Trabalhando com jogos cooperativos: Em busca de novos paradigmas na educação física
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O autor discute as possibilidades e os limites dessa proposta pedagógica no contexto escolar da educação física, mostrando como a adoção de jogos cooperativos pode contribuir para o pleno desenvolvimento das habilidades sociais dos alunos. Fundamentado na literatura da área, demonstra a importância de que se cultive a cooperação, com a consequente modificação de práticas, conceitos e valores competitivos comumente encontrados na escola.
O livro oferece ainda um conjunto de atividades, como sugestão para os professores, que pode servir para iniciar um trabalho que valorize a cooperação. As atividades apresentadas são abertas e podem ser modificadas de acordo com o contexto e as vivências de professores e alunos, caracterizando assim um processo de aprendizagem ativa. - Papirus Editora
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Trabalhando com jogos cooperativos - Marcos Miranda Correia
cooperativa.
1
UM CHAMADO À COOPERAÇÃO
No contexto mundial, há atualmente uma grande preocupação, em diversos setores da sociedade, com as relações sociais, políticas, econômicas, ecológicas e educacionais, seus reflexos no futuro da humanidade e do planeta. Isso porque, até aqui, essas relações não ocorreram em situações de igualdade, de respeito mútuo, de solidariedade e de cooperação entre a maioria dos povos e países. Ao contrário, na história da civilização, prevaleceram a dominação, a exploração e a competição.
Capra (1982 e 2001), Boff (2000), Santos (2001) e Russel (1992) identificam crises e problemas que justificam a preocupação com o futuro. Esses autores mostram que, se mantidas as concepções vigentes de civilização e de globalização, bem como os paradigmas éticos e científicos que as sustentam, crises e problemas dificilmente serão resolvidos. Com isso, correremos o risco de conduzir o planeta e a dignidade humana a condições próximas aos tempos de barbárie ou, até mesmo, de não termos futuro.
Santos retoma dos cientistas sociais de meados do século XIX problemas fundamentais
, que, apesar de antigos, ainda estão evidentes e carentes de uma nova discussão e de soluções diferentes. O autor entende esses problemas fundamentais como
problemas que estão na raiz das nossas instituições e das nossas práticas, modos profundamente arraigados de estruturação e de ação sociais considerados por alguns como fontes de contradições, antinomias, incoerências, injustiças que se repercutem com intensidade variável nos mais diversos setores da vida social. (2001, p. 282)
O autor ressalta que essa discussão deve superar a centralidade, a superficialidade e o imediatismo das soluções dadas pela ciência moderna. Ele reconhece as dificuldades presentes nessa tarefa e ressalta a importância e a urgência de sairmos dessa visão simplista. Propõe soluções de longo prazo, de forma profunda, ampla, coletiva e global. Em sua análise prospectiva, identifica problemas nas relações sociais que vão desde o espaço doméstico/familiar ao mundial/global, além de serem extremamente complexos.
Embora Santos admita a possibilidade de surgirem outros espaços e relações, ele define quatro espaços de relações sociais, designados como espaços-tempos estruturais: o espaço-tempo doméstico, o espaço-tempo da produção, o espaço-tempo da cidadania e o espaço-tempo mundial
(p. 286). Em cada espaço-tempo, identifica problemas fundamentais que não foram originados e nem devem ser problematizados separadamente; ao contrário, precisam ser entendidos e solucionados conjuntamente. Daí a complexidade desses problemas. Com a ressalva dessa complexidade, o Quadro 1 destaca, em cada espaço-tempo, alguns dos principais problemas.
É importante ressaltar as cisões nesses espaços-tempos, características das relações estabelecidas na sociedade dita civilizada:
• no mundial: norte x sul e centro x periferia;
• no doméstico: homem x mulher;
• no da produção: capital x trabalho e trabalho-capital x natureza;
• no da cidadania: Estado x cidadão.
QUADRO 1 – Descrição dos problemas fundamentais
em cada espaço-tempo, de acordo com Santos (2001)
Essas divisões dificultam e retardam o surgimento de uma visão solidária, coletiva e global para os problemas fundamentais. Segundo Santos (2001, p. 299),
os problemas mais sérios com que se confronta o sistema mundial são globais e como tal exigem soluções globais, marcadas não só pela solidariedade dos ricos com os pobres do sistema mundial, como também pela solidariedade das gerações futuras.
Logo, torna-se necessário transpor essa divisão e, para isso, é preciso encontrar referência em outros olhares, em novos horizontes, diferentes da objetividade e do tecnicismo dominantes na nossa civilização. Essa referência deve ser a utopia... a exploração de novas possibilidades e vontades humanas
(idem, p. 323). Esse olhar utópico não significa negar o passado, porém, significa buscar alternativas naquilo que a civilização, o progresso desmedido, o cientificismo e a racionalidade deixaram de lado e que os colonizadores do norte fizeram de tudo para suprimir; ou seja, fazer
uma arqueologia virtual porque só interessa escavar sobre o que não foi feito, e por que não foi feito, ou seja, por que é que as alternativas deixaram de o ser. Neste sentido a escavação é orientada para os silêncios e para os silenciamentos, para as tradições suprimidas. (Idem, p. 324)
Todavia, não é necessário inventar um mundo novo, idealizado e distante da realidade, das subjetividades e das condições atuais. O que o autor propõe não é a invenção de uma nova sociedade perfeita. Sua proposta é um efetivo processo de transição da realidade objetiva em que vivemos para uma realidade ainda não realizada, porém, discutível, aberta e possivelmente realizável. Fazer essa arqueologia é ouvir o sul, os excluídos, marginalizados e/ou esquecidos – a natureza, a mulher, o trabalhador, o sujeito-cidadão – na divisão global que estabelecemos para o mundo de hoje, fazendo, ao mesmo tempo, que o norte olhe para si mesmo: É crucial conhecer o Sul para conhecer o Sul nos seus próprios termos, mas também para conhecer o Norte
(Santos 2001, p.