Os Serviços de Apoio Pedagógico e a Formação de Livres-Pensadores
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Defende a necessidade de gestar a educação básica como tempo e espaço singulares e privilegiados de formação de educadores reflexivos, críticos, criativos e comprometidos com o contexto em que vivem, sempre na perspectiva de um mundo mais igual para todos.
Propõe quebrar os "nós-cegos" do pensar lógico tradicional e reducionista como ação estratégica e necessária para o rompimento das amarras do pensamento descontextualizado, cristalizado e absoluto.
Essa trajetória na direção de uma escola aberta às multipotencialidades e inserida no mundo social, político, econômico e cultural de sua época exige a formação de mediadores para a formação de professores capazes de ousar com excelência humana e acadêmica com seus alunos e seus pares.
Propõe que os serviços de apoio pedagógico sejam tais mediadores, o que exige projetos para a sua formação com fundamento, tempo, espaço e caminho definidos, consistentes e fiéis à realidade em que estão inseridos – a escola da educação básica.
A pesquisa sobre um estudo de caso específico serve de mote e dá sentido e significado a esta análise e proposta de trabalho, apontando a tessitura de referenciais do pensar livre quanto às amarras das estruturas e formalizações que aprisionam a ousadia e a transgressão da lógica cartesiana para apontar a dialética da complexidade como alternativa de abertura reflexiva e instrumental da dialogia por um mundo no qual não haja pensares ou profissões de primeira e de segunda mão.
Enfim, o sonho é de uma escola capaz de pensar o/no mundo, repudiar as tentações "fáceis" e reducionistas do mercado da educação, e que forma para a intervenção na realidade por meio da práxis reflexiva na ação e na "tessitura" de homens e mulheres que atuem como intelectuais orgânicos para um tempo de paz, justiça, reciprocidade, igualdade e solidariedade.
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Os Serviços de Apoio Pedagógico e a Formação de Livres-Pensadores - Adalberto Fávero
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
A meus pais, Antônio e Ordália, que se foram um pouco antes do combinado, cuja simplicidade, esperança e alegria de viver ensinaram-me a importância da vida, da honestidade, do cuidado com o outro e que não se faz favor nenhum em gostar de alguém.
APRESENTAÇÃO
O futuro me preocupa porque é onde penso
em passar o resto de minha vida.
(Woody Allen)
Um menino que morava no interior, acostumado com as lidas da terra e com as duras e exigentes demandas da sobrevivência pela produção dos frutos que ela pode dar, sonhava ansiosamente com o mar. Colecionava fotos de revistas, bebia imagens da televisão e desenhava costas marítimas com navios piratas ancorados e praias de coqueiros feito cartão-postal.
Todo ano, solicitava ao pai o presente dos presentes: uma viagem para conhecer o mar.
Sem dinheiro e com dificuldades de sobrevivência, o pai explicava sobre a impossibilidade e a distância enorme que os separava das grandes águas, o que impossibilitava ir a pé ou usar um transporte barato.
Tantos foram os pedidos, tão singelos e tão sentidos, que, um dia, o pai resolveu atender o filho e saíram em longa e sofrida viagem em direção ao sonho do filho. Andaram, caronearam, dormiram em lugares imprevistos e contaram com bondades incontáveis para atingir a beira do oceano.
Quando lá chegaram e subiram em uma pedra para olhar o horizonte azul e infindável das águas, foi tanta a beleza e tão vasta a visão, que era incapaz de caber em uma vista só, que o filho se virou para o pai e, segurando sua mão, murmurou extasiado: pai, ajuda-me a olhar? (Em memória de Eduardo Galeano)¹.
Penso que a escola deveria ser um lugar assim. Não sem normas, organização ou caminhos difíceis e, às vezes, aparentemente infindáveis, e sim um lugar sem amarras do pensamento e onde a possibilidade do sonho, do humano e da tessitura da vida pudesse passar pelo conhecimento profundo e consistente.
A escola deve ser o lugar no qual seja possível contrariar o poeta e afirmar ser possível fazer samba no colégio. Um lugar de sonho, trabalho árduo e onde a esperança fosse preservada, porque se sabe que a vida é mais vasta que a história. Um lugar no qual seja possível perguntar: e se houver uma guerra e ninguém for? Haverá pessoas que amam tanto a democracia que não a usam para não gastar? Os alunos, necessariamente, precisarão ser clientes? Nossas casas precisam, de fato, de tantas grades? Não é natural que vivamos de amor e de medo, de vida e de morte? Por que há tantas vidas que se envergonham de durar tanto? A escola deveria se contentar em ser apenas produto ofertado e preparar mão de obra flexível e adaptável? Estarão os educadores tão cansados que suas pernas já se apagaram? A política é sinônima do político e de sua corrupção?
Acredito que os campi diversos e as escolas em particular deveriam ser espaços de tessitura de livres-pensadores, os quais reconhecem a necessidade de caminhos e ideais, porém ousam abrir novas e insubstituíveis estradas.
Talvez, esse seja um tempo em que devamos reaprender a conversar com a alma; conversar com as nuvens, que têm mãos e caras, mas não têm pés; conversar com a terra como que a estender grandes panos no chão, pois somente assim fugiremos da tristeza e da mediocridade do esquecimento e da morte das utopias.
Este livro tem a pretensão de pensar a Formação de Formadores capazes de tecer sonhos, por meio da pesquisa, do estudo e reflexão permanente, que sejam atores e autores. O pano de fundo dessa ação formativa é contribuição para a tessitura de caminhos que ajudem a criar livres-pensadores e competentes visionários de um mundo, no qual todos possam viver com dignidade e onde a morte seja apenas o contraponto benéfico da vida.
Por essa razão, repudia a tentação da educação para resultados, formalizadora
, mercadológica, tecnicista e aniquiladora dos processos escolares e do pensar interno das instituições, não porque não seja necessário organizar e criar caminhos visíveis e sólidos, mas porque o legalismo e a supremacia do produto e/ou das competências técnicas aniquilam o pensar livre em nome do cumprimento de encaminhamentos/interesses externos e/ou legais.
A trajetória dessa obra acontece em um tempo de transições/contradições profundas, de mudanças paradigmáticas e da gestão de um novo processo civilizatório; um contexto histórico em que o mercado toma conta da vida e a educação cede espaços crescentes a essa tentação; uma realidade em que os gestores crescem em preocupação com a sobrevivência das instituições e ousam cada vez menos. Para esses últimos, o mercado é soberano!
E ele (o mercado) tem interesses próprios e intocáveis. Lembro-me novamente de Galeano ao tocar nesse assunto, em uma reescrita da mitologia grega, quando conta que Zeus estudou muito sua família para escolher os diversos deuses para as mais variadas funções. Tinha apenas uma clareza substancial sobre qual de seus filhos deveria ser o deus do mercado: Hermes. Era o que sabia mentir melhor.
O Ocidente, e a tal sociedade do conhecimento que ninguém sabe quem seja, é narcísico. Olha no espelho e, vendo apenas a si mesmo, acredita ter criado toda a inovação antiga e moderna. Não se lembra de que, três séculos antes de Copérnico fundar
a astronomia, os cientistas árabes já tinham gerado as bases para essa descoberta; a bússola, a pólvora e a imprensa, as quais o Ocidente apresenta como referência para o Renascimento, vieram da China; os hindus anunciaram a Terra redonda antes de qualquer ocidental; os maias conheceram as estrelas e criaram o mais avançado calendário da história séculos antes dos europeus... Talvez seja por essa razão que os mapas árabes apresentavam o Sul em cima e o Norte embaixo até o século XVII e já não se menciona ou se lembra dessa realização. O Ocidente devia ser mais honesto e prestar mais atenção para que o mundo fosse visto inteiro e não apenas a partir de seu umbigo!
À escola, identicamente, urge olhar para fora de seus muros, a fim de que possa ajudar a criar a novidade de um tempo diferente, capaz de contribuir para que a Terra seja para todos e por muito tempo. Corre-se o risco de o planeta sacudir a humanidade para fora, como o cachorro faz com as pulgas!
A escola vive nesse contexto de contradições, de discursos e contra discursos, sempre com o risco de ceder à mais nova moda ou tentação. Por essa razão é que se faz sempre mais importante tecer trajetórias sólidas no trato com o conhecimento, com o humano do conhecimento e com o sonho de que um novo mundo é possível quando formamos livres-pensadores, capazes de se tornarem intelectuais orgânicos de um novo tempo. E não se formam pessoas assim sem formadores autônomos e capazes do pensar livre.
Nessa perspectiva, a presente obra procura ter muito cuidado com a análise do contexto e suas mazelas, em relação à vida de cada pessoa e de todas as pessoas; busca insistir veementemente sobre a necessidade da tessitura de utopias referenciais para que se volte a sonhar, pois a utopia gera movimento e, a cada passo que se dá, ela se afasta um pouco, abrindo novos horizontes; cuida repetidamente da fundamentação teórica pela qual transitam a pesquisa, a análise de dados e as propostas, pois a julga indispensável para o caminho do livre-pensador; aproxima-se intencionalmente da prática do local e experiência de pesquisa, porque o dia a dia da ação apresenta-se insubstituível para a constituição da práxis...
Parece-me urgente e necessário insistir e defender, mais que em qualquer outra época, o trabalho e a profissão do educador como elementos constituidores na/da transformação do mundo em um lugar melhor de ser vivido, embora em tempos em que as antigas garantias da profissão são fragilizadas/precarizadas e as mudanças na estrutura do trabalho assalariado mergulham o trabalhador na barbárie e/ou na pré-modernidade, sob discursos de flexibilidade, qualidade e agilidade na produção e educação.
Conforme explicitação na Introdução que se segue, há um cuidado intencional com cada passo contextual e epistemológico, caminhando para retomadas seguidas, em vista de seu aprofundamento gradativo, até chegar à pesquisa no lócus escolhido com os instrumentos usados e o retorno palpável dos atores envolvidos. A conclusão final retoma o conjunto da produção e sugere uma proposta possível de formação continuada.
O foco central deste trabalho versa sobre a existência ou não de um projeto de formação de formadores de professores no espaço e tempo da educação básica. A proposta é perceber esse lugar e tempo como genuínos, necessários e indispensáveis à formação docente na ação.
A defesa é de que esses formadores sejam os Serviços de Apoio Pedagógico por sua especificidade e função, mesmo com o desafio do dia a dia ou diante do vício comum de a ação mediadora estar voltada apenas aos pais e alunos das instituições escolares.
A presente pesquisa aconteceu em uma escola particular da cidade de Curitiba, focando o estágio de sua experiência em dois anos específicos: 2007/08. No entanto a análise e as transposições não se fixam e/ou não se cristalizam unicamente naquele período, buscando extrapolar quanto ao local, ao tempo e à fundamentação teórica.
A baixa rotatividade docente e dos Serviços de Apoio Pedagógico percebida na instituição em questão parece ter sido fator significativo para a realização da Formação Continuada proposta e, certamente, possibilitou um ambiente de estudo e continuidade que merece cuidado e pode servir de referência na transposição de elementos possíveis a outras escolas, sempre tendo em mente que cada projeto deve ser específico e transitar dentro das trajetórias locais e contextuais próprias.
Penso que a dialogia entre dados recolhidos, cruzados e analisados
revela a importância de tecer projetos e a formação de autores e atores de seus processos formativos pessoais e coletivos, pois esse caminho oportuniza e possibilita dar voz a um campo de trabalho com a educação relegado por muito tempo ao estado prático da educação, no qual seus atores não foram reconhecidos como pesquisadores e sujeitos do projeto educativo no país e do pensar a escola dentro do contexto geral e local.
Vem à minha mente, mais uma vez, e ao falar em dar voz a alguém, a mitologia grega e sua genialidade. Em tempos idos, conta ela, a ninfa Eco sabia falar por si mesma como autora e criadora. Fazia isso com tanta presença, ternura e graça que suas palavras pareciam inéditas, nunca ditas antes por nenhuma pessoa. Acontece que Era (esposa de Zeus), cheia de ciúme e em um ataque de raiva incontida, a amaldiçoou, tirando de Eco a voz própria. Desde então, Eco não fala mais por si mesma, apenas repete o que foi dito.
Acredito que esse costume de não ter voz própria fez escola e escolas e passou a ser visto como virtude. Tornou-se comum repetir o que já foi dito ou ordenado por alguém, insinuar sabedoria, citar nomes e palavras difíceis e fazer discursos inéditos
que dizem sempre a mesma coisa, revelando a incapacidade de criar e ter a originalidade de criação. Recuperar a voz e a autoria é, por isso mesmo, necessidade intransferível e exige caminhos, abertura cultural, competência metodológica, sagacidade de transformar o conhecimento em sabedoria e pensar livre.
O pensador livre viaja sem passaporte e formulários preenchidos em alfândegas do bem pensar. Não escolhe pedir licença ao governante ou ao chefe imediato para voar.
Paga a conta em ter de viver um pouco sozinho e ser incompreendido pelas maiorias dos pensantes de bem.
Espalha sementes, conduz nuvens carregadas de sonhos, desafia navegantes seguros com suas bússolas apontando para o Norte.
Às vezes, aproxima o que está distante, outras, afasta o que está perto... seu pensamento acaricia ou golpeia você, pois é um espelho do vento que sopra livre e em direção inimaginável.
O autor
AGRADECIMENTOS
Destaco e postulo agradecimentos especiais à participação e ao acompanhamento de minha esposa, Maria Luiza, e meu filho, Vinícius, companheiros da hora e do dia, presenças de afeto e reciprocidades, de reflexões pessoais sobre o tema e de primeiras leituras do texto.
Agradeço, de maneira especial, à professora Pura Oliver, que se dispôs à análise do material em sua primeira elaboração e a escrever o Prefácio da obra. Mostra aberta a múltiplas possibilidades teóricas e práticas, ao livre pensar e a novas trajetórias.
Meu reconhecimento a meus companheiros de trabalho na educação, professores e serviços, os quais são parceiros permanentes dos debates, estudos e da práxis diária. Juntos, temos aprendido a ser e a sonhar, conviver com o diverso, refletir e discordar, tecer vida e amizades e cantar o futuro que se constitui todo dia.
Entre meus pares, especial referência às professoras Claudia e Juliana, primeiras leitoras de trechos da obra, companheiras do exercício do livre pensar, da confiança que permite interlocução desarmada, do sonho por um mundo de iguais e da educação como possibilidade de contribuir por um mundo melhor.
Agradeço, também, ao colégio em que trabalhei e realizei a pesquisa, pelo espaço oferecido e a oportunidade de sistematizar dados, análises e reflexões, tendo por base seu projeto pedagógico e formativo. Nele, experienciei compromissos, caminhos, encruzilhadas e reorganizações.
Especial menção e agradecimentos aos sujeitos da pesquisa (os Serviços de Apoio Pedagógico), pela disponibilidade em participar dos instrumentos da pesquisa e por disponibilizarem seus projetos para estudo e análise. Eles têm caminhado abrindo caminhos, e percorrer essa estrada parece tornar possível gestar boas-novas em muitas vidas.
Meus agradecimentos à Editora Appris e seus profissionais; pela parceria nesse trabalho, pelo cuidado com cada contato pessoal, pela atenção aos passos necessários, prontidão diante das dúvidas surgidas e, sobretudo, pela coragem de investir em uma área de trabalho e pesquisa pouco visualizada pela mídia e tão necessária ao avanço da formação no livre pensar.
PREFÁCIO
A formação do professor tem se constituído um desafio permanente para todos aqueles que se ocupam da Educação enquanto área de conhecimento e enquanto espaço de formação das novas gerações, considerando as características do momento histórico em que se situa. Esse desafio tem ocupado cada vez mais espaço entre os estudiosos da área e aqueles que, no chão da escola, convivem cotidianamente com as contradições inerentes à escola. Um olhar sobre a história recente da formação de professores no Brasil mostra que determinados momentos históricos tiveram uma importância significativa nas práticas de formação assumidas pelos formadores desses profissionais.
No período pós-64, a educação é considerada como fator de desenvolvimento e, portanto, como investimento individual e social, tendo a racionalização, a eficiência e a eficácia do processo como orientação básica para o modelo educacional. Em decorrência, prevalece a organização hierárquica de funções que retira do professor o controle sobre seu processo de trabalho e valoriza as relações sociais competitivas, concorrenciais, individualistas e hierarquizadas, incluindo estratégias para controlar a resistência do trabalhador, criando obstáculos sistemáticos ao trabalho coletivo. Nesse período, a formação do professor se faz por meio de treinamentos, nos quais se transmite os instrumentos técnicos necessários à aplicação do conhecimento científico, fundado na qualidade dos produtos, eficiência e eficácia. De acordo com tal enfoque, o professor competente corresponde a um bom executor de tarefas, observando sua posição no interior da organização do trabalho na escola.
Outro marco importante é a década de oitenta do século passado, momento histórico marcado pela abertura política do Regime Militar instalado em 1964, e pelo acirramento das lutas de classe no País. E as questões que se colocam, então, são de outra ordem. Enfatiza-se a necessidade de formar educadores críticos e conscientes do papel da educação na sociedade e mais comprometidos com as necessidades das camadas populares cada vez mais presentes na escola e cedo dela excluídas. Se, no período anterior, buscava-se um professor tecnicamente competente, comprometido com o programa político-econômico do País, no segundo, a preocupação gira em torno da formação de um professor politicamente comprometido com a transformação social. A dimensão política do ato pedagógico, agora, é objeto de discussão e análise. Para tanto, a contextualização da prática pedagógica passa a ser fundamental. Busca-se compreender a íntima relação entre a prática escolar e a estrutura social mais ampla. Assim, das transformações sociais que ocorrem nesse momento histórico, decorre o aparecimento de novos sujeitos coletivos criados pelos próprios movimentos sociais populares do período. E assiste-se, nas ciências humanas e sociais, a presença de novos agentes, novos objetos de estudo, novos eixos de análise, em que o próprio fazer passa a ser fundamental como elemento educativo.
Assim sendo, se, nas décadas de oitenta e noventa do século passado, ultrapassamos a concepção de neutralidade da educação e avançamos na discussão do papel político da educação e decorrente exigência de formação de professores críticos reflexivos, atores a autores de sua prática docente, capazes de compreender os determinantes das contradições e problemas enfrentados em sua prática no chão da escola, neste início de século, temos o desafio de fazer frente ao retorno da concepção de educação neutra
e sem partido
que permeia as discussões dos dirigentes e grupos conservadores sobre os rumos da educação e das escolas no Brasil.
Com efeito, formar professor para a Educação Básica, nesse momento histórico, exige, mais do que nunca, considerá-lo como sujeito da sua ação docente, historicamente situado, produtor de um saber que emerge das contradições presentes no cotidiano da escola, ator e autor dessa ação. E fortalecê-lo na busca de uma prática voltada para a formação do cidadão crítico e consciente de sua situação no mundo e na história. Isso porque, ao contrário do que se pretende com essa discussão de neutralidade
da educação, da escola e da ação dos seus professores, há que se considerar o professor como um sujeito historicamente situado e portador de um sistema ideológico particular
(SANTOS, 2005), constituído nas relações sociais estabelecidas por ele nas diferentes instituições das quais participa, quais sejam, família, escola, igreja, trabalho, clubes de lazer... E mais que isso, considerar que o homem constrói sua visão de mundo a partir dessas relações. Nessa perspectiva, também, o aluno é portador de seu sistema ideológico particular e traz para a escola uma visão de mundo que vai se ampliando nas relações estabelecidas na escola e fora dela durante sua formação. Pensar em neutralidade
é voltar à concepção de educação que considera o estudante como uma página em branco
, na qual o professor vai imprimir suas ideias e seus valores sem questionamento por parte deste; é atender aos interesses do sistema em detrimento dos interesses da população.
Ora, se a formação de professores para a Educação Básica é um desafio desde há muito, no presente momento histórico, torna-se fundamental uma atenção redobrada nessa tarefa de formação tanto inicial como continuada. Uma formação que considere o professor sujeito e com capacidade de compreender os determinantes mais profundos dos desafios que se colocam hoje. Assim sendo, um olhar para o Formador do Formador faz-se necessário, focalizando a análise crítica dessas posições conservadoras e viabilizando uma prática que ultrapasse essas determinações e viabilize a formação de professores para a Educação Básica, capazes de compreender-se como sujeitos historicamente situados, tendo em vista uma ação transformadora em seu tempo histórico.
Destarte, o desafio de alcançar a formação do formador em uma perspectiva crítico-reflexiva está presente entre os estudiosos da área e entre os professores inseridos nas escolas de Educação Básica desde a década de oitenta do século passado. E, nesse sentido, vários estudiosos desenvolvem suas propostas tentando dar conta desse desafio. Dentre esses, encontra-se Adalberto Fávero, que desenvolveu seus estudos voltados para essa busca, tendo em vista a Formação de Formadores capazes de tecer sonhos, por meio da pesquisa, do estudo e reflexão permanente, onde sejam atores e autores
e desenvolvendo uma ação formativa "para a tessitura de caminhos que ajudem