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Guerra no Centro da Terra: Ameaça Alienígena - Livro 3
Guerra no Centro da Terra: Ameaça Alienígena - Livro 3
Guerra no Centro da Terra: Ameaça Alienígena - Livro 3
Ebook344 pages4 hours

Guerra no Centro da Terra: Ameaça Alienígena - Livro 3

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About this ebook

Os dois lados já contavam seus mortos.
Destruição e dor se espalhavam pelas duas nações.
John McBrian se vê no meio desse conflito de gigantes. Mas uma sombra ainda mais ameaçadora ronda o Planeta Azul.
Sim, uma mente diabólica tinha um plano tenebroso.
John descobriu que as raiz do grande mau movimentava-se a quatro anos luz de distância.
Será que aquele cristal seria a solução?

LanguagePortuguês
PublisherMarkus Thayer
Release dateNov 21, 2018
ISBN9780463979273
Guerra no Centro da Terra: Ameaça Alienígena - Livro 3
Author

Markus Thayer

Markus Thayer é formado em Ciência da Computação e MBA em Controladoria. Sendo entusiasta por física teórica e mecânica quântica, dedica parte de seu tempo no estudo dessas ciências. Como o tempo é elástico, M. Thayer separa uma parte dele para cinema, música, leitura e outras grandes paixões, como escrever histórias de ficção e criar programas para computador. O Tempo é um papel em branco que pintamos com nossas melhores cores; é um presente para sentir-se bem e exercitar a felicidade.

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    Guerra no Centro da Terra - Markus Thayer

    Markus Thayer

    Guerra no Centro da Terra

    Ameaça alienígena

    Livro 3

    2ª edição

    São Paulo

    2019

    Agradeço a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, ajudaram a tornar esta obra uma realidade. Em especial a Marcia Denleschi e a Camila Denleschi que me ajudaram durante todo o processo.

    Dedico esta obra à minha esposa, Marcia, e à minha filha, Camila, que estão comigo em todos os momentos, iluminando os meus caminhos e enchendo a vida de sublimado amor.

    Contents

    CAPÍTULO 1 Guerra

    CAPÍTULO 2 Um warnnene na Terra

    CAPÍTULO 3 Queda do Imperador

    CAPÍTULO 4 O novo Imperador

    CAPÍTULO 5 O túnel

    CAPÍTULO 6 Surge o Cavaleiro de Fogo

    CAPÍTULO 7 Ataque à Terra

    CAPÍTULO 8 O roubo

    CAPÍTULO 9 Ameaça fatal

    CAPÍTULO 10 Luta pela vida

    CAPÍTULO 11 Epílogo

    Pacote Completo

    Sobre o Autor

    News Letter

    Copyright

    Copyright © 2019 Markus Thayer

    Capa: Camila Denleschi

    Todos os direitos reservados ao autor.

    Esta é uma história de ficção e fantasia. Todos os personagens, nomes, empresas, entidades são imaginários ou usados de forma ficcional. Assim, qualquer semelhança com pessoas, empresas ou entidades, são mera coincidência.

    A obra contém erros propositais de grafia, palavrões, xingamentos e palavras de baixo nível.

    CAPÍTULO 1

    Guerra

    Um transleve entrou no terraço norte a grande velocidade. Parou fazendo uso do neutralizador de inércia. Briéla saltou do veículo antes que esse parasse por completo.

    Caiu correndo em direção à sala de administração.

    Ela não se anunciou. Avançou na direção da porta de luz, que se dissolveu antes de sua passagem.

    O conselho já a esperava.

    PYthía se levantou.

    — Briéla, como estão as coisas?

    — Eles explodiram uma de nossas usinas de matéria escura. Vários cálices perderam flutuação.

    Briéla puxou o ar.

    — Estamos tentando encontrar pistas que apontem os responsáveis. A guerra chegou até Atlântida. Não vamos continuar na defensiva. Dei ordem para Layra abrir fogo.

    PYthía acompanhava o relato com atenção.

    — Sim, precisamos saber quem fez isso.

    Briéla ia falar mais alguma coisa, mas foi interrompida pela porta de luz que se abriu. Devagar, e com um leve sorriso no rosto, Zranide entrou na sala. As mulheres do Conselho se levantaram.

    PYthía ficou dividida entre sua filha e sua trisavó.

    Briéla tomou a dianteira.

    — Zra, onde você tava? Sabe alguma coisa do inglês? Ele tá envolvido nessa explosão? Ou na explosão em Lemúria? Onde tá aquele bosta?

    A anciã olhou para Briéla.

    — Respire, minha filha, respire. — Seus olhos viajaram entre os presentes. — Vamos lá, sentem-se. Tenho novidades.

    PYthía foi a primeira a sentar-se, seguida pelas outras mulheres membros do Conselho.

    Briéla, agitada, permaneceu em pé.

    Zranide caminhou até sua poltrona e se ajeitou. Todos os olhos permaneciam pregados nela.

    — Ai, estou um pouco cansada.

    — Vamos, bisa, — falou Brathía, — precisamos tomar decisões, conte logo tudo o que sabe.

    Seu rosto calmo não se alterou.

    — Primeiro, — disse olhando para Briéla, — a explosão em Lemúria não tem nada a ver com John.

    — Como sabe disso, mãe? — Perguntou TYríade.

    — Porque John estava comigo quando aconteceu.

    A ansiedade não permitiu Briéla que esperasse.

    — Onde ele está agora? E se não foi ele, por acaso você sabe quem foi?

    Zranide continuou em paz.

    — Não foi uma Atlante, nem tão pouco um dos estrangeiros. O responsável pela explosão em Lemúria foi um lemuriano. Consigo ver o rosto dele, mas não sei dizer quem é.

    Briéla aproximou-se e colocou as duas sobre a mesa.

    — Um lemuriano!? — Disparou. — Aqueles filhos da puta estão colocando a culpa em nós. Mandaram aquelas malditas naves pra cá por conta disso. Os filhos da puta destruíram uma de nossas usinas. Além de tudo isso, aquele bosta sumiu. Onde ele está agora?

    A anciã sorriu do descontrole da princesa.

    — Briéla, minha menina, aquele bosta não é mais o mesmo. Não desapareceu por acaso. Tudo no Universo é síncrono. Neste momento, ele segue seu próprio caminho.

    — Zra, — Perguntou a Imperatriz, — você sabe quem explodiu a nossa usina.

    Ela soltou os ombros e um olhar de tristeza invadiu seu rosto.

    — Foram três meninas novas, dezesseis anos no máximo.

    Briéla arregalou os olhos.

    — Três meninas? Por Yrm! Como?

    — Você as vê? — Foi a vez de Sarhin perguntar.

    O rosto de Zranide era como as águas profundas de um lago. Nada parecia atormentá-la.

    — Sim, elas estão tentando fugir do continente em um barco robotizado.

    — Onde? — Perguntou Briéla num estouro.

    — Elas estão se preparando para zarpar na Baía das Belezas Eternas. No canto mais à esquerda da Baía.

    Briéla não ouviu mais nada.

    Caralho, as filhas das putas fugindo e nós aqui tomando chá com bolachas!

    O sangue subiu.

    — Mas que merda! Não vou deixar ninguém escapar.

    Girou nos calcanhares. Aplicou força em seu corpo atlético. Saiu da sala numa explosão muscular.

    Zranide a acompanhou com o olhar.

    — Essa menina precisa aprender a se acalmar. Engole sem sentir o sabor da fruta. Isso não é bom. — Disse balançando a cabeça.

    PYthía colocou a mão sobre o antebraço da anciã.

    — Muito bem, Zra, ela já foi. Conte tudo o que sabe.

    Zranide tornou-se séria.

    — Temos um warnnene se materializando na Terra. Não consigo vê-lo, mas sei que seu corpo se forma em Lemúria.

    — Cacete! Esses materializadores ainda existem? — Brathía tremia, tentando controlar seus impulsos.

    — Sim, querida, ainda existem. Talvez esse seja o último deles. O problema não é este warnnene em si, mas o que está por trás dele. Algo tenebroso se desenha no extrafísico.

    — Tenebroso? O quê? Mãe, você tem mais detalhes? — Inquiriu TYríade.

    Zranide olhou para sua filha.

    — Acho que ninguém consegue ver detalhes. Algo, no mundo espiritual, impede que possamos ver com mais clareza. Sinto que o nosso mundo está em perigo. Precisaremos nos unir para derrotar as trevas que se infiltram em nosso planeta. É maior do que nós. E mais poderoso.

    Todas permaneceram em silêncio, e ela continuou.

    — A nossa provação será grande. Nossas máquinas de guerra não estão à altura do que está por vir. O gigante se aproxima. Nossas armas terão um papel pequeno na batalha.

    A Imperatriz focou sua trisavó.

    — Zra, o que você nos aconselha?

    — Por enquanto, esperar. Afinal, o Universo nos deu uma grande esperança.

    — Esperança? — Perguntou a Imperatriz.

    Zranide sorriu.

    — Sim, PYthía, depois de tantos séculos, Atlântida tem novamente um Cavaleiro de Fogo.

    Os olhos da Imperatriz brilharam.

    — John?

    — Sim, John.

    ***

    A boca de Klans Kumárin se curvou numa gargalhada estridente e escandalosa.

    — Ótimo trabalho, Vardin, ótimo trabalho! Porra meu, que du caralho! Coloca outra vez, eu quero ver o vídeo de novo.

    — Como quiser majestade. — Respondeu o Grão Vizir.

    O monitor passou a mostrar a explosão da usina que alimentava alguns dos mais imponentes cálices de Hathor.

    O Imperador ria de se mijar ao ver os prédios descendo sem vida para o solo do continente.

    — Me diga uma coisa, como conseguiu isso?

    — Majestade, foi um plano arquitetado há mais de um ano. Nós colocamos algumas espiãs na cidade de Hathor.

    — Sim mas como elas não foram percebidas?

    O Grão Vizir encheu o peito numa pose de orgulho.

    — Nossas espiãs se infiltraram em uma organização política, fizeram algumas amizades.

    — Sim, mas essas usinas são todas automatizadas, possuem androides defensores e coisa e tal. Como conseguiram plantar explosivos?

    Grasso deu um sorriso sarcástico.

    — Majestade, quando mandamos as nossas naves para as fronteiras de Atlântida, elas perderam um o foco. Olhavam apenas para fora, sem prestar atenção ao que tinha dentro. Fizemos uma ataque sincronizado. Agentes infiltradas desligaram o sistema de segurança. Então, um simples lança-foguetes atingiu a usina.

    O sorriso de Kumárin ia de orelha a orelha.

    — Muito bem, e qual será o nosso próximo passo?

    — Agora é luta aberta. O primeiro batalhão de naves automáticas está distraindo os encouraçados de Atlântida.

    O sorriso de Klans se desfez.

    — Distraindo? Nós vamos conseguir segurar aqueles malditos encouraçados?

    — Não se preocupe, majestade, eu tenho um plano para eles também. Mas, por enquanto, vamos aguardar o contra-ataque de Atlântida.

    ***

    Sob o comando de Layra, os Phobus dispararam contra as aeronaves de Lemúria.

    Num movimento rápido, as máquinas robotizadas se agruparam numa formação compacta. Com isso, somavam o poder de defesa em um único e enorme campo de energia.

    Ao receber os primeiros impactos, o escudo oscilou. Diminuiu de tamanho, até encontrar um equilíbrio dinâmico.

    A proximidade com o continente forçava a comandante ser comedida no uso de armas. Disparava com os canhões de plasma, evitando ogivas nucleares. Sua estratégia era drenar energia dos reatores de fissão nuclear que alimentavam as naves inimigas. Era uma batalha entre geradores de força. Uns produzindo descargas de hidrogênio superaquecido. Outros dissipando essas descargas com um escudo de deflexão.

    Layra pretendia aumentar, aos poucos, a intensidade de seu ataque. Até minar por completo o combustível nuclear do inimigo. Eles seriam forçados a desligar o escudo. Então uma segunda arma entraria em ação.

    Os caças eram o orgulho de Atlântida. Considerados imbatíveis, eram temidos no centro oco. Possuíam canhões de plasma, mísseis de curta distância, metralhadoras de projéteis sólidos, mecanismo de pulso magnético, pulso sônico de baixa frequência e laser de alta potência. Além disso, eram as naves mais rápidas do planeta. Nenhum objeto voador, construído pelo homem, era capaz de escapar de um caça Atlante.

    A comandante desenvolvia um trabalho de pura paciência. Sabia que se as naves lemurianas tentassem um confronto aberto, seriam abatidas em minutos.

    Para conter o inimigo, usava apenas uma fração de sua frota. Os Encouraçados permaneciam na retaguarda. Só entrariam em ação se, por ventura, os lemurianos conseguissem romper a linha de frente. O que, pela lógica, seria impossível.

    Como esperado, eles revidaram e rajadas de gás superaquecido viajavam de um lado para o outro iluminando o céu do centro do planeta.

    ***

    A vida retornava devagar para o seu corpo. A cabeça latejava. As costas doíam. Havia um aperto no abdome. Tentou encher os pulmões de ar, mas uma pontada nas costelas o fez desistir. Foi tomando consciência devagar. E, por causa daquele estado de coisas, ele demorou um pouco para se lembrar onde estava.

    Seus ouvidos reclamavam atenção especial, pois a dor era insuportável. Não ouvia nada, nenhum som, estava surdo. O mundo externo se apresentava afônico. No lugar de sons, um zumbido enchia sua cabeça, gritava, deixando-o ainda mais atordoado.

    Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. As pálpebras estavam coladas uma na outra. Se deixou ficar inerte por um instante. Não sabia dizer quanto tempo estava ali caído.

    Perdeu a consciência mais uma vez.

    Acordou tão confuso quanto antes. Foi com bastante esforço que conseguiu abrir os olhos. Escuridão impenetrável. Abertos ou fechados, não fazia diferença.

    Tentou se levantar. Impossível, seu corpo estava preso. Apenas o braço direito podia se movimentar.

    Sua mente aos poucos retornava para a realidade.

    Por Deus, o que aconteceu? Que explosão foi aquela?

    O prédio caiu?

    Tateou o próprio corpo.

    Ah, polo menos estou vivo.

    O medo de estar soterrado aterrorizou sua mente.

    O zumbido tinha diminuído, e, com isso, a audição retornava devagar.

    Os outros? Onde está todo mundo?

    — Alguém ai? Senhora Balding? Senhorita Balding?

    Não obteve respostas.

    Preciso sair daqui.

    Com o único braço que tinha movimento, foi retirando peças menores, que cobriam seu corpo.

    À medida que forçava o braço, sentia pontadas agudas nas costas. Seu rosto franzia em caretas de dor.

    — Klaus? Steve? William? Por favor, alguém responda. — Implorou o mestre de Cambridge.

    Um vulto. Uma silhueta se destacou na escuridão.

    — Senhor Oliver, procure não se mexer. Poupe suas energias. Já vamos tirar o senhor daí.

    O mestre não reconheceu a voz.

    — Quem é você? Está tudo escuro, não enxergo nada?

    Ouviu o barulho de objetos sendo movidos nas imediações.

    — Sou um androide socorrista, senhor.

    — Você consegue me ver?

    — Com perfeição, enxergo mesmo com baixa iluminação.

    O mestre exalou o ar devagar.

    — Onde estão os outros?

    O androide não interrompia sua tarefa e continuava retirando escombros.

    — Muitas pessoas já foram resgatadas, senhor. O cérebro quântico do prédio foi desligado. Não temos informações exatas.

    Sir Oliver percebeu que mais dois ou três androides trabalhavam no resgate.

    — O que aconteceu?

    — A guerra, senhor, nós sofremos um ataque inesperado. Uma de nossas usinas de energia foi destruída. Isso fez com que alguns cálices perdessem a flutuação.

    — Sim, me lembro, o prédio caiu.

    — Na verdade, senhor Oliver, se tivesse caído todos estariam mortos. Ele perdeu altura devagar. O maior problema foi quando tocou o solo. O prédio pendeu e as pessoas foram lançadas contra as paredes.

    O androide retirou a última peça de mobília que prendia o professor.

    Os três robôs, com movimentos sincronizados, retiraram Sir Oliver do local onde se encontrava.

    — Minha perna dói.

    — Sim, eu sei. O senhor fraturou a tíbia e a fíbula. Não se preocupe, já estamos providenciando o socorro.

    Traumatizado e atordoado, o mestre não entendeu o que o robô falou.

    Colocaram o professor em uma maca e flutuaram para fora do prédio tombado.

    Centenas de cabanas se espalhavam pelo chão do continente. Uma multidão de androides iam e vinham com as vítimas. Choro, gritos de dor, lamentações, cheiro de sangue, cheiro de morte.

    Sir Oliver foi colocado em uma cama baixa.

    Tentou se levantar.

    Caramba, o que é isso? Pensou ao sentir uma forte fisgada na perna.

    — Por favor, — pediu o androide, — procure não se mover. O senhor quebrou dois ossos da perna esquerda. Fique deitado, o médico irá atendê-lo em um minuto.

    Não tinha alternativa, soltou o corpo e deixou a perna imóvel.

    — Onde estão os outros?

    — Ainda não sabemos, senhor, são muitos os feridos. Por favor, tenha paciência.

    O mestre fez um movimento afirmativo com a cabeça e tentou relaxar.

    ***

    O homem deu uns dois ou três passos cambaleantes.

    — Meu nome é Kringo Sastinf, e está é minha filha, Carmin.

    John ficou apreensivo.

    Santo Deus, essa pedra na minha testa vai me denunciar!

    Preciso evitar que eles a vejam.

    Kringo deu mais um passo e estendeu a mão.

    A dúvida visitou o coração de John.

    Não, definitivamente, não estava nos meus planos fazer amigos em Lemúria.

    Olhou para a mão do homem.

    Mas não posso simplesmente ir embora. Fugir levantará suspeitas. Mostrará que tenho algo a esconder.

    Apertou a mão de Kringo, enquanto tentava ocultar o rosto.

    — É um prazer conhecê-lo, senhor Sastinf. Meu nome é Flamin, Grist Flamin.

    Kringo abriu um sorriso largo.

    — Senhor Flamin, o senhor salvou a minha vida! Não sei o que Carmim faria, sozinha neste mundo. Muito obrigado. O que posso fazer para recompensá-lo?

    John balançou a cabeça.

    — Não, eu não fiz nada. — Disse tentando disfarçar a roupa roubada. — Não precisa se preocupar. Fico feliz que esteja bem, mas já estava de saída. Passei aqui por acaso.

    O pai da garota não se contentou com a resposta.

    — Pelo amor de Deus, o senhor não pode ir assim. Já é quase hora do jantar. Por favor, fique e coma com a gente.

    John deu um meio sorriso, aquele, de canto de boca.

    — Eu agradeço muito, mas, realmente, preciso ir.

    Carmin segurou na mão de John.

    — Por favor, senhor, entre, descanse um pouco antes de continuar sua viagem.

    Os olhos da menina magnetizaram o inglês.

    Uma vontade enorme de ficar aflorou.

    Kringo acenou positivamente com a cabeça.

    — Sim, fique, jante conosco.

    John se esforçava por esconder a pedra.

    Caramba o que faço? Perguntou a si mesmo em pensamento.

    Fique e jante com eles. Ouviu dentro de sua cabeça. Não se preocupe com o filtro.

    O inglês tornou-se mais calmo e senhor de si.

    — Está bem. — Concordou, seguindo sua intuição. — Me desculpem meus modos, é que eu sou um homem solitário, um andarilho.

    Carmim sorriu.

    — Oba! — Falou num salto de alegria.

    — Vamos entrar, por favor. — Disse o lemuriano.

    Entraram, John ajudou o homem a caminhar.

    A sala de estar era pequena, mas bastante aconchegante. As poltronas eram confeccionadas em madeira rústica e, sobre estas, repousavam belas almofadas bordadas em tons bege e vinho.

    — Por favor, sente-se. — Pediu Kringo. — Fique à vontade. Vou até a cozinha ver como está o nosso jantar.

    O inglês fez um leve movimento com a cabeça.

    O homem deixou o cômodo.

    John olhou para as almofadas. Eram feitas a mão. Teve receio de sujar com a roupa do espantalho. Retirou uma almofada com cuidado e sentou-se na madeira.

    O cheiro de batata cozida com carne enchia o ambiente. Lembrou-se da comida de sua mãe. Sentiu vontade de ir até a cozinha, mas se conteve.

    Por um instante rápido, sua mente divagou e ele se sentiu transportado para Londres. Mais precisamente para a Ashfield Street, uma rua paralela da movimentada Stepney Way. Viu a casa de seus pais, sentiu-se no interior. A senhora Annie McBrian, sua mãe, varria a sala com uma vassoura de sorgo.

    Se aproximou, sentiu a respiração dela. John a beijou enquanto um par de lágrimas escapava de seus olhos

    Anne parou de varrer, colocou a vassoura de lado. Levou a mão ao peito. Se sentou em uma cadeira próxima.

    — John, meu filho. — Sussurrou com a voz entrecortada.

    Desabou a chorar.

    O rapaz acariciou com leveza a cabeça dela. Percebeu uma luz deixar sua mão e penetrar o corpo de Anne.

    Mãe, disse em pensamento, eu estou bem, e quero que você também esteja.

    Ela parou de chorar quase no mesmo instante. Devagar um sorriso foi se desenhando em seu rosto delicado.

    Eu te amo, meu filho.

    Eu também, mãe. Fique em paz, fique com Deus.

    John piscou os olhos várias vezes e retornou para a realidade.

    Ao seu lado a pequena Carmin o tocava com o dedinho.

    — O senhor não gosta de almofadas?

    Ele sorriu.

    — Não, não é isso, fiquei com medo de sujar. Elas são tão bonitas, tão bem-feitas.

    Kringo retornou da cozinha e se sentou na outra poltrona.

    — Me desculpe, — falou reticente, — notei que o senhor está usando as roupas do nosso espantalho.

    John olhou para as roupas surradas.

    Ninguém ainda percebeu a pedra na minha testa?

    — Eu peço mil desculpas, senhor. Não tinha a intenção de roubar. Tive um problema com as minhas roupas velhas. Seu espantalho se vestia muito melhor do que eu. Então… Me desculpe… Antes de ir embora eu as deixo de volta no boneco.

    Kringo gesticulou apressado.

    — Não, não, não, eu não quis… Por favor, eu lhe devo muito mais do que essas roupas miseráveis. Pelo amor de Deus, não me leve a mal.

    John baixou a cabeça envergonhado

    Kringo se levantou.

    — Espere aqui, tenho roupas melhores do que essa. Posso dividi-las com o senhor.

    Ele foi até o quarto sem esperar resposta do forasteiro. Voltou um minuto depois com várias peças de roupa em suas mãos.

    — Senhor Flamin, por favor tome essas, não são novas, mas estão em estado bem melhor do que as do espantalho.

    John sorriu.

    — Me sinto envergonhado.

    — Não sinta, o senhor salvou a minha vida. As pessoas não costumam fazer isso. É muito mais fácil dar as costas.

    — Fiz apenas o meu dever.

    — O senhor é médico ou algo assim?

    — Não, não sou médico, longe disso. Não entendo nada de medicina. No entanto, quando vi o senhor caído no chão, não sei o porquê, mas desconfiei de parada cardíaca. Fiz uma massagem para o coração voltar a bater. Por sorte, deu certo.

    — Que bom que o senhor passava por aqui. — Falou Carmin. — Eu não sabia mais o que fazer. Meu pai é teimoso, falei pra ele não mexer com eletricidade. Mas ele resolveu consertar o transformador e tomou um tremendo choque.

    John olhou para ele com olhos complacentes.

    — Essas coisas acontecem. Precisamos estar sempre atentos.

    Sastinf olhou para a filha e em seguida para John.

    — Senhor Flamin, por favor, existe um banheiro ali no corredor. Se o senhor quiser, pode tomar um banho e se vestir. Depois, eu faço questão de que o senhor jante conosco. A comida é simples mas feita com o coração.

    — Senhor Sastinf, não precisa…

    — É o mínimo que posso fazer. Eu não aceito ‘não’ como resposta. Por favor, aceite.

    McBrian buscava por uma saída.

    Meu Deus, meu tempo é curto, preciso ir embora.

    Tenho de achar um jeito de sair daqui.

    Aceite. Aquela voz surgiu outra vez em sua mente.

    Aceitar?

    Sim, aceite.

    John focou o lemuriano.

    — Obrigado, não quero atrapalhar… Vou aceitar as roupas e o banho.

    O homem sorriu.

    — Fico muito feliz.

    ***

    No olhar delas havia um misto de orgulho e tristeza.

    Orgulho pela façanha que tinham sido capazes de concluir.

    Tristeza, por que algo, no fundo da alma começava a incomodar.

    — Será que nós fizemos a coisa certa? — Perguntou uma delas.

    A outra deu de ombros.

    — Flavínia, o que tá feito tá feito. Nossa missão foi cumprida. Êxito total.

    A moça respirou fundo, sentindo aperto no coração.

    Baixou a cabeça.

    — E agora, o que a gente faz agora?

    A interlocutora guardava o lança-foguetes em uma maleta.

    — Vocês duas sigam a rota de fuga, como ensaiamos

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