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Bizarrices no Brasil I: A Política
Bizarrices no Brasil I: A Política
Bizarrices no Brasil I: A Política
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Bizarrices no Brasil I: A Política

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Bizarrices no Brasil I é o primeiro de alguns volumes em que nos debruçaremos sobre fatos relevantes da nossa história, relembrando que esta não é mero espelho de adorno –, no qual olhamos e simplesmente seguimos adiante. As mentalidades, ao longo dos anos, no nosso caso são cinco séculos –, formaram o pensamento social brasileiro. Mas o que é isso? São as mentalidades e ações que ocorrem no mundo social, entre aquilo que é público e coletivo, oposto ao individual e privado; são as ideias, as crenças, a herança imaterial que todos carregamos coletivamente e que se manifesta nos nossos anseios de um mundo melhor, justo, mesmo sabendo que há obstáculos que estão além do nosso alcance para solução desses problemas. Por esse motivo, Bizarrices no Brasil vai nos ajudar a entender como chegamos ao Brasil de hoje, sabendo que a história não é um acaso, não é destino, não é providência divina; ela e a sociedade que a reflete são produto de mentalidades que se acumulam por séculos e fazem de todos nós um só povo. Assim, a preocupação das ciências sociais, a saber, é estudar os aspectos sociais do mundo humano, a vida de indivíduos e grupos, a fim de explicar e compreender algumas ocorrências que parecem aspectos isolados ou casualidades, mas não são. Esse é o propósito da nossa obra: entender por que estamos acompanhados de "amigos" inconvenientes há tanto tempo, como a corrupção, por exemplo.
LanguagePortuguês
Release dateOct 22, 2018
ISBN9788547313463
Bizarrices no Brasil I: A Política

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    Bizarrices no Brasil I - Marcio José Silva

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Ao querido Renan, a quem tanto prezo; aos caros amigos Helcio Dallari Jr., Fernando Rister e Paulo Roberto Monteiro, os quais tanto amo e respeito; às companheiras acadêmicas Regina Giora, Rosana Schwartz, Dangela Abiorana e Aurelice, que tanto me ensinam.

    Aos pais, amados e respeitados; à minha irmã querida; aos amigos e Professores que me acompanham.

    O Brazil não merece o Brasil

    O Brazil ta matando o Brasil

    Jereba, saci, caandrades

    Cunhãs, ariranha, aranha

    Sertões, Guimarães, bachianas, águas

    E Marionaíma, ariraribóia [...]

    (Querelas do Brasil, Aldir Blanc e Maurício Tapajós)

    AGRADECIMENTOS

    Ser grato é algo raro em nossos dias. Há alguns tempos, Bauman falava-nos sobre os tempos e a modernidade líquidos. Hoje, já estamos na Era do Vapor, tudo é efêmero, fugidio, uma sublimação de valores tão básicos e elementares, desconectados de questões morais, mas tão somente ligados à questão de sermos humanos no sentido de ser, antes do ter. A privação, voluntária ou involuntária, da transcendência, gerou um pseudomaterialismo, porque nem tudo que é visto e é palpável é por si só material, formalístico e real. A humanidade busca desesperadamente aquilo que gerou o Totem/Tabu, séculos depois estruturado em Mistério e Providência.

    Por isso, sou obrigado a mostrar gratidão ao ser transcendente que, para alguns, é impessoal, mas existente. Para outros, uma mera abstração e inexistente. Há os que o veem como sendo vários, outros o tripartem, ainda que mantenham a crença de que ele seja um só. Pois bem, para mim, como diz a antiga oração hebreia, a Shemá (שמע ישראל): Jeová (Jehovah, Iahweh, Javé, ninguém de nós sabe exatamente como se pronuncia e não me importa), nosso Deus é um só. Obrigado, Querido! Todavia, nem a Shemá, nem qualquer oração antes, durante ou depois de Moisés afirma que não há outros deuses, os quais são honrados nos seus ritos apropriadamente. Sei que observaram tudo isso!

    Ademais, como sou grato àquele que é um marco para a humanidade, não falo de um calendário (a.C./a.D.), mas de um marco de concepção do que é o ser humano: todos irmãos e iguais, homens ou mulheres. Na verdade, Jesus sequer descreveu o que são, homem e mulher, mas refere-se a tais como macho e fêmea, algo simplório, para alguns risível, mas que mostra a profundidade que Jesus tinha da essência humana, especialmente em criar e manter sistemas de perpetuação de injustiças e maldades. E quantas atrocidades foram cometidas em seu nome, mesmo sem obterem a procuração para isso. Obrigado, Amo!

    Contudo esquecer os meus pares humanos, que não são bem pares porque ainda não cheguei ao seu nível de humanidade, experiência e percepção. Mas o são por estarmos sob a mesma égide: produzir o conhecimento que coopere com o mundo. Portanto, muito obrigado ao Prof. Dr. Marcel Mendes, mais que professor, um amigo e pai. E, óbvio, minha orientadora preciosa, Prof.a Dr.a Marili Vieira, que direciona e mostra em que trilhas devo pisar para segurança na produção acadêmica. Amo muito vocês!

    APRESENTAÇÃO

    O Brasil é forjado de uma desordem humana e social que vai impactar todos os seus sistemas, especialmente o político. Entre mucambos e palácios, de africanos, indígenas e ex-europeus, que transitam entre o velho e novo mundo, com os pés em dois lugares. Sim, o Brasil é um caldeirão que ferve de maneira incessante, e esse ferver cozinha alguns, alimenta outros e queima os incautos.

    Por esse motivo, é impossível compreender o fazer político brasileiro sem recorrermos às suas raízes, mesmo antes da invasão dos europeus no século XVI, mesmo antes de 1500, encontrando pessoas novas, encantadoras para aqueles que chegavam, especialmente Caminha, que fica hipnotizado com aquela gente linda, cujo melhor benefício seria ganhá-los como almas para Cristo (claro, repentinamente Manuel III vira cristo). Estes recebem os ilustres visitantes com certo acolhimento, sem muita estranheza. Que os indígenas, como propõe Aristóteles, naturalmente, humanos e, devido ao mero fato de serem tais, é comprovado com o que acontece com o cacique Tibiriçá, o primeiro ‘nobre’ da terra, que organiza as primeiras alianças políticas em solo brasileiro.

    A partir de então, os rumos seguem a dialética comum a qualquer nação colonial até o século XIX, quando tudo muda de maneira colapsal. Quando pisa João VI nas posses e encontra seus amados vassalos, o mapa-múndi vira de ponta cabeça, ao menos para Portugal, o sul virou norte e o norte virou sul. Assim, a política passa por uma reformulação estrutural e não será mais fortemente alterada, até que surge um gnomo (pela sua altura) e muda tudo de novo.

    Getúlio Dornelles Vargas funda uma ideologia política, o varguismo, que se transforma literalmente em uma religião; entre governos e Golpes, Vargas simplesmente, como uma criança brinca em massa de modelar, constrói o Brasil que conhecemos até hoje. Se fôssemos seguir a contagem francesa sobre República, o Brasil seria um caso peculiar: a Oligárquica (primeira, 1889 – 1929), Nullius Terram (segunda, 1930-1932), Aliquis Terra (terceira, 1932-1936), a República Imperial (a quarta, 1937-1945), o Interregno (a quinta, 1946-1950) e a República Fatal (a sexta, 1950-1954). Neste volume, falaremos até a Fatal.

    Neste livro, falamos sem esgotamento do período pré-cabralino, pós-cabralino, o joanino, o Império Brasitano (Brasil + lusitano), a Regência Monárquico-Federativa, o Império do Brazil e a Re-(pública) – esta última impossível de se compreender. Como dissemos, conseguimos fazer seis divisões dessa "Res Proprium", uma diferente da outra, mesmo em alguns casos durando tão pouco tempo. A República brasileira que é muito específica. Posteriormente, trataremos das outras Repúblicas brasileiras. Queremos falar da Política, sabendo que seriam necessários muitos volumes para falar sobre cada pessoa que governou o País. Mas pela exposição sucinta de como se constrói a política brasileira, é provável que nos vejamos, em um momento ou outro, relembrando ou revivendo períodos históricos brasileiros. Afinal, há a história que conhecemos, formal, que também é verdadeira. Porém a que foi virtuosamente mal contada nos ajuda a entender o que é e como se faz a política no Brasil.

    Não é pretensão nossa falar tudo. Muitos pesquisadores falaram o que estava ao seu alcance e nós também estamos acendendo o fogo da curiosidade para que muitos se voltem a estudar a política no Brasil, não com os sofismas de que todos os políticos são bandidos, fora corrupção ou não tenho bandido de estimação. Sentimos muito, porém, são honrosos bandidos, nossos mortos. Fora corrupção que nós construímos? Não temos bandido de estimação, temos vários, isso se não formos nós mesmos um desses. Chega de hipocrisia. A Política, como os gregos entenderam com clareza, é a maneira mais sensata de se levar a polis moderna, especialmente se falamos de Brasil.

    De todos os teóricos contratualistas, quando se trata de Brasil, Hobbes seria o único a se sentir familiarizado, porque o Estado brasileiro é um leviatã mesmo, um monstro, sendo o Estado de Polícia o segredo de sua existência. Mas Locke não entenderia onde foram parar suas concepções sobre direitos de resistência ou revolução, por exemplo, porque os brasileiros delegam por coação a liberdade. O Espírito das Leis de Montesquieu, aqui, seria chamado de o Demônio das Leis, pois virtude não existe. Rousseau perderia todo seu olhar romântico acerca da sua retórica sobre homem-meio e precisaria de terapia com Freud, Jung e Lacan. Robespierre ver-se-ia bem representado, Danton também estaria conosco e até o casal Royal (Luís Capeto e Maria Antonieta) passaria por aqui. Comte fez um discípulo tão forte que criou até uma religião, que vai além da Religião da Humanidade, sendo, politicamente, a Religião do Brazil.

    Mas é uma pena, nenhum deles entendeu o que Maquiavel quis dizer. Perverteram a política e criaram a liberdade do silêncio: você pode falar tudo que os outros queiram ouvir, se for diferente, cale-se. A mídia, especialmente os impérios midiáticos, constituem-se nas primeiras organizações de crime organizado, porque privam as pessoas da informação e impõem o que as pessoas devem acreditar, pensar, ouvir e reverberar. É uma loucura. Ser brasileiro e analisar a política brasileira é sentir um misto de indignação, medo, riso, preocupação e revolta. A razão é simples demais: como cantou nossa linda Elis Regina, falemos e façamos o que quisermos ou que nos disserem que deve ser feito, somos como nossos pais.

    O autor

    PREFÁCIO

    O livro Bizarrices do Brasil I – a Política reúne uma narrativa de fatos históricos que retratam fatos sociais e políticos de nossa sociedade brasileira.

    Enfrentando a tarefa nada fácil de contar a história de uma forma muito provocativa e intelectual dos fatos brasileiros, o autor Marcio José Silva costura detalhes encontrados na literatura historiográfica existente, mergulhando em períodos específicos para retratar, de forma compreensiva, a trajetória política brasileira. Das histórias de lutas e conquistas, dominância e resistência, conflitos e persistência, emerge neste livro o que o autor denomina como bizarrices a enorme complexidade da política brasileira.

    Conforme Adalto Novaes, citando a filósofa Marilena Chauí diz:

    [...] a ação fecunda deiscência de nossa carne e da carne do mundo, gravidez e parto intermináveis, promessa de acontecimentos, instituição de adventos: todos esses termos exprimem a mesma significação, qual seja, o excesso de sentido sobre o sentido já realizado.

    As palavras de Chauí¹ reforçam a ideia de que a política seja a elucidação de uma percepção histórica aberta sobre o enigma de uma plenitude excessiva e vazia, plena e carente, feroz e encobertada.

    O presente livro traça a evolução da política brasileira desde a ocupação de terras indígenas na época colonial até o período atual. O autor se aprofundará em cada um desses períodos, em que ele destaca que a palavra República tem origem no latim, com a fusão dos termos res (coisa) e publica (de utilidade social, comum). Porém, de forma criativa e provocativa, também menciona a palavra (re)pública, onde separa a sílaba re, que nos leva à compreensão de retroceder, recuar, retrogradar, retrogredir em relação à coisa pública.

    E, ainda, traz a reflexão de que a República Brasileira sempre esteve a serviço da mudança de controladores. A submissão sempre foi muito presente e evidente. Nunca foi pública para nenhum brasileiro.

    É impossível compreender o fazer político brasileiro sem recorrermos às suas raízes, mesmo antes da invasão dos europeus no século XVI, mesmo antes de 1500. Essas histórias localizadas, no seu conjunto, fornecem o pano de fundo para as análises de cada época, voltados para retratar e analisar a capacidade do pensamento político e os processos de governança brasileira. Traz materiais essenciais para esses debates, reunindo retratos históricos, onde a ação política é maturação de um futuro e não o sacrifício de um presente por um futuro desconhecido².

    O livro demonstra claramente os elementos comuns aos diversos estados – como a persistência das desigualdades marcantes da distribuição de renda e no acesso à terra, os conflitos pela terra, pelo minério, pelas matérias-primas naturais e as diferenças chave entre eles, fruto dos contextos culturais, ambientais, e sociopolíticos distintos. Essas importantes diferenças colocam limites na nossa capacidade de generalizar sobre política brasileira.

    Apesar das diferenças marcantes na história contada nos capítulos neste livro, os conflitos e as disputas persistem de forma surpreendente e alarmante. As ameaças às terras indígenas continuam após 300 anos, hoje respaldadas por armas burocráticas, além de casos de violência. Alguns grupos indígenas procuram se isolar dos brancos para se proteger dos impactos da civilização de fora, enquanto outros se organizam para grandes manifestações de dança coletiva e de protesto nas capitais do Brasil.

    A própria cronologia histórica varia muito, por exemplo, dependendo do status político de cada época em fases diferentes. Enquanto a ocupação colonial começou cedo em Mato Grosso com a descoberta do ouro em 1719, outros estados, como Amapá e Tocantins, foram estabelecidas somente após a nova Constituição, no final dos anos 1980. O Amazonas já era uma província de Portugal em 1852, mas somente sofreu um crescimento real 100 anos depois, quando a Zona Franca foi implementada nos anos 1960.

    Já os estados do Acre e Rondônia foram colonizados por bolivianos e posteriormente tornaram-se territórios federais depois de esforços de guerra de muitos brasileiros que lutaram para ser parte do Brasil. Vale lembrar que o autor morou no Acre e vivenciou de perto as histórias contadas por gerações e que não estão escritas em livros.

    E, assim, o Governo segue promovendo o crescimento do Brasil por meio de grandes obras de infraestrutura, como estradas, hidrelétricas e mineração. E, em paralelo, executa projetos alternativos e ambiciosos na economia brasileira que afloram nos interstícios, nos lugares menos visíveis onde os políticos beneficiam-se do silêncio da população.

    Renato Ortiz³ traz uma reflexão sobre a imagem que temos de nós mesmos diante das transformações que ocorrem diariamente no mundo e as possíveis representações simbólicas construídas em torno da tradição brasiliana e a formação de uma cultura, ou melhor, várias culturas brasileiras.

    A cultura pode ser considerada como consciência coletiva que vincula os indivíduos uns aos outros. Como diz Corbisier⁴, uma cultura é a que se elabora a partir e em função da realidade própria do ser e do país em que vivem. Sendo assim, o colonizador não pode produzir uma cultura autêntica. A partir dessas palavras, podemos refletir que as nossas escolas são tomadas das ideias da Europa. As expressões culturais são percebidas como formas de afirmação no espaço público no qual o estado brasileiro atua como mediador. É um complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridas pelo homem e como membro da sociedade.

    A inter-relação dos países determina, em boa parte, suas possibilidades de expansão e desenvolvimento. O processo de globalização da cultura coloca as coisas de outra maneira, a nação é atravessada de forma desigual e diferenciada do seu movimento. O universo do consumo é um bom exemplo disso, como os signos do imaginário coletivo, o internacional popular.

    Para o nosso dia a dia como seres humanos inseridos em uma sociedade que exige um posicionamento crítico. Mesmo vivendo dias de revolta política, indignação com a miséria humana, descaso com os bens públicos, com a saúde, a segurança e a educação, não podemos esquecer-nos do nosso papel social.

    Com isso, percebem-se as transformações sociais que ocorrem e as inúmeras questões sócio-históricas que estão relacionadas ao desenvolvimento econômico, avanços tecnológicos, educação, enfim, todos os aspectos ligados à nossa vida em sociedade com significativa contribuição para o aprimoramento da historiografia.

    A partir de cada capítulo deste livro, podemos entender a importância da história, dos eventos complexos e sequenciais que estimulam e influenciam os acontecimentos distintos em cada lugar, com seu caráter único, social, ambiental, político, institucional e econômico. Por essa apreciação, enxerga-se a grande utilidade desta obra.

    Prof.ª Aurelice Vasconcelos

    Especialista em Ecologia Humana

    SUMÁRIO

    Introdução

    1

    A invasão europeia

    1.1 Brasilia

    1.2 Insulae Verum Crucis et Terra Sancta Crucis 

    2

    Um furacão na Europa 

    2.1 A ilha continental 

    3

    A Colônia vira Metrópole, a Metrópole Colônia

    3.1 A chegada ao Brasil 

    3.2 As Aposentadorias e Nobres sem nobreza 

    4

    O parto da Bizarrice Brasileira

    4.1 O retorno a Portugal 

    4.2 Éris começa a parir seus filhos 

    4.3 Pseudologos junta-se a Dýsnomia

    5

    O desenvolvimento da Bizarrice entre 1825-1889

    6

    A maldição chamada ‘mercê’

    6.1 O anno horribilis: 1826 

    6.2 Amélia e a abdicação 

    7

    A Regência Federativa

    8

    O único Imperador do Brasil

    8.1 O Imperador fantoche 

    8.2 O descarte do Imperador 

    9

    Sanctae Romanae Ecclesiae em chamas

    9.1 As Solas e TULIP no Brasil

    9.2 A Igreja Presbiteriana no Brasil 

    10

    Coisas novas, práticas velhas

    11

    Res Propium Brasiliensis

    12

    Entre cafezais, vacas, vinícolas e coronéis

    13

    Se a Pátria não nos quer, criamos outra! Viva o Estado Independente do Acre

    14

    O declínio e o Anno Horrenda

    15

    O ‘bonastrão’ são borjense

    15.1 O primeiro Golpe – 1930 

    15.2 O quase recall do Brasil 

    16

    O Mi(ni)stério da Educação e Saúde Pública

    16.1 Nasce Apáte 211

    17

    Apáte brinca de Promethéus e a questão judaica

    18

    O terceiro Golpe – 1937, a guerra e a licenciatura

    19

    Quarto Golpe – 1946 e Interregno 

    20

    Quinto Golpe – 1950, de volta ao trono e para o túmulo,

    sexto golpe (1954)

    21

    Uma comédia grega!

    Posfácio

    Referências

    Introdução

    O Brasil é indubitavelmente único. É improvável que alguma nação no mundo faça um uso tão decrépito da política como é feito no Brasil. Não é a política o nosso problema, nunca foi. Essa pretensa aversão incutida nas massas contra a política e políticos, sendo que alguns chegarão a se eleger sob a égide de que ‘não são políticos, mas gestores’, é, como Marx dizia no século XIX, a síntese de toda dialética hegeliana, num transtorno social gravíssimo que acomete o Brasil.

    Com essa síntese inacabada, vemos que o Brasil, por meio de suas classes políticas dominantes, desde muito tempo, usa todos os meios possíveis para manobrar a superestrutura, remodelando a infraestrutura e estrutura, ao invés de ocorrer o processo comum. Por esse motivo, temos estupradores que são heróis (bandeirantes), mártires que não foram decisivos para a nação (Tiradentes) e desdenhamos pessoas, especialmente mulheres que moldam o Brasil e suas cidades, tais como a Imperatriz Leopoldina, Domitila de Castro (a Marquesa de Santos) e José Bonifácio, quem, de fato, proclama independência do Brasil.

    Mas nesse balaio, precisamos reconhecer o papel decisivo da nossa nação-irmã, Portugal. De Portugal herdamos a língua principal, os costumes, as tradições, as qualidades, os defeitos. Aliás, Portugal pela Escola de Sagres, que provavelmente nunca existiu, conseguiu avançar no além-mar e invade as terras guaranis, tupinambás, tupis, jê e tantas outras nações indígenas que já estavam por aqui. Posteriormente, Portugal faz o além-mar virar aquém-mar, passando rasteira em Napoleão Bonaparte, o incontrolável senhor dos franceses e Europa. Somente Portugal conseguiu isso!

    Mas brilhante, no desenrolar da nossa história política, foi fazermos um português nosso Defensor Perpétuo, criarmos nobres que não tinham nobreza, expulsamos o Imperador que estabilizou o Brasil e, depois da República, foi inaugurado o maior circo a céu aberto do mundo. A política brasileira é essencialmente única.

    Há, por outro lado, a triste realidade, os eternos semiescravos, pobres e classe média, alguns que insistem em se deslocar de seu verdadeiro lugar social, querendo um deslocamento e conseguindo somente favorecer as nobres famílias ordinárias do Brasil. Precisamos entender a política brasileira se desejamos uma alteração de mentalidade e ações. O Brasil não crescerá e será livre à base de mercês e concessões das elites, mas unicamente pela ação do povo, a favor do povo e com o povo.

    1

    A invasão europeia

    As Américas não passavam pela mentalidade do mundo europeu, nem em sonhos remotos. Ou, se passaram, seria por relatos vagos, cujo contexto religioso, de origem grega, não permitia conceber sua existência. Não foi a Igreja Romana quem elaborou a possibilidade de um planeta finito. A ideia da ‘terra plana’ era presente em quase todas as civilizações antigas. Uma exceção curiosa é o povo hebreu que, em seus escritos sagrados se referem à terra como sendo uma esfera. O profeta Isaías escreveu: Há alguém que mora acima do circulo da terra. (Isaías 40. 22). A palavra hebraica usada pelo profeta é מעגל, que também pode ser vertida como círculo, bola ou esfera. Os escritos de Isaías são do século VIII a.C. e, embora alguns asseverem de maneira contrária à sua autenticidade, a descoberta dos Rolos do Mar Morto, em 1947, contribuiu para comprovar sua originalidade. Ademais, nas Escrituras Gregas Cristãs, Moisés e Isaías são os profetas citados com mais frequência⁵. Posteriormente, gregos e outros povos vão repensar esse conceito.

    Sua cosmografia, tanto quanto sabemos nada sobre ela, era praticamente de um tipo até o momento da chegada do homem branco à cena. O dos Boracos Dayaks pode nos fornecer alguma ideia dele. Eles consideram a Terra como uma superfície plana, enquanto os céus são uma cúpula, uma espécie de sombra de vidro que cobre a Terra e entra em contato com ela no horizonte. Lucien Levy-Bruhl, em Primitive Mentality (repr.: A concepção primitiva usual da forma do mundo [...] é plana e redonda abaixo e superada acima por um firmamento sólido na forma de uma tigela invertida⁶).

    É consenso que os primeiros humanos, vindos da Ásia, estabeleceram-se nas Américas há cerca de 11.500 anos. Mas depois disso as Américas sempre foram visitadas. Em 1642, Georg Horn propôs que fenícios, povo reconhecidamente navegante da região palestina, que se estendia por todo norte da África, do qual os gregos herdaram o alfabeto, tenham sido pioneiros na chegada às Américas.⁷ Ludwig Schwennhagen e Bernardo de Azevedo da Silva Ramos teorizam que no século X a.C. Schwennhagen, em sua obra sobre a história antiga do Brasil, em que expõe uma teoria da presença de fenícios no território do atual, cita o trabalho de Onfroy de Thoron (Gênova, 1869), que trata de viagens das frotas do rei Hirão de Tiro, da Fenícia, e do rei Salomão, da Judeia, no rio Amazonas, nos anos de 993 a.C. a 960 a.C. Em apoio a essas ideias, Schwennhagen apresenta letreiros e inscrições como evidências, afirmando serem em maior parte escritos com letras do alfabeto fenício e da escrita demótica do Egito, observando encontrarem-se também inscrições com letras da escrita sumérica, antiga escrita babilônica, e letras gregas e mesmo latinas. A obra de Silva Ramos também apresenta letreiros e inscrições do Brasil e da América, que são comparados com inscrições semelhantes dos países do velho mundo, observando-se homogeneidade na escrita⁸.

    No dia 13 de setembro de 1872, o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil foi notificado do encontro em Pouso Alto, às margens do Paraíba, por Joaquim Alves da Costa, de inscrições gravadas em uma pedra. Uma transcrição da inscrição foi enviada ao IHGB. Despertaram grande interesse no Brasil, sendo estudadas primeiramente por Ladislau de Souza Mello Netto, que fez uma primeira tradução. Diante de críticas e da dificuldade em encontrar Joaquim Alves da Costa, a localidade exata e a pedra, Ladislau Netto declarou em um momento mais tarde serem apócrifas as inscrições. O francês Ernest Renan afirmou serem as inscrições fenícias, de idade de cerca de 3000 anos. Quase um século depois, nos anos 1960, nos EUA, Cyrus H. Gordon, da Universidade Brandeis, em Boston, reconhecida autoridade em línguas mediterrâneas, confirmou serem inscrições fenícias e as traduziu. Gordon era de opinião que a inscrição continha elementos de estilo fenício que eram desconhecidos no século XIX e concluiu que era genuína. Seu texto em português é:

    Somos filhos de Canaã, de Sídon, a cidade do rei. O comércio nos trouxe a esta distante praia, uma terra de montanhas. Sacrificamos um jovem aos deuses e deusas exaltados no ano de 19 de Hirão, nosso poderoso rei. Embarcamos em Ezion-Geber, no mar Vermelho, e viajamos com 10 navios. Permanecemos no mar juntos por dois anos, em volta da terra pertencente a Ham (África), mas fomos separados por uma tempestade, nos afastamos de nossos companheiros e, assim, aportamos aqui, 12 homens e 3 mulheres. Numa nova praia que eu, o almirante, controlo. Mas auspiciosamente passam os exaltados deuses e deusas intercederem em nosso favor⁹.

    São fatos reais? Há divergências. Porém, há documentos que asseguram que a civilização viking foi pioneira na chegada à América do Norte, incluindo a Groelândia, onde, inclusive, estabeleceram um povoado, hoje chamado L’Anse aux Meadows, em Terra Nova, Canadá¹⁰. Porém, os vikings não permaneceram de maneira permanente. Um livro surpreendente de Gavin Menzies menciona que os chineses, no início do século XV, chegaram às Américas, passando, inclusive, pelo Brasil nas décadas iniciais, entre 1401 e 1420¹¹. Todavia, os chineses também não permaneceram nas Américas, nem estabeleceram povoamentos para exploração do local. Assim, é compreensível que, no final do século XV, Colombo, cidadão de Gênova, grande entroncamento comercial europeu, que lidava com todos os povos, incluindo árabes e chineses, tivesse a concepção de que havia algum meio de se chegar às Índias por rotas alternativas.

    Porém, ao se lançar ao mar e chegar ao Golfo do México, Colombo aparentemente não compreendeu ter chegado ao um novo continente, antes, ele nominou os habitantes que ali estavam como ‘índios’ (cidadãos da Índia). Ademais, em carta aos reis da Espanha, ele falou sobre partir de Cádiz e navegar o Oceano Índico; fala sobre a ilha com nome ‘indiano’ de Guana-Hanyx, que ele rebatizou como São Salvador (atual território da República Dominicana); fala sobre o que certamente lhe causou espanto: os ‘indianos’ homens e mulheres andavam nus e sem armas, além de não usarem armas e serem muito medrosos; fica admirado com seu porte físico e aparência. Mas o parágrafo determinante é:

    Assim que cheguei às Índias, na primeira ilha que descobri, apodereime, à força, de algumas dessas criaturas e leveias comigo a fim de ouvir tudo o que havia nessas regiões: de pronto nos compreendemos uns aos outros por meio de mímicas, tanto com palavras quanto com gestos, e elas nos prestaram bastante serviços. Ainda hoje os que trago comigo estão convencidos de que venho do céu, mesmo tendo vivido tanto tempo junto a mim. Foram os primeiros a anunciar a nova terra por todo o lugar onde eu chegasse; os outros punhamse a correr de cabana em cabana e nos vilarejos circunvizinhos a gritavam: Venham ver os habitantes do céu. E todos corriam assim que estivessem tranquilizados, homens, mulheres, a até os mais pequeninos, cada qual trazendo alguma coisa para comer e para beber oferecendo-as com maravilhosas mostras de afeto.

    [...]

    Nesta Ilha Espanhola, em lugar mui conveniente, o melhor para o acesso às minas de ouro e para o tráfego, tanto aquém como além, rumo à terra firme de Grande Khan (Ásia Oriental), fundei uma grande cidade à qual dei o nome de Navidad e instalei aí uma fortaleza; deixei nela homens em número conveniente com armas, artilharia, provisões para mais de um ano; conservaram uma choupana e têm, entre eles, um construtor de navios apto a todos os misteres. Encontramse em grande amizade com o rei desse país que tinha por honra chamarme por irmão a tratarme como um irmão.

    [...]

    Escrito da caravela, ao largo das Ilhas Canárias (sic Açores) 15 de fevereiro de 1493¹².

    Assim, embora haja resquícios de que muitas civilizações soubessem da existência das Américas, para o europeu realmente constituía-se em um ‘Novo Mundo’, título pelo qual as Américas são conhecidas simbolicamente até os dias atuais. Não era uma questão de ignorância, apenas de novo e novidade mesmo. Os europeus não supunham existir outro continente e, embora outras civilizações já fizessem referência ao novo, antes dos europeus, prevaleceu a versão de que a Europa ‘descobriu’ as Américas quando, na verdade, apenas a invadiram.

    1.1 Brasilia

    Essa chegada de Colombo às Américas cria as raízes do que futuramente se torna o Direito Público Internacional. Portugal, ciente das descobertas espanholas, e já tendo possessões no Atlântico e África, fica agitado. Afinal, eles foram os primeiros a se lançar ao mar e possuíam a mitológica Escola de Sagres, a escola naval que formou grandes navegadores, mas que, na realidade, jamais existiu¹³. Para piorar, embora Portugal tivesse a Sé Primaz das Espanhas em Braga, o então papa Alexandre VI, doou aos reis da Espanha as posses descobertas. A bula Inter Coetera de 3 de maio de 1493 dizia:

    [...]

    Faz doação aos reis católicos das ilhas e terras descobertas e foram descobertos, navegando para oeste ‘para as Índias’, desde que eles não pertencem a outros príncipes cristãos, com os direitos e privilégios concedidos e o Português. Crentes devotos, subvenções Frei Bernardo Buil, e outros religiosos que, em seguida, foram para o Novo Mundo, poderes espirituais de caráter extraordinário¹⁴.

    As reações foram imediatas: François I, da França, a filha primogênita da Igreja, sendo Lyon a primeira diocese católica da Europa, após Roma, onde está a Sé, e o rei da França o ‘mais católico dos reis’ quis saber onde estava a cláusula do testamento de Adão que reservava o mundo unicamente a portugueses e espanhóis.¹⁵. Além disso, utilizando-se do princípio de "princípio jurídico do mare clausum, pelo qual a prioridade da descoberta dos mares determinava sua posse, com a exclusão das demais nações cristãs", ou seja, o mar era restrito à navegação de portugueses e espanhóis, conforme estabelecido na bula Inter Coetera de 4 de maio de 1493. Vasco Núñez Balboa tomou posse do Oceano Pacífico em nome dos reis espanhóis¹⁶!

    Portugal, evidentemente, ficou descontente, porém jamais confrontaria a autoridade máxima da Europa, o papa Alexandre VI. Assim, João II, rei de Portugal, não muito contente com as concessões obtidas por Fernando e Isabel, alcunhados de reis católicos, junto ao papado, não tardou em procurar uma via que amenizasse o cenário desfavorável. E a saída não foi morosa, rapidamente iniciou negociações diplomáticas com a Espanha, as quais culminaram com a elaboração do Tratado de Tordesilhas, denominado também de Capitulação da Partição do Mar Oceano, concluído em 7 de junho de 1494, na vila de Tordesilhas, Espanha¹⁷. Previa o Tratado:

    E logo os ditos procuradores dos ditos senhores Rei e Rainha de Castela, de Leão, de Aragão, de Sicília, de Granada, etc., e do dito Senhor Rei de Portugal e dos Algarves, etc., disseram: que visto como

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