Qualidade de ensino em instituições de ensino superior através da espiral do conhecimento
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Este livro apresenta uma possibilidade de caminho para se atingir qualidade de ensino em Instituições de Ensino Superiores (IES), ao considerar o habitus docente, através da espiral do conhecimento. Em sala da aula constatei que nunca ensinei nada a ninguém. Apenas aprendi, depois de algum tempo, a facilitar a aprendizagem do outro ao aprender a facilitar a minha própria, quando percebi, na prática cotidiana, que "o próprio educador deve ter sido educado antes e ter a experiência em si mesmo se são eficientes ou não as verdades psicológicas que aprendeu em sua escola" (JUNG, 1981, p. 37). Como tornar consciente nosso movimento em sala de aula para desenvolvermos qualidade de ensino e educação humanizada? É isso que este livro explora.
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Qualidade de ensino em instituições de ensino superior através da espiral do conhecimento - SANDRA MARIA COLTRE
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Para minha família, meu porto seguro.
Agradeço a todos que contribuíram com seus conhecimentos,
sentimentos e experiência de vida, para a realização deste empreendimento.
APRESENTAÇÃO
Administradores, médicos, engenheiros, historiadores, psicólogos dentre outras profissões, um dia, podem ser professores em Instituições do Ensino Fundamental até de Ensino Superior (IES). Nossas graduações não nos preparam para a sala de aula. Jonnaert e Borght (2002) apontam que a pesquisa realizada por Évelyne Charlier analisou a sala de aula e constatou que os professores podem ter até 200 interações com os seus alunos por hora de curso. Todavia, quando nos perguntam qual é o nosso trabalho e ao responder que somos professores, recebemos de volta: Ah! E faz mais o quê?
.
Este livro apresenta uma possibilidade de caminho de realizar qualidade de ensino em Instituições de Ensino Superiores (IES), ao considerar o habitus docente. Apesar de o foco ter sido IES, realizei palestras sobre o tema com professores dos ensinos Fundamental e Médio, e em IES, e a avaliação da assertividade do processo foi convalidada. Todavia, não houve continuidade.
Em sala da aula constatei que nunca ensinei nada a ninguém. Apenas, aprendi, depois de algum tempo, a facilitar a aprendizagem do outro ao aprender a facilitar a minha própria. Percebi, na prática cotidiana, o próprio educador deve ter sido educado antes e ter a experiência em si mesmo se são eficientes ou não as verdades psicológicas que aprendeu em sua escola
(JUNG, 1981, p. 37). Afirma Sharp (1993, p. 37), ser professor é muito complexo, porque envolve um grupo de ideias ou imagens carregadas emocionalmente
, em que tais agrupamentos ocorrem, na maioria das vezes, sem a vontade ou conhecimento do envolvido. Isso afeta o seu comportamento e − o seu suposto − controle do mundo.
Facilitar a aprendizagem e o aprender a aprender é uma expertise chave a ser desenvolvida na profissão de professor, que conjuga: mente, corpo e alma. Entender sobre o conhecimento tácito e explícito para a qualidade na gestão do ensino em IES perpassa em compreender o que fazemos com nossa mente, corpo e alma em sala de aula. E, o que fazemos, apesar de nossa grande inconsciência, é muito mais poderoso do que podemos explicitar.
Do conhecimento emergem as dimensões tácita e explícita. Os estudos atuais exploram o conhecimento explícito por ser objetivo, estar acessível e de facil entendimento. Quanto ao conhecimento tácito, vinculado ao comportamento, intuições, expertise, percepções de realidade e outras características intrínsecas às pessoas, é deixado de lado devido a sua complexidade, já que argumentam que é difícil de medir, dentre outras justificativas.
Para Polanyi (1983), que desvendou o conhecimento tácito, ele é como usamos o conhecimento e não ao estado de consciência em que ele ocorre, apesar de suas possibilidades de inconsciência para o seu usuário. E no processo de ensino-aprendizagem em uma sociedade do conhecimento, industrializada e interligada tecnologicamente, o conhecimento tácito deve se levado em conta. Nonaka e Takeuchi (1997) compreenderam que criar conhecimento, fazer qualidade e tantas outras metas de melhoria que as organizações atuais perseguem, estão localizadas em um ponto que merece todos os investimentos possíveis: o conhecimento tácito das pessoas. E demonstram isso em sua obra.
Nesse sentido, ao tomar posse desses estudos e compreender a espiral do conhecimento e suas dimensões, compreendi que mais do que criar um produto, essa metáfora da espiral tinha um alcance maior: o aprender a aprender para a autonomia e cidadania. O conhecimento tácito, intrínseco a cada pessoa, é competência essencial para a qualidade de ensino e para a efetivação da escola cidadã, já que o movimento individual, tanto do professor como do aluno, impacta no coletivo.
As dimensões agregadas à proposta de Nonaka e Takeuchi (1997) que suportam essa premissa são a gnosiológica (validade do conhecimento para o usuário no contexto vivido) a dimensão axiológica (valores) e o contexto. Essas dimensões articulam a dimensão tácita e o processo é desafiador, pois a pessoa, como centro desse processo, é um ser em constante devir a ser, que busca o sentido de sua existência em tudo que faz.
Nesse sentido, a visão iluminada de Polanyi (1983), Nonaka e Takeuchi (1997) e dos demais autores elencados nesta obra possibilitaram realizar essa experimentação. Apesar do estudo estar contextualizado aos cursos de Administração em IES, a metodologia cabe as outras áreas do conhecimento, desde que consideradas suas especificidades de contexto.
Esta proposta não segue exclusivamente a racionalidade (conhecimento explícito). Ela considera igualmente o comportamento, sentimentos, visões e valores (conhecimento tácito). Por isso que não existem respostas racionais fechadas, ou circulares, ou medidas objetivas, mas a validade de uso para os envolvidos e sua contribuição para sua vida, trabalho e encontro consigo. Qualquer IES ou escola em qualquer nível, que busque formar pessoas que melhorem o mundo, deve propiciar oportunidades, tanto aos professores quanto aos alunos, de readequarem sua prática, visão e emoções diante do trabalho que realizam, de forma mais significativa. Destaco que leituras complementares sobre os instrumentos utilizados devem ser realizadas, já que suas descrições são objetivadas a experimentação. Nos resultados foi relatado o que foi autorizado pelos participantes.
O que se faz em sala é muito poderoso e esse poder, como uma metáfora, pode ir para o lado jedi ou o lado negro da força
. A escolha será sempre sua, professor(a), e as consequências também. E alerto: sem se submeter à experimentação da proposta, o que resta é, apenas, conversa, talvez, interessante.
A autora
PREFÁCIO
Nos últimos anos, o tema qualidade de ensino
tem sido, no Brasil, objeto de preocupação de várias entidades, governamentais e não governamentais, assim como também objeto de estudos acadêmicos em várias universidades. De fato, esse tema tem merecido uma atenção crescente, tendo em vista o baixo desempenho que os nossos estudantes têm tido em exames nacionais, como a Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que são avaliações desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), as quais têm o objetivo de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro e, também, internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) – que é uma iniciativa de avaliação comparada da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aplicada a estudantes na faixa dos quinze anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. No Brasil, o Pisa é coordenado, também, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
A triste constatação de que mais de 65% dos alunos brasileiros, no 5º ano da escola pública, não sabe reconhecer a diferença de um quadrado de um triângulo é um fato que envergonha a todos nós brasileiros, que estamos diretamente envolvidos com a educação. Segundo os resultados da última Prova Brasil, divulgados pelo governo federal no final de novembro do ano passado, a maioria dos estudantes brasileiros não exibem habilidades mínimas esperadas no 5º e no 9º ano da escola, tanto em português como em matemática. Os resultados da Prova Brasil revelam, também, algo ainda mais perigoso que o baixo desempenho: a desigualdade. Todavia, diminuir a desigualdade no aprendizado é um desafio até para os Estados que alcançaram a meta de qualidade do governo, medida pelo Ideb. A desigualdade entre os que aprendem e os que não aprendem no Brasil continua estável há mais de uma década. Então, o que se pode fazer para diminuí-la?
Sem dúvida, além do investimento em infraestrutura das escolas, na capacitação e na melhoria dos salários dos professores, que torne essa profissão atrativa aos talentos que saem de nossas universidades, outra medida necessária é a adoção de um currículo nacional comum a todas as redes, que indique o que cada aluno deve aprender em cada etapa da escola, conforme previsto no Plano Nacional de Educação, que estipula metas de qualidade para a área. Infelizmente, ao contrário dos países desenvolvidos, até agora o Brasil ainda não tem currículo nacional. Alguns Estados e algumas grandes cidades têm seus próprios currículos, mas a maioria não tem, embora todos os Estados façam a mesma Prova Brasil, aplicada pelo governo federal. As questões são padronizadas, mas os conteúdos ensinados não, o que não faz o menor sentido. O governo federal também não tem critérios do que é um aprendizado adequado para cada série. O Ministério da Educação (MEC) deu início apenas recentemente a uma discussão sobre a elaboração de uma base curricular comum.
A ausência de critérios para o aprendizado leva a uma segunda discussão sobre a Prova Brasil e o Ideb: até que ponto esse tipo de avaliação, chamada de avaliação padronizada, pode ser a única referência de qualidade para o governo (na elaboração de políticas públicas) e para as escolas (que precisam saber em que precisam melhorar)? Desde que a educação se tornou um direito garantido pela Constituição de 1988, duas grandes políticas públicas foram responsáveis pelo tímido avanço da educação brasileira: a universalização do ensino básico, que garantiu a matrícula de toda criança na escola, e o sistema de avaliação do ensino. A partir de agora, para dar o passo que falta na qualidade do ensino, o país precisa de ferramentas mais sofisticadas do que apenas vagas e uma prova padronizada.
Justamente, é essa a contribuição que a professora Sandra Maria Coltre, doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina, procura introduzir neste livro, cujo título Qualidade de Ensino em IES através da Espiral do Conhecimento, aborda um tema muito atual para a melhoria da educação brasileira, especialmente para a educação pública. Trata-se de uma ferramenta metodológica, fundamentada teoricamente na Espiral do Conhecimento, proposta por Nonaka & Tacheuchi (1995), que pode contribuir significativamente para o movimento que empresários e políticos vêm implementando, com a participação dos meios de comunicação de massa, denominado "Todos pela Educação". Há alguns anos, o Movimento Todos pela Educação propôs cinco metas a serem alcançadas pelo Brasil em 2022, ano que marca o bicentenário da independência. São elas: (1) Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola; (2) Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; (3) Todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano; (4) Todo jovem de 19 anos com Ensino Médio concluído; e (5) Investimento em Educação ampliado e bem gerido.
Nesse sentido, o livro da professora Sandra Maria Coltre é a primeira obra que, realmente, contribui para o alcance dessas cinco metas, procurando sair da dicotomia ideológica que salienta que o problema da falta de qualidade da educação brasileira é a falta de recursos para a Educação. De fato, países de renda média como o Brasil têm níveis de qualidade de educação significativamente superior a nossa, como é o caso da Coreia do Sul. O foco tem que ser a implementação de metodologias e de tecnologias educacionais que propiciem uma aprendizagem mais ativa, com a incorporação crescente de ferramentas digitais. A primeira delas é o uso de algoritmos para melhorar a educação: as atividades feitas online pelos alunos deixam rastros que, quando analisados, permitem que encontremos suas dificuldades e necessidades. Dessa forma, é possível melhorar o ensino, e isso deve ser mais usado a partir deste ano em todo o mundo. Além disso, o uso da internet deverá crescer significativamente em 2016, com o advento da tecnologia 4G. Ferramentas online para o desenvolvimento de provas e trabalhos, games e o uso de dispositivos móveis devem ser cada vez comuns na sala de aula. Graças ao uso das tecnologias digitais, a sala de aula tradicional deverá continuar perdendo o domínio completo no cenário global. Técnicas pedagógicas baseadas em aprendizagem ativa, como as salas de aula invertidas (Flipped Classroom), Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem-Based Learning, PBL), Aprendizagem entre Pares (Peer Instruction), Aprendizagem Baseada em Evidências (Evidence-Based Learning) e a Aprendizagem Híbrida (Blended Learning), que mistura o online e o presencial, são apontados como tendências em 2016.
Por fim, uma tendência do mundo dos negócios, até então negligenciada pelas escolas, passará a ter imenso valor: o empreendedorismo. Atividades que estimulam a criatividade, as ideias e a execução de projetos deverão ser implementadas em muitas instituições de ensino. Isso porque o empreendedorismo tem sido cada vez mais valorizado no