Rubores
By Leandro Jardim and Antônio Xerxenesky
()
About this ebook
Read more from Leandro Jardim
Perdidas: Histórias para crianças que não têm vez Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPeomas Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Related to Rubores
Related ebooks
Como tratar loucuras crônicas com poesia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPérola Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Perfume E A Promessa Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPlural: Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEu me amo (Eu acho) Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Que Me Trouxe Até Aqui Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsConsequências Prazerosas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDomingo Eu Vou Pra Praia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Conspiração dos Felizes: E outras histórias de febre e esperança Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPassagem Para As Estrelas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDestino, acaso ou algo mais forte Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTe amo demais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCinza Como Da Cor Inverno Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAmigas imperfeitas: Inseparáveis na alegria, unidas na tristeza e cúmplices na busca de um grande amor - 2ª edição Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEi Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSensations Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPreto no Branco Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsI love New York Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSanta Sede 6: Crônicas de Botequim Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsQuasi Di Verdadi Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA mulher incrível Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsQuerubins: A Rebelião da Luz Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsManual do coração partido Rating: 4 out of 5 stars4/5Trechos de um inconsciente poético Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsUm Livro Sobre A Falta Que Você Faz Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEntre ossos agora Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsUm Minuto, Por Favor! Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDialogando com as gavetas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEstilhaços Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTempos Verbais Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Literary Fiction For You
O vendedor de sonhos: O chamado Rating: 5 out of 5 stars5/5Livro do desassossego Rating: 4 out of 5 stars4/5Primeiro eu tive que morrer Rating: 5 out of 5 stars5/5Dom Casmurro Rating: 4 out of 5 stars4/5Memórias Póstumas de Brás Cubas Rating: 4 out of 5 stars4/5Box - Nórdicos Os melhores contos e lendas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO vendedor de sonhos 3: O semeador de ideias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDeclínio de um homem Rating: 4 out of 5 stars4/5Rua sem Saída Rating: 4 out of 5 stars4/5Eu que nunca conheci os homens Rating: 4 out of 5 stars4/5O que eu tô fazendo da minha vida? Rating: 5 out of 5 stars5/5Eu, Tituba: Bruxa negra de Salem Rating: 5 out of 5 stars5/5O amor vem depois Rating: 4 out of 5 stars4/5O vendedor de sonhos 2: A revolução dos anônimos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAprender a falar com as plantas Rating: 4 out of 5 stars4/5
Reviews for Rubores
0 ratings0 reviews
Book preview
Rubores - Leandro Jardim
Borges)
Dosar-te
Não é o que dizem? O que nos faz viver é o coração batendo. Ou seja, o sangue que corre, pulsando quente, irrigador. Motor e combustível, embora não sejamos máquina. Daí a importância da bebida e da alimentação, definem o que conterá nesse vermelho líquido, e com efeito rápido. Esse vital sumo por tantos tão esquecido, ainda que rubro. Mas eu não me esqueço nunca, por isso conduzo-o, instrumento-o como ao tempo. Ela, porém, não sei se entendeu. E agora, enquanto me lembro, bebo. E pela transparência do fundo do copo revejo tudo.
Artistas são menos do que pensam. Menos ainda do que o tanto que se espera deles, numa óbvia inversão proporcional. Importam-se demais com o metafísico, e perdem-se. Não por um caminho errado, mas pelo próprio chão que lhes parece faltar. Pretendem o voo, exibem o salto, escondem a queda. Ou tentam, mas já estão no palco. Nesse caso, literalmente. Engolem seco.
E pode muito um dia. Mesmo que muito pouco quando se esperava tudo. Vejamos desde um começo. Ela acordou ao meu lado. Aceitou tudo sóbria na véspera. O que quer dizer que já começou errando desde o passado. Ofereci um sanduíche como o meu. É pão, carboidrato engorda, obrigado, mas não.
Quase impossível desviar o olhar dos seios desnudos de uma mulher bonita, tenham eles o formato que tiverem. Um pouco deste café, então?
Mas o nervosismo dos últimos dias já tinha reascendido nela uma gastrite, disse.
Havíamos estreado de forma brilhante no dia anterior, ontem. Amigos, familiares, imprensa já de longa data conhecida, aplausos, muitas mãos de pé a espalmar-se com força. Noutras, os dedos à boca para assobios agudos. Do palco, vimos tudo exatamente como fora escrito por nós. E coroei, portanto, como na corrida de Fórmula 1: estourei champanhe, joguei na plateia, bebi de escorrer pelo pescoço. A ela ofereci o que restou. Depois de sua recusa, aos outros. E já entendia mais confortavelmente o mundo antes da descida.
Já o espectador de arte, mesmo o habitual, gosta de se identificar. Se não a si, a um desejo seu. Sempre seu, mesmo que não o tenha formulado antes. Sempre desejo. Funciona assim, no início ele mais ou menos pensa ah, queria ter vivido isso
. E no meio já sente como se o vivendo. Daí basta que o autor não estrague a ilusão no final. Por isso tantos términos antes que a história chegue ao fim. É a covardia de quem escreve, não quer errar. Ou, então, seu tino comercial. Pelo menos foi por ambos os motivos que optei também eu pelo corte seco. Não posso ser bobo, pensei. E bobo fui, diria minha autoconsciência crítica. Mas, bobos eles, não pensarão assim, projetei indecente ao público. E, claro, bebia sempre pra escrever; ou pra lubrificar vãs restrições ético-estéticas.
Além disso, boas ideias não vêm assim, de mão beijada. É preciso beijar a musa. Quando não são fruto de uma boa e casual epifania bem trabalhada, há que se ir buscá-las. E já conheço o interruptor criativo de acender luz no meu cérebro. Uma cerveja, ou chope, às vezes dois, e um café expresso depois, é como um clique. Feito isso, parti do meu projeto motivador, em que queria escrever e protagonizar minha invenção. Fosse qual fosse, dado que eu não tinha tema ainda estabelecido. Meu único alvo era ela, a musa como principal estrela; a que eu beijaria, antes e depois do fim. Embora ainda não o soubesse, já a desejava assim, inteira. E trabalhei metódico, e prossegui sabiamente boêmio pra construí-lo. O encantamento artístico geralmente nasce daí, quando os desejos pulsantes de autor e público coincidem.
Fácil. Isso mesmo, fui pela metaficção. A história de um escritor boêmio com pretensões dramáticas, dramatúrgicas; e que escreve para se aproximar da musa inspiradora, ambíguo. E a vantagem do teatro é que ele se presta à experimentação, especialmente se nomeada de pesquisa criativa, oficina de composição, vivência ficcional. Sendo que prefiro, claro, esta última. Afinal, de que serve a ficção se não para vivê-la?
Desse jeito, alternando tais expressões conforme variava o argumento, eu a convenci, e em pouco tempo demos início a um período de dois meses em que nos encontrávamos três vezes por semana. Às segundas, uma cervejinha pra acompanhar, quartas, íamos de vinho e nas sextas, whisky. Whisky não, Bourbon. Com gelo de água de coco e alguma programação gastronômica em seguida. Exauridos de intensidade, celebrávamos às sextas, sempre. E funcionou, o desencadear dos dias e encontros correspondeu. Cada bebida trabalhou a seu jeito a nos inspirar situações. Reescrevemos muito, conseguimos ser inventivos na peça, sair um pouco