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As famílias e as tecnologias digitais: a comunicação pela articulação de vieses não antes explorados
As famílias e as tecnologias digitais: a comunicação pela articulação de vieses não antes explorados
As famílias e as tecnologias digitais: a comunicação pela articulação de vieses não antes explorados
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As famílias e as tecnologias digitais: a comunicação pela articulação de vieses não antes explorados

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A obra As famílias e as tecnologias digitais: a comunicação pela articulação de vieses não antes explorados vem iluminar a comunicação em família – entendida como comportamento, portanto como interação e relacionamento –, tendo por fio condutor a influência das (novas) tecnologias (digitais). A polêmica e controversa temática vem despertando o interesse de pesquisadores da Comunicação e da Educação, de psicólogos e terapeutas de família, de sociólogos e filósofos, de acadêmicos e cidadãos e segue inquietando os membros das famílias – pais e mães, cônjuges, filhos e irmãos, avós e netos –, que percebem sua comunicação impactada pelo uso das mídias digitais. Neste livro, a autora adota uma perspectiva histórica para caminhar da tradição oral à cultura digital e explorar as redes sociais (digitais) na "sociedade em rede", apresentando uma abordagem sócio-histórica de família nesta sociedade desde sempre tecnológica e o comportamento social no ciberespaço. Paralelamente, para chegar ao comportamento familiar no espaço virtual, adotando a concepção sistêmica de família, a autora alude às transformações por que passam as famílias ao longo de seus "ciclos de vida", aos aspectos geracionais, à comunicação como comportamento e interação e ao entendimento sistêmico de identidade. Apoiada no pensamento complexo moriniano e a partir da perspectiva sistêmica, a proposta de natureza interdisciplinar propicia um profícuo diálogo entre duas grandes áreas do conhecimento, quais sejam, a Evolução das Tecnologias da Informação e Comunicação e a Abordagem Sistêmica de Família, para analisar a maneira pela qual o uso das novas tecnologias digitais impacta as relações comunicacionais no contexto interacional das famílias na sociedade ocidental contemporânea.
LanguagePortuguês
Release dateOct 3, 2017
ISBN9788547306519
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    Book preview

    As famílias e as tecnologias digitais - Ieda Tinoco Boechat

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO - SEÇÃO GESTÃO

    DEDICO

    A meus clientes, a meus alunos e colegas psicólogos e professores.

    Às famílias, por prezá-las demais e por sabê-las capazes de usufruir o poder da comunicação (virtual) para se reinventar, recriando laços, evitando nós ou desatando-os.

    AGRADEÇO

    A Deus, coautor da minha história e dos meus textos, pelo modo como valoriza minha existência na mediação virtual por Cristo Jesus: houve um tempo, em especial, em que experienciei de modo incontestável que nada é precioso aos Seus olhos mais do que minha vida.

    Na letra de seu hino, a minha cidade querida, cheia de encantos sem par, [pois que] floresce em ti minha vida, meus belos sonhos, meu lar. Amo-te, sempre hei de amar tudo o que fala de ti, Itaperuna. A meu município, onde está localizada a Fazenda São João, pedacinho do meu continental Brasil, por compor o ecossistema em que cresci e onde minha família de origem e extensiva se autoeco-organiza todos os dias.

    A minha família, pelos muitos motivos que se faz especial em minha vida, mas que pelos seguintes não pode deixar de ser lembrada sempre. A começar pelos meus avós maternos – Vivaldi e Hildes – e paternos – Arionaldo e Eliza –, por conhecer com eles a força da persistência e da determinação, a consciência tranquila do trabalho honesto e o empenho pela harmonia familiar. A tia Iêda, irmã de meu pai, pelas risadas, enquanto de colo eu precisava. A outra tia Iêda, irmã de minha mãe, pela minha primeira Bíblia, que alicerçou meu ser de modo que ventos fortes, vez ou outra, apenas o abalam. Eis, nelas, a razão de meu nome, que, em hebraico, significa favo de mel.

    A meus tecnológicos pais, que nunca prescindiram das (novas) tecnologias (digitais) nem mesmo na casa dos 80. A instalação elétrica residencial muito antes do programa estatal de eletrificação rural, o melhoramento genético do gado bovino por inseminação artificial, a ordenha mecânica, as curvas de nível e a rotação de culturas são alguns empreendimentos de meu pai. Do bordado a cheio, processamento artesanal de carne suína, produção de sabão e torrefação de café para a economia doméstica ao mimeógrafo, ao livro-base e às noções de civismo aos alunos de sua escola pode-se ver a dedicação de minha mãe, que hoje se diverte no WhatsApp com os memes de cunho político e, por meio dele, atualiza-se quanto aos eventos familiares. A Norberto Boechat de Moraes Ribeiro e Vasti Lacerda Tinoco Boechat, que me deixam o legado de fé em Deus e vida de oração, provaram-me, em um momento crucial de minha existência, que família é espaço de pertencimento e liberdade.

    A minha Dá, Maria das Graças Ferreira, pela rosa azul e pelos laços de fita no cabelo, pelos picolés minissaia e pelo perfume de alfazema aliados à sua cuidadosa escuta, sábias ponderações e ao olho no olho, por que não dizer coração no coração, que vieram colaborar em tenra idade para a confirmação da minha definição de eu.

    A minha irmã Hildeliza, a imortal, desbravadora, que, à semelhança das tecnologias, alavanca-me o desenvolvimento desde criança; aprendi com ela a dirigir uma Brasília branca aos 11 anos, a colorir e a gostar de ler. A seu esposo Artur, amigo de todas as horas, pelo apoio incondicional. A Vívian e Guilherme, por serem tão acolhedores. A Rachel, por sua trajetória original nas tecnologias de videoimagem, e ao Iure, pelo convite para compor um de seus livros. A Liz, minha livreira on-line, leve companhia, pelo carinho na pronta assistência tecnológica sempre que solicito, e ao Matheus, pelo trato gentil e alegre.

    A meu irmão Beto, que me ensinou que espuma de leite também é leite, que a escovação de dentes inclui as papilas gustativas, que me ensinou a dirigir moto aos 12 anos e, ainda, que se pode ser espirituoso mesmo quando tudo diz que não. A Soraya, sua esposa, por acreditar na família e por amar tanto meu irmão e sobrinho. A Betinho, com quem aprendo sobre polidez todas as vezes que nos encontramos.

    A minha irmã Vasti, pela forma clara com que diz discernir a direção de Deus. Ao saudoso Rogério, pelas inusitadas aventuras e oportunidades esportivas que amo. A Rogerinho, pela coragem de prosseguir apesar dos pesares e de recomeçar com fé sempre que a vida o requer. A Larissa e Victor, pela ousadia de, literalmente, navegarem novos mares, habitarem novos territórios e de se lançarem em novos projetos.

    A minha irmã Leila Maria, competência sempre disponível, por ter-nos sinalizado a família que, pela originalidade high tech, escolhemos nomear e-family. A seu esposo Adenauer, pelo pai zeloso que tem sido. A Rafael, pela maturidade de ser-si-mesmo ainda jovem. A Daniel, pela habilidade própria a um nativo digital imerso.

    A minhas irmãs de (c)oração Noemi Monteiro, Madalena Lacerda, Lícia Ferreira, Ivone Fonseca, Vaneide de Oliveira e Andrea Haddad, pela amizade que atravessa os dias bons e maus. A meus amigos Thiago Ribeiro, Cira Manhães, Silvana Pillar, Maria do Patrocínio, Edna Viótti e Rutileia Carvalho, pelo interesse sincero. A Vanessa Araújo, eternamente amiga.

    A meu professor Carlos Henrique Medeiros de Souza e a minha professora Fernanda Castro Manhães, visionários entusiastas da produção científica interdisciplinar, por participarem, hoje, da minha história, com a professora Cleonice Puggian e o professor Francisco Ramos de Farias. A meus colegas, amigos feitos na Uenf, em especial, a Raquel Veggi, Joane Caetano, Geucineia Pencinato, Joyce Fettermann e Ezequiel de Paula, companheiros de estrada, parceiros de mais gargalhadas do que lamentos. Enfim, à própria Uenf, por surpreender-me com experiências que vão além do sonhado, e à Faperj/Uenf, que subsidiou o desenvolvimento deste estudo.

    A meus educadores do Jardim de Infância Maria Madalena Magacho dos Santos, do Colégio Estadual 10 de Maio, da Faculdade de Filosofia de Itaperuna (Fafita) – hoje, Centro Universitário São José de Itaperuna (UNIFSJ) –, da Universidade Estácio de Sá (Unesa), do Núcleo-Pesquisas da Criança e do Adolescente do Rio de Janeiro e CNA, pela minha formação. A meus colegas do Colégio Estadual José Garcia de Freitas, do Colégio Estadual Rotary, Ceja-Itaperuna, Isecensa, Unig e UNIFSJ, pelas partilhas.

    Nós nos esquecemos de que somos história... Não estamos acostumados a associar nossas vidas privadas com eventos públicos. Mas as histórias das famílias não podem ser separadas das histórias das nações. Dividi-las faz parte da nossa negação e, assim, fiquei tão familiarizada com isso que não conseguia enxergá-lo. Guardamos segredos de nós mesmos que todo o tempo conhecemos... não enxergo a minha vida separada da história. Na minha mente, meus segredos de família se misturam aos segredos dos políticos e dos bombeiros. Minha vida não é separada da vida dos outros. Eu que sou mulher, tenho [n]o rosto [traços] de meu pai [e de minha mãe]. E ele, desconfio, tem o rosto de sua mãe [e minha mãe o de seu pai]. Há tantos fios na história... Começo a suspeitar que cada fio segue infinitamente e toca todas as coisas, todas as pessoas...

    (Susan Griffin)

    APRESENTAÇÃO

    Tecnologias e família: perspectivas sobre a (re)invenção do comportamento comunicacional

    Multiplicam-se nas universidades e na mídia textos que abordam a influência das tecnologias digitais nas relações familiares. Há aqueles que enaltecem as tecnologias, enfatizando a velocidade com que adultos e crianças se comunicam utilizando computadores, tablets e smartphones. Outros, menos otimistas, alertam para os afastamentos que o uso individualizado desses equipamentos pode introduzir na convivência cotidiana, fragilizando laços afetivos. Proliferam-se pesquisas, debates, opiniões e até mitos que vão compondo um complexo panorama referente à comunicação no seio da família.

    Em muitos casos, tais textos exploram quais são (ou deveriam ser) as características das interações familiares na cibercultura. Deixam transparecer certa preocupação com os deslocamentos culturais, financeiros e políticos gerados pelo avanço das novas tecnologias, que vem alterando o modelo econômico e civilizatório hegemônico, gerando crescentes demandas comunicacionais para os indivíduos. Sinalizam a existência de um intenso e contínuo processo de transformação da condição humana, que se ampliou nas últimas três décadas com consequências irreversíveis. Tais textos trazem contribuições diversas e instigantes, oriundas de várias partes do mundo, constituindo um farto campo de investigação para pesquisadores interessados nas articulações entre tecnologias, estruturas sociais e grupos familiares.

    Explorando a riqueza das produções bibliográficas, Ieda Tinoco Boechat nos brinda com uma riquíssima obra sobre a influência das tecnologias digitais nas relações comunicacionais no contexto das famílias contemporâneas. A autora debruça-se sobre as produções de Recuero (2009), Castells (2010, 2011), Souza (2003), Barabási (2009), Lemos e Lévy (2014), Watzlawick, Bavelas e Jackson (2015), Day (2010), Calil (1987), Carter e McGoldrick (2007), Barbosa (2014), Livingstone (2014) e Tavares (2014), articulando pesquisas do campo da Psicologia, Sociologia, Teoria da Comunicação, Antropologia, Filosofia, dentre outras. O resultado é um diálogo claro e abrangente com obras criteriosamente selecionadas, revelando um refinado processo de análise conduzido com dedicação e rigor acadêmico.

    Este estudo tem como pressuposto a indissociabilidade entre comunicação e comportamento. A autora argumenta que padrões de comportamento também são modos de comunicação (circulação de informação) e de interação (troca de mensagens). A partir dessa premissa, explora como o advento das tecnologias digitais gera uma inter-retroação entre tecnologias, famílias e aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos, alterando os sistemas microssociais e macrossociais em que os indivíduos se inserem. Nota-se uma tessitura muito habilidosa das ideias, em um texto agradável, que envolve e informa o leitor, oferecendo esclarecimentos necessários e desejáveis no contexto atual.

    Trazendo uma introdução muito bem redigida, a autora apresenta a pesquisa, descrevendo com propriedade suas escolhas teóricas e metodológicas. A seguir, em quatro capítulos, alcança com maestria os objetivos propostos e, na conclusão, consegue surpreender por apresentar resultados realmente inovadores. Passando ao primeiro capítulo, aborda a Evolução das Tecnologias da Informação e Comunicação, construindo um panorama histórico e conceitual. No segundo capítulo, volta-se à Abordagem Sistêmica de Família. Cuidadosamente, procura caracterizar o que vem a ser uma família, discorrendo sobre as mudanças que atravessam em seus ciclos de vida. Nesse mesmo capítulo, também caracteriza o conceito de comunicação como comportamento, essencial para compreender os impactos da tecnologia na situação interacional familiar. No terceiro capítulo, debruça-se sobre as contribuições de Edgar Morin, situando a temática à luz do pensamento complexo. No quarto e último capítulo, procura evidenciar os modos como a utilização das (novas) tecnologias digitais altera os relacionamentos dos indivíduos em seus grupos sociais. Tece argumentos elucidativos quanto à complexidade das interações na cibercultura, revelando as nuances da reinvenção do comportamento comunicacional na família, assim como seu caráter transformador e potencialmente produtor de uma ciberdemocracia planetária.

    Trata-se de uma obra atual, que aborda com primazia questões prementes à condição humana no contexto global. Espera-se que alcance os leitores, enriquecendo o pensamento interdisciplinar sobre as (re)configurações familiares e as tecnologias da informação e comunicação na contemporaneidade.

    Professora doutora Cleonice Puggian

    Docente da Unigranrio e Uerj

    Jovem Cientista do Nosso Estado (Faperj)

    Bolsista de Produtividade em Pesquisa 1B (Unigranrio/Funadesp)

    Líder do Grupo de Pesquisa Educação, Sociedade e Natureza (CNPq)

    Doutora em Educação pela Universidade de Cambridge (UK)

    PREFÁCIO

    Pessoas, conexões e interações

    Reportemo-nos à era de aparição da televisão no Brasil para lembrar a advertência de Chacrinha, grande mestre da comunicação, que não se cansava de advertir semanalmente, várias vezes, em um intervalo de aproximadamente duas horas: Quem não se comunica, se trumbica. Mas o que de tão importante há nesse adágio? A mensagem que invadia lares brasileiros era taxativa: para ter sucesso na vida é preciso comunicar-se. Quer dizer que a pessoa que não se comunica, quaisquer que sejam os meios, corre o sério risco de se dar mal. Disso tiramos uma lição: para viver, as pessoas devem se comunicar em todos os tipos de relações que estabelecem, desde as mais íntimas, no âmbito das interações familiares, até as mais formais, no âmbito de estudos, trabalho, lazer.

    Se avançarmos um pouco no tempo e nos situarmos no alvorecer do século XXI, vamos nos deparar com um mundo turvo devido ao esfumaçamento causado pelos vetores econômicos, pelo individualismo exacerbado, pela banalização da vida, pela naturalização da violência e, principalmente, pelo desespero vivido quando o nosso horizonte volta-se para as incertezas do futuro. A grande pergunta que fazemos, sem ínfimos indicativos de resposta, é: haverá amanhã? Diante da grande catástrofe que nos assola, somos constantemente informados sobre as grandes negociações financeiras em prol do lucro, cujos resultados evidenciam reflexos diretos na produção da miséria, no rearranjo das relações amorosas e, sobretudo, no cenário da família. É por essas veredas sinuosas que me aventuro a prefaciar a obra de Ieda Tinoco Boechat intitulada As famílias e as tecnologias digitais: a comunicação pela articulação de vieses não antes explorados que, com sua arguta escrita, familiariza-nos com o contexto das interações familiares, as quais são estabelecidas por intermédio dos instrumentos oriundos da tecnologia.

    Em princípio, o objetivo da autora é demonstrar o impacto das mídias na configuração e reconfiguração da família, em termos da comunicação entre seus agentes, em um cenário construído em redes por milhares, milhões e bilhões de vozes, em busca de esperança, satisfação e bem-estar, uma vez que essas pessoas interagem, com muita frequência, pela internet e, assim, possibilitam nuances específicas à experiência humana que até então não existiam. Essas interações autônomas que acontecem na internet nem sempre são objeto de controle de setores que se encarregavam do monopólio no campo da comunicação. Sendo assim, abrem-se outras possibilidades para compartilhar afetos e esperanças com o auxílio valioso das mídias ao nosso alcance, seja no sentido da construção de novos projetos de vida a partir da formação de redes interativas, seja no tocante ao processo de filiação, em termos da circulação e processamento da informação, forma célere e instantânea.

    Com o esgarçamento das fronteiras entre regiões e entre pessoas, o impacto da circulação da informação é imediato e tem efeitos bem demarcados, tanto positivos (não precisamos esperar muito para termos conhecimento de uma ocorrência) quanto negativos (tratarmos a realidade que nos chega, em tempo real, como um dado ficcional). Esse é o encaminhamento que nos apresenta Ieda como um instigante convite para reflexão, colocando-nos, de forma criteriosa, em uma escrita cativante, em face da complexidade das relações familiares na sociedade de nossos tempos, considerando o impacto das novas tecnologias da informação e comunicação. O frescor de seu texto nos conduz para uma fórmula de pensamento: a cibercultura modificou e continua modificando as relações no âmbito familiar. Trata-se de uma grande transformação, a qual tem como suporte a seguinte premissa: todo e qualquer comportamento tem valor de mensagem, sendo, portanto, uma possibilidade de comunicação.

    É por essas sombrias sendas que Ieda, em seu texto de cunho crítico, em uma empreitada política, apresenta-nos inovações, seja na metodologia de condução de sua pesquisa, seja na análise que estabelece com os interlocutores com os quais estabelece um diálogo profícuo e salutar. Aprofundando seus estudos, Ieda nos apresenta o grande achado de sua pesquisa quando enumera a diversidade de situações advindas da utilização das mídias digitais e, também, quando nos sinaliza para as novas formas de ação e de interação que resultam da utilização dessas mídias. Ao longo de sua cuidadosa escrita, chama a nossa atenção para a maneira como as redes digitais influenciam as relações sociais e vice-versa.

    Fiel a um roteiro de trabalho muito bem elaborado, Ieda faz uma rica digressão, iniciando pela retratação do cenário evolutivo das Tecnologias da Informação e da Comunicação, passando pela concepção sistêmica da família, abordando o contexto da interdisciplinaridade para, enfim, apresentar o foco de seu estudo: a relação entre tecnologias e comunicação no contexto familiar.

    A virtuose da obra surge nas páginas finais, quando Ieda problematiza as gerações da era digital, situando uma peculiaridade: o desenrolar das ações humanas no ciberespaço e o que disso resulta, âmbito da experiência humana, considerando os distintos ciclos da vida. A que ponto chega a autora? Nada óbvio quando nos alerta para o impacto produzido no seio das estruturas familiares pela utilização das tecnologias midiáticas. Quer dizer: não somente mudaram as modalidades de comunicação como também as interações e, por extensão, as pessoas, de modo a mudar as identidades dos indivíduos que conformam a família, com novas exigências justificadas pela oferta de meios mais fluidos e rápidos de interação. Enfim, o trabalho minucioso da Ieda poderia muito bem ser o fundamento para uma política pública voltada para o contexto da dinâmica das relações familiares, considerando o cenário que se edificou após o surgimento de novas tecnologias.

    Em face do exposto, vale a pena debruçar-se na leitura deste rico trabalho.

    Professor doutor Francisco Ramos de Farias

    Pesquisador do CNPq na modalidade Produtividade de Pesquisa.

    Professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em

    Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

    Secretário Geral da ANINTER-SH.

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    1

    A EVOLUÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E da COMUNICAÇÃO

    1.1 DA TRADIÇÃO ORAL À CULTURA DIGITAL

    1.2 AS REDES SOCIAIS E AS REDES SOCIAIS DIGITAIS

    1.3 UMA SOCIEDADE EM REDE

    1.4 UMA SOCIEDADE TECNOLÓGICA: A CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DA FAMÍLIA

    1.4.1 A família na era industrial

    1.4.2 A família na

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