Nas Páginas das Cidades: História, Cultura e Modernidade em Ribeirão Preto, SP (1883-1964)
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Nas Páginas das Cidades - Rafael Cardoso de Mello
Copyright © 2017 by Paco Editorial
Direitos desta edição reservados à Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.
Revisão: Renata Moreno
Assistência Editorial: Érica Cintra
Capa: Matheus de Alexandro
Assistência Digital: Wendel de Almeida
Edição em Versão Impressa: 2016
Edição em Versão Digital: 2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Conselho Editorial
Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes)
Prof. Dr. Antonio Carlos Giuliani (UNIMEP-Piracicaba-SP) (Lattes)
Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)
Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes)
Prof. Dr. Fábio Régio Bento (UNIPAMPA/RS) (Lattes)
Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa (FURG/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes (UNISO/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Magali Rosa Santa'Anna (UNINOVE/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Marco Morel (UERJ/RJ) (Lattes)
Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes)
Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus(IFRO/RO) (Lattes)
Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes)
Paco Editorial
Av. Carlos Salles Block, 658
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Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100
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Dedicamos esta obra aos personagens anônimos da história de Ribeirão Preto, responsáveis pela escrita de outras páginas das cidades que constituem esta localidade.
Disse Vinicius de Moraes: eu não ando só/ só ando em boa companhia
.
Ecoando a frase do poetinha
, cabe, em reconhecimento, agradecer aos autores desta coletânea, pelo companheirismo, confiança e labuta coletivos.
Este mesmo reconhecimento motiva agradecer ao Centro Universitário Barão de Mauá, instituição parceira, na pessoa de sua reitora, profa. dra. Dulce Maria Pamplona Guimarães, prefaciadora desta obra e mestra na interpretação de Ribeirão Preto.
Os organizadores
Os letreiros esmaltados e brilhantes das firmas são um adorno de parede tão bom ou melhor que a pintura a óleo no salão do burguês; muros são a escrivaninha onde apoia o bloco de apontamentos; bancas de jornais são suas bibliotecas, e os terraços dos cafés, as sacadas de onde, após o trabalho, observa o ambiente.
(Walter Benjamim)
Para ver uma cidade, não basta ter os olhos abertos. É necessário, em primeiro lugar, descartar tudo o que impede de vê-la, todas as idéias adquiridas, as imagens preconcebidas que dificultam o campo visual e a capacidade de compreender. Depois, é necessário saber simplificar, reduzir ao essencial o enorme número de elementos que a cada segundo a cidade expõe aos olhos de quem a observa, e enlaçar os fragmentos disseminados em um desenho analítico e unitário, como o diagrama de uma máquina, a partir do qual se pode compreender como esta funciona.
(Ítalo Calvino)
Sumário
Folha de rosto
Página de Créditos
Dedicatória
Agradecimentos
Epigrafe
Apresentação
Cidades, modernidades e discursividades
Prefácio
Um diálogo possível na fronteira entre história e antropologia
Referências
Capítulo 1
Travessias epistemológicas e olhares urbanos: a cidade de Ribeirão Preto (SP) interpretada a partir da cultura política e segundo a perspectiva da micro-história
Apresentação
No local e para além do local: Ribeirão Preto a partir das pesquisas de Dulce Guimarães
Escrita da história cultural sobre a cidade, segundo a micro-história
Considerações finais
Referências
Capítulo 2
Figurações literárias da história ribeirão-pretana: análise da obra Coronéis e carcamanos, de Júlio José Chiavenato
Apresentação
A história nos romances históricos
Gêneros discursivos, Mikhail Bakhtin e dialogismo
Coronéis e carcamanos: um romance histórico da Belle Époque em Ribeirão Preto
Uma leitura bakhtiniana de Coronéis e carcamanos
Considerações finais
Referências
Fonte
Capítulo 3.
O burburinho das ruas e o silêncio disciplinador da modernidade: vivências envolvendo a feira-livre em Ribeirão Preto (SP), durante a Primeira República
Feira, modernidade, processo civilizador e urbanismo
Inspirações europeias no Brasil e no interior paulista
Um processo civilizador em Ribeirão Preto
Espaço e comércio
A rua e suas ocupações: uma carga histórica e cultural
O viver sob posturas
A feira-livre: um símbolo da modernidade
Considerações finais
Referências
Fontes
Capítulo 4
Pecador ou predestinado? Bandeirante ou ditador? Moderno ou atrasado? marcas da Belle Époque em representações políticas de Getúlio Vargas nos jornais ribeirão-pretanos (1930-1945)
Apresentação
Quando Vargas é Mau
Vargas, o ambicioso
Vargas, o imoral
Getúlio Vargas: o maquiavélico
Getúlio Vargas: o Hitler tupiniquim, assassino de revolucionários
Quando Vargas é bom
Getúlio Vargas: o Cristo Profano
Vargas, o anticomunista
Getúlio Vargas: o bandeirante
Considerações finais
Referências
Fontes
Capítulo 5
Representações da Belle Époque nos bancos escolares: reflexões sobre o ensino do conceito de coronelismo na rede pública de Ribeirão Preto (SP)
Apresentação
Coronelismo: um conceito-jabuticaba para explicar a política brasileira
O coronelismo em Ribeirão Preto/SP: trabalhos selecionados
Construindo a Petit Paris: Joaquim Macedo Bittencourt e a Belle Époque em Ribeirão Preto (1911-1920)
Um Coronel de saias
no interior paulista: a Rainha do Café
em Ribeirão Preto (1896-1920)
A teia do Poder: o Coronel Junqueira e a política da Primeira Republica – Ribeirão Preto de 1889-1932
Os impactos das investigações acadêmicas sobre coronelismo nas práticas escolares
Considerações finais – provocações propositivas
Referências
Capítulo 6
Versões e contornos do (anti) comunismo nos jornais de Ribeirão Preto (1945-1964)
Apresentação
Os jornais de Ribeirão Preto: entre Minas, Paris e a ameaça vermelha
O anticomunismo nos jornais de Ribeirão Preto
Imagens, charges e fotos do anticomunismo nos jornais de Ribeirão Preto
Considerações finais
Referências
Paco
Apresentação
Cidades, modernidades e discursividades
Nas páginas das cidades é obra que pretende destacar como o viver urbano envolve experiências variadas de discursos que definem, delimitam e constroem certos sentidos, portanto, se postos em foco e analisados, inadvertidamente revelam relações de poder e de saber.
Interpretar tais relações, por sua vez, significa entender os jogos oblíquos traçados por grupos sociais que, viventes nas cidades, promovem ações que articulam, dialeticamente, memória e esquecimento, memória e monumento, real e imaginário, materialidade e simbologia, entre outros.
A julgar pelos estudos promovidos por Lewis Mumford, Leonardo Benévolo, Richard Sennett, Angel Rama, entre outros, apenas para citar autores estrangeiros, tais relações de poder e de saber sempre se fizeram presentes na história das cidades ocidentais. Contudo, estes mesmos estudos igualmente salientam que estas relações se tornaram mais densas, intensas e tensas a contar do momento histórico em que as cidades foram transformadas em centro da vida social, isto é, a contar do advento da modernidade.
Atentos a este processo, pode-se precisar que as cidades brasileiras foram palco destas relações durante o século XIX e, especialmente, o século XX, quando projetos modernizadores conduzidos pelas elites ganharam fôlego e passaram a constituir respostas a certo ideário civilizador.
Foram, justamente, os citados projetos modernizadores que mobilizaram uma gama de discursos capazes de traduzir as intenções que se pretendiam para a construção e o viver do espaço urbano, já que pautavam, por exemplo, os padrões de construção dos edifícios, a criação de instituições públicas – como escolas, hospitais, delegacias, manicômios – a mobilidade pelas ruas e outros espaços, a vestimenta, além de concepções, gestos e comportamentos considerados adequados.
No caso do estado de São Paulo, cidade e modernidade se confundem (em boa medida) com a modernização promovida pela riqueza cafeeira, daí a ênfase desta obra em Ribeirão Preto, considerada exemplo fundamental de urbes que representaram o coffee business, ao lado da capital São Paulo, de Campinas, de Santos, apenas para citar as mais expressivas.
A obra que o leitor tem em mãos faz parte de um esforço coletivo de pesquisa que já completou uma década e foi responsável, entre outras ações, pela publicação de No tempo das cidades: História, Cultura e Modernidade em Ribeirão Preto, SP (1883-1929)¹, sendo Nas páginas das cidades, portanto, espécie de obra de continuidade, que partilha várias convicções de sua predecessora.
Primeira e especialmente, a de que a modernidade é um processo histórico de alcance mundial, mas incapaz de destruir os paroquialismos
que caracterizam os lugares por ele alcançados, constituindo, em função disso, diferentes experiências em torno da contraditória herança burguesa, resultando disso necessário reconhecimento da existência de modernidades e, com elas, as diferentes estratégias empregadas pelos sujeitos históricos para lidar com as novidades por elas trazidas.
Segundo, a de que vale a pena insistir na abordagem historiográfica que prima pela verticalização do olhar, por conseguinte, pela valorização do local, do cotidiano, das estratégias sociais, acreditando-se, assim, que tal expediente teórico e metodológico permite melhor compreender as artimanhas existentes, principalmente, entre o tempo longo e tempo curto, o coletivo e o individual, o descrever e o interpretar, o geral e o específico, o instituído e seus desvios/apropriações.
Terceira e última, a de que a melhor maneira de se enfrentar a complexidade envolvendo a modernidade é assumir a polissemia de olhares e entendimentos que enseja, o que significa promover seu trato epistemológico de modo coletivo, apostando, para tanto, na pertinência de serem abertas várias portas de entrada para o assunto, o que implica na discussão de temas diferentes, bem como em abordagens de fontes diversas.
A proximidade entre No tempo das cidades e Nas páginas das cidades igualmente explica as epígrafes selecionadas para esta obra, Benjamim e Calvino.
Com Walter Benjamim apreende-se que a cidade moderna, filha do capitalismo e da burguesia, traduz nova significação da materialidade urbana e, com ela, novas formas de interpretá-las, sempre fugidias, passageiras, num continuum dialético entre presente e passado, que toma como matéria-prima principal sua cotidianidade.
Já Ítalo Calvino impele a mirar as cidades para além das materialidades que as constituem, porque também associadas fortemente aos sonhos, aos desejos, aos devaneios, as lembranças, enfim, ao que expressa o espaço urbano nas diferentes páginas dedicadas as suas figurações e prefigurações.
A obra é formada por seis capítulos.
No Capítulo 1, Travessias epistemológicas e olhares urbanos: a cidade de Ribeirão Preto (SP) interpretada a partir da cultura política e segundo a perspectiva da micro-história
, elaborado por Humberto Perinelli Neto, Rodrigo Paziani e Rafael Cardoso de Mello, dedica-se esforços no levantamento e nas reflexões da produção acadêmica desenvolvida por Dulce Maria Pamplona Guimarães a respeito de Ribeirão Preto, ao longo das décadas de 1980 e 1990.
Em "Figurações literárias da história ribeirão-pretana: análise da obra ‘Coronéis e carcamanos’, de Júlio José Chiavenato", Capítulo 2, pertencente a Patrícia Fuquini Dias, depara-se com dedicada interpretação bakhtiniana de conhecido romance envolvendo a Belle Époque de Ribeirão Preto, buscando entender os sentidos constituintes desta figuração literária da Primeira República.
No Capítulo 3, Fábio Martins Gaioli nos convida a adentrar o mundo pouco conhecido das feiras livres em Ribeirão Preto, ao tecer O burburinho das ruas e o silêncio disciplinador da modernidade: vivências envolvendo a feira-livre em Ribeirão Preto (SP), durante a Primeira República
e, com ele, entender o cotidiano citadino que é marcado pelas dinâmicas comerciais e os interditos jurídicos, as diversas sociabilidades e as relações de poder, bem como as simbioses entre o rural e o urbano.
Na sequência, o Capítulo 4, intitulado "Pecador ou predestinado? Bandeirante ou ditador? Moderno ou atrasado? Marcas da Belle Époque em representações políticas de Getúlio Vargas nos jornais ribeirão-pretanos (1930-1945)", de autoria de Lucas Dario Romero y Galvaniz, aborda a presença desta polêmica figura nos jornais produzidos em Ribeirão Preto, com o objetivo de deslindar os variados discursos e representações construídas em torno dela, durante sua primeira e longa passagem como estadista da República.
Em "Representações da Belle Époque nos bancos escolares: reflexões sobre o ensino do conceito de coronelismo na rede pública de Ribeirão Preto (SP)", Capítulo 5 desta coletânea e assinado por José Faustino de Almeida Santos, ao explorar reflexões acerca do coronelismo, o objetivo é apresentar a importância do ensino escolar de história incorporar pesquisas acadêmicas de história, entre outros expedientes, como forma de serem construídas práticas educativas marcadas pela preocupação com a construção da consciência histórica.
No Capítulo 6, Versões e contornos do (anti)comunismo nos jornais de Ribeirão Preto (1945-1964)
, último desta coletânea, Yuri Araújo Carvalho procura analisar os discursos, imagens e representações construídas em torno do (anti)comunismo em jornais de Ribeirão Preto publicados entre 1945 e 1964, partindo de questões do nosso tempo (as manifestações anti-Dilma de março de 2015), isto é, desbobinando a fita
da história rumo ao início do século XX.
Apresentados os capítulos, nota-se que, para além de similaridades, há também diferenças entre No tempo das cidades e Nas páginas das cidades.
Na obra que o leitor tem em mãos, ultrapassa-se o recorte temporal que relaciona Belle Époque à Primeira República, reforçando assim o reconhecimento das permanências dos ideários modernizadores envolvendo o projeto civilizador das elites locais, levado a cabo inicialmente no período compreendendo fins do século XIX e primeiras décadas do século XX.
Tais permanências são aqui apresentadas, frisa-se, especialmente na constituição de discursos que, produzidos num tempo posterior à Belle Époque, insistem em retratá-la, pensar sobre e memorizá-la, segundo certas figurações, que são difundidas, ganham substancialidade e fazem com que os muitos pontos de vista do real
vivido pelos sujeitos, em diferentes contextos, nasçam das mesmas páginas que insistem em (re)escrever a história de tantas cidades existentes na cidade de Ribeirão Preto.
Dito tudo isso, cabe promover o mais importante: convidar o leitor a refletir, por iniciativa própria, a respeito das páginas destas cidades de Ribeirão Preto, apresentadas nesta obra.
Organizadores, São José do Rio Preto (SP) /
Marechal Cândido Rondon (PR)/Ribeirão Preto (SP)Primavera de 2015
Notas
1. Perinelli Neto, H; Paziani, R. R; Mello, R. C. (orgs.). No tempo das cidades: História, Cultura e Modernidade em Ribeirão Preto, SP (1883-1929). Jundiaí: Paco Editorial, 2014.
Prefácio
Um diálogo possível na fronteira entre história e antropologia
Como representante do Centro Universitário Barão de Mauá, parceiro na publicação desta coletânea; como objeto
de estudo do seu primeiro capítulo e com laços acadêmicos, direta ou indiretamente estabelecidos com a maioria de seus autores, foi com muita alegria e honra que aceitei prefaciá-la.
Temos em mãos, excluindo o primeiro capítulo, um conjunto de artigos referentes a Ribeirão Preto, a modernidade e a riqueza
do café, no período de 1883-1964, dando continuidade à obra predecessora No tempo das cidades: história, cultura e modernidade em Ribeirão Preto.
Os autores na Apresentação explicaram muito bem esta sequência entre as duas coletâneas e identificaram-na como resultados do mesmo esforço coletivo de pesquisa que já completou uma década
. Cabe aqui valorizar a importância deste trabalho coletivo, porém, ainda sim, destacar dois pesquisadores em especial, o professor José Evaldo de Mello Doin e o professor Humberto Perinelli Neto, que tanto na Unesp – Franca quanto no Centro Universitário Barão de Mauá (respectivamente), coordenaram e orientaram parte significativa dos trabalhos que envolveram a história da região do nordeste paulista, sob o prisma da modernidade em relação ao mundo cafeeiro.
Após a leitura da obra e a partir de um sobrevoo rápido, mas cheio de curiosidade da cientista social, estudiosa da Antropologia e ex-docente do curso de História, apreendi estes textos como fazendo parte de um território de limite entre