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A Hollywood da Boa Vizinhança: Imagens do Brasil em Documentários Norte-Americanos na Segunda Guerra
A Hollywood da Boa Vizinhança: Imagens do Brasil em Documentários Norte-Americanos na Segunda Guerra
A Hollywood da Boa Vizinhança: Imagens do Brasil em Documentários Norte-Americanos na Segunda Guerra
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A Hollywood da Boa Vizinhança: Imagens do Brasil em Documentários Norte-Americanos na Segunda Guerra

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Durante a Segunda Guerra, a política intervencionista norte-americana na América Latina abriu espaço para uma nova diplomacia de reciprocidade e cooperação hemisférica, envolvida em um discurso de aproximação das Américas. A Hollywood da Boa Vizinhança apresenta um estudo das mudanças diplomáticas, políticas e culturais ocorridas entre Brasil e Estados Unidos neste período marcante da história do século XX. A criação de uma agência norte-americana de intercâmbio cultural, acordos políticos e econômicos, o Office of the Coordinator of Inter-american Affairs, em 1940, foi fundamental na execução dessa política. Com uma seção voltada para o setor cultural, o Office contava com uma divisão de cinema que produziu filmes documentários educativos que enfatizavam a importância da solidariedade hemisférica. A análise de filmes educativos produzidos por essa agência na década de 1940 oferece uma oportunidade ímpar de entender como estereótipos culturais brasileiros foram forjados na indústria cultural e especialmente no cinema, marcando o imaginário social dessas duas nações até os dias atuais.
LanguagePortuguês
Release dateJul 10, 2018
ISBN9788546211494
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    A Hollywood da Boa Vizinhança - Fernanda Lima Rabelo

    final

    LISTA DE SIGLAS

    CPDOC: Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas

    DIP: Departamento de Imprensa e Propaganda

    EMB: Empire Marketing Board

    FGV: Fundação Getúlio Vargas

    MIT: Massachussets Institute of Technology

    OCIAA: Office of the Coordinator of Inter-american Affairs

    OWI: Office of War Information

    PRP: Partido Republicano Paulista

    WASP: White, Anglo-Saxan and Protestant

    YMCA: Young Men’s Christian Association

    Prefácio

    Prof. Dr. Vitor Izecksohn

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Durante a década de 1930, o alinhamento diplomático da América Latina foi disputado pelos governos dos Estados Unidos e da Alemanha. Nos países de maior expressão, setores simpáticos ao Terceiro Reich de Hitler competiram com grupos tradicionalmente alinhados à política externa norte-americana. Essa disputa, como sabemos, terminou por reforçar a posição dos Estados Unidos no continente, atestando a vitória da política de boa vizinhança, executada em meio à Grande Depressão. Trata-se, portanto, de período decisivo para a definição de um alinhamento hemisférico, que se não foi completo, acabou alinhando boa parte da região à órbita dos interesses norte-americanos, sem que fosse necessário o emprego da violência aberta. No entanto, é difícil tomar o período apenas por seus resultados finais. Houve intensa competição entre as chancelarias dos Estados Unidos e da Alemanha nazista, envolvendo o comércio e a política. Esta competição foi definida em meio a negociações que abarcaram preferências por modelos de sociedade e estilos de vida. Houve, igualmente, disputas internas nos Estados Unidos, envolvendo o apoio às políticas hemisféricas de Roosevelt.

    O livro de Fernanda Lima Rabelo trata de elementos importantes desse embate: a criação do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs por parte do governo de Franklin D. Roosevelt, em 1940, e sua ação ao longo da primeira metade da década seguinte. A autora discute o papel desse órgão e de seu diretor, Nelson Rockfeller, no desenvolvimento de novas concepções para a aproximação entre a república estadunidense e as nações latino-americanas, concepções que levavam em conta o poder da indústria cultural, a importância dos intercâmbios entre técnicos e intelectuais e uma compreensão mais pluralista da política internacional dos EUA.

    Essa ação iniciou-se em um contexto de grande ressentimento. O impacto das políticas intervencionistas, praticadas no continente desde o início do século XX, fortalecia uma imagem negativa da política externa dos Estados Unidos. Consequentemente, as lideranças latino-americanas inicialmente se mostraram apreensivas com a vitória de Franklin D. Roosevelt na eleição presidencial de 1932, porque este sobrenome estava simbolicamente associado à política do Grande Porrete desenvolvida por seu primo, Theodore.¹ Entretanto, F. D. Roosevelt logo anunciou o desejo de agir com mais cuidado em relação à América Latina, uma mudança de abordagem que enfatizou um enfoque mais simpático às culturas regionais, valorizando sua espontaneidade enquanto simultaneamente reforçava os estereótipos tradicionais sob a égide daquilo que Fredrick Pike denominou como uma pureza primitiva a ser preservada por um romantismo de contracultural².

    Por outro lado, o desenvolvimento de programas de intercâmbio patrocinados por agências ligadas ao governo dos EUA procurou aproximar a intelectualidade latino-americana das realidades do American Way of Life. Tratou-se de uma iniciativa bem-sucedida no sentido de proporcionar uma mudança da imagem dos Estados Unidos, desafiando os paradigmas arielistas que ainda eram fortes entre a inteligência latina. Intelectuais e políticos foram assim atraídos pelas expectativas de maiores oportunidades em uma conjuntura que parecia ideal a um apoio de longo prazo ao desenvolvimento cultural e econômico das nações situadas ao sul do Rio Grande.

    O ponto central do livro encontra-se no estudo do papel do cinema, particularmente dos documentários produzidos sobre os países da América Latina. Para se ter uma ideia desse impacto é preciso entender a centralidade do cinema como veículo de lazer das massas na década de 1930. O cinema proporcionava uma forma de lazer barata e democrática que envolvia a imprensa escrita e falada nas discussões sobre novos lançamentos, criação de ídolos e descrição de realidades distintas do panorama vivido pelas audiências. Os filmes da Era da Depressão, em geral, constituíam narrativas leves, que ressaltavam os aspectos positivos da sociedade americana: iniciativa individual, padrões de consumo, moralidade, liberdade de ação e desenvolvimento tecnológico, entre outros. Assim, carros, eletrodomésticos, vestuário e hábitos eram exibidos para plateias curiosas, divulgando um modo de vida que podia ser emulado, ainda que não propriamente copiado. Simultaneamente, as imagens de cinejornais e cinedocumentários difundiam uma imagem positiva e telúrica dos países da América Latina, destacando seus pontos de contato com os Estados Unidos e, por vezes, mesmo exagerando o potencial da região para a democracia. Reforçavam, dessa maneira, uma união de propósitos entre os mundos anglo-americano e ibero/luso-americano, em uma intensidade com a qual a indústria cultural nazista não podia competir. Se é certo que essa estratégia triunfou, com a crescente americanização das sociedades visadas, é importante entender como isto ocorreu. O trabalho que o leitor tem em mãos é particularmente feliz nessa pretensão, ao pensar o impacto dessas imagens para o público brasileiro.

    O Brasil foi possivelmente o país que mais se beneficiou da política de boa vizinhança, obtendo superávits comerciais e alcançando, no médio prazo, financiamento para o início de um programa siderúrgico estatal. Foi também o país que mais profundamente cooperou com os EUA, chegando a enviar uma força expedicionária à Itália para participar das etapas finais da Segunda Guerra Mundial.

    Fernanda demonstra a importância das políticas do Office para a consolidação dessa parceria. Ao fazê-lo, discute não apenas os processos de formulação, mas também como se deu a cooptação de intelectuais e políticos que aderiram à sedução daquela nova forma de imperialismo.³ Muitos o fizeram por sinceramente concordar em que a aliança com a república do norte era a opção que melhor servia aos interesses brasileiros. Outros foram convencidos (ou se deixaram convencer) a partir das experiências de convívio e participação em programas patrocinados pelo Office.

    O livro também é feliz ao refletir sobre a recepção dessas políticas pela opinião pública de um regime crescentemente autoritário, já que desde 1937 Getúlio Vargas governou o país como ditador de fato. O texto discute a bibliografia pertinente com acuidade, apresentando uma linguagem simples e direta. Ele ocupa um espaço necessário aos entendimentos dos processos que levaram a uma crescente aproximação entre os governos de Vargas e de Roosevelt. Se uma parte importante desta agenda cumpriu-se através dos canais diplomáticos, não é menos verdadeiro que a inclinação da opinião pública para os valores e práticas da sociedade americana ajudou a acelerar essa guinada.

    Notas

    1. Joseph Smith, Brazil and the United States: Convergence and Divergence. Athens: University of Georgia Press, 2010, p. 81-85.

    2. Pike, Fredirck B. The United States and Latin America: Myths and Stereotypes of Civilization and Nature. Austin: University of Texas Press, 1993, p. 271.

    3. Tota, Antonio Pedro, O Imperialismo Sedutor: A americanização do Brasil na época da Segunda Guerra. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.

    INTRODUÇÃO

    No período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), uma agência de assuntos interamericanos, ligada ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, realizou diversos filmes documentários sobre os países da América Latina. Envolvidos na política de cooperação e defesa hemisférica, esta agência, chamada Office of the Coordinator of Inter-American Affairs, realizou uma série de ações, intermediando acordos econômicos e políticos entre as nações e realizando ações culturais. Dentre essas, estabeleceu a criação das divisões de rádio, propaganda e cinema, esta última tema deste livro.

    Nesse livro, baseado em dissertação de mestrado,⁴ analisamos as ações dessa divisão e quatro filmes documentários produzidos por ela, que compreendiam tanto produções que retratavam as relações interamericanas no período, assim como a representação sobre o cotidiano e as características dos países latino-americanos, buscando forjar uma identidade entre os povos do continente e, mais especificamente, em contraposição à identidade norte-americana. Partindo do princípio de que os filmes são fontes de grande importância nos estudos culturais e sociais, eles se tornam fontes extremamente ricas para se entender esse período histórico, justamente por buscarem, em uma linguagem não escrita e menos formal, uma forma de comunicação com um público mais amplo. Sua importância também está na sua utilização como importante instrumento de propaganda do Estado, em uma época em que as produções de documentários se tornaram essenciais na divulgação tanto da propaganda de guerra quanto no estabelecimento de discursos narrativos ligados à identidade de cada país e que pudessem alcançar um público mais amplo.

    Para melhor compreender o estudo acerca das representações da América Latina e dos Estados Unidos no cinema documentário produzido pelo governo norte-americano, é necessário retomar o contexto das relações internacionais na década de 1930, ponto de partida para as mudanças na forma como os países mantinham acordos diplomáticos e alianças estratégicas no período da Segunda Guerra.

    A década de 1930 foi marcada pela busca de novas formas de relacionamento entre as repúblicas americanas, principalmente pelos Estados Unidos, que desejavam expandir alianças políticas e mercados de consumo, se recuperando dos impactos da Crise de 1929. O novo presidente, Franklin Delano Roosevelt, que assumiu o cargo em 1933, pôs em prática um plano de emergência, com forte intervenção do Estado na economia. Para além deste plano emergencial, uma nova imagem da América necessitava ser cunhada.

    O intervencionismo norte-americano, duramente criticado por décadas nas conferências pan-americanas e por intelectuais e políticos latino-americanos, começava a dar espaço para uma nova política, elaborada pelo próprio governo F. D. Roosevelt, a chamada Política da Boa Vizinhança. Esta política tinha base em ideais de igualdade jurídica entre as nações, de cooperação para o bem-estar dos povos, além das nações americanas organizarem encontros periódicos para resolver problemas relacionados ao continente, baseados na ideia de reciprocidade política.

    Por meio da Política da Boa Vizinhança, foi possível criar também uma nova imagem dos Estados Unidos, que de vizinhos intransigentes tentavam se tornar vizinhos cooperativos, retirando tropas de países e se concentrando nas relações diplomáticas para fazer valer seus objetivos no continente. Porém, esta mudança na relação entre Estados Unidos e países latino-americanos, no final, refletia interesses similares ao passado: manter um papel de liderança na América Latina e estabelecer um mercado de bens de consumo, sob o discurso da estabilidade política no continente.

    A busca de uma nova imagem norte-americana no continente foi exaustiva e, com isso, o governo F. D. Roosevelt criou uma estratégia bem elaborada de persuasão para as diferentes repúblicas: estabelecer novas relações de amizade, baseadas na diplomacia e em acordos de cooperação. As estratégias do governo alemão de dominação do mercado de bens de consumo na América Latina, a partir da segunda metade da década de 1930, começaram também a se tornar pontos de preocupação do governo norte-americano. A busca de novos mercados, de um aparato ideológico para propagar a ideologia nazista nas nações latino-americanas, além da preocupação de alianças ao governo fascista no decorrer da década de 1930, levou o governo norte-americano, por intermédio do Departamento de Defesa, a criar uma agência com múltiplos departamentos ou frentes de combate, que visava minimizar o avanço da Alemanha e do nazismo no continente e manter e estreitar as relações de amizade entre os países de origem latina e anglo-saxônica na América.

    Esta agência ganhou o nome de Office for Coordination between the American Republics, no momento de sua criação, em 16 de agosto de 1940. Logo seu nome foi mudado para Office of the Coordinator of Inter-american Affairs (ou como chamado no presente estudo, Office ou OCIAA). Ela encerrou suas atividades somente em 1946, após o fim da guerra, e contou, durante seu período de atividade, com a ajuda financeira do governo norte-americano e de agências privadas de fomento, industriais, e empresarial.

    O OCIAA foi uma iniciativa única, criada em um momento específico e com objetivos também únicos ligados à ajuda e cooperação no período da guerra. Todavia, foram elaborados por ele objetivos de longo prazo, tanto no campo econômico, quanto político e ideológico. Isto porque desde o momento de sua criação o campo cultural foi apontado como fundamental na legitimação dos seus objetivos. Pode-se dizer que isso se deve, em boa parte, à exaustiva utilização dos meios de comunicação como divulgadores de um estilo de vida norte-americano no continente. O cinema, nesse sentido, teve um enorme papel na divulgação desse estilo de vida, e também na divulgação de uma imagem da América Latina no continente.

    O papel do coordenador da agência, exercido por Nelson A. Rockefeller, foi fundamental na construção dessa nova forma de estreitar as relações de amizade entre os países na América.

    Nelson A. Rockefeller, industrial e empresário que tinha fortunas ligadas ao seu nome, procurou construir uma autoimagem que ia além da imagem de magnata. Ele via, na criação do OCIAA, uma nova forma de inserção estratégica do governo norte-americano nas Américas e uma forma de se inserir nas ações políticas do país. Com apenas trinta e dois anos, assumiu o papel de coordenador de uma agência que ele próprio havia idealizado, junto a outros empresários, o que demonstra a forte influência política de sua família no governo F. D. Roosevelt. É evidente, ao analisar sua inserção na política de guerra, os interesses pessoais em países latino-americanos. Seu conhecimento acerca das artes (foi diretor do Museu de Arte Moderna em Nova Iorque, o Moma), da política, da economia e suas influentes amizades foram essenciais na organização e estruturação da agência.

    O campo cultural do OCIAA, que incluía as divisões de rádio, publicidade e cinema, foi um dos campos com maior atividade na agência. A divisão de educação, por sua vez, colocou em prática projetos de intercâmbio cultural entre intelectuais, que iam aos Estados Unidos estudar seu estilo de vida, artes ou ciências, e de norte-americanos aqui, que vinham ensinar aos latino-americanos em universidades, clubes ou cursos de inglês. Estas duas vias de aquisição do conhecimento, que se estabeleceram a partir de uma dinâmica que se relaciona ao papel cultural predominante dos Estados Unidos na América Latina, foram fundamentais na divulgação do American Way of Life.

    Na Divisão de Cinema, objeto desse estudo, o OCIAA criou um aparato ideológico de proporções e repercussão imensas, sentidas ao norte e ao sul do continente. Assim, esta obra tem como objetivo principal evidenciar que o cinema representou uma das ferramentas mais importantes para se atingir os objetivos da Política da Boa Vizinhança. Ele foi um meio fundamental para a divulgação de ideologias no período de guerra, com uma construção de narrativas que estabeleceram, a partir de então, uma nova relação entre os países latino-americanos e os Estados Unidos da América.

    Assim como Antonio Gramsci (1982), entende-se que o papel hegemônico norte-americano nas Américas se expressa de forma muito clara e eficiente no campo cultural e das informações. Assim, o campo cultural aparece enquanto um local de disputas de valores, padrões de comportamento e visões de mundo. É no campo cultural que melhor podem ser definidas as ideologias conflitantes em uma sociedade. Entende-se, assim, que o cinema se constitui enquanto um campo de disputa no qual as ideologias são reiteradas pelo Estado ou por uma classe social.

    É dessa forma que abordamos o OCIAA e com este papel que destacamos sua importância. As concepções de ideologia e hegemonia são fundamentais na análise das fontes do OCIAA utilizadas neste livro. Por meio delas, procuramos confirmar a segunda tese desta obra, de que o Brasil e os EUA são representados nos filmes do OCIAA em duas vias, imagens de um Brasil em desenvolvimento, com costumes, cultura e língua peculiares, divulgadas nos EUA, e a imagem dos EUA como nação desenvolvida e com instituições democráticas, divulgadas aqui. Estas imagens tiveram como consequência um reforço de estereótipos que ficaram marcados no imaginário social das sociedades americanas até hoje.

    O livro é dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo conta com uma contextualização do período da década de 1930 estendendo-se até o período da Segunda Guerra, quando os canais da Política da Boa Vizinhança foram criados e pelo qual o governo norte-americano construiu uma imagem de cooperação e amizade para com as outras repúblicas americanas, estabelecendo, assim, alianças políticas e diplomáticas. No Brasil, durante o governo de Getúlio Vargas, especialmente após a criação do Estado Novo (1937-1945), é possível visualizar também a criação de um forte aparato ideológico de Estado para divulgar uma imagem desenvolvida e moderna do Brasil. A política conhecida como equidistância pragmática (Moura, 1982), na qual os dois países mantiveram uma política de reciprocidade em suas ações (ou seja, ações eram tomadas somente se os acordos fossem positivos para os dois lados), foi fundamental na construção desses laços.

    O segundo capítulo analisa a estrutura do OCIAA e os projetos da sua Divisão de Cinema. O OCIAA foi uma agência criada pelo governo norte-americano envolto por um discurso ideológico do momento de guerra, pautado na criação de canais de entendimento mútuo que mantinham os Estados Unidos como coordenadores daquilo que era divulgado nas Américas. Sua idealização, criação e organização são analisadas, assim como a sua Divisão de Cinema, que se ocupou de colocar em prática um plano de criação de filmes documentários e teve um papel fundamental na divulgação dos interesses e ideais norte-americanos.

    No terceiro capítulo, é discutida a importância do estudo das imagens e sua relevância para o historiador, constituindo-se como fontes fundamentais no estudo das mentalidades. Ela conta ainda com uma análise de como os filmes documentários educativos são importantes divulgadores de uma propaganda governamental, constituindo-se enquanto um campo de disputa.

    No quarto e último capítulo, é feita a análise de quatro filmes documentários do OCIAA. A análise dos filmes traduzem os esforços do governo norte-americano de retratar sua sociedade e a sociedade brasileira, narrativas que colocam em prática a ideologia proposta pelo OCIAA. Assim, com a análise de quatro documentários produzidos pela Divisão de Cinema, é possível compreender a importância do cinema documentário na divulgação de ideais norte-americanos

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