Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

USS Bacalao
USS Bacalao
USS Bacalao
Ebook491 pages6 hours

USS Bacalao

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

J.T. McDaniel assume o comando com a mão firme de um mestre em sua arte, criando uma representação precisa e fascinante da vida diária a bordo de um submarino de ataque na década de 1940. Do estaleiro do construtor em Connecticut, aos combates velozes no teatro do Pacífico, ao coração trovejante de profundidades explosivas, cada detalhe soa com autenticidade. McDaniel escreve com a precisão técnica de Tom Clancy, o ritmo de Michael DiMercurio e a compreensão humana de Edward L. Beach. Um leitor simplesmente não pode querer mais. O USS Bacalao é a história de um submarino da frota americana da classe Gato desde o pátio da Electric Boat Company na cidade de Groton de pré-guerra, em Connecticut, passando pelos primeiros  treinamentos, presenciando o ataque japonês a Pearl Harbor, e atingindo o coração do Império Japonês. De Pearl Harbor a Fremantle, o pequeno barco e sua corajosa tripulação atacam um inimigo determinado e enfrentam a sua própria burocracia para levar a guerra ao inimigo. E, apesar de tudo, Lawrence Miller está lá, subindo lentamente a partir do quarto na lista de oficiais do barco, partindo para uma excursão no comando de um antigo submarino no Alasca e finalmente retornando a Bacalao como seu último oficial comandante.

Uma aventura emocionante e verdadeira que encanta aqueles que admiram o mar e seus personagens.

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateJun 22, 2018
ISBN9781547532810
USS Bacalao

Related to USS Bacalao

Related ebooks

War & Military Fiction For You

View More

Related articles

Reviews for USS Bacalao

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    USS Bacalao - J.T. McDaniel

    Nota do Capitão de Mar e Guerra Amilton Oliveira Ferreira

    A vida submersa traz consigo uma poética particular, que mistura confiança, cumplicidade, dedicação e força, contagiando seu entorno. Entre o fascínio pelo trabalho e as adversidades que enfrentam os submarinistas, cria-se uma relação de identidade, intimidade e pertencimento que os faz marinheiros até debaixo d’água, como no lema usque ad  sub acquam nauta sum (100 anos da Força de Submarinos do Brasil / FGV Projetos. – Rio de Janeiro : FGV Projetos, 2014)

    De Julio Verne a Tom Clancy, e muito provavelmente influenciado pela Série Viagem ao Fundo do Mar, tenho visto todo tipo de história sobre submarinos e suas aventuras. O USS Bacalao se destaca por fugir dos lugares comuns do Comandante Infalível comandando uma tripulação igualmente infalível em uma missão impossível e aborda, com simplicidade e realismo que impressionam, a vida e o trabalho de homens comuns que se tornam pessoas diferenciadas graças a uma vida espartana, trabalho duro, estudo (muito estudo), dedicação e método.

    A tradução fiel e diligente do escritor Franco G. Rovedo permitiu o acesso ao mundo submarino desta bela obra de ficção do autor norte americano J.T.McDaniel.

    O leitor entenderá que os submarinistas são muito mais do que bando de bastardos sorrateiros para os quais só existem dois tipos de navio: os submarinos e os alvos, Os subnautas conhecem em detalhe seu navio, sempre checam as informações que recebe, são proativos e lideram de perto as suas equipes, simplesmente porque a nossa vida depende disso.

    O Brasil tem uma tradição centenária na operação de submarinos, nossa flotilha foi criada em 17 de Julho de 1914, em 104 anos operamos diversos tipos de submarinos: Italianos, Americanos, Ingleses, Alemães, desenvolvemos nossa capacidade de construção e de projeto, eu tive a honra de ter sido um dos comandantes do primeiro Submarino construído no Brasil, e estamos trabalhamos para no futuro operarmos um Submarino Nuclear construído no Brasil, por brasileiros.

    O real valor do Submarino reside no elemento humano que o opera.  O ingresso em nosso meio é feito por seleção entre os voluntários. A nossa formação se inicia em nossa primeira imersão, no batismo, quando nos curvamos perante Netuno recebemos o sal da sapiência e o óleo sagrado que nos tornam fortes para sermos conhecidos pelo nosso nome de peixe. Essa formação tem seu ponto culminante quando recebemos nosso distintivo e prossegue ao longo de nossa vida a bordo, enquanto gradualmente passamos de aprendizes de nossos antecessores a mestres de nossos sucessores.

    Um dia, esse dia sempre chega, temos que tirar o uniforme pela última vez e ceder lugar para os jovens. Mesmo na inatividade continuamos acreditando que só existem dois tipos de navio, jamais aceitamos o titulo de EX-submarinistas, somos hoje e sempre Marinheiros até debaixo d’água.

    I: MUDANÇAS

    O vice-almirante Lawrence Miller, da USN (da reserva), parou o carro na vaga do estacionamento, tomando cuidado de manter o veículo exatamente no meio dela. Por um momento, ele olhou para si mesmo no espelho retrovisor. Decidiu que não parecia nada mal para um homem que recentemente completara 85 anos. Ainda um bom motorista também, ele pensou.

    Estava vestido casualmente, usando sapatos de lona, calças cáqui e uma camisa cáqui de mangas curtas. A calça tinha pregas, e a camisa era obviamente de estilo civil, com apenas um único bolso simples, em vez do par de bolsos com abas de uma camisa do uniforme da Marinha. Miller estava disposto a admitir para si mesmo que a escolha do cáqui para este dia não tinha sido aleatória. Ele encontraria muitos velhos amigos, e a cor era uma ligação com o passado compartilhado entre eles.

    Pegou o boné azul-marinho no meio do banco da frente e colocou-o na cabeça. A face do boné ostentava os golfinhos de submarinista bordados com fios dourados e o nome do seu velho barco. No passado, os oficiais não usavam bonés de beisebol. Os tempos estavam mudando, no entanto, e agora raramente se via o boné de pala a bordo.

    Miller saiu do carro e deu a volta para abrir a porta para sua esposa. Enquanto segurava a porta, viu-se olhando através da cerca de arame para o cais e o velho submarino atracado ali.

    Muito parecido com o velho sub, ele pensou. Havia diferenças, com certeza. Este barco tinha um canhão de convés mais moderno, e sua torre estava pintada com as antigas condecorações do barco da frota, as flâmulas de vitória e o número do casco. Seu velho barco não ostentava nada disso, exceto o número, e este fora pintado no dia em que a guerra começou.

    Mas a torreta e o passadiço eram os mesmos. Ambos os periscópios estavam totalmente içados. Logo atrás do periscópio dois, ele viu a antena de radar SJ. Aquilo tinha sido levado para frente do mastro do periscópio em seu velho barco. A antena dipolo SD do seu mastro livre era a mesma, no entanto. A torre tinha o mesmo formato e os mesmos canhões de 40 milímetros montadas na proa[1] e na popa[2].

    Estendeu a mão para ajudar sua esposa a sair do carro. Ela ainda era linda depois de todos esses anos. Não como ele. Agora era um velho esquisitão, e sua breve autoavaliação no espelho retrovisor tinha sido mais do que um pouco otimista. Às vezes ele tinha que ser honesto consigo mesmo. Com todos aqueles membros da tripulação se reunindo para a reunião de meados de julho, ele decidiu, um pouco de honestidade não faria mal algum.

    Parece que alguns deles já estão aqui, disse sua esposa, apontando para o submarino.

    É verdade, ele pensou. Havia vários homens idosos reunidos perto da rampa. Miller reconheceu vários deles. Outros viriam na próxima hora mais ou menos. O plano era que todos visitassem o submarino, um irmão um pouco mais novo do que o deles, e depois fizessem um lanche.

    Havia um monte de cabelos grisalhos e brancos saindo de debaixo de seus bonés mais ou menos idênticos - os antigos praças tinham golfinhos de prata em vez de ouro - e muitos desses bonés agora cobriam uma careca. Estamos todos tão velhos agora, pensou Miller. Até mesmo o mais jovem de seus antigos companheiros de navio estava hoje em seus 70 anos. A maioria, como ele, estava na casa dos anos 80 e pelo menos um, sentado em uma cadeira de rodas no meio do grupo, tinha mais de 90 anos.

    Nós nos tornamos um bando de velhinhos redundantes, disse Miller.

    Não para mim. Sua esposa ainda parecia vê-lo como o bonito jovem submarinista que ele tinha sido um dia. Talvez ela tivesse olhos melhores do que ele.

    O barco parece bom, disse ele.

    Um pouco alto na água, mas em geral parece muito bom. Ele estará leve em algumas centenas de toneladas sem os elementos de bateria. Ele sorriu.

    Pinte a torre de cinza e coloque um velho 4/50[3] no convés de proa e você pode ter o velho garoto de volta com a gente."

    Miller notou que uma mão para o alto no meio da multidão e, em seguida, uma figura pesada estava se movendo na sua direção através da passarela.

    Bill está aí, disse ele.

    Sim, ele pensou. Muitos homens velhos. Mas eles nem sempre foram velhos. Uma vez, muito tempo atrás, eles foram jovens e outro barco como este representou seu futuro e não seu passado.

    *     *     *

    A primeira visão do Tenente Lawrence Miller sobre o Bacalao estava longe de ser impressionante. No dia em que chegou ao pátio da Electric Boat Company em Groton, Connecticut, ele já havia saído da Academia Naval há seis anos, servindo os últimos três em submarinos. Se dependesse dele, teria passado todos os seis anos debaixo d'água, mas naqueles dias um oficial tinha que servir três anos na frota de superfície antes de ter permissão para se apresentar na Escola de Submarinos.

    Ele nunca quis ser outra coisa senão um submarinista, mesmo em seu primeiro ano em Annapolis, quando um de seus instrutores enganara a classe com histórias de serviço nos velhos barcos durante a guerra. Se ele pudesse ter dado um jeito de ir diretamente para New London, ele teria feito isso e se sentiria feliz. Mas regras são regras, então passou seus primeiros três anos de serviço ativo embarcado em um contratorpedeiro, baseado em São Diego.

    Não que ele considerasse aqueles anos desperdiçados. Ele aprendera muito sobre caçar submarinos. Conhecer o modo como o inimigo pensa é sempre uma ferramenta valiosa, por isso, enquanto estudava como afundar submarinos, pensava na melhor maneira de combater estas técnicas. Quando finalmente entrou na sala de aula da Escola de Submarinos, em New London, ele imaginou que sabia tudo.

    No momento em que se formou, terminando em quarto lugar na sua turma, ele teve certeza disso. Os próximos três anos ensinaram o contrário. Mas, de alguma forma, ele conseguiu passar de um jovem recém graduado ignorante, sabendo cerca de 98% menos do que ele pensava, para um competente Capitão Tenente e Imediato do S-35.

    Naqueles dias antes da guerra, levava-se cerca de um ano para que o oficial médio ou alistado se qualificasse em submarinos e ganhasse o direito de usar a orgulhosa insígnia dos golfinhos em seu uniforme. Miller levou oito meses, mas gostava de pensar que ele tinha uma aptidão natural. Ele tinha sido imediato do S-35 por oito meses quando lhe foi oferecido o emprego de eletricista na construção do Bacalao.

    As promoções eram lentas em tempos de paz. Miller sabia que provavelmente estava há um ano ou mais de conseguir um comando se permanecesse em S-boats[4], onde as tripulações eram pequenas e o Comandante era normalmente um Capitão Tenente. Assim, assumir um posto no Bacalao iria atrasá-lo. Ele estava indo do segundo mais antigo para o quarto.

    E os comandos do barco da frota eram para os Capitães de Fragata e Capitães de Corveta, não para os tenentes de menor graduação. Nem mesmo os brilhantes.

    Mas ele achou que valeu a pena. Ele agora estaria servindo em um navio completamente moderno. O Bacalao teria ar-condicionado - eles não chamavam os velhos S-boats de barcos de porcos por nada - dez tubos de torpedos em vez de quatro, um avançado sistema de controle de incêndios e todo o conforto que um jovem oficial poderia esperar. Ele poderia tomar um banho a cada dois dias quando estivessem no mar e dividiria um camarote com apenas dois outros oficiais.

    Um civil pode olhar para os camarotes de oficiais de um barco da frota e declarar que são armários de tamanho médio, com três prateleiras estreitas que seguram colchões, mas quando comparadas ao compartimento apertado e desconfortável de um S-boat, os pequenos camarotes eram como palácios.

    Assim, Miller aceitou o posto no novo Bacalao, que agora tomava forma nas instalações da Electric Boat. Ele era uma nova embarcação da classe Gato, um dos submarinos mais modernos do mundo.

    Sua primeira visão dele, porém, foi de uma longa viga de aço, descansando em blocos de madeira no pátio de construção. A viga se tornaria a quilha do barco. No momento, ele pensou, não se parecia muito com um submarino - ou como qualquer outra coisa que pudesse flutuar, aliás.

    Durante os meses seguintes, o barco tomou forma lentamente. Chapas curvadas de aço de 11/16" foram soldadas à quilha e às estruturas e, em pouco tempo, a forma básica do casco resistente, um longo cilindro com extremidades cônicas terminando em tampas arredondadas, ficou claramente definida. Sobre o casco resistente, que era o verdadeiro submarino, a parte em que as pessoas podiam viver debaixo d'água, o estaleiro acrescentou os tanques externos de lastro na seção de casco duplo do centro, bem como a armação da superestrutura que definiria o formato familiar do barco completo.

    Depois de um tempo, essas armações externas foram cobertas por chapas de aço, perfuradas na parte superior para permitir que o ar e a água fluíssem livremente para dentro e para fora quando o barco mergulhasse. Essa superestrutura ocultava a tubulação e os dutos, além de fornecer um convés onde a tripulação poderia trabalhar quando o barco estivesse na superfície. Antes que a superestrutura fosse acrescentada, a maioria das escotilhas estava aberta no topo de seus compartimentos. Agora elas estavam todas no nível do convés.

    Depois que o convés estava no lugar, a torre de comando foi içada em posição por um grande guindaste e presa à estrutura. Este era um longo cilindro de aço, parecendo nada mais do que um dos grandes tanques de aço que estavam enterrados sob postos de gasolina, embora as extremidades do compartimento fossem convexas, em vez de côncavas. Um compartimento, a bombordo[5], conectava a torre de comando ao casco resistente abaixo, enquanto outro colava na extremidade dianteira, no lado de boreste[6]. Isso acabaria por levar ao passadiço.

    Em seguida, a torre de comando e a grande peça em forma de cogumelo, da válvula mestra de admissão, logo à ré, estavam cobertas pela carenagem do compartimento. Essa era a parte que os civis costumam considerar ser a torre de comando, mas na verdade não era. A torre de comando estava dentro.

    O passadiço aberto estava localizado bem atrás e no alto, adiante dos mastros de periscópio. A carenagem do compartimento era imensa e razoavelmente bem protegida, com um passadiço coberto à frente e a pequeno passadiço superior aberto por cima e por trás.

    Quando o barco tomou forma no pátio, Miller se viu caindo na estranha rotina de um oficial servindo em um submarino em construção. Era uma combinação estranha de uma vida fácil em terra, combinada com a necessidade estrita de manter um olho nos trabalhadores, pois era a habilidade deles que determinaria se Miller e os outros 70 oficiais e praças que serviriam no barco, viveriam ou morreriam.

    Enquanto tudo isso acontecia, a equipe começava a chegar. Os oficiais foram os primeiros a aparecer. Eles estavam todos lá quase desde o primeiro dia da construção.

    O Capitão de Corveta Karl Hammersmith, escolhido para se tornar o primeiro Comandante do Bacalao, foi o primeiro a chegar. Ele chegou no mesmo dia que o Capitão de Corveta William Dunstan, que seria o Imediato. Eles estavam presentes quando a quilha foi colocada.

    Miller apareceu três dias depois, um dia antes do Capitão Tenente William Morgan. Morgan seria o Terceiro Oficial e Chefe de Máquinas. Ele havia se graduado no mesmo ano que Miller em Annapolis.

    Se algum dia houvesse um oficial destinado a ser maquinista, pensou Miller, esse seria Bill Morgan. Na maioria das outras marinhas, ele certamente teria se tornado um especialista, passando toda a sua carreira trabalhando com motores e turbinas. Mas a Marinha dos Estados Unidos nunca viu a necessidade de um ramo de maquinista especialista. Qualquer um que quisesse comandar um navio de guerra americano deveria ser maquinista primeiro.

    Você também precisava saber algo sobre o que comandaria. O comandante de um porta-aviões tinha que ser um piloto, e o comandante de um submarino tinha que ser um submarinista, com uma boa experiência nos complexos sistemas de engenharia a bordo.

    Enquanto o barco estava em construção, Miller estava acomodando-se com Morgan nos alojamentos dos oficiais na Base de Submarinos, em New London, a algumas milhas do rio Tâmisa a partir do estaleiro. Quando o barco ficou pronto, os dois compartilharam um camarote, junto com Orville Hanson, o mais graduado dos recém graduados.

    Miller conhecia Morgan há muito tempo. Eles haviam se tornado bons amigos na Academia, onde o relacionamento havia começado quando Morgan percebeu que, plebeu ou não, Miller poderia ser útil para ele.

    Miller navegava desde criança, crescendo a pouca distância do Lago Erie, em Cleveland, enquanto Morgan vinha de uma fazenda em Iowa, onde a extensão das instalações marítimas locais consistia em um barco a remo em um pequeno lago.

    Sendo um garoto obsessivo, Miller havia aprendido a navegação astronômica quando era adolescente e passou os dois últimos verões do ensino médio como parte da tripulação de convés de um barco navegando entre Cleveland e Duluth.

    Os calouros de Annapolis normalmente não chegavam à Academia com a experiência prática de manobrar um navio do tamanho de um porta-aviões, e Morgan logo percebeu que Miller ficaria feliz em ajudá-lo com sua navegação e marinharia, desde que oferecesse um pouco de proteção. Então ele ajudou Miller a evitar o pior do trote e Miller ajudou-o a passar em astronomia.

    Os outros dois oficiais da equipe do Bacalao eram Lyle Winston e Tom Hartman, que eram ambos recém graduados. Hartman era primeiro tenente há um ano e também era o único oficial a bordo que ainda não havia se qualificado. O Bacalao foi seu primeiro barco. Por tradição, ele foi apelidado de George e recebeu o trabalho de assistente de torpedo e oficial de artilharia. A lógica por trás disso era que mesmo um oficial não qualificado ainda poderia dirigir uma equipe de artilheiros.

    Quanto aos torpedos, o barco tinha naturalmente um bom Sargento Artilheiro, junto com uma tripulação experiente, de modo que era improvável que mesmo um oficial completamente inexperiente conseguisse estragar tudo. Sua equipe cuidaria dele, assim como Winston, que era o verdadeiro encarregado da divisão de torpedos.

    Havia muito trabalho envolvido em conseguir um barco completo e pronto para o serviço. Houve também muita leitura. Em uma noite em particular, Miller e Morgan estavam relaxando em seu quarto na base. Miller estava em seu beliche, estudando o manual da unidade de controle principal da General Electric que seria instalada no compartimento de manobra do Bacalao em poucos dias.

    Morgan estava sentado à escrivaninha, escrevendo em um caderno, com um grosso manual do motor aberto em sua frente.

    Esses novos motores, disse Morgan, são absolutamente fascinantes. Grande melhoria em relação aos tipos mais antigos.

    Miller levantou os olhos do seu próprio manual, perfeitamente disposto a se distrair por algum tempo. Ele sabia que precisava saber o máximo possível sobre os equipamentos de um ponto de vista teórico, mas não havia praticamente nenhuma chance de que ele tivesse que realmente operar a coisa. Eles tinham os caras da eletricidade para isso. Teriam, pelo menos, eles ainda não haviam chegado.

    "Quase tudo será melhor do que os velhos MANs que tivemos no S-35," disse Miller.

    Larry, é um ótimo projeto. Nada como aqueles de antes.

    Novo nem sempre é melhor, você sabe. E eu não acho que isso seja realmente novo. Bem, eu só acho que é um ótimo conceito. Um diesel de dupla ação que dispara em ambos os movimentos para cima e para baixo, para que você tenha potência aplicada, não importa em qual direção o pistão esteja se movendo. É um pouco como uma máquina a vapor recíproca, quando você pensa sobre isso. Você ganha o dobro do poder com o mesmo tamanho do pacote."

    Claro, mas eles já tentaram essas coisas e não funcionaram. Não sei por que eles escolheram nosso barco para experimentar. Teria sido tão fácil nos dar um bom conjunto de Wintons, como o resto deles.

    "Não, Larry, estes são diferentes. O projeto original era de oito cilindros e estes são nove, o que lhe dá a mesma potência que um projeto de 18 cilindros. E depois do primeiro lote, a fábrica descobriu que precisavam ser um pouco mais cuidadosos em seus métodos de produção. Eles estragaram o tratamento térmico nas engrenagens da primeira vez - fizeram com que elas fossem muito duras, então ficaram frágeis e tenderam a quebrar em uso. Está tudo reparado agora."

    É o seu departamento, Bill, disse Miller. Mas acho que ficaria feliz com algo que posso ter certeza de que é mais confiável. E você pode apostar que a tripulação vai incomodar na sua praça de máquinas quando precisarem manter um conjunto extra de ferramentas apenas para que possam trabalhar nesses motores.

    Morgan apenas deu de ombros.

    Então, eles são métricos - e daí? A última vez que verifiquei ainda era muito mais fácil contar até dez do que trabalhar com frações.

    Claro, mas tudo o mais no barco usa acessórios normais. Eu só acho que seria mais fácil se os motores o fizessem também.

    Morgan riu.

    Você se preocupa demais, Larry.

    Bem, do jeito que as coisas estão indo, eu espero que a gente esteja em guerra em breve. Quando isso acontece, a confiabilidade será muito mais útil do que a modernidade.

    Como eu disse, você se preocupa muito. Tenho certeza de que os motores ficarão bem, e teremos até um pouco mais de espaço para nos movimentarmos nas praças de máquinas. O projeto é mais compacto do que qualquer um dos outros.

    Miller sacudiu a cabeça e voltou a estudar o manual. Morgan tinha sido assim desde que o conheceu. Ele estava sempre procurando a última novidade, a mais nova inovação, e promovendo-a entusiasticamente para quem quisesse ouvir - pelo menos até explodir na cara dele, o que acontecia com frequência.

    Miller era mais cauteloso. Ele gostava de dar uma boa olhada nas coisas antes de decidir o que pensava sobre elas. Não era que ele duvidasse que os motores realmente funcionassem. Os alemães estavam usando uma versão maior em um cruzador leve, e ele não sabia que eles estavam tendo problemas específicos. Foi apenas que o primeiro lote de motores construídos sob licença, instalados em alguns barcos anteriores, tinham sido claramente inferiores aos designs mais convencionais, estabelecendo um recorde de falta de confiabilidade.

    É verdade, a empresa achou que eles tinham isolado e reparado o problema. Mau tratamento térmico das engrenagens, eles disseram. Era plausível, mas só porque eles achavam que tinham reparado isso não significa que eles realmente o fizeram. Se coubesse a Miller - o que obviamente não cabia - ele simplesmente teria decidido não empregar o motor novamente.

    Mas a Marinha decidiu instalar os novos motores com o novo projeto em um Gato[7] para ver como eles aguentariam no serviço e o Bacalao foi o barco afortunado.

    Se por algum acaso, Miller decidiu, houver algum problema com os novos motores, ele vai aparecer durante os testes iniciais do barco, antes de ser entregue à Marinha. A Electric Boat (EB) tinha sua própria equipe de testes para ensaios, liderada por um Capitão de Mar e Guerra da reserva e composta principalmente por sargentos da reserva com anos de experiência prática.

    Embora houvesse algo de interessante em ter a tripulação que acabaria fazendo o barco conduzir os testes, Miller teve que admitir que o conceito da EB fazia muito sentido. Exceto pelo comandante, que tinha sido imediato no Gar, todos os oficiais tinham a maior parte de sua experiência em S-Boats.

    Miller sabia tudo sobre esses velhos barcos - todos eles sabiam - e não havia nada como um Gato. A equipe de testes da Electric Boat estava completamente familiarizada com os barcos mais novos, o que os tornava muito mais bem equipados para lidar com uma emergência.

    Quando algo dá errado em um submarino, acontece muito rápido, e quando isso acontece, a tendência natural é recair no comportamento cuidadosamente treinado que foi transmitido em centenas de adestramentos. Esse era o propósito por trás dos adestramentos, para garantir que cada homem fizesse exatamente o que era necessário, sem ter que ter tempo para pensar sobre isso. Mover a alavanca errada em uma emergência pode facilmente ter exatamente o efeito oposto ao desejado. Aquela tinha sido uma teoria depois que o Squalus afundou durante um mergulho de teste, embora os membros da tripulação sobreviventes discordassem veementemente dessa ideia em particular.

    O pensamento era que, na pressa de mergulhar, o operador tinha movido a alavanca errada e em vez de abrir a válvula negativa do tanque de alagamento preparatória para esvaziar o tanque, tinha acidentalmente aberto a válvula mestra de admissão. Não havia dúvida de que a válvula se abrira de alguma forma, alagando a parte posterior do barco e, no processo, matando todos à ré do compartimento de controle.

    O operador de suspiros havia sobrevivido e insistiu que fizera exatamente o que deveria. E, além disso, o painel de imersão mostrou que a válvula mestra de admissão estava fechada o tempo todo - mesmo que o alagamento tenha deixado claro que o indicador estava errado.

    Apesar dos protestos da operadora, a Marinha decidiu tomar precauções. As alavancas de ventilação e de alagamento foram rearranjadas e as alças receberam formas distintas.

    A ideia era que agora seria impossível confundi-las, mesmo na escuridão total. Se a alavanca tinha um punho em forma de T, seria a válvula de fluxo negativo, e se ele tivesse uma pegada em forma de O, seria a válvula mestra de admissão. Um pino de travamento acionado por mola também foi adicionado à alavanca da válvula mestra de admissão, de modo que agora seriam necessárias duas mãos para movê-la.

    Mudanças também foram feitas na própria válvula mestra de admissão, pois outra teoria era que teria havido uma falha no projeto da válvula de Portsmouth que poderia indicar que ela estava fechada enquanto ainda estava aberta. Ao mesmo tempo, as válvulas mestras de admissão foram redesenhadas para que pudessem ser fechadas com muito menos esforço, e a Marinha impôs ordens estritas para isso. Os problemas do Squalus haviam sido agravados pelo projeto da válvula interna, que tornara impossível fechar a válvula na praça de máquinas antes que o compartimento estivesse completamente alagado.

    Morgan fechou seu caderno com um baque e girou em torno de sua cadeira.

    O que você soube da Claudia ultimamente, ele perguntou.

    Anos antes, nos tempos da Academia, Miller e Morgan haviam sido rivais da mesma garota. Morgan havia se formado um ano antes, o que deveria ter lhe dado uma vantagem - os aspirantes só podiam se casar depois de se formarem - mas isso não ajudou e Miller conseguiu a garota. Em retrospecto, Miller imaginou que Morgan havia vencido.

    Quando Miller se casou com Claudia na Capela da Academia seis semanas depois de se formar, já fazia algum tempo que percebera que não tinha sido a coisa mais inteligente que já fizera.

    Recebi uma carta dela há alguns dias, disse Miller. Ela tem mais quatro semanas em Reno e depois o divórcio sai. Ela diz que conheceu um vaqueiro chamado Ernie e está pensando seriamente em se casar com o cara quando estiver livre.

    Então, o que você acha disso, Larry?

    "Eu acho que é uma ótima ideia. Se ela se casar com o cowboy, não terei de sustentá-la pelo resto de sua vida inútil. Quem sabe? Ela pode até gostar de morar no pequeno rancho do cara."

    Você sempre poderia ter me deixado voltar com ela, você sabe.

    Miller riu.

    "Claro, e então eu poderia ser solidário com você enquanto ela infernizasse a sua vida. Não, Claudia não tinha nenhuma pretensão de casar com alguém que não estivesse em casa todas as noites.

    De qualquer forma, isso tudo me deixa feliz por ter tanta coisa acontecendo agora. Isso me mantém ocupado demais para pensar em toda essa bagunça.

    *     *     *

    Com o Bacalao ainda em construção, a Electric Boat forneceu à sua equipe um espaço para o escritório em um prédio de madeira perto dos pátios. Mesmo um barco incompleto ainda tinha uma equipe designada, e sempre havia muita papelada para manter todos ocupados.

    Os escritórios designados eram pequenos, mas ainda assim forneciam mais de cinco vezes a quantidade de espaço disponível de quando eles estavam a bordo. A mesa de Miller era quase tão grande quanto o escritório do navio inteiro. Naturalmente, a tripulação não chegou de uma só vez. Os oficiais estavam lá quase desde o começo, mas os outros foram chegando enquanto a construção avançava.

    Não havia muito sentido em preencher os alojamentos com pessoal de torpedos se não houvesse tubos de torpedo instalados ainda. Assim, os principais subalternos, que realmente comandariam os departamentos, chegaram cedo, mas o resto da tripulação permaneceu em seus antigos empregos, ou na escola, até que pudessem ser úteis.

    A essa altura, era abril de 1941, e não havia muito que fazer antes do barco ser lançado. Isso logo seria cumprido com a devida cerimônia, a tradicional garrafa de champanhe esmagada na proa pela madrinha - no caso do Bacalao, a filha de um Almirante - escolhida para batizar o barco, os discursos habituais, os flashes e o barco deslizando, descendo a rampa engraxada até o rio Tâmisa, com todas as bandeiras tremulando e a tripulação balançando precariamente no convés, enquanto tentava parecer adequadamente militar e não cair no rio ao mesmo tempo. Mas isso ainda estava no futuro. No momento, Miller estava sentado em uma mesa em seu escritório temporário, trabalhando em uma pilha de formulários de requisição.

    Olhando pela janela, ele não pôde deixar de pensar que seria um bom dia para uma longa caminhada pelo campo. Certamente seria melhor do que ficar preso atrás de uma mesa. O sol estava brilhando, com apenas algumas nuvens cumulus atravessando o céu azul.

    Na luz do sol, o Bacalao agora parecia um submarino adequado, com a superestrutura no lugar e a torre de comando concluída. Ele podia se imaginar naquele passadiço elevado, a embarcação pulsando sob seus pés enquanto ela navegava por um mar tropical.

    Enquanto Miller pensava sobre isso, o Sargento Eletricista Peter Harrigan, entrou no escritório carregando uma pasta de pessoal. Ele a colocou na mesa de Miller. Novo homem para o nosso departamento, Senhor, disse Harrigan. Miller olhou para a pasta. Estava rotulado, OHARA, KENNETH, EM1C.

    Bom, disse Miller. Podemos usar outro primeira classe. Ele olhou para a primeira folha da pasta e sorriu. Especialmente um que já está qualificado em barcos de frota.

    Quer conhecê-lo, Senhor?

    Naturalmente. Mande-o entrar.

    Eu acho que você vai achar o cara interessante, Senhor, disse o sargento, um sorriso travesso no rosto. Miller estava estudando o arquivo quando o novo homem entrou.

    Tudo parecia bem. Ohara era aquele achado raro que não só tinha frequentado, mas na verdade se formado na faculdade, ganhando um diploma em Literatura Espanhola da Universidade da Geórgia. Ele nasceu em Atlanta, seus pais declarados como Irving e Louise Ohara.

    O Eletricista 1ª Classe Kenneth Ohara, se apresentando Senhor, disse o novo homem, com uma voz que absolutamente cheirava a atmosfera graciosa do Velho Sul.

    Obviamente não é o que se esperava de um Nova Iorquino ou Irlandês de Boston.

    Miller não pôde deixar de pensar em E o Vento Levou, e o novo homem sendo um O'Hara de Atlanta.

    Já que ele estava olhando para o arquivo, a princípio, só conseguiu ver que o novo homem usava um uniforme azul, com golfinhos brancos bordados costurados na manga da jaqueta para confirmar a declaração no arquivo de que ele era um submarinista qualificado.

    Então, quando Miller finalmente olhou para cima, fez tudo o que podia para evitar que sua boca se abrisse. Ele com certeza estava certo que esse cara não era um típico irlandês. E, apesar da voz profunda e ressonante e do rico sotaque sulista, ele também não se encaixaria muito bem com Gable e sua turma em Tara. O homem de pé em frente à sua mesa, usando um uniforme azul bem passado, tinha 32 anos de idade, pouco mais de seis pés de altura, e pesava entre 190 e 200 libras. Seu cabelo preto estava um pouco mais curto do que o exigido pelos regulamentos. Sua voz era profunda e bem modulada e muito obviamente sulista. Ele também era, obviamente, japonês.

    O'Hara?

    O homem sorriu. "Bem, Senhor, é assim que eu pronuncio. Suponho que meu bisavô tenha dito isso de maneira diferente, mas ninguém da minha família se lembra de como, e nenhum de nós entende nada de japonês, então apenas concordamos com os vizinhos.

    Não são recém-chegados, não é mesmo? O único outro japonês que Miller conhecia na Marinha era filho de imigrantes, um tenente designado para a Inteligência por causa de suas habilidades linguísticas.

    Não, Senhor. Meu bisavô chegou à Califórnia em 1864. Minha família vive em Atlanta desde o início dos anos 90.

    Ele franziu o cenho levemente.

    "Chegamos aqui há muito tempo antes do 'acordo de cavalheiros', percebe." Esse foi um acordo não escrito, mas mutuamente aplicado, entre o governo americano e japonês. Restringiu a imigração japonesa aos territórios - principalmente ao Havaí - não permitindo acesso direto ao continente. O resultado foi que muitos japoneses do continente, particularmente aqueles que moravam no centro-oeste e no leste, eram como Ohara, com pouco ou nenhum conhecimento da língua ou cultura japonesa depois de várias gerações falando apenas inglês.

    Você tem diploma em espanhol?

    Sim, Senhor.

    Então, como você acabou como praça?

    Eu fiz o secundário como técnico elétricista, Senhor. Parecia a coisa lógica a fazer - meu pai e seu sócio fazem peças eletrônicas - e ele queria que eu me juntasse a eles no negócio.

    Por que você não foi?

    Ohara deu de ombros. Eu queria entrar em uma pequena aventura primeiro, Senhor, disse ele. A Marinha parecia uma boa maneira de fazer isso. Acabou que gostei, então decidi fazer uma carreira.

    Ele sorriu.

    Ainda pode acontecer, claro, Senhor. Quando eu estiver pronto para me aposentar depois de 30 anos, meu pai certamente estará pronto para fazer a mesma coisa, então eu ainda posso entrar no negócio. Então, novamente, posso me aposentar depois de 20 anos, voltar para a escola para uma pós-graduação e tentar ensinar.

    Miller olhou para o arquivo. Ohara se juntou à Marinha depois de terminar a faculdade em 1931, então ele estava na Marinha há 10 anos. Ele se tornou Primeira Classe em quatro anos, e lá ficou nos últimos seis anos.

    Só por curiosidade, disse Miller, por que você não solicitou ser comissionado da Reserva? Você não vê muitos praças com diplomas.

    Ohara sacudiu a cabeça.

    "A Marinha não parecia interessada, Senhor. Agora, se eu tivesse feito uma faculdade de Engenharia Elétrica, talvez, ou se eu pudesse realmente falar japonês. Havia interesse em linguistas japoneses, porque não há muitos deles, mas provavelmente metade do corpo de oficiais fez espanhol no ensino médio. Enfim, estou muito feliz

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1