Nos labirintos de Borges: Contos inspirados em Jorge Luís Borges
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Borges em si é quase um mito. Não é à toa que foi um dos escritores mais influentes do século XX. Para ele, as bibliotecas eram lugares miraculosos, e a leitura — maneira individual e única de cada leitor se apropriar, entender, sentir e interpretar aquilo que lê — uma aventura de exploração do infinito.
Neste volume, você lerá os contos de quatro escritores apaixonados por Borges — João Anzanello Carrascoza, José Eduardo Agualusa, Leo Cunha Carrascoza e Luiz Antonio Aguiar —, que desafiam o labirinto e escrevem histórias inspiradas no escritor argentino e no que mais os marcou da leitura de seus contos, poemas e ensaios. É uma homenagem a um gênio e também um desafio a você, leitor: penetrar num mundo em que livros conversam com livros, nada é simplesmente verdade e tudo é literatura.
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Book preview
Nos labirintos de Borges - João Anzanello Carrascoza
Ilustrações de Salmo Dansa
Organização e textos suplementares de Veio Libri
nos
labirintos
de Borges
Contos inspirados em Jorge Luís Borges
João Anzanello Carrascoza
José Eduardo Agualusa
Leo Cunha
Luiz Antonio Aguiar
Sumário
Apresentação
Borgianas e Borgianos
O escritor argentino Jorge Luís Borges nasceu em Buenos Aires, em 24 de agosto de 1899, e morreu em 1986. É constantemente definido como contista, poeta e ensaísta – devido aos gêneros a que se dedicou. E por muitos é tido, em primeiro lugar, como um leitor excepcional – apesar de ter herdado uma deficiência visual do pai, que minou sua vista aos poucos, até deixá-lo completamente cego aos 55 anos.
Foi um dos autores mais influentes do século XX, pelo impacto que sua obra intrigante, tão vívida e intensamente impregnada dos sortilégios da literatura, exerceu sobre outros escritores do mundo inteiro, principalmente no Ocidente. Quem, sendo escritor, ou mesmo aficionado da literatura, pode deixar de adorar Borges?
A ideia de destacar a importância de Borges para a literatura e homenageá-lo num volume de contos inspirados na mítica do autor e na sua obra veio de Leo Cunha. Ocorreu apenas de eu estar ao seu lado na hora e de ele me passar a bola para organizar a coletânea. O que levou à ideia? O fato de estarmos em uma reunião de escritores, de nosso grupo ter saído para o terraço do prédio, de todos termos nos debruçado na murada, a cerca de 120 metros de altura, e nesse ato confessarmos, um ao outro, certo grau de vertigem – o misto de fascinação e terror que sentíamos, uma verdadeira agonia, ao olhar de lá de cima para a rua, embaixo... o medo de nos atirarmos, nos entregando, nos rendendo a sabe-se lá que força íntima... E de termos, então, emendado esse assunto a uma conversa sobre nossa paixão por Borges.
Esse episódio trouxe ao Leo a lembrança de que Borges, tão presente em nós, é praticamente desconhecido dos jovens leitores brasileiros. "Que tal cada um sair daqui e escrever um conto borgiano?"... Todos, por amor a Borges e por conta da vertigem que a proposta causou, aceitaram no ato. O resto foi consequência.
Ou talvez a história pregressa do livro não tenha sido exatamente essa. Talvez não tenha sido tão encantada assim a reunião desses autores em torno dessa proposta. Mas já aí entramos numa manobra tipicamente borgiana de dar à luz literatura falseando convictamente a realidade. Trata-se sempre de ilusionismo. Do esforço para ver (e entender) em perspectiva, cada qual do seu ponto de vista, opondo-se ao comodismo da verdade (única). E talvez por isso se tema tanto libertar a literatura de qualquer cerceamento. A obra de Borges, em si, é uma afirmação da autonomia da criação literária.
Basta ver que há mais de um Borges. Há o escritor, ou seja, a pessoa, e há o Borges modelado em personagem de alguns de seus contos. Qual será o mais real?
Mas – se é que o leitor, depois do que foi confessado, pode a partir daqui confiar em qualquer coisa que esteja escrita nesta apresentação... ou mesmo mais adiante, seja onde for... – fato é que esse anseio por Borges estava em todos nós. Assim como esteve no bibliotecário cego de O Nome da Rosa, de Umberto Eco, o monge Jorge. Assim como passeia por vários contos e romances em que se trame desequilibrar nosso senso comum em relação à passagem do tempo. Em que o tema seja a eternidade, o infinito, os labirintos, as bibliotecas, D. Quixote, As 1001 Noites, os lugares mágicos, a cegueira que revela o mais profundo, os alephs – como no conto de Borges com esse título, um ponto no qual estariam compilados todos os pontos do Universo. Assim, ainda, quando se criam, com deliberação cínica, verossímeis biografias e bibliografias, autores, personagens e livros, bibliotecas inteiras, tiradas do nada, e que nada são diante da concretude cotidiana; mas que são tudo o que é a literatura.
Os contos aqui reunidos partem do que mais impressiona cada um desses escritores, entre os muitos caprichos (literários) de Jorge Luís Borges. Tudo para enredar você, leitor, a