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Inovação em Educação: Perspectivas do Uso das Tecnologias Interativas
Inovação em Educação: Perspectivas do Uso das Tecnologias Interativas
Inovação em Educação: Perspectivas do Uso das Tecnologias Interativas
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Inovação em Educação: Perspectivas do Uso das Tecnologias Interativas

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O futuro é o que nos move. E que você não duvide de que ele pode, sim, aparecer nos seus sonhos da madrugada e virar um belo insight para tentar mudar o mundo na manhã seguinte. Desta forma você entra para a tribo da trilha do futuro. Em Florianópolis, o Laboratório de Ensino a Distância, no Departamento de Engenharia de Produção da UFSC, foi pioneiro e liderou os experimentos em direção à educação on-line. Nasceram ali no LED-UFSC, entre 1995 e 1999, as primeiras transmissões universitárias via satélite, os primeiros estúdios de vídeo para EaD, o primeiro AVA, a primeira rede multiponto de videoconferência e os primeiros cursos de pós-graduação on-line do país, com especializações e mestrados. Este livro sobre inovação em educação traz de maneira avassaladora o DNA da UFSC. Não vêm de outra matriz, portanto, os genes do Campus de Araranguá e dos Laboratórios e Programas de Pesquisa da UFSC onde foram produzidos estes capítulos sobre Jogos Digitais, Inovação Social, Nudging, Educomunicação, Tecnologias Digitais, Usabilidade, Visualização de Dados, Transportes e outros. A convergência de todos os capítulos é uma só: mais e melhores condições para a difusão da educação. (João Vianney: Doutor em Ciências Humanas – PPGICH-UFSC)
LanguagePortuguês
Release dateSep 4, 2018
ISBN9788546209187
Inovação em Educação: Perspectivas do Uso das Tecnologias Interativas

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    Book preview

    Inovação em Educação - Patricia Jantsch Fiuza

    jornada.

    Apresentação

    Patricia Jantsch Fiuza

    Robson Rodrigues Lemos

    O II Seminário de Mídia e Conhecimento aconteceu nos dias 21, 22 e 23 de junho de 2016 e foi um evento que criou espaços para debates das temáticas relacionadas às Tecnologias Interativas para Educação, à Gestão, Inovação e Sociedade em Rede. O seminário reuniu pesquisadores, estudantes, professores e profissionais na área de tecnologia educacional e indústria de software permitindo a realização de debates que contribuíram para o desenvolvimento desta obra. O II Seminário de Mídia e Conhecimento (MIDCON) foi promovido pelo Grupo de Pesquisa em Mídia e Conhecimento da UFSC/CNPq e Laboratório de Mídia e Conhecimento (LabMídia) no campus de Araranguá da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc). O evento se caracterizou pela participação de palestrantes nacionais, com o uso intenso das tecnologias de informação e comunicação, bem como pela difusão e discussão entre os membros da comunidade interna e externa desta que é uma importante área de conhecimento e estudo da atualidade.

    O livro é composto por quatorze capítulos que estão reunidos em duas partes, inicialmente aborda as Tecnologias Interativas para Educação e em seguida apresenta os trabalhos da temática Gestão, Inovação e Sociedade em Rede. O primeiro capítulo, intitulado A Educomunicação na EaD: Inter-relações entre a Educação e a Comunicação, apresenta as inter-relações entre os campos de conhecimento da Comunicação e da Educação.

    No Capítulo 2, Jogos Digitais, Cognição e Aprendizagem: Contribuições do Uso das Tecnologias na Educação, os autores caracterizam os jogos digitais, relacionando suas características com o processo de aprendizagem e com as funções cognitivas para analisar as contribuições de seu uso na educação.

    O trabalho Avaliação da Ergonomia e Usabilidade do Módulo Laboratório Virtual de Programação do Moodle apresenta a avaliação da interface de interação do módulo Laboratório Virtual de Programação (VPL) do Moodle a partir de um estudo de caso com alunos de uma disciplina de linguagem de programação.

    Resultados de uma investigação sobre uso de softwares em pesquisas científicas são apresentados no Capítulo 4: Softwares de Apoio à Pesquisa Científica: Levantamento e Análise de Características.

    A investigação da relevância da visualização da informação na identificação de padrões sobre um grande volume de dados educacionais por meio de uma aplicação web é apresentado no Capítulo 5, com o tema: Ambiente de Visualização de Dados do Exame Nacional do Ensino Médio.

    O Capítulo 6, Integração de Tecnologia na Educação utilizando Experimentação Remota Móvel, descreve o processo de criação de tecnologias educacionais que exploram a intersecção entre a experimentação remota e aprendizagem móvel no Grupo de Trabalho em Experimentação Remota Móvel (GT-MRE).

    O Capítulo 7, Memórias Digitais de Araranguá: Aplicação Web para Anotação Colaborativa de Conteúdo de um Museu Virtual, descreve o desenvolvimento de uma aplicação multimídia para web do museu histórico de Araranguá, em que é possível disponibilizar o acervo de documentos e fotografias históricas digitalizadas em grande escala, onde a comunidade de usuários possa obter informações e anotar suas contribuições associadas às fotografias digitalizadas de uma forma colaborativa através do acompanhamento de um moderador.

    O trabalho Gamificação na Educação: um modelo conceitual de apoio ao planejamento em uma proposta pedagógica apresenta um modelo conceitual para apoiar o planejamento da gamificação em uma situação de aprendizagem baseada em uma proposta pedagógica, identificando etapas e elementos fundamentais do processo de planejamento da gamificação.

    Na parte de Gestão, Inovação e Sociedade em Rede, o Capítulo 9, Inovação Social e Desenvolvimento Inclusivo, examina alternativas para a economia propostas a partir do modelo analítico-conceitual de Inovação.

    O Capítulo 10, "Nudging: Indução de ideias na sociedade em rede", apresenta uma pesquisa exploratória da literatura a respeito da Teoria Nudge, sua construção e exemplos, assim como questionamentos éticos e efeitos de longo prazo para esta prática tão recente na literatura.

    No Capítulo 11, Exponenciais: um olhar através de Governos Inteligentes, apresenta-se o conceito de Organizações Exponenciais com o propósito de explicar o significado de Governos Exponenciais a partir da perspectiva de Governos Inteligentes.

    O trabalho Tecnologias digitais para um novo modelo de educação corporativa: Universidade Corporativa em Rede analisa o papel desempenhado pelas tecnologias nos modelos contemporâneos de universidade corporativa propostos pela literatura científica, como a Stakeholder University e a Universidade Corporativa em Rede.

    O Capítulo 13, Mídia e Conhecimento: Mercado e Aplicação, apresenta observações relacionadas ao mercado de novas tecnologias de informação e comunicação baseado em novas formas de gestão de base tecnológica, no qual o foco é a pessoa e sua reputação.

    Já o Capítulo 14, Tecnologias da Informação e Comunicação na Pesagem em Movimento, descreve atividades nos segmentos de ensino, pesquisa e extensão com foco em transporte e logística relacionadas a tecnologias desenvolvidas para pesagem em movimento.

    É sobre isso que trata este livro: como nos mantermos sensíveis ao desenvolvimento da pesquisa científica, ao uso das tecnologias na educação e em como inovar neste cenário. E, neste momento, não podemos deixar de agradecer às agências financiadoras, à UFSC e à Fapesc, que por meio de bolsas de iniciação científica e fomento deram apoio para o Grupo de Pesquisa em Mídia e Conhecimento da UFSC/CNPq (GPM&C) no desenvolvimento do II MIDCON que deu origem a esta obra.

    Agora que você já sabe o que vai encontrar nessas páginas, esperamos que este livro contribua na sua trajetória, promovendo discussões e reflexões que possam subsidiar a inovação e implementação de novas práticas com e para o uso das tecnologias interativas na educação. Finalmente, convidamos você a enfrentar os desafios que surgem no dia a dia da educação por meio do uso das tecnologias interativas na educação com a ajuda de cada um dos autores deste livro. Um abraço e boa leitura!

    Os organizadores

    Maio/2017

    PARTE I

    Tecnologias Interativas para Educação

    1.

    A EDUCOMUNICAÇÃO NA EAD: INTER-RELAÇÕES ENTRE A EDUCAÇÃO E A COMUNICAÇÃO

    Ademilde Silveira Sartor

    Introdução

    As relações entre os campos de conhecimento da Comunicação e da Educação estão no centro das reflexões sobre fenômenos, situações e práticas nos quais a tecnologia, a mídia, a escola, a família e a sociedade se encontram entrecruzadas pelas mediações culturais, políticas e econômicas, objetivadas pela reflexão sobre os possíveis frutos desses entrecruzamentos.

    Diversos autores (Soares, 2011; Citelli, 2011; Aparicci, 2010) afirmam existir um campo epistemológico em que Comunicação e Educação se encontram como elementos fundantes. Se considerarmos que as dinâmicas comunicacionais e culturais inauguradas pelas tecnologias digitais da informação e da comunicação são recentes, levando em conta as mudanças que causam no âmbito educativo, é possível entender a novidade do campo. A educação é um campo. A Comunicação é um campo. Qualquer diálogo entre esses dois campos é, consequentemente, um campo.

    Campo, para Pierre Bourdieu (2001), é um cenário de interesses, não pode ser reduzido a nenhuma disciplina. Ultrapassa as disciplinas e implica em uma prática e nos interesses dessas práticas e seus processos. A noção de campo é dada ao afirmar que [...] cada universo erudito possui sua doxa específica, conjunto de pressupostos inseparavelmente cognitivos e avaliativos cuja aceitação é inerente à própria pertinência (Bourdieu, op. cit., p. 122). Identifica, assim, vários campos como o científico, o jornalístico, o literário, o artístico, e cada um consiste em uma institucionalização de um ponto de vista, [...] um conjunto de pressupostos e de crenças partilhadas [...] inscritas em certo sistema de categorias de pensamento (Bourdieu, 1997, p. 67). Ao contemplar uma determinada problemática, um campo é:

    […] um espaço social estruturado, um campo de forças – há dominantes e dominados, há relações constantes, permanentes, de desigualdade, que se exercem no interior desse espaço – que é também um campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de forças. Cada um, no interior desse universo, empenha em sua concorrência com os outros a força (relativa) que detém e que define sua posição no campo e, em conseqüência, suas estratégias. (Bourdieu, 1997, p. 57)

    A partir da compreensão de campo desse autor, reconhecemos um conjunto de crenças e pressupostos compartilhados pela Comunicação e pela Educação que pode caracterizar um campo formado por essas duas áreas, uma vez que

    é o lugar de um regime de racionalidade instituído sob a forma de constrangimentos racionais os quais, objetivados e manifestados numa certa estrutura da troca social, encontram a cumplicidade imediata das disposições adquiridas pelos pesquisadores, em ampla medida, por conta da experiência das disciplinas da cidadela científica. (Bourdieu, 2001, p. 137)

    Alguns objetos do conhecimento da Comunicação podem sê-lo igualmente da Educação, independentemente de esse ser analisado do ponto de vista da primeira ou da segunda, ou ainda para se constituírem como tal referirem-se a ambas, compondo um campo epistemológico que vem sendo denominado por diversos pesquisadores como Educomunicação.

    A multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade configuram a Educomunicação, pois a mesma dialoga com a Economia, Política, Estética, Linguagem, História, entre outros, formando uma base para pensar-se a constituição dos sentidos sociais. Assim, o campo não pode ser reduzido à leitura crítica dos meios, ou ao uso das tecnologias na prática docente, sejam processos presenciais ou a distância, ou na participação em questões da cidadania e da arte, muito menos pode ser reduzido às questões técnicas dos meios e suas linguagens. A escola, por outro lado, também não é a única instância social responsável pelo desenvolvimento da postura crítica frente ao mundo. A formação escolar contribui ao construir espaços e processos de reflexão, mas se faz necessário admitir que as mídias também jogam papel importante na educação, de tal modo que comunicação e educação isoladas não dão conta do pensar a construção dos sentidos nas dinâmicas sociais contemporâneas.

    Ao reconhecermos o que confere certa identidade a um campo, identificamos seus elementos. Nestes termos, a Educomunicação é constituída pelas problemáticas que envolvem temas como papel e natureza da fonte/mensagem/receptor (relacionando teorias da Comunicação e da Educação); o entendimento dos modos de comunicação (face a face, interpessoal, de massa, segmentada, comunicação humanos com não humanos, humanos com humanos, não humanos com não humanos); as linguagens e seus modos de produção; a recepção com suas mediações; a legislação pertinente à área (regulamentação das telecomunicações e sua utilização para fins educativos), as tecnologias e suas possibilidades educativas etc. Entre seus agentes podemos identificar as instituições escolares, as empresas de comunicação social, órgãos da administração pública (Ministérios da Educação e da Comunicação), bem como organizações não governamentais e outras organizações que operam no âmbito da educação não escolar. A lista de agentes e de temas amplia-se ainda mais se levarmos em conta questões que lidam com a cultura, com nosso capital simbólico e que, por isso mesmo, demandam análises da dimensão simbólica da dominação econômica (Bourdieu, 2000, p. 8).

    Jesús Martín-Barbero é referência latino-americana de principal importância e seu livro Dos Meios às Mediações (Martín-Barbero, 2001) torna-se uma grande obra teórica ao estabelecer as mediações que jogam papel importante no processo comunicacional. Assim, é necessário pensar a comunicação a partir das matrizes culturais nas quais a recepção está inserida, dos processos industriais envolvidos na produção cultural, das competências da recepção e das lógicas da produção. Baccega (2011) enfatiza que as lógicas da produção editam a realidade, oferecendo fragmentos escolhidos por critérios próprios e, assim, dão a conhecer aquilo que consideram que a recepção pode receber. Ao editar, atribuem valores, perspectivas, hierarquias que valorizam um ponto de vista em detrimento de outros. Desse modo, desempenham, então, uma função formadora. São educadoras. Para Martín-Barbero (2014), é necessário compreender a mídia como dimensão estratégica da cultura e, desse modo, entender que comunicação, cultura e educação são dimensões do mesmo processo de produção de sentidos.

    Comunicação na Educação

    Para pensarmos a Comunicação na Educação, três palavras adquirem papéis-chave: aprendizagem, cultura e cidadania. A aprendizagem diz respeito ao meio escolar e aos meios de formação não escolares e o uso das mídias em seus processos. Na escola, as mídias são vistas como dispositivos didáticos: trata-se de pensar sobre qual a melhor tecnologia para viabilizar a aprendizagem pretendida. Ao pensarmos a escola pelas mídias estamos pensando na didática como dispositivo comunicacional: trata-se de pensar a relação da aprendizagem com as linguagens, verbal escrita, verbal falada, audiovisual, multimídia e hipertextual.

    As mídias são instâncias de socialização e formação, seja por processos educativos intencionais ou não. Como aspecto importante da cultura, as mídias participam de processos comunicacionais grupais sociais ou organizacionais, processos de subjetivação e formação da identidade. Como meio de expressão, as mídias são dispositivos de ação no mundo, pois viabilizam a expressão e a participação social.

    Em termos de cidadania, as mídias são instâncias de acesso à informação, ao conhecimento e aos bens culturais. Aqui importa discutir o consumo como direito ao acesso, a crítica ao consumo como função da recepção – tanto a recepção como ação de um sujeito, quanto como exercício de um direito, e, ainda, a recepção como alvo de objetivos das propagandas comercial e política. As mídias são instâncias sociais que agem como aparelhos de manipulação e dominação, por um lado, e, por outro, como canais de potencialidades positivas, colaborando com aquilo que se deseja de bom para a humanidade.

    As mídias, como ferramentas de organização/ação política, nos permitem pensar as inter-relações entre Educação e Comunicação como encontros teóricos e metodológicos que levam em consideração uma multiplicidade de práticas sociais, políticas e culturais. Levar em consideração a relação entre os meios de comunicação e os sistemas educativos é conceber o processo educativo como intrinsecamente comunicativo e o processo comunicativo como intrinsecamente educativo. Convém lembrar que processos comunicativos podem ser levados a cabo sem a participação de um meio, ou seja, a comunicação pode ser não mediada, pois pode ser interpessoal e, nesse caso, importa pensar a comunicação entre pessoas como centro do processo educativo (professor versus aluno, aluno versus aluno; aluno versus sociedade, aluno versus gestores, professores versus gestores etc.). A educação pode ser pensada para realizar a crítica ou pode utilizar as mídias na mediação tecnológica. Vale dizer que a educação pode ser feita para as mídias, pelas mídias e com as mídias, mas também podemos pensar que a educação pode se dar apesar das mídias, ou mesmo contra as mídias. Isso implica em não reduzir as mídias aos seus aspectos instrumentais e a compreender a comunicação como processo de produção de sentidos, para além, portanto, das questões referentes ao como, onde e por que fazer uso.

    A Educomunicação, por sua vez, ocorre além da sala de aula, não é um problema escolar, pois ocorre como prática comunitária nos movimentos sociais, nas organizações etc. Tem a ver com a forma como nos de entendemos, agimos e nos expressamos em sociedade. De onde se depreende que implica uma postura política, pois se pensarmos educação como diálogo no sentido que nos ensinou Paulo Freire, então o ponto de vista político adquire uma função precisa: a relação deixa de ser entre sujeito sujeitador e sujeito sujeitado para ser entre sujeitos. O poder passa a ser compartilhado.

    Pensar num poder compartilhado leva-nos a perguntar: qual é o papel do sistema educativo na sociedade? Qual a política de formação do cidadão que nos possibilita pensar a cidadania como participação? Mais que isso, devemos pensar que os meios são dispositivos pedagógicos além de meios de expressão e de pesquisa. Os meios servem para estudar e aprender, não apenas nos processos escolares, onde lhes é adicionada a uma dimensão instrumental, mas em todos os processos da ação humana, pois aprende-se sempre, em qualquer circunstância, pois são dispositivos pedagógicos (Fischer, 2002). Isso implica em outra leitura da função escolar na sociedade globalizada, tanto em termos de suas funções sociais, quanto em relação à formação necessária do profissional docente e sua prática pedagógica. Exige que se pense em uma escola em que sua arquitetura tenha sido revista, modificando relações espaço-temporais; exige que se pense em outras arquiteturas com diferentes possibilidades de uso e fruição do espaço, além de uma formação de professores que os incentive/capacite a desenvolver práticas pedagógicas educomunicativas. Novos currículos, pois se faz necessário flexibilidade na concepção dos fluxos de informação, com diferentes possibilidades de organização do processo de formação, seja da criança seja de um profissional. As metodologias de ensino contemporâneas dependem das tecnologias, então a inovação pedagógica passa por uma releitura da relação entre a cultura em que as mídias jogam papel importante e a prática pedagógica, implica em repensar objetivos, funções e processos escolares.

    Quando entra em discussão aspectos comunicativos que se desenvolvem entre professores e alunos, se afirma que essa deixará de ser monológica, deixando de ser uma comunicação unidirecional, dissertativa, para ser uma comunicação mediada, enriquecida pelas possibilidades interativas das mídias, notadamente as digitais. O aspecto da relação emissor-receptor presente na relação professor-aluno talvez possa estar contemplado na visão instrumental que a mídia desempenha, porém, aspectos como autoria e coautoria, os modos de circulação ou fluxos da informação e dos processos de atribuição de sentido não são colocados em cena. Se a prática educativa é comunicativa, então a dimensão instrumental da mídia é insuficiente para elucidar a dimensão comunicativa. A mídia não é mero instrumento, ela carrega dimensões culturais e aspectos sociais que põem luz em relações diversas com o conhecimento, com o saber, com processos diferidos de aprendizagem. O processo comunicacional de uma aula expositiva é completamente diferente de uma aula baseada na metodologia Flipped Classroom, por exemplo.

    No processo comunicativo, aparecem as competências docentes para usar as mídias, remetendo à necessidade de formação profissional que capacite a operar essas tecnologias de modo a oferecer atividades mais interessantes para o aluno. No entanto, tão ou mais importante que isso, nos parece, é refletir sobre os fluxos dos sentidos viabilizados em sala ou nos espaços fora dela, mas com ela relacionados. Caberia pensar aqui sobre as relações que o docente constrói com a cultura dos alunos, na problematização da relação que os alunos fazem com as mídias no sentido de ressignificar o que acontece em sala, ou inaugurar o que acontece em sala de aula. Qual o processo de construção ou de atribuição de sentidos que alunos e professores constroem em sala de aula e fora dela. Não esquecendo que, em tempo de redes sociais, outros atores participam da aula à revelia do professor.

    A partilha do controle do processo comunicativo é ponto chave que caracteriza um modelo dialógico, no qual o controle do processo de ensino e aprendizagem é compartilhado. O conceito de interação possui conceituação mais ampla, de coenunciação, coparticipação e é marcada pelo controle do processo compartilhado no qual fonte e receptor intercambiam papéis.

    A educação dialógica admite a necessidade de comunicação entre todos os envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem, pauta-se, portanto, num outro conceito de comunicação, abandonando a ideia da emissão e recepção de mensagens no sentido unidirecional e admitindo as relações multidirecionais como inauguradoras de processos comunicativos (Sartori, 2012). Os estudantes adquirem status de coenunciadores, pois os significados são construções coletivas, somente na coenunciação é possível pensar numa relação dialógica.

    Em sistemas de EaD, a dialogicidade e a interatividade estão intrinsecamente ligados ao desenho pedagógico. Envolve, portanto, a gestão da comunicação. A dialogicidade de um modelo pedagógico pode ser identificada pelo modo como é gerida a comunicação em um sistema de EaD, ou seja, pela maneira como é planejado, executado e viabilizado o fluxo comunicacional.

    A comunicação na EaD

    A EaD é uma prática educativa que rompe com a ideia de que só aprendemos com um professor falando conosco na frente de uma sala de aula e se estamos nesta sala ao mesmo tempo, todos juntos. Essa ruptura foi possível porque a globalização ocorreu, a exigência de trabalhadores com perfis diferenciados, a demanda social por educação, o surgimento do receptor/usuário/navegador, a pressão das corporações para o ensino superior e o desenvolvimento digital das telecomunicações e do NTIC com seus dispositivos de interatividade. Otto Peters (2003) afirma que a expansão da EaD não pode ser considerada como um fenômeno de causa única, mas podemos identificar um conjunto de fatores que indicam mudanças no contexto econômico e social em que a informação adquire um status sem precedentes.

    Propostas atuais de EaD indicam a existência de grupos de profissionais preocupados com a interatividade como um processo dialógico, de construção do conhecimento coletivo, que pode servir como indicador de projetos voltados para a colaboração e a participação. A interatividade é entendida como participação no aprendizado de outras pessoas e como coautoria e não em o acesso a várias línguas e fontes de informação, o que denota uma forte necessidade de procedimentos e dispositivos comunicacionais e pedagógicos que permitem o intercâmbio entre os envolvidos. A interatividade é mais uma questão de intercâmbio entre os participantes do que uma característica tecnológica. A construção e troca de sentidos não é restrita à participação de colegas na construção do conhecimento, mas também na presença e trabalho de tutores, considerados indispensáveis para a modalidade.

    O perfil esperado para o aluno de um curso em EaD pede uma pessoa adulta, participativa, colaborativa com os colegas, já não se concebe um curso organizado com fluxo unidirecional e um estudante passivo. A possibilidade de participação e de intervenção é acompanhada pela premissa de responsabilidade. Não é uma ação abstrata, pois o cumprimento dos prazos e a qualidade das obras apresentadas continuam sendo requisitos para um bom desempenho acadêmico. Para resumir, a interatividade favorece o diálogo, precisa da mediação dos tutores, mas requer uma atitude responsável ao reconhecer a importância das mediações humanas, que permitem o intercâmbio simbólico e afetivo de todas as ordens, o sentimento de pertencer ao grupo, a reunião virtual e a agência de processos de coautoria.

    O desenvolvimento tecnológico trouxe inúmeras contribuições para a oferta ainda mais diversificada de dispositivos comunicacionais que suportam as estruturas técnicas e didáticas necessárias para viabilizar os processos de ensino e de aprendizagem que reverberam os tempos em que vivemos, nos quais os processos interativos exigem grande iniciativa e uma atitude de busca. Os processos interativos baseados na intervenção e na coautoria como potencialidade requerem daquele que não é mais um mero receptor, mas um coprodutor e coprodutor em potencial, a capacidade de dialogar e trabalhar em equipe e a vontade de aprender a aprender.

    Elizabeth Saad (2003) afirma que as tecnologias atuam sobre a informação para transformar a economia e a sociedade, ao contrário das revoluções anteriores, nas quais a informação tornou possível atuar sobre as tecnologias. A Sociedade da Informação levou a EaD a superar o

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