre seguinte estariam de volta à frente de suas aulas. Carver ficaria em sua cama, na ala de reabilitação, numa Casa de Repouso do Parkside Towers.

Stephen Hawking obteve uma cadeira de rodas customizada, dispositivos  especiais que lhe permitiam comunicar-se através dos músculos faciais com os enfermeiros, auxiliares e estudantes de graduação sempre que necessário.

Carver conseguiria um relógio dourado e uma pensão.

Estava muito próximo de associar a mecânica quântica à relatividade geral.

Muito próximo!

Sem a Teoria idealizada de Einstein do Campo Unificado ou de Tudo, o qual nunca aconteceria, mas se explica a transgeometria quântica, apontando o caminho para a humanidade aprendendo a valer-se das últimas descobertas da matéria e energia escuras, semelhantes aos números infinitos de universos conectados.

Breve Carver terminaria seu artigo final, com dados novos que acabaram de chegar do Large Hadron Collider.

Assim permitiu que os teóricos das supercordas executassem o  pior, ocorrendo o terceiro derrame.

Se ao menos Carver tivesse concluído e homologado esse artigo, teria tolerância com a morte ou tudo quanto sucedesse. Seja um Céu espiritual, um Inferno além da ciência da realidade constatada no esquecimento estúpido que se manifestou numa criatura biológica; dotada de um órgão de autoconsciência bioelétrica desgastado pelo tempo e pela Segunda Lei da Termodinâmica.

Marile Helene!

Se alguma vez ele precisou dela, foi agora.

Meu querido anjo da guarda, meu amor - onde está você?

Capítulo Um

Salão de História, Universidade de Kiowa, Campus de Cromwell North

Segunda-feira de manhã, 15 de janeiro de 2187.

––––––––

Historiadora-1 Marile Helene deixou o táxi assim que a porta se abriu. Inclinou a mão esquerda protegendo seu ID card da brilhante luz do sol, possibilitando assim de leitura da tela.

08h52min A.M.

Compromisso marcado para as nove horas em ponto.

A historiadora tinha que causar uma boa impressão no painel de seus assessores do corpo docente, especialmente diante do Historiador Sonny Boy-9.7, chefe do Departamento de História.

Trajava um vestido singelo de algodão azul-turquesa que descia até acima do joelho, realçando seus olhos, um cinto fino revestido de couro preto, botas castanhas, um toque de batom vermelho, sobre a cabeça um lenço de seda azul, brincos de pérola e um perfume floral.

Passou horas numa butique projetando detalhes do conjunto de sua roupa, escolhendo materiais, compondo forma, arriscando então um novo design.

Ela não sabia exatamente quem mais permaneceria no júri, além de Sonny Boy e todo o Departamento de História da Faculdade.

Após graduar-se licenciando em História, mais de três anos estudando com seu Mestre, posteriormente cinco anos de trabalho visando Doutorado. Conhecia todos eles e todos a conheciam.

Ainda assim gostaria de encontrar um estudante digno da oportunidade a que estava requerendo. Um acadêmico com ideais semelhantes que se motivasse ouvindo palestras, escrevendo desesperadamente ensaios em Almanaques ou socializando em Long House: um local favorito fora do campus para ambos os residentes estudantes e professores.

Esta reunião poderia determinar toda a sua carreira pelo resto da vida.

Marile Helene desejava que a equipe compreendesse o quanto seriamente lida coma história. Estudou a rigor, com sua extrema habilidade de percepção sensorial de estímulos, o Período de Transição no final do século 20 e início do 21.

Não postulou viagem no tempo para simplesmente ficar boquiaberta como um turista, mas sim realizar atividade funcional de pesquisador.

Dedicou-se estudando anais, histórias de fato, não experimentando estórias de realidade virtual: obras de costume e melodramas históricos. Utilizando sua indumentária vestiria adequadamente em quase qualquer rua ou centro comercial durante o Período de Transição.

A historiadora poderia até adicionar o rótulo Land's End ao vestido. Embora a empresa estivesse fora do mercado, alguém ainda poderia deter a marca registrada, assim não ousou arriscar uma ação judicial.

Do outro lado da rua, um aparador de gramas rolava por uma longa fileira de relva verde, fresca e cintilante. À medida que a válvula de escavação ronronava ligando as lâminas, sugava-se energia extraída da queda contínua de uma galáxia, não formada de matéria cósmica, encontrando uma nuvem semelhante de antimatéria em Dimensão X. Ecoava um leve zumbido característico conciliando-se à fragrância adejada no ar da zoysia recém-podada.

Havia necessidade de ajuste na configuração da altura, visto que a grama por detrás se achava tão alta quanto à área não cortada.

Marile Helene navegava seu olhar pelo granito vermelho e o mármore cinza da construção de vidro reluzente daquele lado da estrada, ocupando o bloco inteiro em dez andares de altura minimizando o resto do campus.

Do outro lado da porta:

Edifício Milton Carver

Departamento de Física

Ali onde tudo começou, no qual Milton Carver reformulou as leis da física tornando possível energia livre, ilimitada, não poluidora, viagem no tempo e muito mais; proporcionando um mundo de paz, prosperidade e plenitude das quais todos desfrutam.

Situado à direita onde a fatos se sucederam, o Departamento de História da Universidade de Kiowa estava devidamente apropriado demonstrando a reverência pela mantenedora, antes mesmo de sua entrevista com a equipe da reitoria.

Sem que Milton Carver tenha visto o prédio erigido em sua homenagem. Executou todo o seu trabalho, como nos velhos tempos, numa monstruosidade de tijolos vermelhos antigos, comuns e decrépitos. A historiadora viu as fotos no Museu Milton Carver do centro da cidade de Cromwell. 

Em face disso germinou, em Marile Helene, uma atração especial pela história. Quantas pessoas no passado foram bem sucedidas, apesar das circunstâncias mais adversas: a necessidade empregar-se por dinheiro, guerras, preconceitos raciais e étnicos, revoluções, catástrofes ambientais, pobreza, equipamentos primitivos, famílias não sustentáveis, fome, furacões, nevascas, tempos ruins, tantos mais obstáculos e dificuldades.

Milton Carver faleceu assim que enviou seu artigo final, sem sequer ter visto e muito menos aproveitado o impacto cataclísmico que causou em toda a humanidade.

Marile acenou com a mão esquerda no scanner de entrada do Salão de História. Efetuando a leitura do ID card constatando sua base de dados para habilitação e compromissos autorizados. 

Estudante de graduação, ela poderia entrar no ambiente contendo salão de conferência, salas de aula e escritórios dos professores; onde possuía um minúsculo cubículo na função de assistente de ensino, entretanto nunca lidou antes com negócios na retaguarda administrativamente. O painel piscou:

SEM ACESSO - PESSOA NÃO AUTORIZADA

Sua consulta foi em dois minutos. Em face da mensagem a Historiadora utilizou o ID card para ligar.

O avatar do Historiador-9.7 Sonny Boy materializou-se ao lado dela. O chefe do Departamento de História era um homem baixo e atarracado, pele em tom de caramelo toffee. O avatar usava um terno listrado azul-marinho e sapatos com spat. Gostava de vestir-se muito bem.

Tal recordação levou Marile sentir-se mais esperançosa. 

Em seu recanto Delta do Mississippi, toca Bukka White.  -Estou ocupado no momento, disse ele, por favor, deixa uma mensagem para que eu possa retornar sua ligação.

- Aqui é Marile Helene -Historiadora-1, ela respondeu, vim para minha entrevista, mas a porta não vai me autorizar entrar.

- O avatar do Chefe de Departamento reluziu, depois piscou, e a figura dele agora substituiu o  gravado. Hoje ele estava de terno marrom, parecia mais pesado e tinha menos cabelo. Calçava brilhantes sapatos de couro preto, sem spats.

Outra falha administrativa, disse-lhe. Logo vou estar bem.

A imagem desapareceu, mas em cinco minutos o painel de entrada deslizou de volta com um metal bruto, arranhando o sinal.

Percebeu seu estremecimento. Peço-lhe desculpas, mas o plantel técnico está em retardo na manutenção dos robôs. Entre.

Provavelmente, o supervisor responsável passou os dias com estórias de realidade virtual, em vez de verificar duas vezes o equipamento de manutenção.

- Compreendo.

- Sonny Boy deu-lhe uma piscada calorosa e amigável. Meu! Você não está bem vestida hoje.

- Não muito extravagante. Mas eu queria causar uma boa impressão.

- Desejaria poder levá-la de volta ao Cromwell Ballroom para que possamos reduzir a manta, aproximadamente dezenove por sessenta.

- Oh, não estou vestida de forma adequada pra isso. Contudo,  gostaria de entrar pessoalmente. Sei que é antiquado, mas...

Sonny Boy afastou suas desculpas quando entraram no elevador e apertou o botão 3º andar.

- Estamos todos antiquados aqui. Você sabe disso. Deu um sorriso não convincente. Perigo ocupacional, se não formos bons.

Ele estava validando sua escolha de roupa estranha ou simplesmente mentindo educadamente pra fazê-la sentir-se bem, daí ela não poderia processar a Universidade, se foi a equipe que falhou aprovando seu projeto de pesquisa?

O elevador subiu, parando de forma tão brusca que sacudiu o estômago de Marile Helene, esforçando-se pra que o enjoo não refletisse no semblante do rosto.

––––––––

- Também pedimos manutenção ajustando a velocidade do elevador, disse Sonny Boy, encolhendo os ombros.

- Enquanto esperamos, vamo-nos acostumando ou utilizemos as escadas. Posso pegar-lhe qualquer coisa? Descafeinado? Chá de ervas? Suco? Água?

- Não, não, obrigada, disse Marile Helene.

Uma luz solar indireta, artificial, acendeu no salão de conferências. A parede externa era transparente, dando uma visão panorâmica do Edifício Milton Carver em frente à rua. O ambiente exalava uma fragrância de purificador de limão.

Os hologramas 3-D em cores grandes e emolduradas pendiam na parede. No primeiro, uma turma de trabalhadores morenos e negros despidos levavam grandes pedras. Alguns puxavam cordas amarradas em blocos gigantes de calcário branco. O rótulo abaixo dizia: Obra da grande pirâmide de Gizé, 2562 BCE.

Outros hologramas mostraram George Washington na varanda do Salão Federal, na cidade de Nova York, assumindo o juramento do cargo de primeiro presidente dos Estados Unidos, Genghis Khan montando um cavalo e a rainha Elizabeth I da Inglaterra sentada em seu trono.

Três professores de história, sem demora, sentavam-se nas cadeiras ao redor da grande mesa alongada de plástico.

- Bom dia, disse Marile Helene.

Sonny Boy fez a leitura de seus nomes para o registro oficial:

- Historiador - 5.1 Ferris um homem branco, usando leotards amarelos convencionais, expunha uma tatuagem vermelha de dragão espalhada pelo peito. Ainda muito jovem, quase sessenta anos. Especializado na Dinastia Ming chinesa.

- Historiador - 3.2 Kiko um homem de pele escura, cabelos pretos brilhantes, ombros largos e dois brincos de ouro, usando um longo manto marrom. Não procurou contatar visualmente Marile Helene, especialista na cultura da Europa Medieval, especificamente dos países Bálticos.

Ah não...

- Historiadora - 7.3 Sophie uma mulher branca de cabelos pretos, usando um leve conjunto de cotton e tênis de corrida surrado. Ela sorriu cumprimentando Marile Helene a quem odiava: nos estudos árabes pré-islâmicos deu-lhe seu primeiro e único B, numa disciplina de História.

Sonny Boy tirou a cadeira posicionada na cabeceira da mesa, concedendo seu  lugar a  Marile Helene,  a  entrevistada.

Respirou profundamente tentando relaxar. Empenhava-se a não ficar pensando sobre a importância da reunião na sua carreira o resto de sua vida. Se não obtivesse permissão para utilizar a máquina de viagem no tempo da Universidade visando ao projeto de pesquisa, não receberia seu doutorado. Ela não poderia formar-se professora de História, não poderia dar aulas, nem conseguiria realizar outras pesquisas em seu campo.

Seria uma inepta existência tal qual a maioria das pessoas vivendo estórias de Realidade Virtual em casulos.

Blagh!

Sonny Boy pigarreou.

- Todo mundo está presente, então se estamos prontos, podemos começar.

Os outros três professores não reagiram, mas Marile Helene meneou a cabeça concordando.

––––––––

- A propósito, achamo-nos gravando. Esta é uma audiência formal pra discutir o Doutorado da Marile Helene, projeto de campo e assunto de tese, conforme exigido por lei e regulamentos da Universidade.

Ambos os requisitos são avaliados; tanto a sua adequação disciplinada por seus interesses expressados no campo, quanto se o risco do projeto de campo compensaria o valor final.

Marile Helene queria gritar, mas cuidadosamente manteve um olhar plácido no rosto.

Risco! Sempre há risco, quando não há recursos.  O tempo de viagem requer uma despesa excessiva de energia, mas graças a Milton Carver, isso não foi obstáculo.  Uma enorme válvula escavadora conduz a energia para este universo. Qualquer resíduo de calor, radiação e sobras de luz da operação de viagem no tempo desviam-se de volta para o outro universo.

Portanto, um milhão de máquinas estão aptas a regressar no tempo a cada dia, sem reduzir a energia necessária, mantendo as luzes acesas da população envolvida em estórias de Realidade Virtual, não afetar o clima planetário geral.

De acordo com o Princípio da Autoconsistência de Novikov e a Lei de Conservação da História de Larry Niven, ninguém mudaria o passado, então não havia risco de contaminar a história.

Não, o único risco tratava-se de uma entorse idiota no tornozelo acionada pelos advogados. Poderia ter sido pior: o seu pé, a perna inteira. À vista disso, decidiram apenas que retome os estudos.

Sonny Boy recostou-se na cadeira estalando todos os dedos no colo.

- Marile Helene, eu mesma me inscrevi no Conselho Acadêmico para seu Projeto de Doutorado aqui na Universidade de Kiowa.  Ninguém mais está focado no Período de Transição, entretanto estudo os estados-nação, sua ascensão e, naturalmente, queda. Portanto existe um encadeamento.

O passado distante foi mais seguro para um historiador e menos controverso. Somente poucos fanáticos religiosos remanescentes emocionavam-se com algo ocorrido há mais de cem anos. Marile Helene percebeu de longa data, mas decidiu não deixar influenciar seus interesses profissionais. E se seus estudos revelassem fatos contraditórios às considerações oficiais desses anos turbulentos?

Ademais, estava interessada na vida de pessoas comuns e notáveis. Não na política, mas sim da maneira que a humanidade viveu e progrediu. 

A Historiadora sorriu, concordou, reconhecendo o elogio do acesso direto ao Chefe do Departamento. Transformando-o na pessoa mais importante da sua vida, tendo que convencê-lo a valorizar sua proposta.

Sonny Boy continuou:

- Todos nós lemos sua tese de mestrado sobre a conexão entre música, psicologia e sociologia do Período de Transição. Concordamos que foi um trabalho excelente.

Obrigado, disse Marile Helene, acenando com a cabeça dirigida ao grupo, no entanto, até onde enxergava, apenas Sonny Boy prestava atenção.

Nem imaginava que Sophie participava dessa brilhante avaliação, porém jamais se importando.

Sonny Boy riu. - Recordo até dos meus pais ouvindo alguns artistas sobre os quais você escreveu, ele relata, procuro não admitir que já tenho cento e dezoito anos.

Ferris, embora ainda olhasse fixamente pro muro, de repente disse:

- Vamos ao cerne da questão, podemos?

Você quer estudar a vida do homem cuja obra transformou a humanidade mais do que ninguém, a partir do ser que descobriu a utilização do fogo. Claro que é um assunto relevante. Mas o risco, o risco.

Kiko torceu as mãos.  - Não podemos depender de Novikov.

- Se algo der errado, disse Sophie. Você pode derrubar tudo o que os advogados construíram. Sem energia ilimitada, a implosão da população, as ecozonas para estabilizar o clima, onde estaríamos agora?

- Não queremos descobrir, disse Ferris. Ainda que não nos lembrássemos desse estilo de vida.

- Obviamente entendo suas preocupações, disse Marile Helene. Todavia, não tenho intenção de intervir na vida de Milton Carver. Meu propósito é que as pessoas prosperem apesar das vicissitudes da vida. Aceito cumprir todos os regulamentos de não interferência.

- Porém, o que nos garante?  Sophie perguntou de forma autoritária.

- O projeto em si. Respondeu a estudante à sabatina. -Proponho fazer cinco visitas. Como tirar amostras representativas, secções transversais de sua vida nesses períodos. Seu trabalho mais importante surgiu momentos antes de falecer. Caso algo der errado sobre o meu projeto, serão tomadas medidas prévias de anulação que proteja o documento final. 

- Todas as regras, regulamentos e termos de serviço devem ser respeitados, disse Sonny Boy com um tom severo.

- Pois não! Marile apontou a mão pra  fotos na parede. - Obviamente, você enviou pessoas de volta a outros eventos importantes, utilizando câmeras de alta tecnologia.

- Nenhum daquela época possui um vínculo direto de causalidade com o presente, disse Ferris.

Sonny Boy fitou-a com seus olhos negros superficiais, dissipando toda simpatia. - Essa é uma observação convincente. Esperamos o mais alto padrão profissional e ético de você e seu comportamento no passado. Ao se desviar desse indicador, em qualquer grau, será meu dever legal não apenas abortar o projeto, mas também recomendar que você perca seu status de estudante.

Marile Helene passaria, posteriormente, o restante da vida no interior de um pequeno casulo num armazém gigante, juntamente com centenas de milhares de outras pessoas desafiadas por utilidade, experimentando estórias de realidade virtual.

Um cidadão comum, sem acesso ao passado, não ingressa a uma ecozona. Não há liberdade para mudar de localização nem há direito de reproduzir, jamais.

A historiadora preferiria morrer.

- Entendo perfeitamente, disse ela. Tentou escolher suas palavras com cautela.

- É minha responsabilidade estudar, somente. Não tenho interesse em mudar nada. O passado é passado. Senti-me fascinada por História desde sempre, especialmente a do Período de Transição. Não sei o porquê.

Talvez fosse apenas uma mentira inofensiva.

Uma antiga lembrança despertou-lhe a mente, quando pequena, antes mesmo de ingressar na escola.

Pessoas comuns ainda podiam dirigir seu próprio carro. Certo dia, sua mãe superou-se operando pessoalmente direção automática, conduzindo-a a uma escola infantil abandonada fora da cidade, próximo a uma antiga praça agora deserta.

––––––––

Ervas daninhas cresceram através do asfalto rachado. Os brinquedos de escalada foram deixados de lado.  As tábuas das gangorras despencaram, lama e capim encheram os túneis de concreto.

Entretanto a estrutura de metal duro do conjunto de balanço ainda estava firmemente no chão. As correntes, embora muito enferrujadas, rangiam alto, porém, ainda assim, suportavam peso dela ao sentar-se no banco encardido de madeira de lei.

Sua mãe ensinou-lhe a movimentar os pés de maneira rítmica, empurrando-a de modo que aprendesse a balançar. Enquanto sua mãe observava, aproximou-se tão alto

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