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Um Mundo Para Sharon
Um Mundo Para Sharon
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Ebook160 pages1 hour

Um Mundo Para Sharon

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About this ebook

Sharon tem treze anos e a sua vita é feita de música, brigas com os pais e sonhos de liberdade. A repentina perda da mãe, no entanto, abre diante dela um abismo de raiva. Nem o silêncio inconsolável do pai, nem a áspera compreensão da senhora Teresa podem alcançá-la. E, nesse abismo, Sharon arrisca perder também o irmãozinho Davi, que ficou desesperadamente agarrado ao mundo fantástico inventado pela mãe dos dois.

Talvez o abraço estranho daquele mundo e das suas excêntricas personagens, poderá ajudar os dois irmãos e se reencontrarem na escuridão da dor. Mas, para isso, Sharon terá que enfrentar todos os seus demônios. E terá que levar Davi de volta para casa.

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateJan 17, 2019
ISBN9781547564668
Um Mundo Para Sharon

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    Um Mundo Para Sharon - Marzia Bosoni

    Para Sharon, Davi e Simão

    ou para Sara, David e Simone:

    escolham com cuidado o mundo de vocês.

    Prólogo

    — ... e o único modo para alcançar esse mundo incrível é ser mandato para lá por um dos seus habitantes, ou pedir ao seu guardião para abrir a porta. Mas o nome do guardião é secreto e ninguém sabe.

    Olhando a menina, que finalmente tinha se deixado vencer pelo sono, a mãe parou de falar, ajeitou as cobertas e se abaixou para lhe dar um beijo:

    — Boa noite, Shari.

    Endireitou devagar a coluna e sorriu ao sentir um movimento na barriga.

    — Parece — sussurrou acariciando o ventre — que você também gosta das minhas histórias.

    Capítulo I

    Sharon ajeitou os fones de ouvido e se levantou da mesa.

    — Não fica com a gente para ver o filme? Hoje vai passar E.T, o extraterrestre: você sempre gostou!

    A garotinha olhou a mãe e fez uma careta: — Já vi um milhão de vezes, já sei de cor. Vou ouvir um pouco de música e depois tenho que acabar de ler história.

    Saiu da sala, enquanto os pais tiravam a mesa e o irmãozinho se sentava no sofá para esperar o filme que não iria poder ver inteiro, porque terminava muito tarde e o dia seguinte era dia de escola.

    Davi tinha seis anos e aquele era o seu primeiro ano de escola; Sharon, que tinha sete anos a mais que o irmão, frequentava o último ano da escola média, mas ainda não sabia ao certo o que escolher para o seu futuro escolástico.

    Ela gostava de estudar, mas tinha a impressão que os seus pais fizessem muita pressão; sua mãe, em particular, nunca desaprovava abertamente os comportamentos ou as escolhas da filha, mas parecia eternamente insatisfeita com ela: Sharon nunca era boa o suficiente, organizada o suficiente, sincera o suficiente ou hábil o suficiente.

    A garotinha tinha quase certeza que qualquer escola que ela escolhesse para o seu futuro, teria tido como resposta um dos famosos suspiros de sua mãe, assim, postergava a decisão dia a dia, atraindo naturalmente outros olhares preocupados da parte dos pais, que a consideravam terrivelmente improdutiva.

    Se escondia então por horas em seu quarto, para fugir dos olhares e para sonhar com uma vida diferente, em um mundo diferente, no qual seria ela a ditar as regras.

    Quando, uma hora mais tarde, saiu para ir ao banheiro, viu a mãe sentada na cama de Davi. Desligou o MP3 para escutar a conversa deles.

    — ...só existem dois em todo o mundo! Um deles é incrivelmente sábio enquanto o outro é incrivelmente estúpido e não é nada fácil distingui-los!

    Diante dessas palavras, o menino começou a rir: — Mas se um diz coisas estúpidas é fácil reconhecer.

    — Ah, não sei não — respondeu a mãe com um sorriso. — Às vezes, uma frase boba pode ser considerada inteligente, se quem ouve está tateando no escuro!

    — Por exemplo? — perguntou o menino, cético.

    — Por exemplo, um dia, alguém perguntou a SofoS: ‘O que eu devo fazer da minha vida?’ E SofoS respondeu: ‘Olhe o rio, corre sempre na mesma direção’. Você acha que foi uma resposta sábia ou estúpida?

    — Foi estúpida, porque...

    — Estúpido é você que ainda pede para contarem essas histórias! — o interrompeu a irmã entrando no quarto.

    — Sharon! — a mãe a reprovou. — E olha só quem fala: na sua idade você não dormia se eu não contasse uma aventura do seu mundo fantástico!

    — Sim, mas com a diferença que eu sabia perfeitamente que era tudo inventado, enquanto esse aí acredita mesmo que existam os SofoS e os Blurrpi[1]...

    — Se chamam Burrpi! — gritou Davi. — Eles não gostam de ser chamados dessa outra maneira.

    — E ainda são rancorosos — acrescentou a mãe. —De qualquer forma, eu já disse tantas vezes, Sharon: as palavras...

    — As palavras criam os mundos. Eu sei, eu sei — terminou a garota levantando os olhos para o teto. Depois disso, saiu do quarto do irmão ligando imediatamente o MP3 para não ouvir os comentários - ou os suspiros - da mãe.

    Capítulo II

    Sharon queria bem ao seu irmão, mas não suportava o modo como ele era criado. A partir da escolha do nome - sua mãe era cismada com o significado dos nomes e com o poder das palavras: Davi, que significava aquele que é amado, parecia a Sharon querer sublinhar a diferença entre eles dois. Ele era amado, ela...

    O seu nome também tinha um belíssimo significado, segundo sua mãe, pois queria dizer planície verdejante, mas Sharon não achava nada espetacular em ter sempre que explicar aos professores que era italiana e que não tinha sido adotada.

    Algumas vezes, ela gostava de imaginar que era uma órfã adotada, porque isto teria representado uma distancia objetiva entre ela e o resto da família, e teria também justificado certos detalhes, como os seus insólitos cabelos vermelhos.

    — Você puxou da sua avó que tinha sangue irlandês — explicava sua mãe.

    Sharon, no entanto, preferia pensar de ter puxado da sua mãe, da sua verdadeira mãe, que tinha sido, sem dúvida, obrigada a abandoná-la, mas que um dia talvez voltasse para procurá-la.

    No inicio do segundo ano do ensino médio, quase todos os professores tinha sido mudados para uma reorganização interna da escola, que tinha se fundido com outros institutos, em uma grande rede; Sharon decidiu, então, passar-se por uma órfã adotada para dois professores que tinham perguntado se ela era de origem estrangeira.

    Tinha sido só uma brincadeira, nada de mais, mas quando uma professora deu os parabéns aos pais de Sharon pela bela decisão tomada e se informou sobre as dificuldades da adoção internacional, começou o fim do mundo.

    A coisa pior não foi a nota em conduta diminuída pelo comportamento imaturo e pela evidente falta de respeito, nem o fato que os professores - entre os quais a noticia tinha se espalhado como fogo em galhos secos - tivessem ficado de olho nela pelo resto do ano. E nem mesmo os chatérrimos encontros com o psicólogo escolar, que ela teve que suportar, antes que percebessem, finalmente, que tudo tinha sido, realmente, uma brincadeira, um modo inocente de fazer falarem um pouco dela.

    Não, a coisa pior tinha sido, obviamente, a reação dos seus pais.

    Seu pai que tentava o tempo todo, contrariamente a sua natureza tímida e reservada, falar com ela e perguntar, com uma mistura de angústia e raiva: — Mas por que você fez uma coisa dessas? Você queria mesmo ser adotada? Tem alguma coisa que você gostaria de dizer?

    Perguntas às quais ela tentava responder docilmente, enquanto dentro de si pensava — Mas quanto barulho por nada!

    Sua mãe, ao contrário, tinha primeiro brigado pelo constrangimento no qual tinha metido os professores e os próprios pais; depois, passada a raiva, tinha acrescentado suspiros a suspiros e, com frequência, quando pensava que Sharon não estava vendo, a observava balançando a cabeça.

    A garotinha não suportava essa atitude: — O que é? O que você está suspirando?

    Quase um ano tinha passado e na escola já ninguém falava mais sobre isso, mas os suspiros de sua mãe continuavam e com isso se ampliava a distancia entre as duas.

    Neste contexto, a presença do irmãozinho - que era um estudante modelo e uma criança dócil e obediente - só fazia exacerbar os sentimentos de Sharon.

    Quando algum parente fazia elogios a Davi, ela exclamava:

    — Sim, ele é mesmo ótimo. Parece um cãozinho amestrado. Olha, ele até dá a pata!

    Quando uma professora dava a ele uma boa nota pelos trabalhos feitos e o menino mostrava orgulhoso à mesa, Sharon comentava, ácida:

    — Você é mesmo o queridinho da tia, né? Por que não leva uma maçã e umas flores para ela amanhã?

    Naturalmente, essas atitudes eram sempre repreendidas pela mãe:

    — Pare de humilhar e de zombar do seu irmão só porque é um bom menino. Você também era uma boa menina no ensino fundamental.

    — Eu era uma bom menina? — respondia ela furiosa — por que agora, ao contrário, eu sou má e mal educada, verdade? Ou talvez eu só tenha aprendido a pensar com a minha cabeça e a parar de procurar agradar os professores. E de agradar você!

    Essas discussões a deixavam realmente com raiva, porque evidenciavam aquilo que ela não suportava na educação do irmão: os seus pais o estavam criando justo como um cãozinho amestrado, incapaz de pensar sozinho, mas sempre pronto a fazer a coisa certa.

    Era horrível.

    Nesse passo, o teriam arruinado totalmente e quando chegasse na escola média, viraria a piada da classe.

    Queria bem ao seu irmão e por isso queria que acordasse, que parasse de acreditar nos contos de fada, mesmo antes do que ela tinha feito.

    Pronto, aquele era o ponto. Inconfessado e inconfessável.

    Ela também tinha sido uma menina ingênua - nisso sua mãe tinha razão, mas também tinha responsabilidade - e tinha acreditado em Papai Noel, nas fadas e naquele mundo ridículo que a mãe tinha inventado para

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