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O morto que quase estragou o velório
O morto que quase estragou o velório
O morto que quase estragou o velório
Ebook40 pages48 minutes

O morto que quase estragou o velório

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About this ebook

Uma louca viagem para lugar nenhum, onde nada faz sentido, como o morto que de repente se levanta do caixão e quase põe o velório a perder.

LanguagePortuguês
Release dateNov 30, 2018
O morto que quase estragou o velório

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    O morto que quase estragou o velório - Luciel Lima

    O começo

    O fogo faz as pedras gritarem.

    As pedras queimam e gritam.

    Uma, duas, três vezes...

    E a fumaça dentro do alumínio transforma-se em arco íris e no fim do arco íris eu já não vejo sujeira e nem sinto fedor.

    Descanso a cabeça no tijolo e vou embora.

    Parte 1

    Desço do táxi.

    — Espere-me, não vai levar mais do que cinco minutos.

    Enfio a mão no bolso e retiro uma lembrancinha que não me custou mais do que dois reais.

    Viro e olho para frente.

    Vejo um terreno baldio.

    Um terreno de cento e vinte metros quadrados vazio.

    Olho ao redor.

    Não. Eu não errei o endereço.

    Estou de frente para o número 538 da Rua Santo Antônio.

    Bato na porta da casa ao lado.

    Sai um velho de 80 anos ou mais. Tão magro e seco que me dá pena.

    — O que aconteceu com a casa que ficava aqui ao lado?

    Ele me olha. Franze a testa branca cheia de feridas. Abre a boca sem dentes e raspa o catarro da garganta e dá uma cuspida e o cuspe cai ao lado do meu mocassim do pé direito.

    — Você sabe muito bem que nunca houve uma casa neste terreno baldio.

    Pego o velho pela gola da regata branca.

    — Você deve estar esclerosado, seu velho louco!

    Empurro o velho para o lado e entro na sala.

    — Há alguém aqui nessa casa que esteja são da cabeça?

    Ele não responde.

    Olho para o penico transbordando de urina amarela ao lado de um sofá todo rasgado. Há cheiro de fezes em todo o canto.

    Tampo o nariz e vasculho a casa, mas só encontro degradação e desmazelo e abandono.

    Na cozinha, vejo uma pia apinhada de louça suja e na mesa jaz um prato com restos de comida e duas ou três varejeiras estão zanzando por cima e botando seus ovos ali.

    Volto para a sala e vejo o velho deitado no

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