Corpo e poesia: para uma educação do sensível
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Karenine de Oliveira Porpino
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Corpo e poesia - Gilmar Leite Ferreira
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2017 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA
Ao saudoso irmão Betinho (José Humberto), responsável pelos meus primeiros passos na vida acadêmica
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Petrucia Nóbrega, pela realização deste trabalho. Foi a partir das suas sugestões e pela abertura para as coisas do sensível, pelo seu rigor acadêmico, pela ética profissional e pelo respeito à produção do conhecimento que me senti entusiasmado para escrever este livro, influenciando de forma significativa minha maneira de compreender e interpretar a relação Corpo, Poesia e Educação.
Minha gratidão a Karerine Porpino e Walter Pinheiro, pela atenção e a disposição, apresentando sugestões e incentivos para realização do trabalho.
Obrigado ao Grupo de Pesquisa Estesia – Corpo, Fenomenologia e Movimento (UFRN) –, pelos momentos de estudos, debates, compartilhamento de ideias, sentimentos e interpretações de noções e conceitos filosóficos, os quais contribuíram de forma significativa à interpretação do fenômeno pesquisado.
Sou grato à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelo acolhimento em abrir as portas do conhecimento
, por meio do Programa de Pós-Educação, para que eu pudesse levar ao espaço acadêmico a minha experiência de poeta e educador, tornando possível a produção de um conhecimento sensível, capaz de contribuir na formação de um homem mais sintonizado com as coisas da sensibilidade e do desenvolvimento humano.
APRESENTAÇÃO
Quando se fala em educação, geralmente nos remete ao meio familiar ou ao espaço escolar, mostrando a pura compreensão de que só é possível a educação do ser humano nos espaços citados. Geralmente esses dois tipos de educação estão vinculados às questões comportamentais e cognitivas. Neste livro enfatizo a educação do sensível por intermédio da relação Corpo e Poesia, para uma melhor percepção do sujeito que se percebe e percebe o mundo por meio da sensibilidade.
A partir da fenomenologia do filósofo Merleau-Ponty (outros autores) e da experiência vivida como poeta e educador, proponho a poesia como campo sensível, capaz de uma educação que tece na existência um diálogo aberto por meio da criação poética, da linguagem, da performance e da experiência de algumas Oficinas de Poesias, na rede básica de ensino do Estado do Rio Grande do Norte.
No mundo cada vez mais fragmentado, mecânico e desumano, dimensiono a educação poética neste livro como uma proposta de projetarmos a nossa condição audível e legível de perceber as delicadezas das palavras sensíveis, proporcionando o silêncio da imaginação e da sensibilidade e o universo das imagens e sentimentos poéticos que os versos revelam.
O corpo é feito de palavras, expressões e comunicações. Nesse sentido, a poesia como expressão do sensível habita a palavra, engravida ela de sentidos e significados e, podemos perceber o gosto das coisas quando as palavras poéticas nos afetam; podemos tocar nos campos do visível e do invisível por intermédio da poesia, podemos sentir o cheiro das coisas, abrindo os canais do olfato mediante o sentir poético; podemos deliciar o paladar quando a experiência poética propõe transitarmos nos sabores e gostos que atingem nossa existência sensível. Esse mundo de perceber as coisas por meio da visão, ouvidos, paladar, tato e olfato, a partir da poesia, funda uma educação tecida no corpo, ampliando de maneira sensível nossa condição de ser-no-mundo.
O Autor
PREFÁCIO
Como escrever um prefácio para um poeta?
Gilmar me pede um prefácio. Mais um? Pergunto inquieta, pois há pouco tempo escrevi um outro para seu livro/tese (O sertão educa), livro ainda não publicado – mas que será em breve. O poeta é um ser inquieto, desassossegado, diria Fernando Pessoa.
Este livro que temos em mãos, à frente dos nossos olhos – escrito pelo poeta, educador e pesquisador Gilmar Leite – coloca-nos em estado de poesia
, mobilizando corpo e alma no ato da performance poética e no ato educativo. Entre o mar e o sertão, Gilmar percorre os caminhos sensíveis da linguagem, provocando torções nas disciplinas científicas, filosóficas e literárias para fazer vibrar nossa sensibilidade e dilatar nossa compreensão de educação e, em especial, os caminhos da formação de professores. Com este livro, estamos em pleno mar
, como diria Castro Alves: Mar de poesia, de saberes, de experiências que dialogam filosofia, poesia, corpo e educação.
É dessa maneira que leio o texto de Gilmar, fruto de sua dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Amo poesia, amo dizer poesia, amo ouvir poesia, amo estar em estado poético. O estado poético educa nosso ser frágil e cansado, humano em demasiado – como diria Nietzsche, Fernando Pessoa e também Clarice Lispector (A paixão segundo G.H.).
Com base na fenomenologia de Merleau-Ponty, mas também extasiado dos textos literários e em sua experiência de poeta, Gilmar nos apresenta uma reflexão fundamental sobre linguagem, corpo e educação por meio da qual percebemos a inteligibilidade do sensível que configura nossa corporeidade: o corpo sensível exemplar. Com sua poesia, o poeta educador cria, experimenta junto aos estudantes e professores da Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Norte em suas Oficinas de Poesias. Essa experiência é contada no livro, com depoimentos dos participantes e a partilha da produção cultural construída nesses momentos de intensidades poéticas e educativas de rara beleza, sensibilidade e emoção.
Para o filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), a literatura é capaz de reinvestir o vivido do sujeito pensante em sua relação com a linguagem, sobretudo a partir do século XX, quando a literatura revela uma subjetividade nova, com destaque para a relação a si mesmo e ao outro. Destaca-se que a compreensão de uma linguagem conquistadora
coloca em avanço a capacidade que tem a palavra para renegociar constantemente os horizontes de sentido, notadamente na poesia.
N’A Prosa do mundo, Merleau-Ponty cita o exemplo das crianças estudadas por Piaget, para quem o sol porta em seu centro seu nome. Nossa língua encontra no fundo das coisas uma palavra que as faz existir. Segundo o filósofo essas convicções sobre a linguagem não pertencem ao senso comum. Elas estão presentes nas ciências exatas, com a questão do algoritmo, mas não na linguística. O algoritmo é considerado como a forma da linguagem adulta, uma forma sem erros que remete a signos escolhidos e significações definidas. Ele fixa um certo número de relações transparentes, ele institui, para representá-los símbolos que por eles mesmos nada dizem, que jamais dirão mais que o que foi conveniente dizer
(MERLEAU-PONTY, 1969, p. 9).
O algoritmo se propõe a uma linguagem rigorosa capaz de controlar todas as operações e o sistema de relações possíveis. Desse modo, o signo permanece a simples abreviação de um pensamento que poderia a cada momento explicar-se e se justificar inteiramente. A única virtude da expressão seria então substituir alusões confusas de cada um de nossos pensamentos por atos de significação dos quais seríamos verdadeiramente responsáveis, porque conhecemos o conteúdo exato que pode ser recuperado pelas vias do pensamento e pelo valor expressivo do algoritmo.
Mas a linguagem não se resume ao algoritmo. Na literatura, o escritor desvia os signos de seu sentido ordinário, realiza uma torção secreta nas palavras. Partindo dessa compreensão, o filósofo esboçará sua teoria da expressão e considerando, sobretudo o fenômeno literário e a experiência da expressão que torna possível relativizar a concepção de representação pura do racionalismo, muitas vezes presentes na filosofia e nas ciências. O livro de Gilmar faz dialogar com essas referências fenomenológicas da linguagem compreendida em seus traços sensíveis e que são impulsionados pela fabricação poética de uma educação sensível.
O livro de Gilmar sobre corpo, poesia e educação configura-se como um texto poético, sofisticado e que exigirá do leitor a disponibilidade sensível para circular, para movimentar-se da prosa para a poesia e desta para a prosa, inclusive para a prosa do mundo na qual se insere a educação e nossa existência. Com seu livro, Gilmar Leite poetiza a educação
, educa nossa sensibilidade, sensibiliza nosso ser cansado de racionalismos.
Trata-se, pois, de restituir a sensibilidade como processo de expressão. Essa atitude é próxima do desassossego
de Fernando Pessoa, como podemos notar quando escreve sobre a ânsia de compreender. Compreender envolve a sensibilidade, o elo entre vontade e emoção, entre a vida material e imaterial, os gestos e o pensamento, como nos ensina o poeta. Cansamo-nos de tudo, exceto de compreender. O sentido da frase é por vezes difícil de atingir. Cansamos de pensar para chegar a uma conclusão, porque quanto mais se pensa, mais se analisa, mais se distingue, menos se chega a uma conclusão
(PESSOA, O livro do Desassossego, 1936, excerto 239).
O escritor, o poeta ao desviar os signos já estabelecidos em uma língua cria outros horizontes sensíveis, instaurando assim o campo estético, epistemológico, educativo da obra de arte, da literatura, da poesia. Sim, a sensibilidade, o sentir mesmo anima nossa vida, impulsiona-nos a nos engajar e faz com que os objetos, as pessoas e as situações possam ter um sentido afetivo para nós. Essa experiência nos educa. É sobre isso que trata o livro de Gilmar Leite.
Petrucia Nóbrega
Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Fevereiro de 2017
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
PRELÚDIO PARA UM ESTADO POÉTICO
CAPÍTULO 1
O FENÔMENO DA CRIAÇÃO POÉTICA
CAPÍTULO 2
A LINGUAGEM POÉTICA
CAPÍTULO 3
A PERFORMANCE POÉTICA
CAPÍTULO 4
A POESIA EDUCA
CAPÍTULO 5
POSLÚDIO DO ESTADO POÉTICO
REFERÊNCIAS
Introdução
PRELÚDIO PARA UM ESTADO POÉTICO
Entre os vales da existência sensível; nas cavernas profundas da introspecção; no oceano abissal da subjetividade; na correnteza do líquido endoplasmático; no pulsar tresloucado do coração; na estesia dos