Ó sonho branco de quermesse: Um romance simbolista
By Alexandre Azevedo and Paulo Sayeg
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About this ebook
Alexandre Azevedo
Alexandre Azevedo nasceu em Belo Horizonte (1965), passou a infância em Cuiabá e São Paulo e a adolescência em Campo Grande (MS). Hoje reside em Ribeirão Preto, interior paulista, há mais de 30 anos. Formado em Filosofia, com pós-graduação em língua portuguesa e estudos literários, é professor de literatura brasileira e portuguesa há 35 anos. Romancista, novelista, contista, cronista, ensaísta, teatrólogo e poeta, é autor de mais de 150 obras, publicadas por diversas editoras do país. Algumas de suas obras foram prefaciadas e comentadas por autores como Luís Fernando Veríssimo, Ziraldo, Lourenço Diaféria, Manoel de Barros e Affonso Romano de Sant’Anna. Além do romance A rainha do Quariterê, publicou pela Entrelinhas Editora os infantis Pantanimais e Pantanimais para colorir.
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Book preview
Ó sonho branco de quermesse - Alexandre Azevedo
Ó sonho branco de quermesse
um romance simbolista
Alexandre Azevedo
ilustrações Paulo Sayeg
Sumário
A Morte do Cisne
Nossa Senhora do Desterro
Um negro doutor
Pedra Antióquia
Gama Rosa
João em Laguna
A Tribuna Popular
João e o Teatro
João no Rio
Pobre Alphonsus
O solitário de Mariana
Alphonsus e Constança
O meu encontro com Alphonsus de Guimaraens
Alphonsus e a poesia de João
De volta ao Desterro
Os nossos Mallarmé e Verlaine
A abolição dos escravos
A nova partida de João
A chegada de João ao Rio
Gavita, a musa inspiradora de João
O primeiro filho de João e Gavita
A Engenhoca
Joaquim
Quase um duelo
Missal e Broquéis
Notícias sobre Alphonsus
O grande encontro entre João e Afonso
Na casa de João
A despedida de Alphonsus
A loucura de Gavita
A morte de Pompéia
O excluído João
A Galopante
Saudades de João
A morte de Alphonsus Guimaraens
João em Sítio
No entanto, ó Sonho branco de quermesse!
Nessa alegria em que tu vais, parece
Que vais infantilmente amortalhado!
Cruz e Sousa
À memória de meu avô Abel que,
assim como Cruz e Sousa, morreu tuberculoso,
aos 39 anos de idade.
1
A Morte do Cisne
Mal nascia a manhã, qu’inda curvadas estavam as estrelas morosas, e o coveiro já cavava a terra em cova para recebê-lo...
*****
Dentro desse pobre caixão, que neste momento baixa à sepultura, dorme o Cisne Negro o sono das profundas seivas...
Não fosse a boa vontade de José do Patrocínio, que há pouco instante discursou à beira da cova, promovendo-lhe um enterro cristão, o poeta teria sido enterrado em vala comum, entre cadáveres que juntos apodrecem.
O seu corpo chegou há algumas horas da cidade mineira de Sítio, onde João permanecera por apenas três dias internado em um sanatório para tuberculosos, jogado que foi, após a confirmação do óbito, num vagão de animais de um trem com destino ao Rio de Janeiro.
À sua espera, na estação da Central, estavam os seus amigos mais diletos, dentre eles, Tibúrcio de Freitas, Maurício Jubim e Nestor Vítor, este nem mesmo ainda tivera tempo de ler os originais de Evocações, Faróis e Últimos Sonetos que João lhe confiara antes de partir para o malfadado sanatório.
Nem posso imaginar o que eles sentiram quando viram o cadáver de João, com o seu terno impecável, os sapatos brilhantemente engraxados, entre os dejetos depositados pelos muares que seriam sacrificados em algum matadouro na periferia da cidade.
Com recursos próprios, Zé do Pato, como é conhecido na intimidade o grande jornalista, custeou as despesas do funeral e dos futuros sufrágios, coisa que Gavita ficou sinceramente agradecida.
Ouço ao longe um fraco gemido emitido por um sino de capela, não muito diferente daquele pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!
, que o sino de uma catedral ebúrnea, que eu próprio escutei em Ouro Preto, costuma clamar em lúgubres responsos. Assim como esses poucos e distantes dobres de sinos, poucos também são os presentes, por isso poucos são os prantos para tantas dores...
Olho para Gavita e não sei se são lágrimas ou se é a água da chuva, de um dia frio, fluente e de frouxa claridade, que escorre pelo seu cansado rosto. Triste ela está, não duvido, ela o amava e o amará sempre, mas a sua tristeza não é de agora, talvez nem tenha mais lágrimas para um pranto decente, por isso acho que é essa fina e fluida garoa que molha seu belo rosto negro de pedra afrizita.
Seus olhos, que vagueiam fatigados pelo campo-santo e que outrora eram de uma doçura infinita, estão agora mortos de chorar pesares que nem mesmo uma tempestade diluviana, com seu frio soluçante da amargura, caso viesse, iria achá-la em prantos.
José do Patrocínio aproxima-se dela para perguntar algo que não consigo escutar, por mais que me esforce. Ela balança o rosto lentamente em pesada negativa, sem força sequer para murmurejar um único lamento. Ele volta a lhe falar ao ouvido, ela repete o mesmo gesto, mas acaba respondendo com uma velada, mas veludosa voz:
Eu estou bem, não preciso de nada, obrigada...
Lembro-me da