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Ensino das Artes na Universidade: Textos Fundantes
Ensino das Artes na Universidade: Textos Fundantes
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Ensino das Artes na Universidade: Textos Fundantes

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Como estará a Arte, seu ensino, o mercado de trabalho para artistas e arte-educadores daqui a uns 20 anos? Ensino das Artes na Universidade: textos fundantes traz ao público em geral, aos estudantes e aos especialistas, a oportunidade de conhecerem o pensamento que revolucionou o ensino das Artes. Reúne professores, pesquisadores e artistas das principais instituições de ensino superior no País. Diversos autores antecipam o futuro em decorrência de seu olhar agudo e atento sobre o presente. Alguns visitam nossos primórdios nas grutas de Lascaux, outros se interrogam sobre o livro digital, que era ainda uma simples hipótese. A linguagem, em sua expressão estética, sugere a expansão do conceito de Arte como se vê hoje. A visão antecipatória do impacto das novas tecnologias no fazer artístico e na convivência humana está aí pulsante nas reflexões de vários colaboradores. A história da Arte, a crítica, a educação, os acervos e museus são temas tratados na presente obra com rigor e sensibilidade. Currículos; ensino; metodologia; mercado de trabalho; territórios ocupados pelo artista vão, às vezes, antecipando o futuro, às vezes, revisitando o passado e outras se detêm no presente. O ensino das Artes que já incluía a contribuição africana tem aqui um espaço único na memória nacional.
LanguagePortuguês
Release dateSep 25, 2018
ISBN9788547311872
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    Book preview

    Ensino das Artes na Universidade - Maria de Lourdes Teodoro

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    A presente obra é dedicada às professoras Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, Grace Maria Machado de Freitas, Suzete Venturelli e ao professor Belidson Bezerra, cujas pesquisas e publicações têm gerado muitos frutos para o ensino das Artes, para a modernização dos museus e para a abertura de horizontes sensíveis.

    O trabalho é ainda dedicado aos professores Athos Bulcão, Milton Cabral Viana, Laís Aderne, Walter Zanini e Eduardo Peñuela – in memoriam – por terem deixado no Instituto de Artes da UnB o exemplo de um ensino verdadeiro.

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço a todos os professores da Universidade de Brasília (UnB); da Fundação Educacional do Distrito Federal; da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, por sua intensa participação nos eventos de ensino das Artes. Agradeço ao Trio Brasília, ao Quarteto de Brasília e à Orquestra Sinfônica da UnB, e a Odette Ernst Dias, que abrilhantaram nossas atividades.

    Agradeço às universidades e demais instituições de ensino e pesquisa cujos professores e/ou artistas participaram das atividades de extensão universitária denominadas Encontro Ensino das Artes: Universidade de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea, MAC-USP; Sobrearte; Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG; Universidade Estadual de Capinas – UNICAMP; Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS; Conservatório Brasileiro de Música, CBM/UniRio; Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP; Universidade Estadual Paulista, Unesp; Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Belas Artes, UFRJ-EBA; Fundação Armando Alvares Penteado, FAAP-SP; Universidade Federal de Pernambuco, UFPE; Universidade Federal da Paraíba, UFPB; Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS.

    Agradeço ainda ao apoio das seguintes instituições: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq; Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior). Agradeço especialmente aos coordenadores de mesa e aos relatores das várias atividades realizadas nos Encontros, graças aos quais este trabalho poderá talvez atingir seu objetivo maior: oferecer a possibilidade de ser memória transformadora: Lygia Maria Sabóia de Freitas; Stella Maris Figueiredo; Zuleica de Medeiros; Fernando Bastos; Silvio Zamboni; Izabel Montandon; Sylvia Ficher; Fernando Vilar; Juliano Serra; Maria Luiza Guimarães Fragoso; Ana Cláudia Maynardes; Aluizio Arcela; Flávio Santos Pereira; Luiz Guilherme; Gê Orthof; Eliza de Souza; Helena Barcellos; Ana Vicentini; Suzete Venturelli; Sergio Sampaio e Mario Bonomo.

    É ainda de modo especial que agradeço a colaboração de todos os estudantes, alguns deles bolsistas de Iniciação Científica, outros, de Aperfeiçoamento junto ao CNPq, que deram seu apoio na realização dos vários Encontros. Enfatizo as colaborações de Zenilde Teodoro da Rosa na digitação de alguns textos datilografados, e de J. Teodoro na adequação da linguagem oral para a escrita.

    Um agradecimento muito especial ao Instituto Fayga Ostrower , por sua importante colaboração.

    Pelo acolhimento à ideia deste projeto, meu agradecimento a Grace Maria Machado de Freitas; Otávio Teodoro Chaves; Isabela Brochado; Belidson Bezerra; Suzete Venturelli e Anna Leonor Ostrower.

    Maria de Lourdes Teodoro

    APRESENTAÇÃO

    Este livro é fruto de minha vontade de contribuir com o ensino das Artes no Instituto de Artes da Universidade de Brasília, UnB. Ele reúne os textos que me foram encaminhados por seus autores. Houve textos manuscritos, alguns vieram datilografados e uns poucos já chegaram digitados. Outro tipo de texto decorre de conferências e aulas que foram gravadas em fitas K-7, posteriormente transcritas e devidamente editadas. Todos os textos aqui incluídos como textos autorais resultam de três eventos de extensão universitária, denominados Encontro Ensino das Artes.

    Cheguei à Universidade de Brasília em 1985, com o título de doutora em Literatura Comparada, respirando os ares da abertura política que chegavam até a UnB. Logo após, fiz parte do grupo de candidatos à primeira seleção pública para ingresso no quadro de professores. José Jorge Carvalho, o professor que viria a ser o corajoso idealizador das cotas para estudantes negros na UnB, ajudou-me a me preparar para o concurso, no qual fui aprovada, para a Disciplina Folclore Brasileiro no Instituto de Artes.

    Essa pequena curva é para acentuar que organizar este livro foi também um modo de interrogar sobre o lugar da Arte nas Universidades, na sociedade e sobre sua função em nossas vidas.

    As reflexões aqui trazidas permanecem vigorosas hoje e são referenciais para o público interessado nas formas expressivas da contemporaneidade, na história, na teoria e na crítica no campo das Artes.

    Organizei Ensino das Artes na Universidade – textos fundantes movida por meu desejo de guardar essa memória, como forma de preservar uma parte importante da memória nacional.

    Maria de Lourdes Teodoro

    Professora aposentada do Instituto de Artes, IdA/Universidade de Brasília, UnB

    Brasília-DF, 2017.

    PREFÁCIO

    1 | Antecedentes

    Ana Mae Tavares Barbosa; Luís Humberto Miranda Martins Pereira; Jean-Claude Bernardet; Conrado Silva e eu, Grace de Freitas, estivemos juntos em uma mesa-redonda denominada A Experiência de Brasília, no Simpósio Internacional de História da Arte/Educação, na Universidade de São Paulo em 1984.

    As comunicações e os testemunhos desvelaram a proposta de um projeto pedagógico revolucionário – motivado pela ideologia utópica do movimento construtivista internacional – iniciado no Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília, por meio da fala de dois de seus professores-fundadores e pelo esforço para sustentar, mesmo sob as sistemáticas ingerência e intervenção da ditadura militar, não só a qualidade daquela proposta como também a preservação da palavra Arte naquela universidade, por aqueles que os sucederam.

    Procedente de Goiânia, da Faculdade de Arquitetura PUC/Goiás, eu tinha sido professora-assistente do professor Edgard Graeff. Dele, muito ouvi e com ele muito aprendi sobre o Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília-ICA.

    Quando entrei para a Universidade de Brasília, em 1976, a palavra Arte já não mais existia e nada se parecia com o que havia sido idealizado para o ICA, reduzido ao Departamento de Desenho, anterioriormente, Departamento de Expressão e Representação. O professor Charles Sebastião Mayer foi o principal responsável por recuperar, para mim, a memória do então Instituto Central de Artes.

    Tive acesso a alguns documentos, tais como o Plano Diretor do ICA, depois ICA-FAU, que apresentava o curso-tronco elaborado por Alcides da Rocha Miranda e, depois, por Edgard Graeff, em 1962/1963, assim como ao Plano de Curso de 1969, que já tratava da reorganização do Instituto Central de Artes, feita pelo professor Miguel Alves Pereira, depois da destruição promovida pela ditadura militar.

    Outras reformas aconteceram até que o nome Arte tivesse desaparecido e o que tinha sido um importante Centro de Ensino da Arte se esfacelasse. Nesse desmonte, o Departamento de Música e o de Audiovisual e Cinema passaram a compor a Faculdade de Comunicação e Expressão; e o de Desenho, o Instituto de Arquitetura e Urbanismo, programando a criação de um curso de Desenho Industrial.

    Essa digressão foi necessária para vislumbrar o percurso ao qual este campo de conhecimento – a Arte – foi levado, até ser possível retomar o lema do ICA, sempre atual: Inserir a Arte no mesmo nível das Ciências e da Tecnologia (quase o retorno do reprimido); no caso, de que maneira reinseri-lo?

    2 | Institucionalizar

    Cristovam Buarque assumiu a Reitoria da UnB em 1984 e, com ele, veio o estímulo à livre circulação de ideias. Assumi a chefia do Departamento de Desenho e havia uma nova conjuntura a ser considerada, por força da Lei da Anistia: a volta dos professores demitidos do ICA, os professores e as professoras que lá resistiram e as novas contratações.

    Aquele foi um momento único não somente para refazer o elo com a história do ensino da Arte na Universidade e para romper com a desmotivação de professores, alunos e funcionários. Um momento único também para abrir um amplo debate visando a perceber as transformações; para antever; avançar e refletir sobre novas sínteses em face de novos conhecimentos; para propor outras configurações e formulações; para criar expectativas e, por fim, para radicalizar o processo de mudanças.

    Nessa efervescência de ideias, inspirados pelo Simpósio da USP, organizamos um grupo de trabalho que procurou o Decanato de Extensão e assessores da Reitoria para discutir a realização do 1° Encontro Ensino da Arte a partir das questões mais prementes que desejávamos debater e sobre quais seriam os professores(as) ou artistas brasileiros(as), preferencialmente de renome internacional, mais adequados para exporem ideias e conceitos que contribuíssem com nossos propósitos, além da organização do evento em si.

    O 1° Encontro, em abril de 1986, foi aberto pelo reitor Cristovam Buarque, que dividiu a mesa com os decanos A.I. Ruiz e Volney Garrafa; com o diretor e o vice-diretor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Frederico Holanda e Mund Jr.; com a chefe do Departamento de Desenho, Graça de Freitas e com o professor convidado, Álvaro Apocalipse, da UFMG.

    Durante seis dias, o 1º Encontro reuniu 150 pessoas entre professores; professoras; teóricos; artistas plásticos; cênicos; músicos; arte-educadores(as) e estudantes.

    Para nos prevenirmos de A palavra voa, o escrito permanece, a professora Maria de Lourdes Teodoro cuidou da memória desse 1º Encontro, produzindo a primeira publicação do Instituto de Artes, cujo folder, criado pelo professor Charles Sebastião Mayer, trazia na capa o logotipo da UnB apropriadamente decomposto, composto e recomposto.

    Nessa publicação, ficou registrada a proposta da então necessária temática diversificada que trata desde habilitações e currículos; bacharelados e licenciaturas; pesquisa em Arte; ensino e metodologia; extensão e interdisciplinaridade; ateliê e laboratório até questões concernentes à profissionalização e ao mercado de Arte, envolvendo artes visuais, cênicas, música e desenho industrial. Oficinas e ateliês livres em todas as áreas também aconteceram durante aquela semana.

    A partir daquele 1º Encontro, grupos de trabalho foram criados nos Departamentos de Desenho e Música, já antevendo a institucionalização do campo da Arte na Universidade.

    Após muito debate e muitas definições, em 14 de outubro de 1989 o Conselho Universitário da Universidade de Brasília, em sua 84° reunião, aprovou o projeto de criação do Instituto de Artes (IdA), constituído pelos Departamentos de Artes Visuais, Música e Artes Cênicas.

    Os cursos criados foram: o bacharelado em Artes Plásticas com habilitações em Pintura, Gravura, Escultura, Desenho e Teoria, História e Crítica da Arte, o bacharelado em Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual e, depois, em Projeto do Produto; o bacharelado em Artes Cênicas com habilitação em Interpretação Teatral; o de Música preservou os bacharelados em Instrumentos e a licenciatura, sendo mantidas as licenciaturas dos outros cursos.

    O professor João Antonio de Lima Esteves assumiu a chefia do recém-criado Departamento de Artes Cênicas; a professora Lygia Sabóia, o de Artes Visuais; o professor Ney Salgado, o de Música.

    A direção e vice-direção do IdA ficaram sob o comando das professoras Grace Maria Machado de Freitas e Jaci Toffano, respectivamente, ambas eleitas pelo voto universal. Trabalhamos para que as mais ricas vertentes da Arte e do pensamento contemporâneo, solidamente fundamentadas no decurso do tempo/espaço, fossem o mote daquela gestão, na reorganização desse campo do conhecimento, sem saudosismo, mas com respeito ao passado. O Instituto de Artes tornou-se referência não só no Centro-Oeste como também no País.

    Naquele mesmo ano de 1989, o Conselho de Administração aprovou o projeto para a construção do Instituto de Artes. Quando o professor João Claudio Todorov assumiu a Reitoria, conseguiu, no Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet, captar recursos para que fosse concretizado o projeto. Em 13 anos, foi construído o primeiro e único edifício, que comporta o Departamento de Artes Cênicas e parte do que seriam os ateliês de Artes Plásticas.

    Se o 1° Encontro foi o da criação do Instituto de Artes, o 2° Encontro Ensino da Arte, em 1988, foi o ano da sua consolidação. Tivemos o mesmo formato e os professores e professoras puderam confrontar o andamento dos cursos em relação às propostas de outras universidades.

    O 3° Encontro Ensino da Arte, em 1993, foi o da emergência do Programa de Pós-Graduação em Arte do IdA, em nível de mestrado, com a primeira área de concentração em Arte e Tecnologia da Imagem, incluindo música e sonoridade.

    Os professores e as professoras discutiram questões da pesquisa em Arte, das possibilidades de outras áreas de concentração, tais como a de Teoria, História e Crítica de Arte, a construção do olhar, a pós-graduação em Design no Brasil e a publicação de uma revista especializada, dentre outras iniciativas.

    Portanto, aí estão os textos fundantes do Instituto de Artes, para se unirem às comemorações do Jubileu da Universidade de Brasília, restabelecendo, mesmo que parcialmente, um elo entre o ICA e o IdA.

    3 | Falar, realizar

    De que falam? Qual o contexto? Importante rever a atualidade desses textos, no que diz respeito a muitos aspectos da Arte. Segunda metade do século XX e seus termos: Arte e circunstância; instituição da Arte na universidade; o professor; Arte; aquilo que da Arte se ensina: a linguagem, a técnica, a teoria, a história, a crítica e os meios para construção de poéticas.

    Nesses textos, selecionados pela professora aposentada do IdA, hoje psicanalista, Maria de Lourdes Teodoro, vemos a alta qualidade de propostas e das comunicações que propiciaram novos caminhos apoiados em novos conceitos.

    O excelente nível dos palestrantes e dos anfitriões tornou-se um marco. Cabe lembrar aqui o importante debate que no 2° Encontro formulou as bases para a Revista das Artes, com a colaboração de Jeanne Marie, professora da Escola de Comunicação e Artes da USP; de Maria Alice Milliet; Maciej Babinski; Marília Rodrigues; Milton Cabral Viana; Lena Coelho; Charles Mayer e Hugo Mund Jr., dentre outros e outras.

    Jeanne Marie vê a revista como canal de debate e expressão, com estrutura e recursos próprios, independente dos Departamentos, com conselho editorial rigorosamente escolhido.

    Todas e todos os participantes defenderam a perspectiva da universidade como lugar de criatividade e mudança necessárias, no qual o artista deve Manter a força subversiva que transforma valores, como enfatiza Milton Cabral.

    O que vemos hoje, já na segunda década do século XXI, é fruto do esforço conjunto de todas e todos aqueles artistas, professores e professoras que conseguiram resistir, visando à manutenção do ensino da Arte, Desenho e Plástica e, depois, licenciatura em Educação Artística, com cênicas, música e plásticas, durante os anos de chumbo. Posteriormente, o esforço dos professores, professoras e artistas que fizeram concurso no pós-ditadura e, finalmente, os professores e professoras que retornaram à UnB por força da Lei da Anistia.

    A todos eles e a todas elas, nossas homenagens.

    Aqui está esta magnífica documentação que se transformou em livro de importância fundamental para a memória do ensino da Arte, não só na Universidade de Brasília como também nas demais instituições brasileiras que trabalham nesse campo.

    Que outros Encontros, tão ricos quanto esses, sempre ocorram, mesmo em um tempo sem tempo, sem avesso, sem direito, sem dentro, sem fora: espaço/tempo da topologia, Moebius e Borromeus.

    Aquelas atividades de extensão universitária abriram a perspectiva de um ensino da Arte que hoje frutifica pela cidade e pelo País, com vigor e excelência.

    Grace Maria Machado de Freitas

    Brasília, junho/2017

    sumário

    ENSINO E METODOLOGIA

    Ana Mae Barbosa:

    Ensino das artes visuais no Brasil: influências e subversões 

    Fayga Ostrower:

    Ensino e metodologia

    Geraldo Orthof:

    A universidade e a formação do artista 

    Donato Ferrari:

    Habilitações e currículos 

    ÁLVARO APOCALYPSE:

    Mercado de trabalho 

    ARTE E INTERDISCIPLINARIDADE

    Milton Cabral Viana:

    O ensino no contexto do Instituto de Artes

    Maria Alice Milliet:

    Museu: memória e acervo

    Eduardo Peñuela:

    Extensão e interdisciplinaridade

    Lucia V. Sander:

    Extensão e interdisciplinaridade no campo das Artes

    Maria de Lourdes Teodoro:

    Literatura e identidade cultural

    HISTÓRIA, CRÍTICA E TEORIA DA ARTE

    Grace Maria Machado de Freitas:

    A construção do olhar

    Jaci Toffano:

    IdA na Pós

    Walter Zanini:

    Ensino e desenvolvimento da História da Arte no Brasil

    Sônia Gomes Pereira:

    A história e a crítica da arte nos cursos de pós-graduação.

    O caso do mestrado da Escola de Belas Artes da UFRJ

    Maria Alice Milliet:

    Migração dos signos

    Neide Marcondes:

    Gosto /formas, moda /teorias

    MÚSICA

    José Maria Neves:

    Pesquisa e pós-graduação em música 

    Beatriz Magalhães Castro:

    A Suíte em Si Menor de j. s. bach: aplicações de práticas performáticas

    do barroco musical à execução da flauta moderna 

    Jorge Antunes:

    Interlúdio n. 1 da ópera Olga: do som à imagem e da imagem ao som 

    Aluizio Arcela:

    Luz, geometria e som

    ARTES CÊNICAS

    Eliana Johansson Carneiro:

    A razão do corpo 

    DESIGN

    Gustavo Amarante Bomfim & Eduardo Carvalho Araújo:

    Pós-graduação em Design no Brasil 

    ARTE E TECNOLOGIA DA IMAGEM

    Arlindo Machado:

    Formas expressivas da contemporaneidade 

    Suzete Venturelli:

    Construção e animação de imagens bi e tridimensionais

    Maria Luiza Taunay & Tania Fraga:

    O fenômeno da computação gráfica e as possibilidades de uma nova estética

    Maria Beatriz de Medeiros:

    Análise crítica da poética das imagens informáticas

    PESQUISA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

    Silvio Zamboni:

    Metodologia de pesquisas em Artes Visuais

    Sônia Gomes Pereira:

    A reforma urbana de Pereira Passos

    e a construção da identidade carioca 

    Regina Polo Müller:

    As representações sensíveis e a antropologia estética (II) 

    Stella Maris de Figueiredo Bertinazzo:

    Suportes e materiais alternativos em xilogravura 

    Fayga Ostrower:

    Aula demonstrativa sobre Arte 

    MEMÓRIA

    Memória visual do Primeiro Encontro Ensino das Artes de 1986 

    Reprodução dos Folders dos Encontros Ensino das Artes anos 1986, 1988 e 1993

    ENSINO E METODOLOGIA

    Ana Mae Barbosa:

    Ensino das artes visuais no Brasil: influências e subversões

    O modernismo no Ensino da Arte se desenvolveu sob a influência de John Dewey. Suas ideias foram muitas vezes erroneamente interpretadas ao longo do tempo, contudo, chegaram até nós filosoficamente bem informadas por meio do educador brasileiro Anísio Teixeira, seu aluno no Teachers College, do Columbia University. Anísio foi o grande modernizador da educação no Brasil e principal personagem do Movimento Escola Nova (1927-1934). De Dewey, a Escola Nova tomou principalmente a ideia de Arte como experiência consolatória. Identificou esse conceito com a ideia de experiência final, erro cometido não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos, nas Progressive Schools. A experiência consumatória para Dewey é pervasiva, ilumina toda a experiência, não é apenas seu estágio final.¹

    A consolidação da interpretação equivocada veio da Reforma Carneiro Leão, em Pernambuco, largamente difundida no Brasil. No livro de José Scaramelli, Escola nova brasileira: esboço de um sistema,² no qual o autor fornece os pressupostos teóricos da Reforma Carneiro Leão e muitos exemplos práticos de aulas, a função da Arte está explicitamente ligada à interpretação simplificadora da experiência consumatória de Dewey.

    De acordo com as descrições de Scaramelli, a Arte era usada para ajudar a criança a organizar e fixar noções apreendidas em outras áreas de estudo.

    A expressão por meio do desenho e dos trabalhos manuais era a última etapa de uma experiência para completar a exploração de um determinado assunto.

    A ideia fundamental era, por exemplo, lecionar sobre peixes explorando o assunto em vários aspectos e terminando pelo convite aos alunos para desenharem peixes e fazerem trabalhos manuais com escamas ou, ainda, lecionar sobre horticultura e jardinagem e levar as crianças a desenharem um jardim ou uma horta. Essa linha de trabalho foi também muito explorada na Escola Regional de Merity (RJ), um dos modelos da Escola nova.

    A prática de colocar Arte (desenho, colagem, modelagem etc.) no final de uma experiência, ligando-se a ela por meio de conteúdo, vem sendo utilizada ainda hoje na Escola Fundamental no Brasil e está baseada na ideia de que a Arte pode ajudar a compreensão dos conceitos porque há elementos afetivos na cognição que mobilizados por meio da Arte. Escolas que afirmam trabalhar por projetos, uma moda dos anos 90, frequentemente usam a estratégia da qual acabo de falar.

    1 | Arte para crianças e adolescentes como atividade extracurricular

    É no fim da década de 1920 e início da década de 30 que temos as primeiras tentativas de escolas especializadas em Arte para crianças e adolescentes, inaugurando o fenômeno da Arte como atividade extracurricular. Em São Paulo, foi criada a Escola Brasileira de Arte, conhecida por meio de Theodoro Braga, seu mais importante professor. Mas a ideia partiu da professora da rede pública Sebastiana Teixeira de Carvalho e foi patrocinada por Isabel Von Ihering, presidente de uma sociedade beneficente, A Tarde da Criança.

    A Escola Brasileira de Arte funcionava em uma sala anexa ao Grupo Escolar João Kopke. Lá, as crianças de 8 a 14 anos, das escolas públicas, com talento (havia provas de Desenho), podiam gratuitamente estudar Música, Desenho e Pintura. A orientação era vinculada à estilização da flora e fauna brasileiras. Theodoro Braga desenvolvia o que podemos chamar de método art-nouveaux. Em vários artigos publicados em revistas e jornais do País, Braga reverberava contra o método de cópia de estampas e defendia um ensino voltado para a natureza. Tarsila do Amaral, em uma entrevista ao Correio da Tarde, de 28 de janeiro de 1931, elogia o trabalho de Theodoro Braga e de Anita Malfatti no ensino da Arte, conferindo aos dois o mesmo valor.

    Anita Malfatti mantinha cursos para crianças e jovens em seu ateliê e na Escola Mackenzie. Tinha uma orientação baseada na livre expressão e na espontaneidade. Com o curso para crianças, criado na Biblioteca Infantil Municipal pelo Departamento de Cultura de São Paulo, quando Mário de Andrade era seu diretor (1936-1938), esta orientação começou a se consolidar.

    A contribuição de Mário de Andrade foi muito importante para que se começasse a encarar a produção pictórica da criança com critérios investigativos e à luz da filosofia da Arte.

    O estudo comparado do espontaneísmo e da normatividade do desenho infantil e da Arte primitiva era o ponto de partida de seu curso de filosofia e de história da Arte na Universidade do Distrito Federal.

    Por outro lado, dirigiu uma pesquisa preliminar sobre a influência dos livros e do cinema na expressão gráfica livre de crianças de 4 a 16 anos, tanto da classe operária quanto da classe média, alunos dos parques infantis e da Biblioteca Infantil de São Paulo.

    Seus artigos de jornal muito contribuíram para a valorização da atividade artística da criança como linguagem complementar, como Arte desinteressada e como exemplo de espontaneísmo expressionista a ser cultivado pelo artista. As atividades das escolas ao ar livre do México parecem ter influenciado grandemente sua interpretação do desenho infantil e sua ação cultural. Em sua biblioteca, hoje no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, podemos encontrar revistas mexicanas da época como a 30:30 e até o catálogo da Exposição das Escuelas al Aire Libre do México que viajou pela Europa.

    O regime ditatorial que vigorou no Brasil entre 1937 e 1945 fechou a Universidade do Distrito Federal. Nessa universidade, organizada por Anísio Teixeira, foi criado o primeiro curso de formação de professores de Desenho. Além de Mário de Andrade, Cândido Portinari também ensinou no Curso. Com o fechamento, os alunos de Professorado de Desenho não tinham para onde ir, pois era o único curso no País. Para terem um diploma foram obrigados a frequentar aulas de Arte na Escola Nacional de Belas Artes e disciplinas na área de Educação no Curso de Pedagogia. Eram discriminados num lugar e noutro. Na Enba, eram vistos como professores quadrados e na Pedagogia como artistas aloucados. Depois dessa experiência, muitas faculdades e universidades criaram cursos de Professorado de Desenho, sendo um dos mais famosos na década de 60 o da

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