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Individualidade Biológica Em Perspectiva Filosófica: Anotações De Um Velho Estudante
Individualidade Biológica Em Perspectiva Filosófica: Anotações De Um Velho Estudante
Individualidade Biológica Em Perspectiva Filosófica: Anotações De Um Velho Estudante
Ebook339 pages4 hours

Individualidade Biológica Em Perspectiva Filosófica: Anotações De Um Velho Estudante

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About this ebook

Human reality, they taught me, is built by perception and its processing. We perceive individuals. Living individuality seems simple. Understanding it proved to be very difficult.

This study tries to discover what figure appears when scientific biological individuality is projected in the secular and modern perspective of the paradoxical - philosophic theories of the one and the multiple. It became: not absoulte, intensely relative and holistic: perhaps a better model for human individuals and social wellbeing.

LanguageEnglish
Release dateJan 22, 2007
ISBN9781466957985
Individualidade Biológica Em Perspectiva Filosófica: Anotações De Um Velho Estudante
Author

Karel van den Bergen

The author is an old student. Born in 1919 in Roosendaal, Netherlands, where he studied from 1923 up till 1946, learning a lot of languages, literature, sciences, music and philosophy. Hoping to contribute in a developing country with the knowledge he received in Holland, he worked in Brazil in schools and community radio programs and offered free courses. In the sixties he took a medical course in the Federal Rio University where he later became a lecturer for Genetics. In the seventies he was the first to complete a master degree in philosophy at the Rio Gama Filho University. During those years he was called to lecture as a philosophy professor at the Federal University of Vitoria Espirito Santo State, where he stayed till his obligate retirement at his seventieth year. At the same time he was called as a lecturer for Histology, Citology and Genetics at the Medical School of Vitoria EMESCAM, where he worked for almost ten years. He participated as philosophical assistant in the postgraduate studies of Freudian Psychoanalysis and in a master course for Psychoanalysts in later years he was member and speaker for scientific and social congresses in the whole country and was a cofounder of the symphonic orchestra of the state and of a chamber orchestra of the University. In the eighties he did a doctoral course in Philosophy at the Federal Rio University and a free postgraduate course in Philosophy of Biology at the Leiden University in Holland. The more than eighty years of study naturally provoked fundamental changes in his views but what remained unchanged is a permanent curiosity and a grateful happiness to share humbly in some flashes of light illuminating human knowledge. Therefore he continues to be an old student.

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    Individualidade Biológica Em Perspectiva Filosófica - Karel van den Bergen

    Copyright 2006 Karel van den Bergen

    All rights reserved. No part of this publication may be reproduced, stored in a retrieval system, or transmitted, in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopying, recording, or otherwise, without the written prior permission of the author.

    Note for Librarians: A cataloguing record for this book is available from Library and Archives Canada at www.collectionscanada.ca/amicus/index-e.html

    ISBN 1-4120-7951-9

    ISBN 978-1-4669-5798-5 (ebook)

    missing image file

    Offices in Canada, USA, Ireland and UK

    Book sales for North America and international:

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    Victoria, BC V8T 4P4 CANADA

    phone 250 383 6864 (toll-free 1 888 232 4444)

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    10 9 8 7 6 5 4 3 2 1

    SUMARIO

    PREFÁCIO

    1 A QUESTÄO-EN QUAESTIO.

    2. O UNO E O MÚLTIPLO

    3 INDIVIDUALIDADE BIOLÓGICA NO CONTEXTO: ‘UNO-MÚLTIPLO’

    4. ASPÉCTOS EPISTÊMICOS DAS PERSPECTIVAS EM TEORIAS RECENTES

    EPILOGO

    BIBLIOGRAFIA

    Para todos os que me ensinaram

    e todos a quem tentei ensinar !

    … spreekt het al een taal wat leeft…

    Guido Gezelle

    -fala uma linguagem tudo que vive-

    PREFÁCIO

    As sete palavras que acompanham, rubricando, as folhas deste trabalho, nao foram invençoes de um filósofo ou de um biólogo. Guido Gezelle era um poeta flamengo. Cantou a música da vida em sílabas e ritmos que nós, biólogos-filósofos, nunca descobrimos. Meio século após ter encantado os anos juvenis do autor destas páginas, a cadência da língua materna comum, fornece os apoios para os arcos de frases que procuram abraçar terras distantes, várias décadas e numerosos campos de estudo. Ao mesmo tempo, tornam-se sinais de ligaçao e reconhecimento à terra e cultura que fez emergir a realidade nas imagens, nos sons e símbolos de sua linguagem, sinais também de disposiçao total, para dar e receber, como numa recombinaçao genética, a fim de assistir, admirado, ao nascimento de algo novo por mais humilde que seja-marca da vida numa nova língua.

    As quatro palavras principais, dois substantivos e dois adjetivos, constituindo o título, demarcam o domínio, determinam o ángulo de visao e, em conseqüéncia, indicam o método. Menos numerosas, menos amplas e talvez, menos ricas, sao representantes de níveis onde predominam condensaçao, concentraçao e, às vezes, nitidez como metas e valores. A formaçao do termo central, individualidade, do substantivo individualitas, traduz na sua desinência a transiçao rumo ao abstrato, e ao conceitual. O adjetivo biológica de um lado sugere a existência ou, ao menos, a possibilidade de outras espécies de individualidade; de outro lado, registra a decisao de, embora tratando do vivo, focalizar o fenómeno tal como se nos apresenta através de conquistas da ciência da biologia. Nao é, porém, um ensaio de ciência biológica que se pretende apresentar. A segunda metade do título nao deixa dúvida: o ponto de vista é filosófico.

    A soma dos termos que, em conjunto, se oferecem como guias para a área de investigaçao, reflete a natureza nâo-homogênea do estudo. Os pontos relevantes situam-se nas interfaces entre biologia e filosofia; os elementos da linguagem usados tem suas raízes em vários terrenos do saber; os conceitos pertencem de modos diferenciados a tempos diferentes, aumentando sua riqueza de conotaçoes, mas diminuindo consideravelmente sua operacionalidade e transparência imediatas. A característica de nao-homogeneidade do tema, implicada no título, situa nossa perspectiva de totalidade na atmosfera apropriada: a da matéria viva; e aponta para um dos núcleos centrais de toda a problemática considerada.

    O conjunto do trabalho, além da característica indicada, possui uma propriedade simbolizada pelas reticências: começa num ponto qualquer no meio caminho. Da mesma maneira que nossas pessoas físicas formam minúsculos elos da história biológica, que se iniciou muito antes de nós e que nos fez, assim também nossa atividade intelectual insere-se numa multissecular ondulaçao de observaçao e reflexao, dando, na forma de maiores ou menores variaçoes, sua contribuiçao de devida originalidade. Nesse sentido, portanto, de acordo com a expressao do professor Quine1 quanto à inevitabilidade de iniciar a meio caminho, de acordo igualmente com a fórmula do professor Luypen2 que acentua para o filósofo a necessária inserçao numa história do pensar nao pessoal, conscientemente e com gratidao, este trabalho se coloca numa seqüéncia de pensamentos e pesquisas com a humilde mas firme confiança de contribuir com alguns elementos originais à fecundidade dos esforços de reflexao neste terreno.

    Um aspecto peculiar dessa solidariedade ampla a reflexoes anteriores constitui o fato de que boa parte dos impulsos iniciais para estas páginas encontra-se em estudos de alguns grupos de pensadores-cientistas holandeses, pouco conhecidos entre nós, mas nem por isso menos valiosos. Mais tentadora tornou-se, com isso, a tentativa de fazer florescer, na Universidade do Rio de Janeiro no seu primeiro estágio e na Universidade Federal do Espirito Santo depois, sementes que brotaram no solo das antigas e ainda fecundas universidades de Utrecht (Buytendyk3 e van Melsen4), de Nijmegen (van Melsen) e de Leiden onde M. Jeuken 5 exerceu a primeira docência oficial contemporánea em Biologia filosófica. É necessàrio atentar para o termo impulsos iniciais. O contexto total do conjunto de consideraçoes aqui apresentadas é, na verdade, bem mais amplo, basta mencionar as confrontaçoes com as idéias de Edgar Morin6, recentemente publicadas e em vias de publicaçao, e de E. Elsasser7 contidas em diversos livros recentes. Analisando mais de perto estes impulsos iniciais, recuamos para os momentos em que a firme orientaçao do professor Alípio Bruno Lobo, do Rio de Janeiro, desvendou-nos o mundo da célula à luz do microscópio; o questionamento filosófico que confiávamos, quase envergonhados, ao eminente cientista brasileiro, nele provocou uma espécie de sorriso perplexo, bem como as consideraçoes que lhe fizemos sobre as cavidades do embriao por ocasiao do Curso de Embriologia por ele ministrado. O professor Fernando Ubatuba, com certeza, nao se lembra mais das nossas trocas de idéias em torno da molécula de proteína, nem o professor Ernest Cohn das nossas mais amplas excursoes no mundo misterioso dos microorganismos ou o professor A van Ryen das longas investidas, juvenis e corajosas, nas florestas dos pensamentos humanos8. Nao há dúvida, porém, que todos eles estao presentes nestas folhas e que o uso espontáneo, em muitos trechos da redaçao, da primeira pessoa do plural traduz, nao um majestático do singular, mas um solidário, grato e feliz, de quem foi honrado e beneficiado com a comunhao de idéias de tantos.

    Uma interpretaçao mais diferenciada das reticências como sinais de inserçao, de complementaridade e de consciência de relatividade, evoca duas imagens que representam, cada qual, um aspecto do espírito modesto com que este trabalho procura situar-se no contexto filosófico e, ao mesmo tempo, a convicçao do valor com que, apesar de sua precariedade, qualquer contribuiçao neste terreno se reveste. A primeira é a figura do pesquisador perplexo à procura do assunto certo, do biólogo William Beck9; a segunda, a da substituiçao de tábuas de um barco em pleno mar proposta por Otto Neurath10. Denominada por Beck de fábula científica, esta pequena história retrata a ansiedade por segurança e certeza, que percorre os pensamentos humanos há muitos séculos e que, embora possa ter sido um fio de ouro em alguns períodos, em muitos casos, demonstrou ser, como no caso do biólogo, um fio de alta tensao, causando explosoes. Era uma vez um jovem muito sério, diz a fábula, decidido a conhecer o segredo da vida. Estudou em muitas universidades, nao acreditou nas pesquisas de outros e resolveu iniciar tudo por conta própria, garantindo cada passo de cada pesquisa com absoluta certeza. Gastou anos para determinar qual o organismo que deveria ser usado, qual o método, quais os instrumentos até que ele, já envelhecido, na noite de uma experiência crucial, por um ligeiro descuido com a complicada instalaçao, provocou uma explosao que fez voar pelos ares a pesquisa, o pesquisador, o laboratório e o sonho. Menos dramática e mais estimulante, a imagem de Neurath simboliza nossos trabalhos intelectuais, científicos e filosóficos, como a paciente substituiçao de partes do casco de um navio em pleno mar, a viagem continua ou, como Quine diz: a massa fica flutuante"; sem considerar os reparos como definitivos ou eternos, acreditamos no seu valor e, nao raramente, na sua necessidade. Pois, foi para evitar uma repetiçao da primeira história que a escolha do assunto deste trabalho foi feita por uma decisao consciente das lacunas presentes, caso a fundamentaçao pretendesse ser exaustiva; o espírito e o método em que a tarefa foi executada procuram imitar o otimismo básico e a confiança na utilidade do trabalho, à maneira do exemplo do barco de Neurath.

    A exposiçao progressiva das idéias propostas segue as seguintes etapas gerais: uma pequena introduçao situa a questao principal segundo os modos em que é abordada e demonstra a oportunidade de seu estudo. Uma primeira parte esboça, por meio de esquemas filosóficos, um quadro referencial, baseado na análise estrutural da problemática do uno e do múltiplo. Uma segunda parte coloca nossos conhecimentos sobre o tema da individualidade biológica, a partir de algumas características amplamente aceitas, em contato com os elementos destacados do quadro descrito anteriormente. Uma terceira parte examina reflexos da imagem assim obtida na situaçao epistemológica da Biologia. Uma breve conclusao procura pistas promissoras para o empreendimento da teorizaçao no domínio do ser vivo.

    Este trabalho tem por intençao ser um estudo filosófico com alguns aspectos que costumam ser denominados de especializados. Sua índole, portanto, nao é nem didática nem de divulgaçao geral. A forma de apresentaçao reflete este caráter de diversas maneiras. Há uma série de pressupostos gerais nao explicitados nem explicados; termos de uso normal em Filosofia ou Biologia nao foram separadamente definidos; as notas, contendo textos de apoio, elucidaçoes especiais, loci de referência e bibliografia, que pretende dar a eventual estudioso oportunidade de verificaçao mais fácil ou de referência para ulteriores investigaçoes, serao numeradas em simples seqûência. Embora a leitura, realizada na pesquisa, tenha sido feita em várias línguas, só conservamos termos no idioma original, quando a precisao e a clareza assim o exigiam e, neste caso, foram assinalados graficamente nas notas. Os textos, contudo, continuaram, em geral, na língua em que foram encontrados, sendo que os em holandês sao acompanhados de traduçao ou explicaçao, uma vez que nao se pode supor que a maioria dos leitores tenha conhecimento desta bela, porém estranha língua.

    Será supérfluo lembrar que esta investigaçao nao pretende defender ou testar as linhas filosóficas ou biológicas descritas ou apresentá-las como as únicas possíveis. Foram escolhidas seguindo indicaçoes naturais do assunto em estudo, pistas apontadas por trabalhos anteriores e determinado feeling esperançoso, nascido durante longos anos de familiar contato com a Filosofia e a Biologia.

    As três letras que acompanham o titulo geral do trabalho, como uma espécie de ícone, sem dúvida, lembram a expressao usada pelos romanos para, elegantemente, demonstrar seu agrado pela presença da pessoa saudada na vida social do momento. Em nosso contexto, certamente, procura demonstrar a satisfaçao do idoso estudante de ter encontrado um colega, provavelmente mais jovem, disposto a tomar conhecimento das anotaçoes feitas durante longos anos na tentativa de compreender mais um pouco a estrutura da nossa visao do fenómeno da vida. Mas o motivo para a escolha da palavra, de um lado, era mais simples e casual. Os rascunhos que acompanhavam os estudos durante anos eram reunidos em mapas com o nome de anotaçoes que, com a chegada do computador, se transformaram em arquivos (um arquivo, diziam meus professores de informática, sempre precisa de um nome!). Pois, o nome AVE, usado como abreviaçao, parecia adequado para figurar nao como indicador do conteúdo específico, mas sim, do espírito em que o trabalho pretendia ser executado. Durante o período de mais de meio século em que o velho estudante que publica estas anotaçoes foi chamado de professor, ele notou que os estudantes sempre viviam na ilusao de que a situaçao do professor era mais favorável que a dos estudantes. Eles principalmente sao dirigidos para esta visao pela atmosfera incómoda de pressao e de exigências exageradas que pouco a pouco abafaram a respiraçao da aprendizagem e sufocaram o sentimento humano profundo da delícia de progredir aos poucos na compreensao das coisas e do mundo. Neste ponto estou de acordo com meus colegas estudantes e homenageio os professores que me ensinaram línguas lendo poesias e romances (que continuo fazendo em muitas línguas, até hoje). Mas quanto à vantagem em relaçao à ciência ou ao saber, hoje, penso que o estudante está numa situaçao melhor. Eis a razao por que, há alguns anos, escolhi a sigla AVE (Anotaçoes de um Velho Estudante), para minhas anotaçoes. O estudante tem o direito de nao saber e ainda de reconhecer publicamente esta ignorància. Cria a impressao que é possível movimentar-se com maior independência de linhas de pensar firmemente estabelecidas e de modos dominantes de visar a realidade. O estudante nao tem as obrigaçoes de evitar determinados avanços capazes de ameaçar seu status. Um eventual engano tranquilamente entra no percurso da aprendizagem sem causar maior dificuldade. O ambiente do estudo parece mais livre e com maior possibilidades de abertura criativa.

    Por isso, este trabalho pretende ser apenas um relatório de um estudo e desta maneira possivelmente um impulso para outros estudantes de desdobrar seus pensamentos livres e criativos sobre os assuntos mencionados.

    NOTAS E BIBLIOGRAFIA.

    1.   No primeiro capítulo de "Word and Object’ prof. Quine compara nosso trabalho com a substituiçao de tábuas no casco de um barco em pleno mar, imagem tomado de empréstimo de uma expressao de Otto Neurath.

    2.   Professor Dr. W. Luipen, na sua nova ediçao de Existentiele Fenomenologie de 1969 com o titulo "Nieuwe Inleiding tot de Existentiele Fenomenologie" (Nova Introduçâo à Fenomenologia Existencial), tratando da autenticidade do filosofar, diz "Como filósofo sou uma pessoa, um eu, e meu filosofar somente é autêntico quando é meu filosofar. Mas toda pessoa é inserida numa historia que nao é pessoal, que nao foi ele quem fez. Nao há como modificar este fato da inserçao. Nunca posso começar como num ponto zero com meu pensar, porque já se pensou antes e naquele pensar estou inserido". p21.

    3.   Professor F.J.J. Buytendijk durante muitos anos, foi diretor e figura central de um grupo de pesquisadores da Universidade de Utrecht, que publicou abundantemente nas áreas de biologia, filosofia e psicologia. O livro que escreveu em 1958 a pedido da editora a1ema Rowohlt Mensch und Tier foi traduzido para o francês, italiano, espanhol, japonês e para o português. Usada a traduçao holandesa, de 1972.

    4.   Professor Dr. A.G.M. van Melsen, nascido em 1912 na Holanda, estudou Química na Universidade Real de Utrecht, onde se doutorou na mesma e lecionou. Em 1946 passou a lecionar Filosofia na Universidade de Nijmegen e como docente extraordinário na Universidade de Groningen. Entre muitas outras publicaçoes, escreveu os livros: O passado filosófico da teoria atòmica; Ciência Natural e Filosofia(1946); De atomos a atomo (1949) com traduçoes em inglês, italiano, espanhol e alemao; Filosofia Natural (1955) com traduçoes em inglês, italiano e polonês.

    5.   Professor Dr. M. Jeuken era titular de Biologia Filosófica na Universidade de Leiden. Elaborou diversos tópicos da relaçao entre Filosofia e Biologia. Entre outros assuntos estudou diversas posiçoes filosóficas que colocam a evoluçao no centro (Spencer, Julian Huxley, Theilhard de Chardin). Em 1979 publicou: Materie, leven, geest (Matéria, vida, espírito) que traz como subtítulo: uma biologia filosófica). Muitas publicaçoes apareceram nas revistas Acta Biotheoretica, Metamedica, Wijsgerig perspectief etc.

    6.   Edgar Morin é diretor do Centro Nacional da Pesquisa Científica e co-diretor do Centro de Estudos Transdisciplinares de Paris; presidente do Conselho Científico do Centro Royaumont para uma Ciência do Homem. Iniciou a publicaçao de cinco volumes intitulada La Methode. O segundo volume é chamado: La vie de la Vie. Ele denomina os livros como uma viagem na interface da ciência e da filosofia, procurando a interfecundaçao de uma pela outra.

    7.   Walter M. Elzasser é um físico da Universidade de Maryland, que, já há bastante tempo, se interessou especialmente pelo lado teórico da biologia e publicou entre outras obras The Physical Foundation of Biology em 1958; Atom and organism em 1966 e The Chief abstractions of Bíology em 1975.

    8.   Professor Alípio Bruno Lobo na ocasiao era titular de Embriología e Histologia das UFRJ e UFRRJ; professor Fernando Ubatuba, titular de Bioquímica na UFRRJ e pesquisador em Manguinhos; professor Ernest Cohn, professor de Microbiologia na UFRRJ; Professor A. van Ryen, professor de Filosofia e Teologia na Universidade de Tilburg, na Holanda.

    9.   William S. Beck, estudou medicina, lecionou na Medical School em Los Angeles, research assistent do Atomic Energy Project. Publicou em 1957 Modern Science and the nature of Lífe. Usada a traduçao holandesa de 1963.

    10.   Citado em Quine, Word and object.

    1 A QUESTÄO-EN QUAESTIO.

    1.1 Quaeritur.

    Uma primeira aproximaçao, a título de reconhecimento do território1, encontra no termo questao um indicador descritivo suficientemente adequado à índole do trabalho. O tema, em versoes diferenciadas, na verdade, foi cunhado desta maneira desde tempos bastante remotos por filósofos renomados e venerados. Referindo-se à individualidade em geral, à substáncia individual ou ainda ao principium individuationis, Agostinho fala de magna quaestio, Boaventura de "quaestio celeberrima, vexata," Soares de implicatissima e Leibniz de spinozissima. Embora confortante, nao foi este enraizamento histórico-lingüístico o motivo da escolha da palavra. Foi sua aptidao para expressar o espírito em que todos os estudos foram feitos e, consequentemente, a atitude que mantivemos durante nossas atividades.

    O verbo quaerere, base do termo questao, indica o processo que tenta inventar e acionar todos os subsídios, a fim de estabelecer uma presença considerada indispensável para o promotor da açao. Procuramos o que nao está conosco ainda, com maior ou menor empenho, conforme o grau de necessidade ou de utilidade que atribuímos ao procurado. Nao é a ausência por si nem o desejo de eliminá-la pela presença que constituem a procura. A atividade que envolve estes fatores constitui, de fato, o núcleo de significaçao do termo ‘questao’. Seu domínio está no campo de tensao entre a presença e a ausência. Quem nao experimentou a ausência, ainda nao procura; quem encontrou a presença, nao procura mais.

    O uso normal do termo é transitivo. Procuramos algo. Um desdobramento das atualizaçoes e de suas modalidades revela uma considerável riqueza de variaçoes contida nesta palavra geral. A simples procura de um objeto físico ou pessoa determinada implica o conhecimento particularizado deles: meu irmao, minha casa ou até minha caneta. Como conhecido, o procurado já está presente; a procura se dirige para outra modalidade de presença. Mas é possível que o conhecimento se mantenha no plano geral: procuro uma casa, uma caneta ou até um irmao que nunca vi. O movimento se realiza, por assim dizer, em círculos mais abrangentes, desdobra-se num leque mais aberto. Nao é a casa ‘em geral’, ou o irmao ‘em geral’ o alvo da minha atividade, mas os limites do seu campo de açao sao estabelecidos pela generalidade dos conceitos. O conceito, porém, ainda é suposto como cognoscitivamente presente e esta procura ainda é semelhante a uma justaposiçao de fatores que facultam a avaliaçao de coincidências e discrepàncias. Uma tentativa de ampliar mais o ‘algo procurado’ conduz à pergunta: até que nível a generalizaçao pode progredir sem que o termo ‘quaerere’ perca seu sentido? Levando esta extensao até o extremo em que nao houvesse nenhum conhecimento-nem de minha casa, nem de uma casa, nem de casa, nem de conceito, parece que o termo perde sua última capacidade de significaçao. A ausência de um lado e do outro anularia o campo de tensao indispensável para a açao denominada: procurar.

    O verbo quaerere nao se deixa, porém, enquadrar com tanta facilidade em marcos limitantes tao rígidos. Uma expressao como procuro compreender é usada sem perda de sentido do verbo procurar, embora o objeto específico que acima indicamos com algo, neste caso, se refira ao estado psíquico ou mental em vez de ao elemento material e este próprio estado seja afirmado como nao-efetivado. Em determinado aspeto, esta forma de uso do verbo acentua o significado próprio, já que o segundo verbo como que penetra no primeiro e, mantendo a afirmaçao da ausência, mesmo assim, fornece uma estrutura específica da atividade indicada; ao mesmo tempo, esta maneira de usar o termo demonstra sua capacidade de expressao de uma atividade que mantém suas especificaçoes francamente em aberto.

    Quando encontramos no termo ‘questao’ elementos equipados para descrever adequadamente a atitude de procura, de busca, que marca nossa atividade, um uso posterior, que concatenou ao verbo quaerere a forma quaestiono, ainda ilumina um aspeto que já aponta na direçao da estruturaçao do método para o trabalho. Os historiadores da língua latina nos ensinam que a variaçao questionare encontra suas raízes em solos jurídicos, possivelmente, eclesiásticos; experimentamos um deslocamento da esfera de procura ampla e descomprometida para uma outra em que a investigaçao nao apenas concentra sua focalizaçao, mas também a dirige contra resistências, nao somente avança abrindo-se para qualquer fenómeno novo, mas, ao mesmo tempo, exige legitimaçao.

    Deste modo, a imagem do investigador torna-se semelhante, nao apenas a um turista ou descobridor, mas também fiscal, repórter, detetive e até juiz. A preferencia pelo termo escolhido prende-se mais ao fato de seu estreito parentesco com áreas lingüísticas. Interrogar e argumentar sao atividades típicas e eminentemente evoluídas neste domínio. A presença, meta da procura, encontra-se neste universo num estado de contínua construçao; no ritmo do vai e vem dos símbolos, conserva-se o campo de tensao anteriormente assinalado como indispensável para a integridade da açao focalizada. Nao é a funçao de indicar ou apontar, face decisória da linguagem, que entra em primeiro plano; é o impulso da interrogaçao que domina o processo e nao permite o ponto final. ‘Questao’ como ‘procura’ e ‘questionamento’ como ‘interrogaçao’ assim se encontram alinhados: como nao se procura o que já está presente, assim também nao se interroga o que é claro e evidente; ao conhecido nao pergunto seu nome.

    Tomada neste sentido mais abrangente, a palavra ‘questao’ parece adequada para descrever e demarcar a atitude que caracteriza nossa investigaçao. Embora consciente de que o campo de tensao se mantém principalmente no domínio da linguagem, nao conseguimos considerar nossa tarefa como limitada a uma análise ou elucidaçao de termos. A procura dirige-se para um fenómeno percebido como nao diretamente evidente, ela toma a forma de uma interrogaçao e, por isso, exibe características iguais ou similares ao modo de linguagem indicado por este nome. Nao parece necessário discordar da tese de Witte2, formulada no título de seu livro, que o homem é prisioneiro de sua própria linguagem, para sustentar que o domínio desta prisao é tao amplo quanto o universo humano e deixa espaço para um exercício de relativa liberdade do tipo de uma dor surda, um olhar eloqüente, um êxtase indizível, uma cançao sem palavras de uma sonata de Mozart e até um thaumazein parado e silencioso, frente à nao-evidência de uma realidade que se faz presente3. A opçao pela descriçao da atitude deste trabalho, como um procurar por interrogaçao, harmoniza a presente pesquisa com a característica de empreendimento filosófico antigo, atitude naturalmente sensível à importáncia fundamental do elemento lingüístico-sem considerar o problema linguagem-pensamento como solucionado-, como abertura incondicionada e livre de aproximaçao dos fenómenos, nao como puzzles que devem desaparecer por soluçao verbal ou matemática, nao como ‘problemas’ que devem receber um tratamento prático e assim se dissolver, mas antes, como um tipo daquilo que os ingleses chamam de quandaries4, uma espécie de situaçao de embaraço e estranheza provocada por um fenómeno. Neste caso, a procura questionante nao elimina o fenómeno, mas alivia a tensao da presença do elemento estranho mediante um espaço próprio num horizonte de compreensao determinado.

    1.2 Quid Quaeritur?

    Uma interpretaçao apressada e superficial do título de nosso trabalho pode causar a impressao de que tratamos de duas entidades já estabelecidas, delineadas, nítidas. A execuçao do trabalho, neste caso, ou consistiria no encaixar, quase-mecànico, de elementos ou consistiria na busca de soluçao quase-matemática, de dados de uma equaçao. Tal interpretaçao nao leva em conta a ausência dos artigos definidos junto aos substantivos que intitulam o empreendimento. Nem a individualidade, nem a perspectiva pretendem, de início, ter um caráter acabado, claro ou único, pois como Elsasser acentua no segundo capítulo de seu livro The chief abstractions of biology, há uma inadequaçao da linguagem em relaçao ao termo individualidade, pois ela dispoe de uma só palavra enquanto seria possível e conveniente usar uma dúzia5. A procura precisamente corresponde à resposta da questao: que elementos o fenómeno da individualidade biológica observada há de oferecer à

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