Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

O Colar de Lis
O Colar de Lis
O Colar de Lis
Ebook358 pages5 hours

O Colar de Lis

Rating: 3 out of 5 stars

3/5

()

Read preview

About this ebook

Uma dama apaixonada...
Lady Lavinia Andarton é apaixonada pelo honorável Sr. Ashton Wood há um bom tempo e, para felicidade dela, ele corresponde aos seus sentimentos. Entretanto, sua família não o aprova e, preocupados em fazer uma conexão familiar mais vantajosa, apresentam a ela o irmão do Duque de Burghley, pretendente perfeito... para eles.
...Um cavalheiro cheio de segredos...

Depois de sofrer uma decepção amorosa, Lorde Brandon Thorton finalmente se recupera e decide casar-se, mas não esperava que sua mãe escolheria exatamente a lady mais insípida da Inglaterra para ser sua noiva, Lady Lavinia. A antipatia parecia ser mútua e os dois seguem fingindo às suas respectivas famílias uma corte inexistente. Mas ao emprestar uma valiosa joia de família e vê-la roubada, Lavinia se vê pedindo ajuda à pessoa mais improvável.

E um colar que os une.

O colar de Melissandre – ou de Lis, como era conhecido – trazia em si o peso de conceder felicidade à pessoa que o possuísse. Lavinia conhecia o seu legado, mas não tinha tanto apego à peça. Mas ao saber que fora roubada, ela precisava recuperá-la antes que sua mãe descobrisse o infortúnio. Para sua surpresa, Lorde Brandon sabe do paradeiro da joia e promete ajudar a recuperá-la, mas antes, Lavinia teria que passar por um treinamento na arte de roubar. E nos dias em que seguiram na companhia um do outro, com único objetivo de recuperar o tesouro perdido, ambos se esqueceram de manter em segurança um outro item tão valioso quanto, e a consequência de um novo roubo, dessa vez, seria mais devastadora. Afinal, que preço teria um coração apaixonado?
LanguagePortuguês
PublisherLeque Rosa
Release dateApr 26, 2017
ISBN9788568695630
O Colar de Lis

Related to O Colar de Lis

Related ebooks

Contemporary Romance For You

View More

Related articles

Reviews for O Colar de Lis

Rating: 3 out of 5 stars
3/5

1 rating0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    O Colar de Lis - Luana Farias

    Título

    Prólogo

    Londres, Maio de 1820.

    Brandon Thorton estava estranhamente nervoso. Em instantes iria ter uma conversa que trocaria de lugar muitas coisas em sua vida e não importava que a conversa fosse com seu irmão, Ethan. Ainda assim suas mãos estavam suando, os pés pareciam pesados e ele parou sete vezes no corredor antes de abrir a porta da biblioteca.

    Não sabia exatamente por que se sentia tão nervoso, pensou enquanto passava o dorso da mão em sua testa e secava algumas gotas de suor que começavam a se acumular por ali. Acreditou que aquele momento seria um dos mais fáceis de sua vida, no entanto, viu-se surpreendido por uma grande inquietação. Desde o momento em que tomou a decisão de falar com Ethan, ele mal pôde parar de morder o interior da boca em gesto nervoso, caminhar sem rumo e ensaiar falas, como se alguma dessas coisas pudesse facilitar algo.

    Quando enfim reuniu coragem, entrou na biblioteca e prestou muita atenção ao entorno. Mesmo que tenha estado naquele cômodo muitas vezes, reparou novamente na decoração em tons de azul marinho e marrom – os mesmos tons que figuravam no brasão da família e nas librés dos criados –, nos sóbrios móveis, nos grossos tapetes Aubusson, as prateleiras do chão ao teto repletas de livros, as poltronas dispostas em um semicírculo próximo à lareira de mármore branco. Olhou para tudo, menos para seu irmão, temendo perder a coragem. Ao encarar Ethan, teria que ir direto ao cerne da questão e queria apenas fingir por mais uns instantes que tudo estaria igual, que a partir daquele dia sua vida não estaria irrevogavelmente mudada.

    Enquanto se sentava em uma das poltronas, pensou seriamente em deixar a conversa para outro dia, esperar a opressão no peito diminuir, mas, então, lembrou que havia comentado com Anneliese que falaria com Ethan naquela tarde e ela daria por certo que ele faria, em breve, o tão aguardado pedido de casamento. Não falharia com sua Anne.

    Anneliese estava esperando aquele pedido há anos, já haviam adiado o momento duas vezes e ele, finalmente, havia prometido que até o final da temporada eles casariam. Ela parecera um pouco relutante com a ideia de casar tão em breve, afinal, a temporada já estava acabando, mas ele sabia que era só o medo do desconhecido, ambos estavam com medo do que o casamento poderia vir a significar. Depois que falasse as temidas palavras e Ethan consentisse com as bodas, tudo voltaria a estar bem.

    – Podemos falar? – perguntou a seu irmão com solenidade.

    Sabia que naquele momento não estava ali para ter um tête-à-tête com seu irmão e amigo, mas sim para tratar de assuntos sérios com Ethan Theodore Thorton, o atual Duque de Burghley e tutor de Anneliese. Mesmo que Ethan fosse apenas dois anos mais velho que Brandon, era a autoridade na família e Bran tentava não esquecer-se disso ou acabaria arruinando suas chances de que Ethan permitisse que Anneliese, a prima de ambos, se tornasse Lady Brandon Thorton.

    – Fale.  – Ethan respondeu simplesmente.

    Brandon olhou enquanto o irmão girava um liquido âmbar em uma taça e esteve a ponto de pedir um gole para acalmar os nervos, mas se conteve, lembrando que aquela era uma reunião formal e que não devia demonstrar nervosismo ou Ethan iria tripudiar.

    – Vim falar sobre Anneliese. – informou e esperou pela reação do irmão.

    Ethan não decepcionou, esboçou uma reação imediata a menção do nome de sua pupila. Parou de girar o liquido, pousou a taça em cima da escrivaninha de carvalho, seu maxilar se retesou e começou a desabotoar os punhos da camisa. Brandon teria caído na gargalhada se a situação fosse outra, raramente o irmão se via agitado e inquieto... Mas sempre que o nome de Anneliese era mencionado, Ethan se transformava, tornava-se tão inquieto como uma mariposa presa em um apertado espaço e faltava apenas que começasse a se bater pelas paredes, tonto por achar a saída.

    – O que ela fez? – perguntou de forma brusca.

    – Nada, Ethan. Deixe de procurar motivos para condená-la. – Brandon saltou em defesa da amada, esquecendo por alguns segundos sua intenção de ser servil. Respirou fundo para não ceder à tentação de começar uma discussão sobre como Ethan tratava Anneliese e decidiu ir direto ao ponto daquela conversa, ao motivo que o levara até ali.

    Bastava encarar seu irmão e dizer as palavras, aquelas palavras que sabia desde os dezoito anos que diria. Aquelas que ensaiara em frente ao espelho minutos antes. Bastava dizer. Certo que aos dezoito anos se imaginou dizendo as palavras ao pai de Anneliese e, depois, quando o tio Edward morreu, acreditou que diria para Jona, irmão mais velho de Brandon. Mas Jona também estava morto e, mesmo que tivesse preferido fazer o pedido aos dois, não havia mais remédio. Sem mais hesitações, disse para seu outro irmão as conhecidas palavras: – Gostaria de pedir a mão de Anneliese em casamento.

    O silêncio imperou quando terminou de falar. Esperou pela reação de Ethan, novamente já imaginando qual seria. Se tivesse dito as palavras a tio Edward, ele teria concordado radiante e ficado satisfeito com o enlace. Mesmo que Anneliese pudesse almejar se casar com alguém de elevado título e imensa fortuna, Edward só se importaria com o fato da filha amar Brandon. Jona lançaria um olhar de superioridade ao seu irmãozinho e concordaria com desinteresse, aliviado por se livrar da pupila. Mas Ethan tinha que questionar e colocar defeito em tudo que dizia respeito a Anneliese e não concordaria tão facilmente.

    Respirou fundo, se preparando para argumentar, para convencer... Passou por alto o gosto ruim que dizer as palavras deixou em sua boca e ficou ensaiando mentalmente o que deveria dizer a seguir para o irmão. Teve tempo suficiente para criar uma estratégia e até pensar em algumas frases passionais que poderiam surtir efeito. Enquanto isso, Ethan apenas o encarava, como se Brandon tivesse desferido um soco certeiro em seu estômago.

    – Está você certo disso? Certo de que quer se casar justo com ela? – A voz de Ethan soou dura e quase... Embargada, definitivamente magoada.

    Antes de responder, Brandon passou alguns segundos pensando nas diferenças que existiam entre ele e o irmão. Não só diferenças físicas, como o fato de Ethan ser loiro e Bran ter o cabelo castanho, ou os olhos do Duque serem azuis, quando os de Brandon eram negros... Pensou também nas diferenças que realmente importavam, na fachada que Ethan sempre parecia sustentar, enquanto ele era um livro aberto e se perguntou, não pela primeira vez, se Ethan entendia o amor, se ele um dia sentiria o amor.

    – A amo. – Brandon respondeu simplesmente e era a verdade, mas não era a resposta que seu irmão esperava. Não era nem uma resposta que estivesse certo que Ethan compreenderia e, por isso, escolheu essas palavras, para mostrar a Ethan que havia coisas grandes em jogo naquela sala, coisas que Ethan não deveria ter a pretensão de controlar e impedir, quando nem ao menos chegava a entender.

    Ethan queria que Brandon considerasse os aspectos carnais do casamento com Anneliese. Já havia conversado com Bran sobre a falta de paixão e já havia deixado clara sua opinião de que Anneliese era incapaz de despertar esta espécie de luxúria em Bran. Brandon sabia que não sentia luxúria por ela, mas a amava, e como tentara explicar a Ethan em diversas ocasiões, podia imaginar uma vida sem luxúria, mas não uma vida sem Anneliese. Uma vida em que chegasse à sua casa e encontrasse outra mulher na sala de Heron House era impensável. Tinha que ser ela... Porque não existia para ele uma vida em que ela não fosse parte.

    – Isso não basta. – Ethan decretou com seu típico despotismo. – Se não houver uma resposta melhor, sugiro que você se retire. Esta conversa está me deixando com dor de cabeça.

    – Você já olhou uma mulher e imaginou-se casando? Tendo filhos com ela? – Brandon falou mais alto do que pretendia e sabia que sua voz soava chateada e acusatória, mas não se importava. Estava pronto para impedir que Ethan o expulsasse da biblioteca, se fosse necessário apelaria para que o irmão dissesse sim ao pedido e só sairia dali com a missão cumprida.

    Deveria ser simples, maldição, mas já havia percebido que não seria.

    – Sim. – Ethan confessou, parecendo que lhe custava muito dizer esta simples palavra e Bran não pôde deixar de sentir-se confuso.

    Não sabia que classe de mulher era esta que despertara no irmão o desejo de ser pai, de ser marido, mas se um dia a conhecesse, a aplaudiria de pé por ter conseguido atravessar as barreiras que Ethan erguera ao seu redor dia após dia. Olhou para o irmão e tentou captar algo em sua expressão, alguma dica sobre a misteriosa mulher. Certamente Ethan não podia estar falando da dama que estava cortejando e com quem pretendia se casar naquele ano. Lady Amélia Mayford era mais fria que o gelo e não seria capaz de despertar respostas apaixonadas em Ethan e em nenhum homem que não fosse totalmente aberto aos sentimentos, porque ela mesma já era fechada para tais superficialidades como o amor.

    – Seriamente? – Sabia que seus olhos estavam arregalados, mas não se esforçou em controlar sua expressão de assombro. – Por quem?

    – Isso não vem ao caso. – Ethan bufou exasperado. – Já senti isso e sei que não é a classe de coisa que você sente quando olha para a Anneliese.

    – Sim, é exatamente o que sinto. Quero uma vida inteira com ela. – Cruzou os braços, sentindo-se na defensiva, sabendo que estava encetando-se em uma briga de gigantes.

    – Ela não vai abandonar você, ela vai ser parte da sua vida... Mesmo quando estiver casada com outro homem, ela vai continuar sua amiga. – Ethan tentou parecer despreocupado, mas era possível visualizar uma veia pulsando em sua têmpora.

    Ethan não estava nem de longe tão calmo como gostaria de aparentar, mas Brandon nem pôde tirar proveito deste momento de descontrole do irmão, pois, também não estava tranquilo. Mordeu o interior da boca e se remexeu no assento, tentava controlar-se, imaginar Anneliese casada com outro homem havia sido muito desconfortável.

    – Eu a amo. – Reiterou ingenuamente em meio a seu desconforto e encarou o irmão com valentia. Ainda de pé, Ethan parecia estar no controle da situação, mas Brandon não se deixaria intimidar por muito mais tempo.

    – Isso sei. – replicou Ethan – Mas também sei que não há uma única centelha de paixão entre vocês. Brandon, pelo amor de Deus, acha mesmo que pode ser feliz com ela? – Sua voz estava ainda mais dura e quase pareceu sentir dor ao continuar falando – A mulher mais sem encantos da Grã-Bretanha o fará feliz?

    Brandon não pôde evitar sentir a velha fúria, a mesma fúria que sentiu aos quinze anos quando Ethan afogou a boneca de Anneliese no lago; aos dezessete quando Ethan deixou a prima nadando nua e fugiu com seu vestido; quando ele colocou um sapo na cama dela ou sal no bolo de nata que ela amava. Mais uma vez lhe era custoso entender seu irmão e o ódio que sentia por Anne. Podia entender que os dois não se dessem bem, podia entender que não fossem amigos, mas jamais pôde entender a ânsia de provocar, de brigar, de trocar farpas, que existia entre os dois, jamais soube como lidar com o fardo que era estar no meio da rusga entre o irmão e a prima. Entre seu melhor amigo e a mulher que amava.

    – Ela não é insossa, como você crê. Ela é considerada por todos uma das mulheres mais bonitas da Inglaterra. – rebateu imediatamente – E se ela fosse sem graça, o amor me bastaria para vê-la com outros olhos. Importa-me um nada a beleza física. – Apertou os dentes para não ranger e fulminou o irmão com o olhar. – E seu casamento com Lady Amélia será cheio de paixão, não é mesmo? – perguntou de forma acida.

    – Claramente meu casamento com Lady Amélia será um casamento de conveniência, mas você pode ter muito mais que isso.

    O que mais o enfurecia era que Ethan nunca havia parado realmente para conhecer Anneliese e sentia que tinha todos os direitos de apontar o dedo, de julgá-la. Ethan nunca tinha caminhado com Anne à luz da lua, ou deitado para contar estrelas ao lado do lago, nunca a viu jogando críquete, ou cavalgando escarranchada enquanto ria às gargalhadas. Ele nunca conhecera a Anneliese que brilhava, que sorria e ria, ele se preocupara apenas em conhecer a Anneliese que chorava, que se escondia, que se apagava.

    Não podia deixar de pensar que se durante toda a vida Ethan e Anneliese não tivessem se evitado ou se enfurecido a cada segundo que passavam juntos, aquele dia estaria sendo mais fácil para ele, seria apenas dizer ao irmão que queria casar com a mulher maravilhosa que ela era e todos sabiam. Mas por desgraça nem todos sabiam. Ethan era talvez o único no mundo que não conhecia os encantos de Anneliese e, por isso, aquele dia estava sendo tão estressante.

    – Terei muito mais com Anneliese. Ela não é essa mulher sem encantos que você crê, já disse. – reiterou, sentindo que começava a perder o controle de seu temperamento.

    – Não é? – Ethan perguntou fazendo caso omisso das afirmações de Brandon. Esperou por um momento, então, se recostou na escrivaninha, cruzou os braços e os pés na altura do tornozelo e encarou seu irmão com ainda mais seriedade. – Olhos castanhos, cabelos castanhos, lhe faltam curvas e é insuportável. Ela só é considerada um diamante por ser filha de um Duque e ter um grande dote. – enumerou – Não vejo nada notável nela e você pode ter a mulher que quiser: loira, morena, ruiva, damas e senhoritas; basta largar a barra da saia dela e conhecer o que o mundo tem a oferecer, Brandon.  – Mais uma vez Bran reparou que o irmão nunca dizia o nome de Anneliese se podia evitar. – Esqueça este tolo amor infantil. – aconselhou Ethan.

    Brandon inalou profundamente, tentando se acalmar. Era sempre assim, ele e Anneliese contra Ethan. O irmão era o único que se incomodava com a relação dele com Anneliese.  A irmãzinha de Anneliese, Isabella, tio Edward e o pai de Bran, Matthew, se sentiam felizes com o enlace quando eram vivos; a mãe de Brandon, Lucie, resmungava sobre o assunto, mas não colocava reais objeções; sua sobrinha Lily se sentia radiante; Jona nunca se importou com o tema enquanto viveu e a esposa de Jona, Marianne, era indiferente. Somente Ethan ficava furioso quando se falava no assunto. Sempre furioso.

    Gostaria de gritar que não queria ruivas ou loiras, que queria Anne, será que era assim tão condenável? Será que era assim tão ruim querer passar a vida ao lado de alguém que conhecia bem, que lhe aquecia, lhe animava, lhe mimava? Será que estava realmente tão errado? Achava que não, fazia a coisa certa ao desejar uma vida calma e relaxada ao lado dela e não queria outra mulher. Por Deus! Queria Anneliese, Anneliese Marie Thorton era a mulher com a qual estava destinado a casar. Queria gritar, mas se esforçou para aparentar serenidade ou Ethan o devoraria como uma onça cutucada com vara curta.

    – Por que se opor, Sua Graça? – Usou o termo respeitoso em um ligeiro tom de mofa e esperou a reação do irmão, mas Ethan continuou quieto. Parecia que não teria uma resposta verdadeira para sua questão, então, decidiu continuar a falar sem esperar uma réplica. – Anne e eu queremos, crescemos querendo. Já não é um amor infantil.

    – Vocês cresceram se iludindo. – Afirmou o duque, passando por cima da pergunta, como Bran já intuíra que faria. – Cresceram achando que esse casto amor é boa base para um casamento. Ilusão, pura ilusão. – Ethan finalmente resolveu se sentar e jogou o corpo pesadamente em uma poltrona ao lado do irmão. – Você merece ser feliz. – disse – E ela também merece algo mais que uma vida insossa. Os dois merecem conhecer a paixão.

    – Paixão? E como sabe que Anneliese não pode me dar isso?

    Ethan ficou quieto por mais um longo minuto, perdido em pensamentos e quando respondeu, em sua voz não havia a menor hesitação. – Eu sei que ela não pode. Ela não pode te dar a paixão, Brandon, porque ela já é apaixonada por outro alguém.

    – Apaixonada por outro alguém? – Brandon soltou um riso sardônico. – Agora você está jogando sujo, irmãozinho. Não utilize mentiras para me convencer, eu conheço Anneliese melhor que qualquer outra pessoa.

    – Apenas se atenha ao fato de que você não vai poder dar a ela a classe de paixão que merece. É isso que você quer? Manter Anneliese em um relacionamento incompleto? – Ethan passou a mão pelos cabelos e fez um gesto de negação com a cabeça, demonstrando toda sua frustração. – Você ainda pode encontrar uma mulher... Uma que seja ideal para você. Escolha a mulher que quiser e jamais colocarei objeções. Mas não case com Anneliese, ela não é essa mulher.

    Brandon sentiu ganas de arrancar os cabelos, o que se esperava que significasse aquela resposta de Ethan? Ele seria capaz de dar a Anneliese a paixão que necessitasse, bastava que juntos construíssem este sentimento. E tinha certeza que nunca existiu outro homem na vida dela, ele era o único e sabia que o amor que sentiam um pelo outro era sim boa base para se iniciar um casamento. Muitos casamentos começavam com muito menos, muitos casamentos não chegavam a ter isto jamais.

    – Acredita mesmo que vai aparecer uma exótica Lady de cabelos negros e olhos verdes? E que ela vai se apaixonar por mim, assim como eu vou cair por ela? – soltou uma curta gargalhada sem humor, se inclinou e olhou dentro dos olhos azuis de seu irmão. – Essa mulher e este tipo de paixão não existem. Não vou parar minha vida esperando por uma ilusão. Vou casar com a mulher que amo desde sempre, ela me traz paz e não me importo de passar a vida ao lado dela.

    Depois de seu discurso apaixonado, imaginou que Ethan fosse ceder, mas o irmão fez uma ultima tentativa.

    – Essa mulher pode aparecer. – disse fracamente.

    – Não creio e, mesmo que apareça, não me importará, será um azar, pois vou estar casado e jamais trairia minha esposa. – Afirmou em um tom que não admitia mais discussões.

    Suspirando e aparentando estar derrotado, Ethan assentiu.

    – Tudo bem, Brandon, case com ela.

    Brandon levantou e abraçou o irmão. Respirou aliviado, a hesitação inicial já esquecida, seria feliz com Anne.

    ...

    Pouco antes do jantar, foi até o quarto de Anneliese. Era um quarto bonito que ela ocupava desde muito nova e ele adorava aquele lugar. Algumas coisas mudaram através dos anos, muita coisa que estava no quarto do pai ou da mãe dela foi transferida para aquele, mas continuava com a mesma essência, tinha cheiro de Anneliese e pequenas demonstrações do bom gosto dela espalhadas por toda parte. Parecia um pedacinho do passado, a tapeçaria cor de rosa, as cortinas de seda, os grossos tapetes e as duas poltronas de delicado tom lilás em frente à lareira, tudo o fazia se sentir novamente um garotinho e ele não podia imaginar um lugar melhor para pedi-la em casamento. Aquele lugar o lembrava de tantos momentos que dividira com ela, era justo que ali se selasse o acordo que os permitiria dividir ainda mais.

    Imaginou que ela estaria se arrumando para o jantar, mas ao olhar pela porta entreaberta, viu que estava sentada em uma poltrona, ainda vestida com a roupa que usou durante a tarde. Depois de uma leve batida na porta, ele secou as palmas das mãos na calça e avançou para perto dela.

    – Anneliese, eu... – Começou a falar, mas parou quando ela levantou uma mão com a palma virada para ele.

    – Não fale nada. – ela pediu.

    – Me deixe falar, demorei em criar coragem, maldição. – rebateu exasperado.

    Achara que pedir a mão dela para Ethan seria a pior parte e realmente foi penoso, mas ter que pedi-la em casamento também não era fácil, logo percebeu. Ele a conhecia desde sempre, cresceram juntos, descobriram o mundo juntos, mas, mesmo assim, tinha coisas que se via travado na hora de falar-lhe. Ela sabia que ele queria casar, já havia dito anos atrás que aceitaria, eles já tinham todos os planos muito claros, entretanto, sentia-se acuado e amedrontado diante dela. Parecia que ia à forca, pensou com humor depreciativo, mas não deixaria que ela percebesse tal nível de hesitação e, por isso, pretendia falar rápido.

    – Que galante é! – Ela exclamou exasperada. – Você não deveria ter que criar coragem. Um pedido de casamento deveria ser algo fácil. – assinalou e levantou o queixo com pose altiva, toda a filha de um Duque, com dignidade acrescentou: – Escutei sua conversa com o Ethan.

    Brandon ficou levemente desconcertado, mas logo se recuperou e soltou uma risada. Claro que ela escutaria, era lendária a mania dela de ouvir conversas alheias.

    – Você tem que parar com isso. – repreendeu-a suavemente. Ajoelhou-se e colocou as mãos nas pernas dela, dando um leve apertão. – Ethan relutou, mas nos deu a bênção. Podemos nos casar, querida.

    – Não, não quero casar, não assim. – disse e desviou os olhos para o colo.

    Com dois dedos em seu queixo, ele levantou sua cabeça e olhou no fundo dos olhos dela. Castanhos e límpidos, ele conhecia plenamente aqueles olhos, cada nuance de cor, cada matiz. Conhecia também o nariz arrebitado, a boca grossa e rosada, os cílios longos, as maçãs do rosto salientes, o cabelo de um castanho que lembrava o chocolate, longo e ondulado, conhecia cada curva de seu magro corpo, cada parte e cada centímetro que faziam dela quem era.

    – Assim como? Por que não quer? – perguntou suavemente e segurou a mão esquerda dela entre as suas. – Enlouqueceu? – acrescentou em um impulso e ela soltou um som exasperado e nada feminino.

    – Não enlouqueci. – lhe lançou um olhar duro e ele se encolheu, lamentando ter dito a ultima palavra. – Mas escutei o que o Duque falou e concordo com ele.

    – Você? Concorda com o Ethan? Isso sim é loucura. – Brandon estava totalmente desconcertado nessa altura da conversa.

    Não podia se lembrar de um momento na história em que Anneliese e Ethan tivessem concordado. Se Ethan dizia que morar em Hanover Square ainda era perfeitamente aceitável, Anne rebatia que já não era a localização mais elegante; se ele elogiava as novelas de Sir Walter Scott, ela logo exaltava as de Austen; quando ele dizia que as mulheres deveriam se contentar em tomar xerez se necessitasse um fortificante, ela entornava um copo de brandy, e ali estava ela concordando com o homem justamente quando este estava completamente errado. O mundo só podia ter se desgovernado naquele dia, nada fazia o menor sentido.

    – Ele está certo. Você merece alguém diferente. – antes que pudesse contestar, ela continuou: – Não que eu seja sem graça, como disse aquele cretino pomposo, mas acredito realmente que você merece algo mais, aquela paixão, e isso nunca haverá entre nós.

    – Nós teremos paixão. Eu amo você, um dia nascerá a paixão. – afirmou e apertou mais a mão dela entre as suas, se recusando a soltá-la, a perdê-la.

    Novamente a imagem de Heron House veio à sua mente, se imaginou entrando pela porta de sua casa e encontrando outra mulher no salão e novamente a imagem não fez sentido. Tinha que ser Anneliese.  Se tivesse alguém no mundo feita para ele, era ela. Compartilhariam uma vida calma e feliz, seria como sempre e para sempre e mesmo que se imaginar compartilhando com ela intimidades de marido e mulher era muito desconcertante, sabia que passariam por alto essa falta de luxúria e encontrariam uma forma de fazer com que seu amor evoluísse.

    – Também o amo. – ela fez carinho no rosto dele com a mão direita. – Mas paixão ou temos ou não, e nós não temos, Bran. – uma lágrima rolou por seu rosto. – Achei que podíamos passar por cima disso, mas você merece a chance de viver um amor por inteiro, viver essa paixão que eu não posso te dar.

    – E como exatamente você sabe que não pode dar-me isto? Você é virgem, talvez você seja um vulcão adormecido. – a última frase soou ridícula ate para seus ouvidos e ele se amaldiçoou quando a viu corar.

    – Você também é virgem. – rebateu indignada, soltou sua mão das dele e cruzou os braços. – Por que o maldito vulcão adormecido sou eu? Isso não tem nada de plausível.

    – Sou virgem porque estou te esperando. – ele gritou e Anneliese soltou uma risada suave diante de seu descontrole e das palavras ridículas que dissera no último instante.

    Quase riu junto com ela, mas sentia que o momento era sério demais para que se deixasse levar pela vontade de rir. Se ela realmente estava falando serio, então, aquilo significava que seria um homem livre por muito mais tempo. Só não sabia se isso

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1