Profissão Professor: Facetas de Identidades Profissionais na Formação Inicial de Professores de Línguas
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Book preview
Profissão Professor - Ana Paula Domingos Baladeli
Copyright © 2018 by Paco Editorial
Direitos desta edição reservados à Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.
Revisão: Márcia Santos
Capa: Wendel de Almeida
Diagramação: Matheus de Alexandro
Edição em Versão Impressa: 2018
Edição em Versão Digital: 2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Conselho Editorial
Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes)
Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)
Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes)
Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa (FURG/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes (UNISO/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes)
Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes)
Prof. Dr. Antonio Carlos Giuliani (UNIMEP-Piracicaba-SP) (Lattes)
Paco Editorial
Av. Carlos Salles Bloch, 658
Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Salas 11, 12 e 21
Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100
Telefones: 55 11 4521.6315
atendimento@editorialpaco.com.br
www.pacoeditorial.com.br
A todos aqueles que...
estão em constante busca de sua melhor versão pessoal e profissional.
Àqueles que já se sentiram perdidos e depois achados.
Que olharam para fora buscando compreender a si mesmo e ao mundo,
quando descobriram que na verdade, não há respostas, apenas interpretações do que somos e por que somos o que somos.
A autora
Sumário
Folha de rosto
Dedicatória
Prefácio
Introdução
CAPÍTULO 1
A formação de professores no escopo da Linguística Aplicada
1. Identidades profissionais na educação
2. Sentidos de ser professor: entre estudos antropológicos e identitários
3. Itinerários formativos na construção da profissão professor
CAPÍTULO 2
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – Pibid
1. Tempo e espaço de aprendizagem da profissão professor
2. A integração teoria e prática na formação do professor
CAPÍTULO 3
Pesquisa narrativa: o que é, como se faz
1. Identidades profissionais em pesquisas narrativas
2. Métodos e técnicas da pesquisa qualitativa
3. Instrumentos de geração de dados da pesquisa narrativa
CAPÍTULO 4
Notas de uma pesquisa narrativa com pibidianos de Língua Inglesa
1. O campo de pesquisa e as impressões nas visitas
1.1 Universidade Alfa – 1ª visita
1.2 Universidade Alfa – 2ª visita
1.3 Universidade Alfa – 3ª visita
1.4 Universidade Beta – 1ª visita
1.5 Universidade Beta – 2ª visita
1.6 Universidade Beta – 3ª visita
1.7 Universidade Beta – 4ª visita
1.8 Universidade Gama – 1ª visita
1.9 Universidade Gama – 2ª visita
1.10 Universidade Gama – 3ª visita
1.11 Universidade Gama – 4ª visita
2. Sistematização do perfil dos pibidianos
CAPÍTULO 5
O foco no côncavo e as facetas de identidades profissionais
1. Faceta de identidade profissional Hereditária: a família de professores
2. Faceta de identidade profissional Vocacional: o dom da profissão
3. Faceta de identidade profissional Romântica: a escola idealizada
4. Faceta de identidade profissional Entusiasta: o professor motivador
5. Faceta de identidade profissional Sacerdotal: o sacrifício da profissão
CAPÍTULO 6
O espelho convexo e os sentidos sobre o que é ser professor
1. Reflexões sobre o perfil dos futuros professores de Língua Inglesa e suas identidades profissionais
2. A profissão professor nos limiares da incompletude: o continuum identitário
3. A profissionalização do professor no contexto do Pibid
Considerações finais
Referências
Página final
Lista de abreviaturas
Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CGV – Coordenação Geral de Programas de Valorização do Magistério
DCE – Diretrizes Curriculares Estaduais
Enem – Exame Nacional do Ensino Médio
Enade – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
IES – Instituição de Ensino Superior
LA – Linguística Aplicada
LD – Livro Didático
MEC – Ministério da Educação
NEL – Novos Estudos do Letramento
Ocem – Orientações Curriculares para o Ensino Médio
Pibid - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
Pibic – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica
Pisa – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
Saeb – Sistema de Avaliação da Educação Básica
Símbolos da transcrição
Prefácio
A publicação deste livro é resultado da Pesquisa de Doutorado de Ana Paula Domingos Baladeli, que privilegiou o campo profissional de ensino de Língua Inglesa, da experiência e das facetas identitárias da profissão professor, nos encaminhamentos dados ao professor em formação inicial na instituição universitária, sob a abordagem da Linguística Aplicada.
Acerca desse processo de emancipação profissional do professor, Ana Paula investigou com respeito e com uma espantosa delicadeza os caminhos conflituosos de ensino, desse campo profissional e de identidade, não para julgar uns ou outros, nem para apontar o domínio da verdade e do direito, mas para mostrar e para aprender como se evidencia o processo atual de ser um profissional de ensino, como superar o eclipse de sua crença e de sua identidade fragmentada, para poder obter benefício das condições impostas pela sociedade, como também para poder transformar o conhecimento à sua própria identidade sociocultural, podendo criar para si um espaço transformador de conhecimento no tempo e no espaço de sua vida profissional.
A autora conseguiu reunir um texto relativamente compacto, com muita clareza, as posições sobre os conceitos teóricos e práticos, contemplando excelentes biografias que norteiam a Educação, a Linguística Contemporânea para poder adentrar no campo da Linguística Aplicada sob uma base multidisciplinar, favorecendo a questão da transdisciplinaridade, refletindo o profissional professor: facetas da identidade e a formação inicial de ser professor. Apesar de não esgotarem as questões relativas à tematização do assunto, esses estudos trazem subsídios importantes para a reflexão dos que atuam na docência, no campo aplicado do ensino e da pesquisa na área.
Este livro retoma e aprofunda indagações surgidas em pesquisas teóricas e na pesquisa de campo interpretativa, sobre o tema língua, linguagem, identidade, profissão e ensino. Seu principal objetivo na obra foi discutir a formação inicial de professores de Língua Inglesa, bolsistas do Pibid com foco no processo de (re)construção das identidades profissionais. Por essa razão, educadores, graduandos, pós-graduandos e pesquisadores com interesse no tema da formação profissional de professores podem se beneficiar das reflexões apresentadas nesse estudo aplicado ao ensino.
Seis capítulos compõem o livro, o primeiro apresenta estudos que trata sobre A discussão da formação de professores no escopo da Linguística Aplicada
, abordando as identidades profissionais na educação; os sentidos de ser professor entrecruzando com estudos antropológicos e identitários; os percursos de (re)construção de identidades profissionais e os itinerários formativos na construção da profissão professor. O segundo inclui estudos relacionado Ao programa institucional de bolsa de iniciação à docência – Pibid
, o tempo e o espaço de aprendizagem da profissão professor e a integração teoria e prática na formação do mesmo. O terceiro apresenta A pesquisa narrativa: o que é, como se faz
, observando e descrevendo as identidades profissionais, a partir de pesquisas narrativas, de métodos e técnicas da pesquisa interpretativa e dos instrumentos de geração de dados. O quarto capítulo, trata sobre a pesquisa de campo – As notas de uma pesquisa narrativa com pibidianos de Língua Inglesa
, descrevendo e explicitando, interpretativamente, o campo de pesquisa, as impressões nas visitas e a sistematização dos pibidianos nas Universidades com codinomes Alfa, Beta e Gama. O quinto capítulo, O espelho côncavo e as facetas de identidades profissionais
: a faceta de identidade profissional Hereditária: a família de professores; a faceta de identidade profissional Vocacional: o dom da profissão; a faceta de identidade profissional Romântica: a escola idealizada; a faceta de identidade profissional Entusiasta: o professor motivador; a faceta de identidade profissional Sacerdotal: o sacrifício da profissão. O sexto e último capítulo trata O espelho convexo e os sentidos sobre o que é ser professor
– as reflexões sobre o perfil dos futuros professores de Língua Inglesa e suas identidades; a profissão professor nos limiares da incompletude: o continuum e a profissionalização do professor no contexto do Pibid. Essas noções de sujeito e subjetividade de ser professor têm mostrado nessa pesquisa uma relação de teoria e da prática, com os princípios científicos da profissão e das facetas de identidade profissional investigadas, com um alto grau de maturidade acadêmica pela autora deste livro.
Em seu conjunto a pesquisa e o estudo apresentado neste livro, tratam de questões epistemológicas e teórico-metodológicas essenciais de interesse para o ensino e para o profissional professor, com o aprofundamento da discussão no campo aplicado.
Clarice Nadir von Borstel
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)
Introdução
A tarefa de formar professores é influenciada pelas políticas públicas e também pelos projetos dos cursos de licenciatura, dado que caracteriza o perfil de professor almejado em cada área de atuação profissional. Nesse sentido, a concepção de educação que fundamenta as ações formativas, tem impacto nos encaminhamentos dados ao professor em formação inicial, o que balizará suas percepções sobre a escola, espaço possível de atual profissional e a profissão professor de modo geral. Todavia, precisamos considerar que os graduandos já chegam aos bancos da universidade com algumas crenças acerca do curso escolhido e também alguns significados sobre sua futura profissão.
Na perspectiva dialética de construção histórica dos sujeitos, consideramos que no campo de formação de professores, as experiências prévias na condição de alunos, as práticas sociais de professores em formação inicial, bem como suas percepções sobre a escola e a educação de modo geral, estão em constante reelaboração. Assim, entre as experiências pessoais e profissionais, há o impacto da subjetividade, sob a qual se balizam escolhas e se constroem concepções e explicações sobre si e sobre o mundo.
Conforme o professor em formação inicial avança no curso de licenciatura, novos conhecimentos, conceitos e percepções vão sendo construídos à medida em que a futura profissão começa a concretizar-se, sobretudo, nas disciplinas teórico-metodológicas e de prática de ensino. A formação inicial do professor de línguas, seja materna ou estrangeira, tem ilustrado a indelével complexidade em se efetivar uma concepção de estágio curricular supervisionado como fundamento para a profissionalização do professor. A esse respeito, pesquisas de Souza (2006); Perini (2006); Barreiro e Gerbran (2006); Pimenta e Lima (2011); Calderano (2014) indicam que, em decorrência de algumas concepções equivocadas acerca do estágio curricular supervisionado nos cursos de formação inicial de professores, esta fase acaba sendo compreendida como aplicação de teorias ou como mera formalidade acadêmica para obtenção de nota ou conclusão do curso. Nesse cenário, no ano de 2007, o Ministério da Educação do Brasil cria o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - Pibid, com vistas a efetivar a relação universidade e escola e de promover a formação de professor em nível superior para atuação na Educação Básica.
O referido programa foi criado com vistas a contribuir para a formação de professores em nível superior e a melhoria da qualidade da Educação Básica. O que ocorre, é que com o advento do Pibid, o estágio curricular supervisionado passou a ser problematizado, visto que, se comparado ao programa apresenta lacunas que implicam na relação universidade e escola e, por conseguinte, na imersão do professor em formação na profissão. Em tese, em um curso de licenciatura, todos os componentes curriculares contribuiriam para a formação teórico-metodológica do professor, porém, ocorre que as disciplinas de estágio se tornam, em muitos casos, as únicas a atuarem de forma mais efetiva neste propósito. Todavia, algumas concepções equivocadas a respeito do estágio continuam se fazendo presentes nas pesquisas sobre a formação de professores, sendo às vezes compreendido, como mera formalidade burocrática ou aplicação de teorias, o que inevitavelmente descaracteriza a função formativa do estágio no curso de licenciatura.
Diante desta questão seminal para a formação de professores, na esteira de outras pesquisas sobre o tema, esta obra apresenta uma interpretação sobre as identidades profissionais que se constroem no contexto da formação inicial de professores de Língua Inglesa, em específico, bolsista do Pibid. O tema das identidades profissionais tem se feito presente em pesquisas na área de Educação, mas é na Linguística Aplicada que tem encontrado um campo fértil para problematizações acerca de sua influência na forma como os professores se percebem na profissão. A presente obra, resulta de adaptação de resultados de tese de doutorado em Letras, realizada no período de 2012 a 2015. Neste período, dentre as políticas públicas de formação de professores em vigência no país estava o Pibid, representando um programa em evidência nos eventos científicos e nas publicações sobre formação de professores nas diferentes áreas de conhecimento. Tendo o cenário da pesquisa as ações formativas fomentadas pelo programa, realizei uma pesquisa narrativa com foco na interpretação dos discursos de bolsistas de subprojetos Pibid-Inglês de três instituições públicas do Paraná com foco nas identidades profissionais (re)construídas no contexto do programa.
As identidades profissionais são assumidas no contexto da Linguística Aplicada como produções socioculturais influenciadas pelos discursos, crenças e significados dados a elas conforme os tempos e os espaços. Em outras palavras, dentro das profissões são construídos significados e atitudes que representam (ainda que temporariamente) a forma de ser e estar na profissão. Logo, as identidades profissionais assumidas, afirmadas, negadas e hibridizadas oscilam de grupo para grupo e de tempo para tempo.
A identidade tem como substrato a história; assim, os sujeitos transitam e não permanecem nas identidades, e isso ocorre porque cabe considerar a efemeridade das construções identitárias no cenário Pós-Moderno, em que as identidades sociais, inclusive a identidade docente, estão situadas discursivamente no campo do devir ou vir a ser. (Baladeli, Von Borstel, Ferreira, 2016, p. 213)
Profissão Professor: facetas de identidades profissionais na formação inicial de professores de línguas é uma obra que discute em específico a formação inicial de professores de Língua Inglesa, bolsistas do Pibid com foco no processo de (re)construção das identidades profissionais. Por essa razão, graduandos e pós-graduandos com interesse no tema da formação profissional de professores e nos processos de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira na escola, podem se beneficiar das reflexões apresentadas na obra. Conforme o leitor observará, a metáfora do espelho foi adotada como representativa do processo dialético de formação identitária, ou seja, à medida em que interpretava os discursos dos pibidianos com foco na caracterização do professor Inglesa, na condição de professora formadora também problematizava minhas concepções de educação e de ensino de línguas na Educação Básica.
CAPÍTULO 1
A formação de professores no escopo da Linguística Aplicada
A Linguística Aplicada, doravante LA, representa o campo de pesquisa apropriado para a reflexão das relações linguagem e sociedade, portanto, sobre o processos de construção identitária no contexto de ensino e aprendizagem de línguas. A LA tem se consolidado como um campo transdisciplinar por excelência, campo que contempla objetos e áreas de conhecimentos distintos, não somente numa dimensão somatória em que há uma justaposição das diversas áreas do conhecimento com as quais entra em interlocução, mas, sobretudo, na perspectiva do atravessamento em que diferentes olhares sobre o mesmo objeto se hibridizam, formando novas percepções (Kleiman, 1998; Pennycook, 1998; Mastrella, 2007).
As temáticas afetas à LA tematizam entre outras, as mudanças socioculturais, o processo de globalização, o cenário sociocultural da Pós-Modernidade, a influência das tecnologias nas práticas sociais e educacionais, o papel dos discursos nos processos de identificação dos grupos sociais e os movimentos de construção identitária (Moita Lopes, 2003; Hall, 2009; Baladeli, 2014a; 2017). Logo, mais do que reduzir-se a um quadro epistemológico heterogêneo com foco na aquisição da linguagem, ensino e aprendizagem, as pesquisas em LA têm incluído, em sua agenda, relações de poder e de desigualdade, identidades sociais e profissionais, ampliando, então, as compreensões sobre o que ocorre na escola e com seus sujeitos sociais. Por isso, as pesquisas em LA contribuem para o estudo sobre os processos de ensino e de aprendizagem de línguas, os métodos e metodologias de ensino de línguas, o material didático, a avaliação, a diversidade linguística e cultural, os estudos do letramento e os estudos de identidade.
Devido ao fato de ter se consolidado como uma área plural, portanto, interdisciplinar, a LA vem, ao longo dos anos, incorporando variados enfoques epistemológicos, que tem contribuído para novas compreensões sobre a relação linguagem e sociedade, pano de fundo para os estudos sobre identidade e identidade profissional. Alguns pesquisadores propõem termos como Linguística Aplicada Crítica (Rajagopalan, 2003), Linguística Mestiça (Moita Lopes, 2006) ou Linguística Aplicada Transgressiva (Pennycook, 2006), numa tentativa de caracterizar a área diante do cenário Pós-Moderno. Segundo as percepções destes pesquisadores, a LA contemporânea está cada vez mais se tornando um ponto de encontro para os pesquisadores cujo objeto comum seja as relações de poder, as práticas socioculturais e as questões identitárias, sendo todos assuntos que servem como cenário para os estudos da linguagem e sua relação com a sociedade.
Convém destacar que não tem sido objetivo da LA apresentar soluções e respostas padronizadas aos temas que investiga, em seu lugar, há a notável ênfase na promoção da inteligibilidade dos fenômenos sociais, educacionais e identitários. Isso inclusive tem sido apontado como um dos desafios contemporâneos enfrentados pela LA que, de um lado, abarca a pluralidade sociocultural e o movimento transeunte próprio dos itinerários identitários e, por outro, depara-se com uma trajetória histórica no ensino de Língua Inglesa com base na perspectiva estruturalista. Por essa razão, as pesquisas recentes (Moita Lopes, 1996; 2003; Pennycook, 2006; Canagarajah, 2009) procuram decompor esse cenário polarizado em que língua e cultura estrangeira se encontram distantes da língua e da cultura materna. Esta obra apresenta os resultados de uma pesquisa narrativa, de abordagem qualitativa dos dados, como mais uma contribuição para o cenário científico sobre o tema. As reflexões apresentadas devem ser consideradas a partir de seu objeto – as identidades profissionais, as condições de realização da pesquisa e os referenciais teóricos.
As pesquisas no escopo em LA favorecem que os fenômenos sociais e educacionais sejam problematizados a partir de perspectivas de investigação transdisciplinares, justamente por se apresentar nos últimos anos como um campo híbrido, volátil e em constante ressignificação em face aos novos desafios do cenário Pós-Moderno. Destaca-se ainda, que as compreensões sobre as identidades sociais ou profissionais estão diretamente relacionadas à educação e, portanto, ao campo de formação do professor, isso porque, os seus valores, as crenças. Assim, os sentidos produzidos sobre sua condição social, profissional e formativa incidem diretamente nas perspectivas de educação e de língua que os professores adotam como parâmetro para sua prática em sala de aula. Dessa maneira, fazer pesquisa em LA com base nos novos estudos do letramento com foco na questão identitária, significa partir da premissa que a produção de sentidos que emana dos dados se apresenta sempre provisória. Por essa razão, insistir na defesa de um sujeito completo, homogêneo, uno e de identidade única e pré-definida parece, no mínimo, um contrassenso no escopo das pesquisas em LA. Para Pennycook (2006), a dimensão transitória da LA é influenciada, dentre outros fatores, pelos discursos. Isso ocorre pelo processo exponencial de globalização das economias e pela hibridização das culturas, fatores esses suficientes para desencadear novas formas de compreender a construção das identidades sociais ou profissionais.
O interesse em identidade, fluidez, e fixidez em relação à música popular é também uma questão de nossos tempos, um interesse informado por mudanças particulares na compreensão da globalização, identidade e cultura popular. Tais interesses atravessam as disciplinas, de modo que posso ter mais em comum esses geógrafos do que eles possam ter com outros membros da comunidade de minha comunidade de LA. (Pennycook, 2006, p. 73)
Nessa relação entre o processo de globalização e a crise identitária, conforme discutido por Woodward (2009), desdobram-se também implicações para as formas como cada sujeito e/ou grupo social se concebe identitariamente. Isso significa dizer que minha interpretação do outro está balizada pelo conjunto de significações produzidas sócio-historicamente em minhas práticas sociais (Bortoni-Ricardo, 2008). Segundo Woodward (2009), [...] as identidades são diversas e cambiantes, tanto nos contextos sociais nos quais elas são vividas quanto nos sistemas simbólicos por meio dos quais damos sentido a nossas próprias posições
(Woodward, 2009, p. 33).
Essa interpretação não resulta apenas de uma visualização, mas de um olhar refletido, mediado pela lógica da identidade e da diferença e do conjunto de representações simbólicas mantidos, refutados e ressignificados constantemente na interação com o outro (Moita Lopes, 1998; Silva, 2009; Woodward, 2009). Para Moita Lopes (2006), essa evolução epistemológica [...] indica que o conhecimento tem de ser novo não simplesmente porque o mundo está diferente, mas porque tais mudanças requerem processos de construção de conhecimento que devem, necessariamente, envolver implicações na vida social
(Moita Lopes, 2006, p.