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Ó sonho branco de quermesse: Um romance simbolista
Ó sonho branco de quermesse: Um romance simbolista
Ó sonho branco de quermesse: Um romance simbolista
Ebook84 pages49 minutes

Ó sonho branco de quermesse: Um romance simbolista

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About this ebook

João da Cruz e Sousa, um dos percursores do Simbolismo brasileiro, tem sua história brevemente narrada neste livro. Desde menino, o poeta viveu o preconceito, tanto por ser negro nascido em nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis) quanto por mostrar-se culto e talentoso. Embora o enredo se passe em meados da abolição dos escravos no Brasil e da proclamação da República, as barreiras enfrentadas por Cruz e Sousa são ainda atuais. Com texto breve e leve, Alexandre Azevedo convida o leitor a mergulhar na História e na Literatura, contextualizando-o num misto de romance e biografia – convidando-nos a participar do sonho branco de um garoto negro em pleno Brasil imperial.
LanguagePortuguês
PublisherLazuli
Release dateDec 7, 2016
ISBN9788578651169
Ó sonho branco de quermesse: Um romance simbolista
Author

Alexandre Azevedo

Alexandre Azevedo nasceu em Belo Horizonte (1965), passou a infância em Cuiabá e São Paulo e a adolescência em Campo Grande (MS). Hoje reside em Ribeirão Preto, interior paulista, há mais de 30 anos. Formado em Filosofia, com pós-graduação em língua portuguesa e estudos literários, é professor de literatura brasileira e portuguesa há 35 anos. Romancista, novelista, contista, cronista, ensaísta, teatrólogo e poeta, é autor de mais de 150 obras, publicadas por diversas editoras do país. Algumas de suas obras foram prefaciadas e comentadas por autores como Luís Fernando Veríssimo, Ziraldo, Lourenço Diaféria, Manoel de Barros e Affonso Romano de Sant’Anna. Além do romance A rainha do Quariterê, publicou pela Entrelinhas Editora os infantis Pantanimais e Pantanimais para colorir.

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    Ó sonho branco de quermesse - Alexandre Azevedo

    Ó sonho branco de quermesse

    um romance simbolista

    Alexandre Azevedo

    ilustrações Paulo Sayeg

    Sumário

    A Morte do Cisne

    Nossa Senhora do Desterro

    Um negro doutor

    Pedra Antióquia

    Gama Rosa

    João em Laguna

    A Tribuna Popular

    João e o Teatro

    João no Rio

    Pobre Alphonsus

    O solitário de Mariana

    Alphonsus e Constança

    O meu encontro com Alphonsus de Guimaraens

    Alphonsus e a poesia de João

    De volta ao Desterro

    Os nossos Mallarmé e Verlaine

    A abolição dos escravos

    A nova partida de João

    A chegada de João ao Rio

    Gavita, a musa inspiradora de João

    O primeiro filho de João e Gavita

    A Engenhoca

    Joaquim

    Quase um duelo

    Missal e Broquéis

    Notícias sobre Alphonsus

    O grande encontro entre João e Afonso

    Na casa de João

    A despedida de Alphonsus

    A loucura de Gavita

    A morte de Pompéia

    O excluído João

    A Galopante

    Saudades de João

    A morte de Alphonsus Guimaraens

    João em Sítio

    No entanto, ó Sonho branco de quermesse!

    Nessa alegria em que tu vais, parece

    Que vais infantilmente amortalhado!

    Cruz e Sousa

    À memória de meu avô Abel que,

    assim como Cruz e Sousa, morreu tuberculoso,

    aos 39 anos de idade.

    1

    A Morte do Cisne

    Mal nascia a manhã, qu’inda curvadas estavam as estrelas morosas, e o coveiro já cavava a terra em cova para recebê-lo...

    *****

    Dentro desse pobre caixão, que neste momento baixa à sepultura, dorme o Cisne Negro o sono das profundas seivas...

    Não fosse a boa vontade de José do Patrocínio, que há pouco instante discursou à beira da cova, promovendo-lhe um enterro cristão, o poeta teria sido enterrado em vala comum, entre cadáveres que juntos apodrecem.

    O seu corpo chegou há algumas horas da cidade mineira de Sítio, onde João permanecera por apenas três dias internado em um sanatório para tuberculosos, jogado que foi, após a confirmação do óbito, num vagão de animais de um trem com destino ao Rio de Janeiro.

    À sua espera, na estação da Central, estavam os seus amigos mais diletos, dentre eles, Tibúrcio de Freitas, Maurício Jubim e Nestor Vítor, este nem mesmo ainda tivera tempo de ler os originais de Evocações, Faróis e Últimos Sonetos que João lhe confiara antes de partir para o malfadado sanatório.

    Nem posso imaginar o que eles sentiram quando viram o cadáver de João, com o seu terno impecável, os sapatos brilhantemente engraxados, entre os dejetos depositados pelos muares que seriam sacrificados em algum matadouro na periferia da cidade.

    Com recursos próprios, Zé do Pato, como é conhecido na intimidade o grande jornalista, custeou as despesas do funeral e dos futuros sufrágios, coisa que Gavita ficou sinceramente agradecida.

    Ouço ao longe um fraco gemido emitido por um sino de capela, não muito diferente daquele pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!, que o sino de uma catedral ebúrnea, que eu próprio escutei em Ouro Preto, costuma clamar em lúgubres responsos. Assim como esses poucos e distantes dobres de sinos, poucos também são os presentes, por isso poucos são os prantos para tantas dores...

    Olho para Gavita e não sei se são lágrimas ou se é a água da chuva, de um dia frio, fluente e de frouxa claridade, que escorre pelo seu cansado rosto. Triste ela está, não duvido, ela o amava e o amará sempre, mas a sua tristeza não é de agora, talvez nem tenha mais lágrimas para um pranto decente, por isso acho que é essa fina e fluida garoa que molha seu belo rosto negro de pedra afrizita.

    Seus olhos, que vagueiam fatigados pelo campo-santo e que outrora eram de uma doçura infinita, estão agora mortos de chorar pesares que nem mesmo uma tempestade diluviana, com seu frio soluçante da amargura, caso viesse, iria achá-la em prantos.

    José do Patrocínio aproxima-se dela para perguntar algo que não consigo escutar, por mais que me esforce. Ela balança o rosto lentamente em pesada negativa, sem força sequer para murmurejar um único lamento. Ele volta a lhe falar ao ouvido, ela repete o mesmo gesto, mas acaba respondendo com uma velada, mas veludosa voz:

    Eu estou bem, não preciso de nada, obrigada...

    Lembro-me da

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