Ficcionais
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Ficcionais - Schneider Carpeggiani
© 2015 Companhia Editora de Pernambuco
Direitos reservados à Companhia Editora de Pernambuco – Cepe
Rua Coelho Leite, 530 – Santo Amaro – CEP 50100-140 – Recife – PE
Fone: 81 3183.2700
*
F444
Ficcionais : escritores revelam o ato de forjar seus mundos / Schneider Carpeggiani (organizador). – Recife : Cepe, 2015.
1. Ficção brasileira – História e crítica. 2. Escritores brasileiros – Estilos. 3. Gêneros literários. 4. Criação (literária, artística, etc.). 5. Escritores brasileiros – Narrativas pessoais. I. Carpeggiani, Schneider.
CDU 869.0(81)-3
CDD B869.3
PeR – BPE 012-0234
*
ISBN: 978-85-7858-290-6
03_Guarda2.pngGoverno do Estado de Pernambuco
Governador do Estado: Paulo Henrique Saraiva Câmara
Vice-Governador do Estado: Raul Jean Louis Henry Júnior
Secretário da Casa Civil: Antônio Carlos dos Santos Figueira
Companhia Editora de Pernambuco
Presidente: Ricardo Leitão
Diretor de Produção e Edição: Ricardo Melo
Diretor Administrativo e Financeiro: Bráulio Mendonça Meneses
Conselho Editorial:
Everardo Norões (Presidente)
Lourival Holanda
Nelly Medeiros de Carvalho
Pedro Américo de Farias
Produção Editorial: Marco Polo Guimarães
Direção de Arte: Luiz Arrais
Projeto Gráfico: Karina Freitas
Revisão: Artur Ataíde
Coordenação de Projetos Digitais: Rodolfo Galvão
Designer do Projeto Digital: China Filho
04_Guarda3.png05_Tarja_Prefacio.pngAo fazer a encomenda de um texto a um escritor, para uma das edições do Pernambuco, cometi a gafe de sugerir: Mas é uma crônica, se não aconteceu muita coisa nesse evento, você pode mentir e...
. O correto seria ter dito criar
. Ele riu e, meio que penalizado da minha inocência, foi direto ao me corrigir: Eu não minto; sou um autor de ficção
. Pedi desculpas pelo engano e mudei de assunto com a objetividade típica dos que ainda não sabem como contornar uma falta e prosseguir.
Isto é um prefácio. Não uma coleção de verbetes de dicionário. Mas duas rápidas definições são necessárias para que o leitor não seja vítima do erro banal, ainda que tão educativo, que eu cometi. A mentira é uma inclinação no sangue, a Mona Lisa do Museu do Prado, a proteção que nos resguarda de um sim
ou não
que ainda não sabemos como aceitar. Um atalho.
A ficção é a mão segura, o olhar sábio, a memória invasora ou o esquecimento premeditado, iniciais e índices. A forma como apagamos as luzes ao sairmos de um cômodo. É quando deixamos algo para trás sem mais o calor do momento. Ficção e mentira suspendem a arrogância da verdade, mas atuam em universos distintos.
Depois daquela gafe, jamais esquecerei a diferenciação tão objetiva entre mentira e ficção, que me levou a compreender melhor as ferramentas que regem o processo de ficcionalizar uma lembrança ou mesmo algo que, por desleixo, ou sorte, o destino ainda não fez acontecer.
A proposta da coluna Bastidores, do Pernambuco, muitas vezes, pegou o convidado de surpresa: alguns afirmaram de pronto que não sabiam mais o que escrever sobre algo já definitivo, impresso, o morto
do mostruário da livraria, mas acabaram cedendo; outros encenaram espanto diante da proposta e prometeram arrumar um jeito de cumprir a encomenda
, mal escondendo o desconforto diante da provocação. Houve, claro, aqueles que não tiveram medo de revelar o grau zero da escrita. Nesses anos todos, ainda que com dificuldades, ainda que com o receio da confissão, os nossos colaboradores foram primorosos ao lançar luzes e sombras sobre seus processos criativos.
Na verdade, a coluna Bastidores é uma forma disfarçada, e com alguma pompa, de repetir aquela grande pergunta clichê, que Clarice Lispector tão bem respondeu com o fuzilamento de Por que você bebe água?
, ou seja: Por que você escreve?
. Talvez se tivéssemos lançado essa questão, que no fundo é a pergunta maior, o ser ou não ser
do jornalismo cultural, não teríamos conseguido arrancar revelações tão inquietantes sobre o que implica escrever; sobre o que move alguém a passar meses, anos até, enfurnado na gestação de um universo paralelo sem qualquer rede de segurança de leitores ou editoras. Ficção também é solidão (para voltarmos aos verbetes de antes).
Ao escrever esse prefácio, percebo que a coluna Bastidores é uma grande mentira, o eufemismo para não questionarmos de cara o Por que você escreve?
. Mas nossa grande mentira teve excelentes rendimentos e merece o perdão: foi reunida nesse livro boa parte dos grandes escritores brasileiros em atividade. E mais: muitos deles falando de obras que se tornaram definitivas para nosso cânone literário. Com um resultado assim, prescindimos do mea culpa católico.
Última questão: o título do livro, Ficcionais, faz referência e presta homenagem a Jorge Luis Borges, o homem que nos ensinou que tudo (tudo, menos uma mentira) pode ser ficção, ao intitular uma das suas obras mais poderosas de Ficções. Assim mesmo, sem floreios. A força do substantivo solitário, para comemorar os cinco anos do Pernambuco.
Borges permitiu ao leitor escolher aquilo em que ele deseja acreditar (a crença na mentira não é escolha, mas cegueira ou necessidade). E é essa escolha, às vezes tão sinuosa, às vezes tão na contramão, que faz com que os tigres permaneçam à solta na biblioteca, como ele tão sabiamente já nos alertou.
Acredite sempre, mas com cautela.
*Schneider Carpeggiani é editor do suplemento Pernambuco.
06_Cortina_autores.png07_bernardo.pngO escritor carioca, em entrevistas, sempre se demonstrou preocupado com o status da ficção
num mercado que ele considera fascinado por biografias e relatos reais
. A partir do romance Nove noites (2002) passou a borrar
os limites entre os gêneros literários, algumas vezes criando até falsas autobiografias, como é o caso de Mongólia (2003). Já foi vencedor de prêmios como o APCA e o Portugal Telecom. Também atua como crítico de arte e tradutor.
No começo de sua carreira, iniciada no final dos anos 1990, o nome do escritor gaúcho era constantemente atrelado à (na época) chamada nova literatura da internet
, por sua atuação constante em fanzines eletrônicos e portais. Entre seus trabalhos mais importantes estão o romance Mãos de cavalo (2006) e a graphic novel Cachalote (2010), produzida em conjunto com Rafael Coutinho. Traduziu para o português o clássico contemporâneo Trainspotting, de Irvine Welsh, ao lado de Daniel Pillizari.
A cada novo livro, o escritor carioca parece querer surpreender seus leitores. Foi o caso do elogiado romance policial O senhor do lado esquerdo (2011), que procurou fazer uma antropologia artificial
da identidade do Rio de Janeiro, afirmando que são os crimes o que melhor define uma cidade. Sua tradução de Os poemas suspensos – Poesia árabe pré-islâmica (2007) foi finalista do Prêmio Jabuti.
Uma das questões que mais costumam pontuar as entrevistas desse escritor gaúcho é: Seu trabalho é memorialístico?
. A inquietação da imprensa é compreensível: suas obras geralmente trazem uma primeira pessoa flagrada num momento de necessária e dolorosa confissão. Foi o caso do seu elogiado romance Diário da queda (2011), que trazia a marca da sua criação judaica. Laub atua ainda como crítico literário e assina uma coluna no blog da Companhia das Letras.
A escritora carioca, em 2011, tornou-se a segunda mulher a ser eleita presidente da Academia Brasileira de Letras. A primeira foi Nélida Piñon. Apesar de ser considerada uma das maiores autoras de literatura infantojuvenil no Brasil, o que lhe rendeu o Prêmio Hans Christian Andersen (espécie de Nobel da literatura infantil, em 2000), também tem uma vasta obra voltada ao público adulto e volumes de crítica literária. É o caso de Silenciosa algazarra (2011).
12_antonio.pngA prosa desse sergipano é famosa por envolver o leitor dentro da trama, como se ele fosse mais um dos personagens, tamanho é o seu teor dramático. Seu texto também é lembrado pelo uso de uma técnica literária bastante sofisticada. Doutor em Literatura Comparada pela Universidade de Nice, na França, é também tradutor. Em 2008, recebeu o Prêmio da APCA pelos contos de Cine privê.
13_rubens.pngAlém da sua premiada obra literária, esse carioca é famoso por ser um dos principais tradutores do russo no Brasil. Entre suas traduções, constam três importantes obras da literatura russa: Anna Karenina e Guerra e Paz, ambos de Liev Tolstói, e Pais e Filhos, de Ivan Turgenyev, todas pela editora Cosac & Naify. O passageiro do fim do dia foi o vencedor do Prêmio Portugal Telecom e do Prêmio São Paulo de Literatura de 2011.
14_santiago.pngEsse paulistano é um dos nomes mais midiáticos da nova literatura brasileira, por suas entrevistas sempre polêmicas e irônicas.