O Homem - Um Projeto em Desenvolvimento: A Relação Entre História, Educação, Política e o Desenvolvimento Humano, na Filosofia de Immanuel Kant
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"A obra O homem – um projeto em desenvolvimento: a relação entre história, educação, política e o desenvolvimento humano, na filosofia de Immanuel Kant, que Silvério Becker oferece aos leitores da língua portuguesa, não é apenas uma excelente introdução ao estudo da filosofia da educação oferecida pelo filósofo moderno Immanuel Kant. É, primeiramente, uma importante contribuição para o debate filosófico sobre os pressupostos da concepção kantiana de pedagogia, pois possui a virtude de reinserir tal reflexão no seu contexto histórico e, a partir desse horizonte, delinear uma perspectiva para a interpretação das concepções kantianas de disciplina, formação, educação e, fundamentalmente, de homem emancipado".
Dr. Evandro Oliveira de Brito
Professor de Filosofia da Unicentro
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Book preview
O Homem - Um Projeto em Desenvolvimento - Silvério Becker
Unicentro
SUMÁRIO
Introdução
PRIMEIRA PARTE
HISTÓRIA E POLÍTICA
I. A história, a política e o desenvolvimento da autonomia humana
II. Um fio condutor racional na história
III. A necessidade de uma sociedade civil para
assegurar a paz
IV. A relação entre política e moralidade
V. O direito internacional e sua vinculação com o
direito natural
SEGUNDA PARTE
A EDUCAÇÃO
I. A educação como meio de desenvolvimento das potencialidades
humanas
II. A educação, uma tarefa árdua e pouco conhecida
III. A educação é uma arte
IV. O esclarecimento: a passagem da infância para
a vida adulta
V. O esclarecimento da humanidade em geral ainda
é algo por vir
Últimas considerações
REFERÊNCIAS
Introdução
No século XVIII, desenvolveu-se, na Europa, um movimento filosófico que ficou conhecido como iluminismo. Tal movimento apareceu durante o período conhecido como modernidade e manifestou-se em vários países europeus. A modernidade foi um período de tempo marcado por acontecimentos importantes para os rumos da história, como: a Reforma Protestante, a expansão comercial e a expansão marítima, o desenvolvimento do mercantilismo, a Revolução Industrial, dentre outros. No campo político, a Idade Moderna pode ser considerada um período de transição, sobretudo, porque marcou o fim do feudalismo tradicional e a consolidação do capitalismo ocidental. A época também foi marcada por importantes teorias, que ainda hoje são aceitas, por muitos, como científicas, como as de Galileu Galilei (1596-1650) acerca do sistema solar e a teoria física de Isaac Newton (1642-1727). Também foi um período de invenções importantes, como a do telescópio, do microscópio, do barômetro etc. Pode-se dizer que a modernidade consolidou os rumos que as ciências, a política, e a educação tomaram desde então. Muito disso se deve às novas ideias que surgiram no campo da filosofia e que moldaram, em grande parte, o pensamento moderno e o pensamento contemporâneo.
Uma das características que marcaram a modernidade foi a tentativa, por parte de alguns filósofos, de entender as faculdades humanas, revelando suas potencialidades e seus limites no que se refere a sua capacidade de conhecimento. O que alguns buscavam era colocar a inteligência como fio condutor do pensamento e da ação humana, enfatizando a autonomia e a responsabilidade do homem em sua própria conduta e desenvolvimento. Diante das evidências de que se sabia muito pouco sobre as capacidades ou faculdades humanas, o espírito crítico da época conjecturava sobre a condição humana e alguns filósofos modernos questionavam a ideia de uma natureza humana que apontava o homem como um ser acabado, isto é, perfeitamente humano. Acreditava-se que a razão poderia retirar o homem das trevas, isto é, da ignorância em que ele, por conta de superstições e dogmas sem fundamento racional, encontrava-se envolto, e que, de certo modo, limitavam o desenvolvimento de suas próprias capacidades naturais. Nesse sentido, o iluminismo pode ser assinalado como o auge da modernidade e caracterizou-se, sobretudo, como um período no qual o pensamento crítico se manifestou notoriamente.
Parece que foi com esse espírito que alguns filósofos modernos tentaram compreender os diferentes modos de vida das diversas culturas e sociedades humanas e questionaram a ideia de um mundo criado de modo perfeito, aos moldes do qual a humanidade precisaria adequar-se, ou ao qual ela teria de retornar por ter se afastado dele. A partir dessa perspectiva, alguns deles passaram a ver o mundo humano como algo criado pelo próprio homem e defenderam que mudanças em suas estruturas dependeriam das próprias atitudes humanas nesse sentido. Vendo as questões políticas por essa ótica, acreditava-se que aquilo que o homem, como espécie, tornara-se, era fruto daquilo que fizera, e que o que ele viria a ser dependia mais de suas atitudes do que de qualquer outra coisa.
Além de perceber o homem como um ser histórico, resultado daquilo que seus antepassados fizeram ou cultivaram, alguns filósofos defendiam que o ser humano tinha potencialidades a serem desenvolvidas, cujo desenvolvimento dependia da aplicação de suas forças nessa direção. Veio à luz, então, mais fortemente, a ideia de que, se o homem quer um determinado tipo de mundo ou de sociedade, ele precisa construí-lo, pois, cada vez mais, ficava evidente que a estrutura política-econômica-social que perdurara até a modernidade era fruto de uma construção humana baseada, principalmente, em crenças e preconceitos, alguns sem fundamento racional, o que resultou em uma sociedade cheia de desigualdades, marcada pela exploração dos homens pelos próprios homens. Esse espírito crítico que levou alguns a questionar sua própria condição como homem acabado e perfeitamente humano, também os levou a perceber que sua formação moral dependia somente de si mesmo e que era seu dever manter e desenvolver sua própria humanidade.
O ponto de vista de que o homem é capaz de desenvolver seus potenciais e que via a história como a história do desenvolvimento humano – ou de seu subdesenvolvimento – apontava para a importância de se atentar com mais diligência ao conhecimento, suas formas e seus limites, e a busca de uma melhor compreensão das potencialidades humanas a fim de que, conhecendo a si mesmo, o homem pudesse caminhar de modo progressivo rumo a sua perfeição como ser humano. Conscientizando-se de que o mundo ou, mais especificamente, a cultura na qual estavam envolvidos era obra humana, alguns filósofos modernos foram tomados por um espírito crítico frente à religião, à moral, à política, à educação, à ciência, e até frente à própria razão com relação às bases, aos limites e às possibilidades do conhecimento