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O verso e a prosa
O verso e a prosa
O verso e a prosa
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O verso e a prosa

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About this ebook

De onde vem esse amor pelas palavras?
Provavelmente de minha mãe, menina-mulher dos tempos de outrora que as unia em perfeita sintonia, falando do seu amor por meu pai.
Este livro trata de herança que tomei em minhas mãos quando me aposentei.
Queria falar da vida, da minha em particular, plena de momentos os mais variados de tristezas, alegrias, perdas, lutas, vitórias, amores, música, dança...
Escrever sobre a vida permite trazer à consciência vivências que, de tão valorosas, evidenciam como foi bem vivida.
LanguagePortuguês
PublisherViseu
Release dateApr 1, 2019
ISBN9788530000905
O verso e a prosa

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    O verso e a prosa - Cleonice Duprat

    www.eviseu.com

    Cavalgando

    Numa tarde de sonhos,

    Bem perto do anoitecer,

    Saí a cavalgar em belo cavalo,

    Daqueles importados da Inglaterra,

    Que, nos haras da nossa terra,

    Só em sonhos pode existir.

    Trote suave, tranquilo,

    Inebriante, de gestos tão amáveis...

    Pelos e crinas bem tratados e escovados

    Sela e esporas especiais para um belo

    Animal de pura raça, que parecia

    Mágico ao conduzir-me pelas margens

    Do rio, como a mostrar-me toda a beleza

    Do contraste com aqueles campos verdejantes.

    Viajante sensível ao calor daquela tarde

    Dispus-me a desnudar-me parcialmente

    Para sentir o fragor dos ventos que

    Sopravam minha pele,

    Excitante panorama da colisão

    Entre a tarde e a noite.

    Naquela paisagem jamais vista,

    Longe da monotonia,

    Não havia tédio nem rancores:

    O olhar fixo, inebriante,

    Senti-me trêmula,

    Lampejo de prazer crescente.

    Não é dolorosa a existência

    Quando há meios de amenizá-la

    Dissipando as tristezas românticas dos viajantes,

    Conflitos de pensamentos ambulantes

    Quando se cavalga nos campos...

    Com a alma aberta...

    Cavalgando...

    Confidência

    Embevecida em praia deserta

    Volto meus olhos para a imensidão do mar.

    Acaricio meu corpo, pés e mãos desnudos,

    Patenteando sentimentos no meu jeito de amar.

    Faço participação secreta ao oceano diáfano,

    Único capaz de guardar segredo meu tristonho

    De um amor cândido, puro e saudável,

    Que pode ir-se embora num vendaval estranho.

    Os penedos abarrotados de frustrações minhas

    Completam a maldição contida dentro de mim

    Que emerge das ondas, num desejo violento.

    Mas jogo-as de volta ao meu tranquilo jardim.

    São tristezas inexplicáveis, amargas como o fel,

    Que lentamente de mim se apoderam.

    Mas por que tanta cólera, tanta inquietação,

    Se tenho teus beijos com sabor de mel?

    Incompreensíveis momentos de incerteza,

    Ânsia que desvaira um coração em prantos

    Vendo-me espelhada na água que aflora

    Face cansada de lamentos tantos.

    Saudades

    Saudades de onde nasci, não vivi e não conheci.

    Saudades de onde realmente passei parte da vida,

    Vagueando o fluxo das águas com olhar doce e sonhador,

    Feliz ou infeliz no decorrer da existência.

    Saudades dos que se foram e não voltaram.

    Sequer em sonhos pude encontrá-los,

    abraçá-los, beijá-los...

    Certa estou de que não os verei jamais.

    Recordo de mim, pequenina, chorando angustiada

    No seio de quem se foi e não retornou,

    Restando a maior saudade existente,

    Que parte o peito e deixa no coração um ardor

    Que jamais cessa

    E me seguirá por toda a vida.

    Saudades de infinitas e nostálgicas lembranças

    Que me castigam onde quer que eu vá.

    São ausências intermináveis de tudo que se foi

    E de mim se afastou num abandono não esquecido.

    Saudades da vida que poderia ter vivido,

    Saudades dos que me fizeram sofrer.

    Saudades dos que me ampararam à distância,

    Saudades dos que nunca conheci e não conhecerei.

    Saudades das lembranças que na alma residem.

    Saudades do meu piano deixado de lado

    Para calar o som triste que dele se ouvia

    Como prece que a mim me confortava,

    Mas não para os que sentiam desprazer

    Nas vibrações sonoras que se faziam deslizar suavemente.

    Saudades de pessoas órfãs como eu,

    Saudades do presente, do futuro e do passado,

    Saudades do vazio interior que em mim reside,

    Na lembrança solene de tudo que se foi.

    Feliz agora para não me deixar afogar

    No oceano de mim mesma.

    Bênção

    Deus em toda a sua supremacia e beneficência

    Deu-me a graça de ser mãe, a mais veemente,

    De uma linda menina de olhos cor do céu,

    Como num sonho, em sua maior incandescência.

    Ela me veio em momento altamente abençoado

    E me trouxe o melhor que da vida se pode ter.

    Feliz o dia dos aprazeres mais febris.

    Em que meu âmago gerou ser tão esperado.

    Fui premiada entre as mulheres mais férteis,

    Para conceber criança das mais belas,

    Mimosa, iluminada, suave como uma flor

    Dentre os botões das variadas espécies.

    Renasceu em meu coração o prazer de viver,

    Pois chegava a ditosa filhinha primogênita,

    Cercada por uma auréola brilhante,

    E um anjo estava ali a lhe proteger.

    Chorei de alegria ao vê-la pela primeira vez,

    Com comoção pura e acalentadora,

    Ouvi canção de amor trazendo a minha paz,

    Era a vida mostrando-me toda a sua altivez.

    Ergui os olhos para o céu em agradecimento

    Por ter em meus braços um aljôfar, um brilhante,

    Pedra preciosa que me pertencia com galhardia

    E cintilava como as estrelas no firmamento.

    Como foi sublime tê-la em meus braços,

    Embalá-la em meu peito, tranquilizá-la,

    Como se tudo quisesse me dizer

    Que a vida era completa com seus abraços.

    Amor e vinho

    Hoje, tudo em nossa existência é alegria,

    Somos livres a correr pelos prados floridos.

    O vinho aumenta o tamanho das flores

    E traz-nos de volta ao mundo de alforria.

    Oh, vinho doce que o passado faz esquecer,

    Olhando estonteantes o azul viçoso céu,

    A paisagem gigante que se aproxima,

    Conforme vagamos até o alvorecer.

    Oh, vinho que nos faz amar intensamente

    E seguir como se fôssemos um só,

    Busca do Éden que está à nossa frente,

    Avistando-nos com a felicidade plenamente.

    Vinho que multiplica sentimentos aflorados,

    Excita-nos e eleva-nos ao mais alto torpor,

    Fazendo-nos esquecer o amanhã.

    Que importa se hoje estamos abraçados?

    Vinho que nos aquece a alma enternecida

    Num inexorável momento de ternura,

    Num gesto incontido de amor ardente,

    Fazendo-nos chegar à paz já esquecida!

    Junto à natureza

    Contemplar a natureza quando o pensamento é tortuoso

    Mostra-nos como tudo na vida é valoroso.

    A natureza, com sua beleza interminável,

    Dá-nos a interpretação de verdades indeléveis,

    Liberta-nos de todo sofrimento de pensar.

    Repleta de comoção, alivia-nos, sem torturar,

    Da opressão frustrada de ser sensível e amar.

    Plena de vida, ela nos coloca ilesos

    Do incômodo da vida a que estamos presos,

    Diz-nos que é inevitável que existamos

    Leva-nos a sentir a realidade da vida que amamos.

    De modo absoluto, não imaginário, mas real,

    Exibe-nos meiguice, sem que tenha sensibilidade virtual;

    Completa-nos quando vemos as coisas apenas com os olhos,

    Não com a mente, que está desordenada entre os abrolhos.

    Ao se fixar o olhar sobre uma flor,

    Não se experimenta abandono, mas, sim, uma quietude de amor.

    Mostra-nos ternura do alvorecer ao anoitecer,

    Uma sorte enigmática que nos domina e fortalece,

    O croqui de um destino a que não sabemos como obedecer.

    Toda tranquilidade da natureza está conosco a sorrir

    E exala paz, harmonia e sabedoria;

    Deixa-nos transparentes na mais forte emoção

    Diante do que nos satisfaz e apraz ao coração.

    Ensina que não devemos fugir das ações dolorosas,

    Mas que não sejam extremas nem lastimosas.

    Viver a natureza, viver com a natureza

    Exulta-nos o sentir da existência sem aspereza,

    Ao tempo em que a multiplicidade de suas nuanças

    Evidencia-nos o poder de se alcançarem as mudanças.

    Ora é o mar plácido, sossegado

    A nos banhar com sua calmaria

    Onde o vento torna-se abnegado,

    Ora é o mar alvissareiro,

    Demonstrando, por vezes, sua infinitude,

    Por outra, sua força e seu poder traiçoeiro.

    Ora são as montanhas, de uma beleza sem igual,

    Que nos convida a alcançar seu pináculo, muitas vezes fatal.

    Ora é a lua, que transforma os amantes entristecidos

    E enleva o coração dos poetas embevecidos.

    Ora as estrelas que brilham cintilantes,

    Agrupadas em montes separados e distantes,

    Que mais parecem tochas brilhantes

    A nos espiar de longe em nossos momentos de agonia,

    Como se tudo nos envolvesse numa eterna nostalgia.

    Por fim, a majestosa e elegante floresta

    Conduz-nos por sobre folhas secas,

    Como se caminhássemos por uma única esteira,

    Ao mesmo tempo em que atravessamos

    O entressachar de suas folhagens selvagens

    Acompanhadas do perfume de suas flores naturais...

    Ah, natureza divina, que a todo instante nos convida

    A experimentar seu esplendor!

    Você é, sem sombra de dúvida,

    O maior benefício que Deus nos ofertou.

    Chegada da primavera

    Quão ansiosa pela mudança a estação,

    Misturada aos ventos ainda quentes

    Que aquecem corações enternecidos

    De almas ofegantes à espera da mutação.

    És tu, natureza de esplendor,

    Transmitindo teu segredo estonteante

    Aos amantes cheios de ternura,

    Cuja evolução de sentimento e brandura

    Pode se expandir através de flores e amor.

    Vem a mim, primavera dos meus sonhos!

    Afaga-me em teus braços vibrantes,

    Traz-me o frescor de tuas flores eternais,

    Conchega-te a mim com teu perfume exalante,

    Embala-me em teus seios não mais tristonhos.

    Chega a mim sorrateiramente,

    Oferta-me o odor dos teus aromas

    Que são as misturas das rosas,

    Trazendo paz aos eternos namorados,

    Em sensação de devaneios da mente.

    Vem mansinha com tochas inflamantes

    Em forma de bálsamo envolvente,

    E fica por um tempo ao meu encalço

    Lançando faíscas ébrias do fogo da paixão,

    Pois és a estação luminosa dos amantes.

    Meu esconderijo

    Naquele velho sótão, que eu chamava

    De fortaleza velha, num ir e vir constante,

    Passei seis anos de minha primeira infância,

    Minha triste primeira infância, esperando uma

    Luz trazida pelos timoneiros, desejada,

    Mas por eles nunca alcançada.

    Foram anos a observar daquela torre,

    Cujos degraus subi centenas de vezes,

    As ventanias que traziam as chuvas,

    A tranquilidade geral que depois aplainava

    O dia que se iniciava, assim como

    A tarde que se findava.

    Eu nada entendia diante de tantas

    Mudanças ora luzentes,

    Ora negras, mas visíveis,

    Ora transitórias, ora incompreensíveis

    Que por mim passavam me glorificando e

    Em minha imaginação mergulhando.

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