O retrato de Vieira da Silva por Murilo Mendes
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O retrato de Vieira da Silva por Murilo Mendes - Suianni Cordeiro Macedo
Suianni Cordeiro Macedoo
O Retrato de Vieira da Silva por Murilo Mendes
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Coordenação Editorial: Kátia Ayache
Revisão: Nara Dias
Capa: André Fonseca
Diagramação: André Fonseca
Edição em Versão Impressa: 2013
Edição em Versão Digital: 2013
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Dedicatória
A Samuel, que nunca deixou me faltar coragem.
A Paulo e Elena, por sempre acreditarem,
mesmo quando tive dúvidas.
Agradecimentos
Estou aprendendo a ver
.¹
Ao longo deste projeto não houve nenhum momento em que estive completamente sozinha. Felizmente, pois sozinha não poderia ter realizado a pesquisa que ora se concretiza nestas páginas. Escrever é também aprender a ver, e o olhar dos outros sobre os mesmos objetos é um acontecimento único e enriquecedor, já que ninguém vê o mundo da mesma forma que outro. Assim, tenho muito a agradecer a todas as pessoas que aceitaram olhar na mesma direção, e me ajudaram a ver e refletir sobre os problemas que me moveram a estudar as questões que estão em parte registradas nesta obra.
À professora Eugenia Vilela, por sempre me ter permitido sentir em casa justamente quando mais longe estive da minha. Agradeço a oportunidade de trabalhar no grupo de Investigação Estética, Política e Artes, onde os primeiros rascunhos do trabalho que originou esse livro surgiram, e por ter aceitado coorientá-lo. Agradeço toda a orientação e apoio ao longo do desenvolvimento desta investigação, sem nunca se fatigar e sempre me direcionando e incentivando a aprofundar os problemas e discussões.
Agradeço igualmente à professora Leonor Soares, que aceitou orientar esta pesquisa desde o princípio, quando tudo ainda parecia fluido e impalpável. A incrível disposição para orientar e a confiança que depositou em mim foram uma enorme motivação para realizar esta tarefa da melhor forma possível. Agradeço também a disponibilidade de refletir conjuntamente para encontrar soluções quando apareceram as dificuldades.
Agradeço a Paulo e Elena Macedo, que realizaram a longa e impecável transcrição das correspondências de Murilo Mendes, tarefa árdua que desempenharam com uma maravilhosa disposição e bom humor. Não podia esperar outra coisa de vocês, que desde sempre estiveram não só felizes pelas minhas realizações, mas sempre foram parte delas com a inspiração, o suporte e o carinho necessários para se continuar.
Agradeço por todo o ânimo com que Samuel, meu grande companheiro, me inspirou. Ter alguém que compartilha a mesma alegria a cada etapa conquistada é o maior encorajamento que há para se continuar. A sua força e a sua coragem me motivaram a completar este trabalho e a sonhar, ainda, em concretizar muitos outros projetos. Obrigada por não me deixar perder a leveza necessária para continuar a encontrar alegria no que se faz.
Ao amigo imprescindível Tales Frey, que ao mesmo tempo em que aceitou partilhar os momentos de seriedade, quando o tema era sempre os problemas teóricos que me atormentavam, possibilitou as muitas horas de boas risadas descomprometidas. Igualmente só tenho a agradecer ao carinho e amizade de Paulo da Mata, que acompanhou sempre com o olhar os momentos de euforia depois de horas de trabalho, e impôs o ritmo da pausa e da concentração para que não perdesse o fio da meada.
Ao amigo de mestrado Rui Maia, pelas muitas horas partilhadas, divididas entre momentos de grande silêncio compenetrado e outros de grande ruído da exposição de nossos pensamentos ainda desconcertados e, aos poucos, construídos pelo diálogo. Ao companheiro de investigação Pedro Almeida, pelas breves, mas sempre muito importantes conversas.
Aos amigos distantes Paula Ferrari, Paula Maciel, Lillian Goslee, Flávia Varela e Luciano Brasil, que mesmo além-oceano estiveram, cada um a seu modo, muito tempo aqui em meu universo lusitano, partilhando e interagindo com este projeto.
Ao professor Celso Francisco dos Santos, que muito me incentivou a me inscrever neste programa de mestrado. Também devo agradecer aos professores José Arnaldo Coêlho de Aguiar Lima, Helena Miranda Mollo, Valdei Lopes de Araújo e Annette Bordage Bessa, que não estiveram envolvidos diretamente nesse projeto, mas deixaram em mim características fundamentais para sua conclusão, como o rigor, o compromisso e a busca constante por aprimoramento.
Agradeço à Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva, na pessoa de Sandra Brás Santos, do centro de documentação e investigação, pela assistência prestada. Ao Museu de Arte Murilo Mendes – UFJF, na pessoa de Lucilha de Oliveira Magalhães, por toda a assistência fornecida durante a transcrição da correspondência e o apoio através de muitas mensagens trocadas ao longo dessa investigação.
Nota
1. Rilke, Os cadernos de Maltes Lauridis Bridge, p. 6.
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem
.¹
Nota
1. Rosa, Grande Sertão: Veredas, p. 448.
Sumário
A poesia crítica ou limiar entre a arte, a crítica e a criação
Recordações de Vieira da Silva
Figuração versus abstração
Abstração=Figuração
Considerações finais
Referências
A poesia crítica ou limiar entre a arte, a crítica e a criação
Nascida no dia de Santo Antônio e no mesmo dia do poeta lisboeta Fernando Pessoa. Assim apresentava-se, algumas vezes, Vieira da Silva, vendo nessas coincidências certa poesia e humor. Murilo Mendes, muitas vezes, quando escreve à artista para felicitá-la pelo seu aniversário, aproveita para lembrar o santo e o poeta, atribuindo a essa coincidência algo de belo ou talvez místico. A longa amizade foi mantida através de correspondências, mas a admiração recíproca ficou também registrada nos retratos que Vieira da Silva fez do poeta brasileiro e nos desenhos inspirados por textos dele. Da parte de Mendes, as poesias e as prosas, nas quais o tema é Vieira da Silva ou sua pintura, registram de forma única uma imagem da artista portuguesa em que a obra poética e a obra plástica se intercalam em expansões de sentidos.
A especificidade dos textos de Mendes dedicados a Vieira da Silva despertou-nos para a presença de um retrato literário de Vieira da Silva, em que à observação crítica e apurada se misturam harmonicamente a imaginação e a memória. A Vieira da Silva que surge desse conjunto de obras é ao mesmo tempo memória – lembrada nos tempos brasileiros e saudada sempre nos anos de amizade – e experiência – experimentada nos anos de observação cuidada da obra pictórica.¹
O poeta brasileiro exerceu, desde a década de 1930, frequentemente a tarefa de crítico de arte, começando pela crítica musical até chegar a crítico de artes plásticas. Atividade que se intensificou depois de sua mudança para a Itália, onde manteve à sua volta um grande número de artistas. Apesar disso, dedicou apenas dois textos de crítica a Vieira da Silva. Ressalte-se, no entanto, o fato de dedicar à artista poesias e prosas críticas, que expandem a obra de arte e criam um espaço intermediário entre a poesia e a pintura, onde o leitor participa simultaneamente no fazer plástico e literário.
A singularidade dos textos dedicados a Vieira da Silva motivou-nos a este livro. Nele pretendemos decompor a estrutura de pensamento que rege a escrita sobre artes plásticas de Mendes, para que, à medida que as suas estruturas se evidenciem, possamos recompor uma imagem de Vieira da Silva. O olhar de poeta-crítico que lança Murilo Mendes à obra da artista realça os problemas plásticos e estéticos que a moveram em direção à criação de um estilo refletido e particular. Ao mesmo tempo, desvela as múltiplas reflexões que o poeta empreendeu para se aproximar da imagem através da palavra poética, sem subordinar a primeira à segunda.
Os textos de Murilo Mendes não recuam diante dos problemas estéticos colocados pela artista e pela arte moderna. A representação do visível pela arte surge, no início do século XX, como um dos principais debates entre as diferentes correntes artísticas. A obra de Vieira da Silva será a dúvida que a manterá na fronteira entre a figuração e a abstração. Mendes, pautado em vasto conhecimento das modernas teorias da arte e nos conceitos essencialistas de Ismael Nery, ressaltará a importante reflexão plástica que empreendeu Vieira da Silva na consolidação do seu estilo.²
Notas
1. O início desta investigação deveu-se ao projeto de investigação Arte, memória e exílio
, do grupo de investigação coordenado pela professora Eugenia Vilela Estética, Política e Artes
, do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto. Apesar de o trabalho que se concretiza com essa obra não possuir o enquadramento da investigação citada, as bases teóricas desenvolvidas no âmbito deste projeto foram muito importantes para esta investigação.
2. A correspondência e as pinturas e desenhos que Mendes possuía da artista são