Formação e Atuação de Professores em Educação Infantil: Processos Colaborativos de Pesquisa
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Formação e Atuação de Professores em Educação Infantil - Lisane Anes Romero
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Aos nossos familiares e nossos filhos,
por todo amor e cuidado.
AGRADECIMENTOS
Ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Arte e Educação - GEPEA/UFSM/CNPq e Grupo de Estudos e Pesquisa em Artes Visuais, Educação e Cultura - GEPAVEC/UEPG/CNPq, pela interlocução acadêmica colaborativa e pelos afetos compartilhados.
Agradecimentos especiais de reconhecimento à Profª Drª Cleonice Tomazetti (UFSM/RS), pela mediação com percursos de pesquisa colaborativos na formação de professores e pesquisadores da Educação Infantil. Aos docentes do curso de Pedagogia em que se realizou a pesquisa. Aos acadêmicos do curso de Pedagogia- Educação Infantil em formação inicial. Aos professores de classes da Educação Infantil das escolas que, como protagonistas da formação e atuação em Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação, participantes dos processos formativos colaborativos de pesquisa e formação, cederam seus espaços educativos para a formação e atuação profissional junto ao grupo, desde a formação na universidade até a atuação em classes de Educação Infantil, em articulação com e na escola, nossos agradecimentos.
Às crianças das classes de Educação Infantil das escolas, e aos gestores, a nossa gratidão.
Os agradecimentos à Capes, pelo incentivo e apoio.
APRESENTAÇÃO
Formação e atuação de professores em educação infantil: processos colaborativos de pesquisa é uma obra que se acredita inovadora ao propor um novo olhar para a formação de professores e pesquisadores de Educação Infantil. Uma formação profissional por meio de processos colaborativos, junto às alunas-estagiárias das disciplinas de Prática de Ensino na Pré-Escola I e II em um curso de Pedagogia de uma instituição de ensino superior pública do Sul do País. Nesse grupo de pesquisa/formação colaborativa também se inserem as professoras efetivas de classes de Educação Infantil da Educação Básica que, como protagonistas, atuavam na formação/pesquisa colaborativa com as acadêmicas de curso de Pedagogia, numa tríada da e na pesquisa colaborativa de intervenção na formação e atuação de professores na Educação Infantil. As referidas alunas em formação/pesquisa realizaram processos formativos docente em classes de Educação Infantil em colaboração com as professoras regentes, nas escolas públicas, também em formação-pesquisa colaborativa continuada. A investigação-ação colaborativa de caráter emancipatório fundamenta, orienta e organiza o trabalho educativo, tendo suas ideias básicas na ciência educacional crítica. Também, a educação dialógica-problematizadora freireana aparece como fundamental para o professor/profissional ativo e crítico, frente aos problemas e às dificuldades, cotidianamente, encontrados nas escolas.
A obra está organizada em cinco partes. Na primeira, problematizam-se as questões atuais que se referem à formação do professor e as políticas públicas governamentais para essa formação. Na segunda parte, enfatiza-se a concepção da investigação-ação educacional enquanto processo de intervenção pedagógica-metodológica que tangencia, problematiza e indaga: quais conquistas e limitações podem decorrer de processos colaborativos investigativos e dialógicos na formação do profissional da Educação Infantil e suas implicações na prática escolar junto às crianças? Nessa direção, objetiva-se ampliar as discussões em torno da formação e ação do professor habilitado à docência, abrindo possibilidades para inovações e contribuições para a formação do profissional de Educação Infantil; pesquisar as possibilidades e os limites de processos colaborativos investigativos e dialógicos na formação do profissional de Educação Infantil nas disciplinas de Prática de Ensino na Pré-Escola I e II, em um curso de Pedagogia-Educação Infantil; investigar como são vivenciados os processos colaborativos na construção das ações educativas para as classes de Educação Infantil; verificar as implicações na prática escolar, junto às crianças, dos processos colaborativos investigativos e dialógicos vivenciados pelas alunas-estagiárias no espaço de formação profissional na instituição de ensino superior.
Ao longo da terceira parte, aponta-se o primeiro momento do estudo e intervenção, realizado na disciplina de Prática de Ensino na Pré-Escola I, e a vivência da espiral cíclica da investigação-ação, cujos momentos são compostos por planejamento, ação, observação, reflexão e replanejamento. Na quarta parte, apresenta-se a continuidade, ou seja, as mediações realizadas na disciplina de Prática de Ensino na Pré-Escola II junto às alunas em estágio de iniciação à docência nas classes de Educação Infantil e em colaboração com as respectivas professoras regentes, no espaço de atuação da futura escola, em um processo articulado entre universidade-escola-universidade-escola em relação dialética de intervenção de processos formativos.
O segundo momento da pesquisa compreende, de forma mais específica, a colaboração entre uma das alunas em estágio e a respectiva professora-pesquisadora, regente da escola em classe de Educação Infantil em Pré-Escola. Foi necessário fazer a delimitação, ou seja, trabalhar com uma aluna em estágio em atuação de pesquisa colaborativa com a respectiva professora de uma classe de Educação Infantil, em uma escola municipal de uma cidade do Rio Grande do Sul, visto a necessidade e a oportunidade de aprofundar e refletir a presente temática, em especial do dinâmico processo no campo de atuação profissional – o espaço escolar. Isso não inviabilizou o processo em colaboração junto às demais alunas em formação inicial, num total de 11 estagiárias (alunas de Pedagogia em formação inicial), por decorrência, 11 professoras regentes de classe de Educação Infantil (pré-escola) e, portanto, de 11 turmas de estágio de docência, com 20-25 crianças em idade pré-escolar por turma. Ainda na quarta parte, pontuam-se atividades planejadas de ensino e pesquisa colaborativa sobre o trabalho educativo na escola alvo, tendo por base a educação dialógica freireana. É nesse momento que são apresentadas as contribuições da pesquisa nas classes de Educação Infantil e para as crianças ao vivenciarem processos educativos dialógicos e problematizadores. Na quinta parte, seguem discussões acerca das implicações dos processos de pesquisa colaborativos vivenciados ao longo dos processos formativos de professores e pesquisadores. Ferreira e Ibiapina (2011, p. 122) explicitam sobre a pesquisa colaborativa em que pesquisa e formação estão entrelaçadas e inseparáveis,
A pesquisa colaborativa propõe abordagem em que os objetivos da pesquisa e da formação se encontram imbricados, exigindo a inter-relação entre os atores do processo, distinguindo- se de outras modalidades pelo caráter de participação, colaboração e reflexão crítica que lhe é inerente. [...] Nessa perspectiva, o foco da Pesquisa Colaborativa é a vida real do professorado, bem como do processo educativo e as relações estabelecidas pelos professores e pesquisadores como sujeitos da história que constroem no desenvolvimento da atividade docente, tornando-os mais conscientes do contexto no qual estão inseridos, alicerçados por visão e compreensão crítica das suas atuações. [...] pesquisar, na proposta colaborativa, implica refletir sobre o agir e sobre as teorias que lhe servem de esteio, como também criar formas de interpretá-los e transformá-los.
Por fim, apontam-se considerações, ainda de forma processual, sujeitas à continuidade e a rupturas nos estudos e pesquisas colaborativas na e da formação à atuação e, nesse sentido, pensa-se estar contribuindo para os processos formativos de práticas educativas inovadoras, saindo de uma formação e atuação solitária do professor para a pesquisa colaborativa e a formação dos profissionais da Educação Infantil.
As autoras
PREFÁCIO
[...] contribuições como a presente têm a força
de um pingo d’água caindo no rio;
apenas na medida em que inspiram outros pingos,
podem aspirar a fazer o rio transbordar.
Nilson José Machado
O convite para prefaciar este exemplar representou muitas alegrias¹. Destacamos que a primeira foi encontrar na leitura do texto a desmitificação da dificuldade de os projetos investigativos de pesquisadores alcançarem a escola, a sala de aula e a comunidade em geral. Essa talvez seja uma constatação recorrente na literatura educacional da atualidade, porém, a pesquisa relatada pelas autoras Lisane Anes Romero e Ana Luiza Ruschel Nunes demonstra que na aparência essa é uma dificuldade, mas, na verdade, a essência revela a necessidade de trabalhos investigativos que escolham essa perspectiva investigativa. Consideramos, pois, que o teor deste livro representa um pingo de água, que poderá fazer rios transbordarem quando essa preocupação também for a de outros pesquisadores. Parabéns para as autoras pela escolha política e ética de fazer pesquisa na ação.
A segunda alegria é encontrar a discussão feita pelas autoras sobre formação crítica e colaborativa de professores que atuam na educação infantil, de estudantes de Pedagogia e de pesquisadoras no decurso das disciplinas de prática de ensino de um curso de Pedagogia de uma instituição de ensino superior pública do sul do Brasil, o que nos motiva a destacar as discussões empreendidas pelas autoras e afirmar que estas se aproximam das atividades de pesquisa-formação que realizamos em contextos de Pesquisas Colaborativas, cujo foco está na atividade de pesquisar-formar, o que implica professores parceiros que produzem significados compartilhados de modo criativo em atividade de pesquisa.
Ao nos referirmos ao significado, estamos nos fundamentando na afirmação de Vygotsky (2001) de que os significados são produzidos quando se instaura um encontro entre as diferentes zonas de instabilidade dos sentidos enunciados pelos seres humanos. Nesse encontro, os significados, que, muitas vezes são cristalizados pela cultura e perpetuados historicamente, são compartilhados, questionados e criativamente reelaborados. (VYGOTSKY, 2001). Nesse quadro, é importante entender que a reflexão crítica é mediadora na produção desses significados. Em outras palavras, a reflexão crítica é o instrumento que medeia, constitutivamente, o objeto da formação no contexto da pesquisa, bem como os sentidos marcados pelas necessidades dos participantes da pesquisa em foco.
Nesse sentido, dizer as primeiras palavras sobre o livro Formação e atuação de professores em educação infantil: processos colaborativos de pesquisa é duplamente alegre, pois relata, discute e interpreta atividades de formação no contexto da investigação-ação emancipatória, cuja leitura do texto provoca o seguinte questionamento: a colaboração na pesquisa-formação cria possibilidades de emancipação de professores e de mudança nos contextos formativos e de pesquisa? No sentido de responder essa questão, o exemplar em apreço debate os seguintes aspectos: a importância da formação no contexto de pesquisa desenvolvida para emancipar professores da educação infantil, isto é, as autoras valorizam processos dialógicos que possibilitam a problematização da realidade com a intencionalidade de promover reflexão e ação sobre tal realidade com o objetivo de transformá-la.
Assim, o foco do estudo relatado neste livro encontra-se na proposição de transformação que, adotando perspectiva emancipatória, preocupa-se em aliar formação e pesquisa para a mudança das condições sociais e históricas vividas na formação e na atuação de professores que atuam e/ou atuarão na educação infantil, bem como analisam, compreendem e explicam os movimentos históricos de constituição do curso de Pedagogia e as políticas educacionais no campo da formação dos profissionais de educação e o potencial que a investigação-ação emancipatória carrega para a mudança de contextos formativos e das políticas educacionais no campo da formação e da prática profissional.
A leitura do livro, pois, é fundamental para compreensão da formação-pesquisa, uma vez que não há proposta de ação intervencionista com foco em impor valores, atitudes, modos de pensar e de agir. A intencionalidade é de produção interdependente da formação como a condição para aqueles que não aceitam simplesmente o que lhes é oferecido, mas que também desejam produzir seus próprios direitos e deveres de forma interdependente (FREIRE, 1987).
Ao citarmos mais uma alegria na leitura do livro em apreço, destacamos a escolha pela pesquisa-ação emancipatória, o que na visão de Kemmis (1987), é a modalidade de investigação que apresenta o potencial de pesquisar a ação na focalização e resolução dos problemas educacionais. O autor defende que este tipo de pesquisa é mais pertinente para atender as preocupações dos professores e de sua profissão, já que se conecta mais diretamente com as demandas profissionais. No caso deste exemplar, as autoras escolhem esse tipo de pesquisa justamente para focalizar e resolver problemas que afligem a educação infantil, via pesquisa-ação desenvolvida na prática de ensino.
Outro importante destaque ao conteúdo do livro é relativo ao processo de produção de significados, em que a colaboração assume função essencial na solução de conflito vivenciados na prática de ensino. Nesse caso, o formador não se opõe simplesmente ao discurso de seu interlocutor, mas justifica sua posição, fornecendo razões e negociando de forma flexível o conflito, que pode ou não ser resolvido, mas os participantes têm iguais oportunidades de colocar em discussão os sentidos, os valores e as teorias que embasam suas ações, escolhas, dúvidas e discordâncias.
Pelas razões expostas, consideramos que as autoras trazem à tona a ideia de coautoria, de atividade coletiva, cujo produto final é qualitativamente diferente das produções realizadas por meio de outras opções metodológicas, por exemplo, as pesquisas quantitativas. Essa escolha imprime valor político e ético às escolhas feitas no decorrer do processo investigativo, galgando mudanças decorrentes da colaboração efetivada entre os parceiros das práticas desenvolvidas na educação infantil.
Dessa forma, destacamos que a compreensão de colaboração envolvida na proposta relatada neste livro não envolve simetria de conhecimento e/ou semelhança de ideias, sentidos, valores, dos participantes: as professoras-formadoras, as 11 alunas estagiárias e as professoras regentes das classes de educação infantil, as crianças das classes envolvidas e, especialmente, a turma de educação infantil da escola elegida, bem como a aluna em estágio e sua respectiva professora regente da classe de Educação Infantil de uma Escola Municipal do sul do Brasil.
Salientamos, portanto, que a investigação destaca o envolvimento de todos esses participantes e explora os questionamentos que criam condições para que a partícipe se aproprie de ferramentas conceituais que lhes permitem analisar as práticas recorrentes na educação infantil, bem como possibilitam que ocorra a reflexão crítica produzida por meio do diálogo, que se organiza para promover a apropriação de novas organizações discursivas, de novos sentidos sobre o ser, estar e sentir-se professor na educação infantil.
Dessa forma, é com alegria que identificamos que esta investigação envolve formação-pesquisa da própria ação de colaboração, que é central no estudo, uma vez que existe participação de cada um dos envolvidos em todos os momentos da pesquisa e há reciprocidade para o grupo, bem como existe oposição as relações opressivas de qualquer natureza, o que acarreta a produção de relações mais igualitárias e democráticas. Essa perspectiva é a que consideramos predominantes na investigação em foco. Conforme expressa Kemmis (1993), a colaboração