Contos dos meninos índios
()
About this ebook
Read more from Hernâni Donato
Os povos indígenas no Brasil Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsNovas aventuras de Pedro Malasartes Rating: 5 out of 5 stars5/5
Related to Contos dos meninos índios
Related ebooks
A perigosa vida dos passarinhos pequenos Rating: 3 out of 5 stars3/5Bruxa: Um feriado assombroso na floresta Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO moço que carregou o morto nas costas e outros contos populares Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsContos da floresta Rating: 4 out of 5 stars4/5Memórias de um burro Rating: 5 out of 5 stars5/5Lendas Brasileiras: Coleção de 27 contos para crianças Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsContos de fadas dos irmãos Grimm Rating: 5 out of 5 stars5/5Fábulas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAlguns Medos e Seus Segredos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsUm Lobo Quase Mau Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEstórias Antigas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsVinicius Campos conta Grimm Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCaçadas de Pedrinho Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAfricanear Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAs aventuras do tempo Rating: 5 out of 5 stars5/5Uxé Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMitos, contos e lendas da América Latina e do Caribe Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO pescador de histórias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsXô, coronavírus Rating: 5 out of 5 stars5/5Árvore de sol: Coleção Ruído Rating: 5 out of 5 stars5/5Flávia e o bolo de chocolate Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsBrinquedos Ensebados do Baú Estropiado Rating: 5 out of 5 stars5/5Minha extraordinária amiga tartaruga Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Sorriso do Leão Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsBia Baobá Rating: 5 out of 5 stars5/5Você fala javanês? Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAleijadinho Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsGente, Bicho, Planta: O Mundo Me Encanta Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO mistério do pau oco Rating: 5 out of 5 stars5/5E a Terra escreveu uma carta… Rating: 1 out of 5 stars1/5
Children's Fairy Tales & Folklore For You
Contos Mágicos Para Crianças de 4 a 7 Anos: Histórias Encantadoras Para Sonhar Acordado e Aprender Valores Importantes Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMalasartes: Histórias de um camarada chamado Pedro Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Contadora de histórias e outros contos de encantar Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsNão era uma vez: Contos clássicos REcontados Rating: 4 out of 5 stars4/5O sumiço da Lua Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDima, o passarinho que criou o mundo: Mitos, contos e lendas dos países de língua portuguesa Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO lobo Lobato e a Chapeuzinho Vermelho Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsContos Infantis Ilustrados em Português Rating: 5 out of 5 stars5/5Bia não quer dormir Rating: 4 out of 5 stars4/5Fábulas do mundo todo: Esopo, Leonardo da Vinci, Andersen, Tolstoi e muitos outros Rating: 5 out of 5 stars5/5Fábulas fantásticas Rating: 5 out of 5 stars5/5Clássicos de todos os tempos Rating: 5 out of 5 stars5/5A Rainha da Neve Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Conto do Vento Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCantigas, adivinhas e outros versos: Volume 1 Rating: 5 out of 5 stars5/5O lobo Lobato e os três porquinhos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsContos com Valores para Crianças de 5 a 8 Anos Ilustrado Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA princesa da torre longa Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA grande onda: Katsushika Hokusai Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPinóquio e o lobo Lobato Rating: 5 out of 5 stars5/5Tudo o que você não pode ver Rating: 5 out of 5 stars5/5Contos de fadas dos Irmãos Grimm Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLendas Brasileiras: Coleção de 27 contos para crianças Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsOs Melhores Contos de Andersen Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEstórias Antigas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Patinho Feio Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAs fábulas da Fasielândia: 1 Rating: 5 out of 5 stars5/5Pinóquia Rating: 4 out of 5 stars4/5
Reviews for Contos dos meninos índios
0 ratings0 reviews
Book preview
Contos dos meninos índios - Hernâni Donato
Ao redor
da fogueira
À noite, na selva, em torno das fogueiras, as crianças da tribo ouvem os velhos narradores contar lendas que elas mesmas, bem mais tarde, haverão de repetir aos seus filhos e netos.
Essas narrativas encantam, divertem. Mas não foram criadas apenas para divertir. Elas constituem o modo pelo qual os indígenas explicam às crianças a existência de coisas indispensáveis à vida: a chuva, o vento, o céu, os astros, o rio, o fogo, os animais, as plantas, os sentimentos.
Como inventores
de lendas, os indígenas brasileiros não ficam atrás dos escritores ditos civilizados. Por exemplo: comparem a tristeza dos sete irmãozinhos órfãos com a da menina europeia vendedora de fósforos; a malícia dos bichos que procuram enganar a moça com a do lobo que iludiu Chapeuzinho Vermelho. E assim por diante.
Os contos reunidos neste livro, preparados para o leitor das cidades, vão acompanhados de um muito obrigado
a missionários, viajantes e cientistas, como os generais Couto de Magalhães e Rondon, os estudiosos Stradelli, Baldus, Schaden, Albisetti, Wirth, Colbachini, Vilas Boas – além de muitos outros igualmente merecedores –, que conheceram, recolheram e guardaram para nós essas criações da inteligência indígena brasileira.
Aventuras
de um menino
perdido
Havia no mato um menino sem família. Não sabia dizer por que não tinha pai, mãe, avós, irmãos. Mas não tinha mesmo. Estava perdido da sua gente. Andava de lá para cá, sem casa para onde voltar ao fim do dia.
Comia frutos e pescava. Um dia, na barranca do rio, esperava peixe em um cercado. Aquele lugar era o pesqueiro da feiticeira Ceinci. Ela gostava por igual de carne de caça e de peixe. Pescava pouco porque enxergava mal, porém era muito ciumenta do seu cercado. Viu o menino e pensou ver um macaco. Decidiu:
– O que faz um macaco no meu pesqueiro? Se o pesqueiro é meu, o macaco também é. Bem bom, pois já apanhei peixe suficiente na minha rede e agora posso ter também um macaco. Assim, terei boa comida para muitos dias.
Com todo o cuidado de que era capaz, Ceinci tratou de se aproximar do menino. E atirou sobre ele a sua rede.
Mas a velha não tinha boa a vista, e o menino, que não era bobo nem nada, tirou o corpo, e a rede caiu no rio.
O menino, depressinha, subiu para o alto da árvore próxima.
A feiticeira notou a rapidez com que ele fizera tudo aquilo e ficou ainda mais convencida de que se tratava de um macaco. E ainda mais decidida a apanhá-lo.
Tentou agradar:
– Desça daí, meu neto. Vamos para casa. Vou preparar uma festa.
O menino riu e por resposta fez uma careta.
A velha, furiosa, ameaçou:
– Ou desce ou mando um enxame de marimbondos derrubar você daí.
Mandou mesmo. Uma nuvem de marimbondos. O menino, porém, sabido em tudo o que é preciso saber para viver bem na floresta, cortou um ramo de árvore folhudo e defendeu-se com ele. Luta brava. Muitos marimbondos morreram. O chefe deles foi dizer à feiticeira:
– Perdão, avó, mas aquilo não é um macaco. De tão teimoso parece ser um homem.
Ceinci espumou de raiva, despediu os marimbondos e gritou para o menino:
– Ô, meu neto! Conhece as formigas tocandiras? Sabe do que elas são capazes? São formigas de fogo. Por onde passam, queimam. Se não descer já e já para ir à minha festa, mando as tocandiras derrubarem você da árvore.
Mandou mesmo. Milhares de formigas de fogo subiram e foram queimando o tronco da árvore, depois o galho em que o menino se refugiara, depois os ramos. Quando não havia mais para onde retirar-se, o menino pulou para o rio.
A feiticeira esperava mesmo por isso. Atirou a rede e apanhou a caça. Por mais que gritasse e se debatesse, o menino acabou envolvido pela rede. E levado para a casa da velha Ceinci.
Ceinci acomodou a rede e foi ao mato buscar lenha para a fogueira. Projetava assar imediatamente aquela caça tão apetitosa.
Mas, enquanto recolhia os gravetos, chegou ao terreiro a moça que morava com ela para aprender feitiçaria e tecer esteiras e cestos de folhas de palmeira. Chegou, percebeu movimentos violentos na rede e não viu Ceinci. Pensou:
– Sempre que essa gulosa volta da caça, exibe com orgulho o que trouxe, seja veado, paca ou caititu. Hoje, não fez assim. Aqui, há mistério. Vamos ver isso de perto.
Abriu a rede. Viu o menino e gostou dele. Decidiu: Não posso permitir que a velha faça um assado de coisinha tão linda!
.
No instante, o menino pediu:
– Não deixe a feiticeira me assar. Preciso fugir.
Os dois – moça e menino – queriam a mesma coisa: enganar a velha Ceinci. Então a moça tirou o menino da rede e colocou ali um pilão recoberto com cera. Fechou a rede e foi terminar de tecer um cesto.
Ceinci voltou do mato carregando lenha. Acendeu fogo debaixo da trempe e assentou a rede por cima. Depois do que, satisfeita, sentou-se no chão, junto das chamas. Gostava de aspirar o aroma da carne de caça assando na sua fogueira.
Mas o cheiro que sentiu foi ruim. Esbravejou:
– Não é cheiro de carne de macaco. Isso é cera queimando.
De fato, o fogo queimou a rede, derreteu a cera e o pilão caiu, rolou até ela. Foi o bastante para a feiticeira entender que haviam tentado enganá-la. Quem? Só havia por ali a moça tecedora de cestos e aprendiz de feitiçaria.
Saiu a correr atrás da moça:
– Ahá! Quis me enganar? Agora, farei um assado de vocês dois.
A moça, que já sabia o suficiente de feitiçaria para se transformar em inseto, virou uma borboleta e, antes de bater asas e sumir, recomendou ao menino:
– Entre para o cesto que acabei de fazer. Dê uma ordem e ele sairá voando.
Já se metendo no cesto, o menino perguntou:
– E se a velha me perseguir?
A moça-borboleta ensinou:
– As folhas de palmeira que deixei dentro do cesto estão enfeitiçadas. Basta você dizer o nome de um bicho e atirar a palma ao chão que ela se transforma no animal nomeado.
Agitando as palmas para fora do cesto, o menino ainda precisou saber:
– Aí vem ela! Diga depressa quais os bichos que ela gosta mais de comer.
Batendo as asas, pois Ceinci se aproximava, a borboleta-moça revelou:
– Porco-do-mato, paca, veado, capivara. E...
O resto da lição o menino não conseguiu ouvir porque a borboleta ia longe. Mas entendeu.
Era tempo. Deu uma ordem. O cesto levantou-se e quase, quase foi alcançado pelas mãos erguidas da feiticeira. Ela podia transformar-se em gavião, em águia, coisas assim. Se isso acontecesse, pobre do menino.
Então, ele atirou quatro folhas de palmeira para fora do cesto. Assim que tocaram o chão, não eram mais folhas de palmeira e sim porco-do-mato, paca, veado e capivara. Cada bicho correndo para um lado.
A feiticeira, gulosa que era, vendo logo no seu terceiro as caças de que mais gostava, esqueceu o menino e a moça e foi cercar o porco-do-mato, a capivara, o veado, a paca.
Eram bichos ariscos e enfeitiçados. Ela demorou-se nisso. Encantada da vida. Mas deu tempo a que o cesto com o menino chegasse ao rio.
O menino desceu, aproveitou as palmas, ergueu um cercado dentro da água. Sem demora, muitos peixes, dos maiores, ficaram presos.
Isso foi bom, porque logo Ceinci apareceu. Recomeçava a perseguição.
A borboleta-moça achegou-se ao menino e aconselhou:
– Se ouvir um pássaro cantando assim: can-can-can, fuja, porque Ceinci está a ponto de pegar você.
E o menino ouviu um pássaro