Rito, poder e socialização: Um trabalho com meninos de rua
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Rito, poder e socialização - Carlos Alberto Batista Maciel
Carlos Alberto Batista Maciel
RITO, PODER E SOCIALIZAÇÃO
O trabalho com os meninos de rua
Copyright © 2012 by Paco Editorial
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Coordenação Editorial: Kátia Ayache
Revisão: Elisa Santoro
Capa: Matheus de Alexandro
Diagramação: André Fonseca
1ª Edição: 2011
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
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Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)
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Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes)
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Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes)
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À Alda, pelo sonho que acreditamos e estamos tornando real juntos.
Agradecimentos
À professora Maria Angela D’Incao, que ultrapassou a barreira de orientadora com sua tolerância e persistência profissional, me apoiando e dando a segurança necessária quando a incerteza e a dúvida tomaram conta de mim.
Aos professores do curso de Mestrado em Antropologia Social da UFPA, pela dedicação e competência que contribuíram para esta jornada em minha vida.
Ao amigo Edval Bernardino Campos, pelo incentivo e diálogos importantes que ampliaram o horizonte das reflexões contidas nesta obra.
À Maria de Deus Chaves de Lima e à Maria José Daibbes, pela colaboração sincera em expor suas experiências profissionais, o que contribuiu significativamente para a elaboração deste trabalho.
Ao adolescente V.O.S., pela exposição espontânea de sua história, em que procurei ler e interpretar, respeitosamente, a partir das linhas e entrelinhas de seu discurso corajoso.
Às pessoas amigas que torceram por mim nesse ritual longo e necessário para a vida acadêmica que abracei.
Sumário
Folha de Rosto
Página de Crédito
Dedicatória
Agradecimentos
Introdução
1. A Rua: estranho espaço urbano
2. O Espaço Urbano e a Rua
3. A Rua: estranho espaço público
Capítulo 1: Rituais e Socialização
1. Rituais: uma aproximação teórica
2. O Ritual e a Socialização
2.1. Comunicação e articulação
2.2. Pedagógica
2.3. Legitimadora e controladora
Capítulo 2: A Dança do Poder na Relação Humana
1. Problematizando o Poder
2. A Dança do Poder nas Organizações Sociais e nos Grupos de Meninos de rua
Capítulo 3: Cenários de Sociabilidades: uma experiência Governamental
1. A Fundação da Criança e do Adolescente do Pará
2. O Espaço de Convivência da CEASA
Capítulo 4: Revisitando o Passado: o atendimento aos meninos de rua no ECON - CEASA
1. Da Rua ao ECON: reconstruindo a trajetória do atendimento
2. Uma História Contada, uma Sociabilidade Revelada: um adolescente atendido
Considerações Finais
Referências
Documentos Consultados
Paco Editorial
Lista de Figuras
Figura 1: foto lateral da CEASA
Figura 3: Descarrego de Banana
Figura 4: Meninos Vendedores
Figura 6: Meninos Brigando no Mercado
Figura 7: Adolescente Transitando Próxima aos Caminhoneiros
Figura 9: Crianças Almoçando no Barracão de Trabalho
Figura11: Meninas Carapirás
Brincando na CEASA
Figura13: Meninos da Horta
Figura15: Inauguração do CECON
Figura17: salas de aula da Escola Aberta
Figura 18: Família Carapirando 01
Figura 20: Família Carapirando 03
Figura 22: Menino Jornaleiro
Figura 23: Sala de Aula
Figura 25: Festa do Boi – Bumbá
Figura 27: Reunião Com Pais
Figura 28: Jogos estudantis
Figura 29: Grupo de Capoeira
Introdução
Na região Amazônica, especialmente a partir do regime militar na década de 1970, os megaprojetos governamentais de ocupação e exploração estimularam o surgimento de centros urbanos, como também contribuíram para o crescimento do fenômeno da pobreza, que se integrou, acentuadamente, ao cotidiano das grandes cidades dos estados amazônicos. Nessa região, como nas demais brasileiras, o progresso trouxe desenvolvimento tecnológico, mas contraditoriamente, piorou as condições de sobrevivência da população local, principalmente nas capitais estaduais e dos antigos territoriais, o crescimento urbano desordenado tem ocasionado graves dilemas. Com acentuados fluxos de migrantes rurais para as cidades ou de áreas estagnadas para novas áreas em evolução, observa-se que essas cidades vão enfrentar sérios problemas de demanda por serviços urbanos da invasão de terrenos não ocupados, recolocando a questão da propriedade agora em nível urbano
(ABELÉM, 1988, p. 30).
A cidade de Belém apresentou as evidências desse processo, com a formação de um grande contingente populacional sem o acesso a bens e serviços produzidos socialmente. Avultaram-se e diversificaram-se as manifestações pelas quais a pobreza se apresentava no cotidiano da cidade, como nas invasões
a terrenos públicos e privados (Idem, 1992), na mendicância, nos meninos de rua e outros.
A presença de meninos de rua no cotidiano da cidade constituiu-se em um dos problemas sociais que reclamavam do poder público ações concretas sobre a realidade que faz desses meninos delinquentes
em função dos roubos, das drogas, da esmola e do trabalho precoce. Nesse sentido, várias ações advindas do governo e da sociedade civil foram realizadas para dar resposta a esta demanda social.
Via de regra, o aparato institucional criado para dar conta desses problemas atuava sobre as condutas marginais e desviantes
(BECKER, 1977) que esses meninos manifestavam, e que, portanto, precisavam ser controlados, recuperados, ou salvos, conforme as características da natureza de cada organização que os atendiam.
Assim, as crianças e adolescentes atendidos nesses programas, eram vistos pela sociedade, majoritariamente, como marginais que precisavam de uma intervenção estatal controladora e disciplinadora. Desta forma, o poder público devia garantir a existência de profissionais encarregados de intervir nessas questões sociais. (BECKER, 1977)
As organizações criadas especialmente para dar uma resposta à sociedade executavam programas e projetos de atendimento aos meninos de rua¹, com ações fundadas em concepções sobre o segmento infanto – juvenil que reforçavam a sua condição de marginalidade.
Dentre as concepções adotadas, ressalta-se a existência do paradigma jurídico hegemônico da década de 80, que compreendia a realidade da criança e do adolescente sobre a lógica da doutrina da situação irregular. Esse paradigma foi alterado significativamente com a instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente em 90, e este segmento foi compreendido juridicamente a partir da doutrina da proteção integral.
As organizações sociais buscavam a realização de uma transposição da situação de marginalidade dos meninos de rua, para uma situação de um modelo de normalidade social adotada pelos padrões organizacionais. Nesse raciocínio, os programas e projetos de atendimentos aos meninos de rua, atuavam visando um processo de adaptação destes a uma situação social determinada como normal.
Uma trajetória de atividade profissional na área social, durante os anos de 1986 a 1992, permitiu acumular uma experiência empírica, que possibilitou a apreensão de elementos teórico-reflexivos para a interpretação do projeto organizacional de atendimento aos meninos de rua.
O fato de que a organização adotava um paradigma conceitual frágil sobre a realidade da demanda, e que, portanto, não dava conta da complexidade da situação de vida dos meninos de rua, permitiu acreditar que os projetos organizacionais poderiam apresentar dificuldades em sua execução, seja no plano conceitual, seja no plano metodológico.
Ou seja, havia a adoção de modelos organizacionais de normalidade na construção de projetos de atendimento, que reiteravam as crianças e os adolescentes em sua realidade histórica. Assim, partindo de certos modelos conceituais de família, de rua, de trabalho, de cultura, os programas e projetos tendiam a imputar o seu modelo como verdadeiro, desconsiderando a história social e cultural desse segmento infanto – juvenil.
Com um atendimento social diferente da realidade que vivia, era esperada da criança e do adolescente uma resposta de reciprocidade ao que lhe era dado
(MAUSS, 1988), ou seja, esperava-se que eles se coadunassem com o modelo de normalidade que a organização lhes oferecia
.
Por isso, o processo de mediação entre a realidade desse segmento social e o modelo adotado pela organização se realizava através da construção de ações operacionais, que procuravam efetivar a passagem da criança e do adolescente, de uma dada situação social à outra.
Estas ações operacionais, educação pelo trabalho, medidas sócio – educativas (ECA, 1990), e a metodologia produtiva e participativa (FBESP, 1988) e outras, podiam mascarar os mecanismos de imputação do modelo organizacional de normalidade à demanda atendida.
Não obstante, o processo do atendimento aos meninos de rua se fazia complexo e instigante. A percepção da imputação de um modelo organizacional de normalidade sobre a demanda atendida não era suficiente para desvendar a rede complexa de sociabilidades que se desenhava nos projetos voltados aos meninos de rua.
Por isso o interesse de investigar o processo de comunicação recíproca entre as organizações sociais e os meninos de rua, especialmente, por acreditar que existiam componentes sociais pouco conhecidos que integravam essa relação.
A suposição era de que a investigação de determinados fenômenos como os rituais, o poder e a socialização, para a sua identificação e as suas manifestações, podiam contribuir para uma melhor apreensão sobre as formas como são combinados no processo de intervenção nestes programas.
Também,